Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 4
Comentário de Ehrman: As coisas ficarão piores antes de melhorarem. Mas quem disse que as coisas melhorariam?


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior...
Na perigosa missão liderada por Dohko de Libra, a rusga entre Aiolia de Leão e Milo de Escorpião acaba por transformar Kanon, suplente de Gêmeos e ex-guardião do agora destruído Pilar do Atlântico norte, em uma curvilínea e desacordada mocinha. Na tentativa de salvar o colega de armas de semelhante destino, os quatro valorosos cavaleiros se refugiam em Gêmeos, e Dohko parte em busca da Deusa da Guerra Justa e Sabedoria e do Grande Mestre do Santuário...



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No término de mais uma manhã de treinos, Saga deu suas obrigações por encerradas e voltava feliz para seu templo, já pensando na enorme banheira quentinha e cheia de água com espuma. Nem mesmo o pensamento de que ele estaria 'cabulando' o resto do período de treinos o tirou de seu estado de graça.

Passou por Áries, vazio desde que Mu fora encaminhado para a Missão em que foram junto Aiolia, Milo e seu irmão. Não conseguia disfarçar a paz interior que o acometia: O dia estava lindo, os pássaros cantavam, a vida era bela e seu irmão não estava em casa. Aliás, estava adorando seu período de 'férias' de Kanon, com quem discutia quase que diariamente. É certo que era seu irmão gêmeo, a pessoa de quem era mais próxima do mundo e tudo, mas convenhamos... "Brigar todo santo dia com uma pessoa igualzinha a você cansa!" Pensava Saga enquanto passava por Touro, saudando distraidamente um mais distraído ainda Aldebaran, que acabava de chegar.

Tinha acordado com o pé direito, o que o deixava bem feliz, essa é que era a verdade.

Mal sabia ele que, ao chegar em Gêmeos uma grande surpresa o aguardava...

Ao chegar na sala da área privativa de seu templo, deu de cara com Milo, Aiolia, Mu e uma moça linda, loira e toda molhada, aparentemente desacordada em cima do seu sofá. Embora uma parte remota de seu cérebro reparasse que a linda, loira e desacordada moça estava de camiseta molhada e sem sutiã, descortinando a seus olhos o par de seios mais espetaculares de que se recordava, Saga era por demais cavalheiro para se empolgar com isso. Não a essa hora da manhã, pelo menos. Em vez disso, Saga fez o que sempre fazia quando era pego de surpresa por um constrangimento que o irritasse muito (especialidade de Kanon, vale ressaltar):

– Mas o que significa isso???

Milo, Aiolia e Mu sentiram seu sangue gelar ao escutarem a voz tonitruante do que era tido como o mais poderoso dos cavaleiros de Atena, com um unusual tom levemente agudo pela surpresa que o acometia.

– Saga, calma. A gente pode explicar... – Mu tentou contemporizar, medindo muito bem suas palavras numa situação em que pagaria o preço que fosse para não viver.

– É mesmo? Então gostaria muito que alguém começasse a me explicar o que vocês três estão fazendo aqui, ainda mais com essa... moça deitada no meu sofá!

– Olha, é que... – Aiolia tentava explicar o inexplicável, mas foi interrompido pelo cavaleiro de Gêmeos.

– ...É que no mínimo, vocês não devem ter uma explicação decente para uma coisa dessas. O que vocês andaram aprontando para aparecerem aqui dentro com uma moça apagada em cima do meu sofá? Meu sofá, ainda por cima! Vê se tem cabimento uma coisa dessas! Aliás, muito bonito, né, Seu Aiolia? Não é você que é todo comprometido? Agora deu pra ficar por aí arrumando rabo de saia e trazendo pra dentro da minha casa? Muuito bonito mesmo! Eu já desisti de enfiar juízo na cabeça de vocês, mas dava pra não me envolver nas enrascadas em que vocês se metem?

– Saga, nós... – Milo tentava interromper o fio da meada do raciocínio de Saga, mas foi inútil. Aliás, nenhum dos três sabia que esse era um dos defeitos do cavaleiro de Gêmeos: quando ele começava um desses rompantes, entrava em uma crise verborrágica que não parava por nada desse mundo.

