Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 15
Segundo Axioma de Alley: A ignorância não é uma desculpa aceitável


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior...
Depois de um mergulho involuntário em uma lagoa de águas mágicas, Kanon de Gêmeos se viu em um belo corpo de mulher. E enquanto o suplente de Saga de Gêmeos e General Marina de Poseidon não encontra uma solução, ele (agora ela) passava seus dias a treinar as jovens aspirantes a amazonas, até que... Nick Fury, o lendário líder da S.H.I.E.L.D, vem ao Santuário convocar os cavaleiros de Atena para mais uma importante missão...



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Salão do Grande Mestre...

Depois do anúncio de que Kanon aceitaria participar da missão proposta por Nick Fury, o local caiu no mais sepulcral silêncio.

Silêncio esse cortado pela voz agora vacilante de Shion.

— Coronel, você... Poderia nos dar licença um minutinho? - Disse o lemuriano, enquanto se aproximava do ex-rapaz. - Saga, Kanon, Julian, Saori... Acompanhem-me até a recâmara, por favor...

— Não tem 'mas' nem meio 'mas', Shion. - Kanon cortou o Grande Mestre. - Eu já disse que eu vou participar dessa missão. Mais do que isso: Eu dei minha palavra de que eu vou participar dessa missão. E hoje em dia eu sou uma... pessoa de palavra, doa a quem doer.

— Kanon, escute... - Saori apertava os lábios, sabendo muito bem que havia pouquíssimas chances do ex-rapaz voltar atrás. Saga tinha, inadvertidamente, atingido o irmão naquilo que lhe doía mais, especialmente agora: os brios. - Não é que você não possa participar dessa missão, mas...

— Atena, Nick Fury tem razão. - Kanon cortou a deusa também. - Embora eu pareça uma mulher, na verdade eu sou um guerreiro treinado e que tem os pré-requisitos necessários para uma infiltração bem-sucedida... Não tem uma pessoa com perfil melhor do que o meu para essa missão, e todos vocês aqui sabem disso. E, apesar do que o Saga disse, eu estou longe de ser uma criatura indefesa, mesmo sem meu cosmo. Mesmo porque nessa missão nós não vamos poder utilizar cosmoenergia, estou errado, Fury?

— Não, não está. - Nick Fury até entendia o receio dos presentes ali, mas realmente pensava que Kanon era, ainda assim, fundamental ao sucesso da missão.

E seu interesse era ter a missão bem-sucedida, ao preço que fosse.

— Coronel, eu não posso permitir isso. - Shion estava visivelmente apreensivo. Mais do que ele, ainda, estava Saori Kido.

— Grande Mestre, Atena... - Apesar da apreensão palpável dos outros presentes na sala, Nick Fury não estava disposto a abrir mão da chance que caíra em seu colo. - Kanon já deu seu O.K. quanto à participação na missão, e ao que me parece nem mesmo vocês podem revogar sua decisão, a menos que ele mesmo o faça.

— Não podem. - Kanon concordou com o coronel. - E eu não vou revogar minha decisão.

— Isso é loucura, Kanon! - Saga estava também muito apreensivo, mas se dividia entre a apreensão, a culpa e a raiva de ver o coronel americano nitidamente manipular aquela situação delicada a seu favor.

— Gente... Um minutinho aí, todo mundo... - Ikki resolveu se manifestar. - É realmente uma loucura usar o Kanon como isca, Fury! Isso não vai dar certo!

— E por que não, Fênix?

— Porque, bando de espertos, ninguém aqui se ligou que o Kanon não vai conseguir convencer como uma mulher!

— Fênix, deixe de falar besteira. Olhe bem pra ele e diga se isso não é o suficientemente convincente para você. - Fury estava se irritando.

— Não é, e eu vou provar! Kanon, dá uma andadinha até ali e volte, por gentileza...

— Ikki, meu filho, 'cê tá doidão? Andou pela casa do Shaka enquanto ele queimava os incensos dele, foi? - O ex-rapaz também estava se irritando com o jovem cavaleiro de Fênix. - Eu já falei pra você não fazer isso, que aqueles incensos lá tão todos cheios de alucinógenos...

— Só faz o que eu tô te falando, vai!

Kanon rolou os olhos e fez o que o outro pediu. Andou até a parede e voltou.

— Pronto, Frango?

— Olhaí. Eu disse! - Ikki deu um sorriso vitorioso.

— Eu não estou te entendendo, Fênix... Qual é o problema? - Nick Fury rolou os olhos.