– ...Vocês trouxeram uma mulher pra dentro da minha casa! E, para ela estar apagada até agora, deve estar desacordada. Desacordada! Com esses peit... Err, toda molhada! Eu nem quero imaginar o que é que vocês deviam estar fazendo para que ela chegasse a ficar num estado desses! No quê vocês estavam pensando? Hein? Hein? Estavam pensando em usar minha casa como disfarce pra burrada de vocês? Ou estavam achando que eu também sou do tipo que se aproveita de uma moça indefesa pra me satisfazer, é isso? Seu bando de indecentes!

– Saga, nós não... – Mu tentava intervir.

– ...Não tem um pingo de juízo, eu sei! E eu que achava que o Dohko conseguiria enfiar algum na cabecinha oca de vocês, mas pelo visto eu até devo imaginar o tipo de missão que vocês andaram se dedicando na China! Mas tentar me meter nesse assunto é demais! Demais! Eu já tenho problemas suficientes sem precisar de vocês trazendo mulheres desconhecidas e desmaiadas pra dentro da minha casa! Ainda mais assim, toda molhada e sem sutiã! Que absurdo! Vocês não tem vergonha não? São cavaleiros! Como é que pode uma coisa dessas? Onde foi parar a honra dos cavaleiros de Atena, pelos deuses?

Enquanto Saga, cada vez mais alterado, continuava seu ataque de indignação, a referida moça começou a se mexer e a abrir os olhos no sofá. Isso não passou despercebido ao cavaleiro de Gêmeos, que conseguiu encaixá-la no seu discurso-sabão para repreensão de má conduta.

– ...Olha aí. Agora a moça acordou! E aí, ainda estou esperando uma explicação decente do por quê dela estar no meu sofá toda molhada! Aliás, que cara é essa que vocês estão fazendo? Agora que fizeram a trapalhada tão com medinho? Agora não adianta mais ficar com medinho não! Vocês estão numa fria!

Enquanto isso, a 'moça' começou a se aperceber de sua situação, no momento que tentou falar, e sua voz estava mais fina. Olhou para baixo, e ao deparar-se com seu tórax molhado, soltou um gemido de exclamação.

– Ah...

– ...E aí, não vão me dizer de onde tiraram essa moça? - Saga continuava externando sua indignação, enquanto Milo, Aiolia e Mu pareciam petrificados de pavor. - Eu continuo esperando pacientemente pela explicação de vocês! E tem que ser uma ótima explicação, viu? Porque, pelo que eu sei, moças de respeito não andam por aí tendo "passamentos" na casa dos outros, sem lingerie e de camiseta molhada!

– Ah... – A 'moça', ignorando completamente o cavaleiro de Gêmeos e sua alusão a códigos de conduta, moral e bons costumes, agora apalpava seu tórax com a cara mais assombrada do mundo. Mu, Aiolia e Milo estavam às raias do desespero, e Saga continuava falando até que...

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!! - ...Um grito feminino agudo, cortante, tenebroso, daqueles de gelar o sangue, ecoou por todo o santuário provocando uma revoada de pássaros assustados pelo céu.

E só então Saga de Gêmeos parou de falar.

A moça loura levantou-se correndo em direção ao banheiro onde então trancou-se, empurrando um Saga petrificado pelo grito que, seguramente, o Santuário inteiro escutara.

– Ei, a moça aí me empurrou? É isso? – Em algum momento entre o safanão e a moça se trancar no banheiro, Saga recobrara a fala. - Pelos deuses, onde vocês acharam essa doida? Mas que loucura é essa dentro da minha casa?

– Cala essa boca, p***! – Gritou Aiolia, interrompendo pela segunda vez o dono do templo de Gêmeos. – Se você ficar quieto a gente te explica!

Enquanto isso, Mu estava na porta do banheiro, tentando fazer com que ela a abrisse, sem muito sucesso:

– Olha, sai daí, a gente pode explicar, Kanon...