— Como assim, qual o problema? Vocês não viram ele andando? Só faltou coçar o saco! Aliás, só não coçou porque não tem mais! - Ikki expôs seu raciocínio. - Agora como que vocês querem que uma pessoa com essa elegância nata se meta em um vestido de gala pra dar o ar da graça em um cassino em Mônaco? Hein?

— Ikki, você tem razão! - O rosto de Saori iluminou-se. - Realmente, o Kanon pode até parecer agora uma bela garota, mas não convence como uma mulher fina e elegante!

— Opa, pera lá. Uma hora eu sou inútil porque eu virei uma mulher, outra hora eu não sirvo porque eu sou homem? Vocês tem que se decidir aí! - Protestou o ex-rapaz.

— Não é bem isso não, mas... - Julian estava reticente. - Mas é que você não ia saber mesmo se comportar feito uma dama da sociedade. Andar de salto, fazer mesuras, essas coisas...

— Isso não é problema! Eu realmente posso não ter sido educado pra ser uma moça fina, mas ainda assim não sou tão ignorante dos modos de uma mulher. E o que eu não souber fazer eu posso muito bem aprender, para me comportar como uma... dama. - Kanon engoliu em seco a última palavra dita. - Até porque não deve ser assim tão difícil assim.

— Você... Se dispõe a treinar para convencer como uma dama? - Nick Fury não estava acreditando no que ouvia. Realmente, a sorte estava do seu lado hoje...

— Eu dei a minha palavra de que eu não falharia nessa missão, não dei? Se isso for... necessário para o bom andamento dela... Eu faço.

Nick Fury respirou aliviado, enquanto os outros suspiraram desolados.

— Mas eu tenho uma condição, Fury.

— Diga... - O coronel encolheu-se. Sabia que tudo estava bom demais para ser verdade.

— Pois bem. Vocês querem que eu me passe por dama da sociedade em um cassino e use de minhas habilidades para impressionar o velhote. Isso significa que provavelmente eu deverei sentar em uma mesa de cassino pra jogar pôquer com um bando de apostadores endinheirados. Não é?

— É... - O americano não podia deixar de concordar.

— Pois muito bem. Minha condição é a seguinte: Eu não vou poder sentar em uma mesa dessas pra jogar sem apostar grana. Nesse caso, me perdoe o trocadilho, mas pode apostar que é muita grana que eles apostam. E eu não vou tirar isso do meu bolso. Mas sim do bolso da S.H.I.E.L.D, Fury.

— Ah..? - Nick Fury levantou as sobrancelhas, espantado. - Bem... Isso já era esperado, Kanon. Você não vai apostar seu dinheiro...

— Não, claro que não. Mas essa não é minha condição, não.

— Não..?

— Não. Minha condição é que vocês paguem o que eu eventualmente perder, afora o lance inicial. Mas o que eu ganhar naquela mesa é meu.

— Como?

— Não se faça de besta, Fury. - Devolveu o ex-rapaz. - Tudo que eu ganhar naquela mesa de pôquer será meu. Qualquer coisa, qualquer valor, é meu. Considere isso o pagamento pelos meus serviços.

— Mas...

— Eu garanto que você não vai se arrepender, Coronel. - A agora moça completou, levantando uma sobrancelha. - E, como você mesmo disse, esse é um preço barato para a organização pagar, em troca das vidas que serão salvas...

— Ah, tudo bem... - Nick Fury cedeu, irritado.

— Esperem aí. - Saga resolveu tentar intervir. - Coronel, você vai mesmo usar o Kanon nessa missão?

— Vou. - O Coronel respondeu secamente. - E, creio, vou usar você também. A não ser que você se recuse...

Saga ficou calado, enquanto tentava pensar numa solução.

— Bem, acho que já resolvi meus assuntos por aqui, então. - Nick Fury deu outra baforada no charuto, preparando-se para deixar o salão. - E então eu vou embora, mas mandarei notícias e o material necessário para acertar os últimos detalhes e partir em missão. Entendido, Kanon?

— Entendido, Nickey. - Kanon fez uma continência irônica, para logo depois se dirigir até a saída. - Vou indo também. Até porque agora, em vez de treinar as garotinhas, eu tenho que me treinar para parecer uma moça de família.

Os dois deixaram o salão, enquanto os outros presentes os acompanhavam com os olhos no mais absoluto silêncio.

— Eu vou vetar essa loucura. - Saori disse um tempo depois, quebrando o gelo. - Porque isso é uma loucura. Não tem como eu deixar uma coisa dessas...

— Saori... - Julian coçou o queixo. - Olhe... Pode parecer que não, mas eu conheço o Kanon. Se ele disse que vai nessa missão, ele vai. Vetar a presença dele nela é perda de tempo.