– Kanon? KANON! – Súbito, o rosto de Saga iluminou-se. – EU SABIA que tinha o dedo do Kanon nessa história! EU SABIA que isso era coisa dele! Uma moça seminua na minha casa? HÁ, mas tpa na cara que só podia ser coisa dele!

Nisso, a porta se abre, e a linda, alta e loura moça sai do banheiro, completamente transtornada. Ao pousar os olhos em Saga, seu transtorno se transforma em ira.

– Seus... Seu...

– Olha, moça... – Saga tentava contemporizar com a moça iracunda, que bufava em sua direção tal como um touro ao vislumbrar o toureiro com a capa vermelha; sem repara que, curiosamente, Mu, Milo e Aiolia tinham saído do campo de visão dela. – Eu sei que você pode achar que eu tenha algo a ver com você, ou que eu tenha estado com você e tudo, mas não era eu, entende? Por mais louco que isso possa parecer, e eu sei que isso parece coisa de gente louca, eu tenho um irmão gêmeo, e é ele quem costuma aprontar esse tipo de coisa!

– Seu... Seu... IDIOTA! – A irada moça partiu então para cima do cavaleiro de Gêmeos, e apesar do absurdo da situação ele conseguiu se esquivar de cruzado de direita digno de um estivador experimentado. – IMBECIL! RETARDADO MENTAL! Eu vou te matar! Vou te picar em pedacinhos, seu desgraçado!

– Calma, moça! Calma! Eu já disse que não fui eu! Por favor, acredite em mim! – Saga gritava enquanto desviava com considerável dificuldade da garota que estava evidentemente tentando cumprir sua promessa de assassinato. – Aiolia! Pelos deuses, me ajude!

Ao ouvir o nome de Aiolia e localizar o cavaleiro de Leão, que estava tentando se esconder atrás do sofá, a moça pareceu ficar mais irada ainda.

– Aiolia... AIOLIA! O que foi que você fez, seu imbecil? O QUE FOI QUE VOCÊS FIZERAM COMIGO? Seus FILHOS DA P***!

– Calma, calma pelo amor de Zeus! A gente pode explicar! Mas por favor se acalme! – Aiolia estava praticamente choramingando enquanto Milo e Mu tentavam segurar a moça, sem muito sucesso. – Cacete, CADÊ O DOHKO?

– O Dohko NÃO VAI TE SALVAR DESSA, seu gato vira-lata! NENHUM DE VOCÊS! Eu vou pegar vocês e vou esganar, esfolar, DESMEMBRAR com minhas próprias mãos!

– Moça, calma, eu sei que você deve estar confusa, mas entenda que isso provavelmente é coisa do meu irmão gêmeo! – Gemeu Saga, que apesar de tudo considerava os outros três cavaleiros de ouro presentes incapazes de engendrar uma situação que envolvesse uma desacordada mulher escultural, sem sutiã e de camiseta molhada em seu templo. – Olhe, eu mesmo me prontifico a encontrá-lo e dar uma boa lição nele porque...

Saga foi imediatamente interrompido pela loira que, novamente com sua atenção voltada para ele, se desvencilhou de Milo e Mu para dessa vez lhe acertar em cheio com um jab de esquerda de arrasar um quarteirão.

– Owww... – Mu se condoeu pelo gêmeo mais velho, enquanto Aiolia e Milo tinham agarrado a moça antes que ela realmente matasse Saga.

– Me soltem, seus degenerados! Vocês estão mortos. MORTOS! E EU VOU MATAR ESSE OUTRO RETARDADO TAMBÉM! Só na cabeça desse imbecil que uma mulher em sã consciência me confundiria com ele!

– Mas o que foi que eu... Como assim? – Saga, que massageava a mandíbula atingida pelo soco, finalmente atinou que seu subconsciente, assim como os outros três cavaleiros, vinha tentando lhe falar algo que devia ser importante. – Espera aí. Você tá ficando doida, minha filha? Como assim alguém me confundiria com você?

– Minha filha é o C******, seu idiota! – Gritou a moça. – O QUE FOI QUE ACONTECEU COMIGO?

– Kanon, fica quietinho só um minuto, depois você mata o Saga... – Aiolia estava agora ajudando os colegas a manterem a moça sob controle. – É isso que a gente está tentando te explicar, e você não deixa...

– Que Kanon, Aiolia? Onde que você está vendo ele aqui, pelos deuses? – Saga nunca estivera tão confuso em sua vida.

– EU SOU O KANON, SEU DESGRAÇADO! – Berrou a moça, novamente tentando se desvencilhar dos outros cavaleiros.

O que se deu depois desse anúncio foi um momento de um sepulcral silêncio na sala, prenunciando algo realmente algo histórico.

Saga de Gêmeos com uma cara totalmente embasbacada e completamente sem palavras? Não era todo dia que isso acontecia.

Nisso, Dohko chega com Shion e Saori dentro da terceira casa, bem a tempo de ouvir o que a moça acabara de gritar a plenos pulmões.

– Mas o que significa isso? – Shion não conseguia tirar os olhos da bela loira de olhos azuis que alegava ser o cavaleiro suplente de Gêmeos. Kanon, percebendo o olhar do lemuriano remoçado, resolve cobrir os seios com as mãos, para depois gritar novamente, quase às lágrimas, enquanto buscava com os olhos uma toalha com o que se cobrir.

– Ka... Não. Espera. Não pode. – Saga matutava consigo próprio, em visível estado de choque. – Não pode. Isso não faz sentido. Tem que haver uma explicação racional para isso.

– Kanon, é você? – Saori olhava incrédula para o ex-rapaz, enquanto reconhecia claramente o cosmo do cavaleiro, mas que não condizia com sua atual forma feminina. – Mas pelos deuses, o que foi que aconteceu? Você fez uma cirurgia de mudança de sexo?

– COMO ASSIM? Kanon, que m**** é essa??? – Saga gritou, meio fora de si.

– CLARO QUE NÃO É ISSO, SEU IDIOTA! – Kanon protestou imediatamente. – A última coisa de que me lembro é de ser atirado em uma lagoa na China por esses dementes, e daí eu acordei assim!

Milo, Aiolia e Mu dirigem um olhar inquisidor para o cavaleiro de libra, que se sente imediatamente impelido a dar explicações.

– Eu disse, Shion. – Suspirou Dohko, desolado. - A situação É séria.

– Séria? ISSO É UMA DESGRAÇA! – Kanon lacrimejava involuntariamente, enquanto ouvia a própria voz, inegavelmente feminina à medida em que gritava sua indignação. – Como foi que vocês fizeram isso comigo?

– A lagoa... – Suspirou Dohko. – A lagoa onde você caiu é amaldiçoada. É uma lenda trágica, muito trágica de uma feiticeira da antiguidade que morreu afogada após ser condenada por insurgir-se contra o seu imperador. Aí, desde então, todo homem que mergulhe nessas águas se transforma em uma mulher.

– COMO É QUE É? DOHKO, SEU IRRESPONSÁVEL! Como você não nos avisa que... Certo. Certo. Ok. Calma. – Kanon tremia enquanto tentava se acalmar. – E como que se desfaz isso?

– Err... foi por isso que eu trouxe Shion e Atena em pessoa aqui.

– Atena, minha deusa... – Kanon volta-se para Saori, em desespero. – Você pode desfazer essa desgraça, não pode?

– Bem, eu...

– Ela não vai conseguir, porque isso é mágica! – Shion, apesar do choque inicial, mantinha o pensamento racional aparentemente intacto. – Dohko, você se esqueceu de que a cosmoenergia não consegue afetar fenômenos mágicos?

– Shion, eu...

– E como é que você leva três cavaleiros para uma área tão perigosa?

– Precisamente! – Concordou Mu.

– Eu AVISEI que não era pra nadar na lagoa! Eu disse!

– Ei, eu não NADEI na lagoa, eu CAÍ na lagoa! Existe uma pequena diferença! Assim como também existe uma diferença entre receber uma ordem idiota e ter ciência da gravidade real de uma situação!

– Olha, Kanon, tem que ter um jeito. – Dohko tentava contemporizar. – Se é magia, é certo que isso pode ser revertido.

– ENTÃO REVERTA, P****! – A moça foi detida por Mu e Shion, segundos antes de avançar em cima do cavaleiro de libra.

– Calma, calma, calma. Nós vamos achar uma solução... – Shion tentava ainda acalmar Kanon, sem sucesso.

– Como assim, ter calma? Olha bem pra mim! – O agora ex-rapaz se desvencilha dos dois e aponta para si própria com os braços, em um gesto de exaspero. – Me diga se dá para ter calma quando um homem como eu acorda com peitos e sentindo falta de uma parte MUITO IMPORTANTE da anatomia masculina!

– Kanon, se acalme, eu te prometo que nós vamos encontrar uma solução para esse problema, sim? – Saori, apesar de tudo, tentava também acalmá-lo, apesar de todo seu embasbacamento. – Tudo irá melhorar...

– Sim, claro... Até porque não tem como ficar pior, não? – Kanon se esforçava bastante para conter as lágrimas.

Porém...

– Saori-san?

– Seiya? O que você está fazendo aqui?

– Eu vim te procurar e... – Seiya, o lendário cavaleiro de Pégaso, adentra a sala privativa da Casa de Gêmeos junto com Shiryu e Hyoga. – E o que está acontecendo? Eu estava ouvindo gritos...

– Ok, falha nossa. – Milo suspirou. - Tinha como piorar sim.

Os recém chegados cavaleiros de bronze então começam a reparar insistentemente na moça loira, alta e molhada que agora tentava desesperadamente desaparecer dali.

– Calma aí, mocinha. – Hyoga interceptou a moça, segurando-a pelo braço. - Quem é você e como chegou aqui?

Imediatamente recebeu um safanão que o surpreendeu pela força, que jamais esperaria ver de uma moça como essa.

– Tira a mão de cima de mim, pivete abusado! – Rosnou Kanon.

– Hyoga, isso lá é jeito de se tratar uma moça? – Shiryu imediatamente ralhou com o colega nipo-russo. – Ninguém sai agarrando uma moça indefesa assim desse jeito não.

– Indefesa é a sua mãe, seu outro pivete abusado! Aliás, o que é que vocês estão fazendo aqui? Fora da minha casa! RUA!

– Que sua casa o quê, moça! – Retorquiu Hyoga, mal-humorado por ter sido facilmente dominado por uma mulher, ainda que um pouco maior do que ele. – Esse aqui é o templo de Gêmeos, logo estou ainda esperando uma explicação de por que a senhorita está aqui!

– Mas, Hyoga, pode ser que a gente tenha interrompido alguma coisa importante... – Seiya, por sua vez, não tirava os olhos da moça que agora tentava cobrir seus seios evidentes pela camiseta molhada com as mãos; e era perceptível que Pégaso estava prestando atenção nos seus dotes femininos um pouco mais à mostra do que o habitual. - Porque veja bem, o Saga e a moça podiam estar...

– Ninguém interrompeu nada, Seiya! – Saori, irritada com o endereço das atenções do cavaleiro, deixou de lado sua fleuma divina para ralhar com seu ex-interesse amoroso não assumido. – Essa 'moça' é o Kanon, seu pervertido!

Novo momento de silêncio na sala.

– Muuuuito obrigado, Senhorita Saori! Você tinha razão! Agora eu já me sinto beeeem melhor! – Kanon estava vermelho de raiva. - O Seiya, logo o Seiya, sabe dessa palhaçada! Agora fazemos o quê, anunciamos no noticiário das nove da noite?

– Ah... – Saori logo se dá conta do que fez, o que a deixa sem jeito. – Mas Kanon, veja que seria impossível manter algo assim em segredo...

– Saori-san, não subestime a minha inteligência, eu não vou cair em uma história ridícula como essa. Nem vem.

– Mas é verdade, Seiya. Por mais incrível que pareça, essa moça é o Kanon de Gêmeos. – Shion, confuso como nunca, tentava esclarecer as coisas para ver se achava uma solução.

– Mas como é que pode? – Perguntou Hyoga. – Ah, foi uma cirurgia de...

– Não foi cirurgia nenhuma! – Kanon apressou-se em esclarecer o rapaz. – Eu caí numa lagoa, desmaiei e acordei assim.

– É sério isso? – Shiryu analisava atentamente o ex-rapaz, e não acreditava no que via.

– Claro que é sério, seu fedelho! E foi tudo culpa do seu queridinho mestre! – Kanon devolveu, lançando um olhar assassino para Dohko.

– Mas Kanon, eu disse que não era pra...

– VOCÊ DEVIA TER FALADO QUE AQUELA MALDITA LAGOA ERA AMALDIÇOADA, MÁGICA, SEI LÁ O QUÊ!

– Peraí. Lagoa mágica na China? – Pégaso parecia concatenar algo. – Ele ficou assim depois que caiu numa lagoa mágica na China?

– É, por quê? – Aiolia estava estranhando muito o fato de Pégaso estar concatenando algo.

– Ei, eu acho que eu tenho uma solução! – Bradou Seiya em pose heróica.

Todos voltaram seus olhos para o rapaz.

– É sim! – Seiya estava eufórico. – Saga, onde eu posso achar água quente?

– Na cozinha e no chuveiro do banheiro, mas por que você quer água quente? – Saga, um pouco menos chocado do que antes, tentava entender o que se passava na cabeça do cavaleiro de bronze; mas ele saiu ventando em direção à cozinha.

– Eu tenho um mau pressentimento sobre isso. – Disse Mu.

– Nem me fale. – Devolveu Milo.

– Acho melhor nós irmos pesquisar como desfazer essa confusão toda, Dohko, antes que isso se agrave. – Shion olhava de forma sombria para o ex-colega de armas.

– É bom mesmo, porque eu não quero ficar mais nem um minuto desse jeito! – Retorquiu Kanon. – Porque eu duvido que alguma coisa que o Seiya vá faz...

SPLASH!

Seiya, que acabava de voltar da cozinha com uma jarra de meio litro cheia de água quente, despeja tudo em cima do cavaleiro suplente de Gêmeos. O único efeito que logra, porém, é de que a camiseta que já estava secando fique molhada novamente, com efeitos previsíveis.

– Ué... Não funcionou?

Mais um momento de silêncio na sala.

– Eu NÃO acredito. – Hyoga estava pasmo. – Seiya, você por um acaso quer comprovar a teoria de que você é um debilóide?

– Ei, o que você queria que eu pensasse? Ele caiu em uma lagoa amaldiçoada na China e virou mulher! É perfeitamente lógico que ele voltasse a ser homem com um banho de água quente(1)!

– Só se for pra você, seu retardado viciado em animes! – Saori explodiu. – Ainda mais nesse, que você só assistia porque aparecia uma menina com os peitos de fora o tempo todo, seu tarado indecente!

– Ei, mas por que é que você me ofende tanto? – Seiya tentava se defender da alterada deusa, que bufava em sua direção. – É tarado pra lá, pervertido pra cá... Cansa isso, viu?

– Ele realmente está pensando o que eu estou pensando que ele está pensando? – Shiryu custava a acreditar no que se passava na cabeça do colega – Seiya, aquilo era um desenho da tevê, não era pra você achar que era verdade!

– Seiya... Acho que a Saori é o menor dos seus problemas agora. – Mu chama a atenção do cavaleiro de bronze para o fato de que Kanon, agora mais molhado do que antes, elevava seu cosmo perigosamente.

– Seiya, seu imbecilzinho... Eu vou te matar lenta e dolorosamente.

– Kanon, se acalme, que assassinar o Seiya não vai melhorar a sua situação! – Mu tentava contemporizar, enquanto continha o ex-rapaz molhado e furibundo que tentava avançar sobre Pégaso.

– Ei, não é assim de todo uma idéia ruim... – Disse Milo entre os dentes. Sim, porque apesar dos serviços prestados pelo cavaleiro de Pégaso, o escorpiano tinha por ele uma antipatia terrível, aparentemente gratuita.

– Chega. Chega, chega, CHEGAAAA! – Kanon explodiu, lançando Mu, Milo e Saga longe, enquanto seu cosmo se elevava em ondas descontroladas; e a situação subitamente se tornou perigosa até para os cavaleiros de ouro experimentados que ali se encontravam. – Tão pensando o quê? Que eu tou aqui desse jeito pra esse b*stinha vir aqui tirar sarro com a minha cara? Bando de desgraçados filhos de uma p***! Fora daqui, todos vocês!

– Kanon, olha o respeito! – Saga, ao se levantar do chão, tentava acalmar seu gêmeo sem sucesso, enquanto ele explodia em raiva e frustração - A deusa Atena está aqui e-.

– EU DISSE FOOOOOORAAAA! TODO MUNDO PRA FORA! EU NÃO QUERO VER A CARA DE NENHUM DE VOCÊS AQUI! RUA! SAI! CHISPA! XÔÔÔ! – Berrava Kanon enquanto literalmente empurrava todos os presentes para fora da sala privativa do templo praticamente a socos e pontapés, para depois bater a porta do recinto com toda a força de que dispunha, e que não era pouca. A dita porta só não se fez em pedaços porque era feita de madeira nobre e maciça.

– Cara, olha que mesmo mulher aquele lá bate forte, viu... – Milo queixava-se massageando seu ombro, escoriado por uma das quedas que levou enquanto tentava segurar o colega.

– Pelos deuses, Milo, nem reclame que nós ainda estamos vivos... – Aiolia suspirou.

CRASH!

Todos foram surpreendidos pelo som de algo se quebrando violentamente dentro da área privativa do templo de Gêmeos.

– Pelos deuses... – Saori franziu a testa. – Espero que não tenha nada de muito valor lá dentro...

CLANG! CLANG! CRASH!

– Oh, Zeus... – Saga, até então meio aéreo pelo inusitado da situação, foi novamente trazido a si. – Eu vou entrar lá.

– Saga, eu não sei se essa é uma boa idéia! – Dohko tentou argumentar.

– Ora, Libra, e quem é você para vir me falar de boas idéias? – Saga retrucou, lançando um olhar furioso para o ex-ancião. – Porque se eu estou nessa enrascada, é por culpa de uma de suas 'boas idéias'! Você tem noção do que você fez? Hein? Meu irmão virou uma moça! Uma MOÇA, pelos Deuses! Como, COMO eu vou lidar com uma situação dessas?

CRASH! – Outro barulho de algo se quebrando violentamente interrompe o raciocínio do cavaleiro de Gêmeos. - Oh, pelos deuses, eu vou entrar lá antes que ele derrube a casa toda!

Saga se precipitou sobre a porta e, uma vez lá dentro, todos ouviram sua característica voz estrondosa:

– Kanon, pare com isso! Olhe a bagunça que você-

BONC! BONC! BONC! CROC!

– Pelos Deuses, o que é isso? – Seiya soava amedrontado enquanto os ruídos cresciam assustadoramente.

– Senhorita, eu acho melhor nós intervirmos. – Shion não só soava preocupado, como seu rosto mostrava mais preocupação do que até mesmo Mu se lembrava. – Porque, na atual conjuntura dos acontecimentos, o Saga pode estar correndo risco de vida.

– Que é isso, o Saga é o cavaleiro de Gêmeos! – Hyoga rebateu. - Ele já derrotou o Kanon, não? Inclusive pra trancá-lo no Cabo Sunion!

– E foi uma das poucas vezes em que ele conseguiu esse feito! – Shion completou, se encolhendo levemente ao ouvir o som de algo de vidro se partindo no chão. – Eles sempre foram muito equivalentes, até mesmo em combate, mas... Quando Kanon perde a cabeça em uma luta, ele chega a jogar muito baixo e pesado!

– E o Saga não faz isso? – Shiryu perguntou inquisitivamente. – Bom, não me entendam mal, mas é que, afinal de contas, veja o que ele fez para assumir o lugar de grande mestre, né...

– Bom, aquele não era bem o Saga... Era o lado mau dele, que aparentemente aprendeu grande parte dos seus expedientes do próprio Kanon! Mas de qualquer forma, no atual estado das coisas, até mesmo 'Ares' nas suas piores intenções estaria em risco ao enfrentar o Kanon agora!

– Ué, mas o Saga não ganhou a armadura em combate? – Seiya perguntou.

– Bem... Não foi bem assim... – Shion respondeu reticente. – Mas isso não importa agora! O Kanon fica realmente perigoso quando perde a cabeça! E agora, nesse momento, me parece que ele perdeu a cabeça!

– A de baixo, pelo menos, decididamente ele perdeu... - Seiya pensou alto, para logo depois receber um peteleco da Deusa, furibunda pelo seu comentário. - Ei, doeu!

– Claro que doeu! Isso é jeito de falar de uma situação dessas, Seiya?

– Olha só, eu não me habilito! – Aiolia se antecipou. – Aliás, eu acho que era melhor a gente sair daqui!

CRAAAASH! BONC!

– Gente, mas não era melhor mesmo alguém ir tirar o Saga de lá? – Saori estava ficando assustada.

– Eles são irmãos, Saori, eles se entendem. – Shiryu completou. – Aliás, eu prefiro acreditar que por pior que o Kanon fique, ele seria incapaz de realmente ferir o Saga de verdade...

BONC! BONC! CRASH! CLANG! CROC! POW!

– Shiryu, eu admiro seu otimismo, mas eles não parecem estar se entendendo muito bem agora não! Eu realmente acho que nós temos que entrar lá! - Dohko estava realmente preocupado.

– Então, Dohko, entre lá você, que eu não entro lá nem a pau! - Respondeu Aiolia. - Aliás, era o mais justo, já que você é o grande responsável por essa m**** toda!

Enquanto Dohko arregalava os olhos e Shion admoestava Aiolia por proferir um palavrão na presença da Deusa, a porta do recinto privado do templo de Gêmeos se abre e um Saga razoavelmente avariado e momentaneamente inconsciente é literalmente arremessado para fora.

– Vejam, bem que eu disse! - Exclamou Shiryu. - Ele está vivo!

Os outros olham para ele, assombrados.

– Ei, não me olhem assim, eu sei que ele está um pouquinho machucado, mas está vivo.

– Um pouquinho machucado? Me perdoe a piada pronta, mas olha direito, Shiryu! O Kanon moeu o irmão dele! - Hyoga retrucou, assombrado.

– Mestre Shion, tem certeza que esse braço dele está no ângulo certo? - Mu parecia genuinamente preocupado.

– Olhe... é cedo para dizer, mas me parece que não tem nada quebrado. Shion apalpava o cavaleiro de Gêmeos agora inconsciente, para logo depois dar um tranco no ombro esquerdo do mesmo, o recolocando no lugar.

– Gente, vamos tirar o Saga daqui e vamos pesquisar a fundo essa 'condição' atual do Kanon. Se há uma solução, temos que encontrá-la bem rápido. - Saori resolveu usar sua autoridade de Deusa para dispersar todos dali antes que Kanon se cansasse de quebrar o recinto privado da Casa de Gêmeos e resolvesse prosseguir sua catarse ali onde eles estavam.

E, junto com os cavaleiros presentes e um Saga já acordando, se puseram a subir as escadarias em direção ao Salão do Grande Mestre.

OOO

Conseguirá o corajoso grupo seguir em seu caminho até o Salão do Grande Mestre? Conseguirá Saga acordar ileso de seu embate com seu irmão, agora convertido em uma bela e furibunda mocinha? E conseguirá Kanon manter alguma coisa intacta dentro do Templo de Gêmeos ou não sobrará pedra sobre pedra na Terceira Casa?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned!


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Notas finais do capítulo

1- Novamente, mais uma referência! Será que o Pégaso anda vendo muito anime em casa?