— Julie, não vai me dizer que você concorda com uma loucura desse tamanho! - Protestou a deusa. - Ou só eu aqui estou vendo os riscos que ele pode correr numa missão dessas?

— Eu concordo, Saori. Claro que eu concordo. Mas se você proibir o Kanon de ir, o máximo que você vai conseguir é que ele te desobedeça publicamente. - Julian Solo suspirou, resignado. - Acho... Acho que a melhor solução é tentar minimizar os riscos o máximo que der.

— Entendo... - Shion suspirou, desolado. - Mandando mais alguns cavaleiros junto, não é?

— Eu posso me infiltrar como camareiro, garçom, qualquer coisa assim... E tentar acompanhar a missão de perto também. A qualquer sinal de perigo eu tiro ela... digo, ele de lá. - Ikki colocou, resoluto.

— Obrigado, Ikki... - Saori suspirou. - Ainda assim, é bom mandar mais algum cavaleiro. Alguma sugestão, Shion? Máscara da Morte, talvez?

— Hum... Não. - Shion balançou a cabeça negativamente. - Máscara da Morte em Mônaco? Encrenca na certa. Não. Tem que ser alguém um pouco mais disciplinado. Talvez Milo, ou Camus... Afrodite também seria uma boa ideia... Alguma sugestão, Saga?

Saga estava perdido em pensamentos, e continuou calado.

— Saga? - O Grande Mestre voltou a interpelá-lo.

— Com licença... - Saga girou o corpo e saiu correndo dali.

OOO

Saga correu, procurou e procurou, até encontrar Kanon praticando alguns katas em um lugar bem isolado, nas pedras perto do mar.

Era inegavelmente uma bela visão para qualquer homem, aquela bela moça movendo-se com a graça e fluidez que Kanon agora tinha conseguido em seu novo corpo. Qualquer um ficaria atraído. Atraído, não... Enfeitiçado por aquela figura.

Menos Saga, é claro. Porque ele sabia que, embaixo dos cabelos louros, do rosto bonito e do corpo harmonioso estava seu irmão Kanon.

O aperto no peito que sentiu quando seu irmão aceitou a tal missão voltou, incômodo como nunca. Sabia bem que Kanon só tinha aceitado participar de uma missão como essa, ainda mais nas suas atuais condições, porque estava com o orgulho ferido.

E Saga se sentia responsável porque sabia que aquilo era, como dissera Saori, uma loucura. Mais ainda, era um risco desnecessário que Kanon só aceitara correr por conta de seus brios. Porque se tudo desse certo seria ótimo, mas se alguma coisa desse errado o ex-rapaz estaria no olho de um furacão, preso em um corpo que não era seu e sem poder usar sua cosmoenergia. E Saga já era experiente o suficiente para saber que, em missões como essa, coisas dando errado estavam longe de ser uma exceção.

Ele tinha que tentar tirar aquela ideia da cabeça do irmão. E a desgraça é que ele sabia que provavelmente não conseguiria.

Bom, nesse cenário talvez fosse uma boa ideia deixá-lo alguns dias inconsciente. Diria a Nick Fury que, infelizmente, Kanon ficara doente e ele teria que seguir com a missão sozinho. Parecia uma boa ideia, mesmo. A não ser pelo fato de que ele teria muito trabalho para nocautear um Kanon sóbrio.

Sim, porque uma coisa foi se impôr naquela famigerada briga com o ex-rapaz alto pela bebida, outra muito diferente era enfrentar a agora moça que ali executava os movimentos de combate com perfeição de anos de prática.

— Kanon? - Saga chamou o outro, que a princípio pareceu ignorá-lo. - Posso... Posso falar com você um minuto?

Kanon seguiu seus exercícios, sem responder. Saga soltou um suspiro desanimado. Mas por que, pelos deuses, o irmão tinha que ser tão cabeça-dura?

— Kanon... Ficar sem falar comigo não vai ajudar em nada.

— Ficar sem falar com você me priva de falar com você, e isso já é alguma coisa. - Respondeu a agora moça, sem nem sequer titubear em seus exercícios. - E por mim nós só conversamos sobre assuntos referentes à missão, já que até onde eu sei você também vai estar lá. Embora só vá servir para atrapalhar.

— Isso que você está fazendo é loucura. Você não pode ir nessa missão e você sabe disso!

— Se é loucura ou não, isso não é da sua conta, Saga.

— Claro que é!

— E por que seria? Hã? - Dessa vez Kanon parou seus movimentos e se voltou para o irmão. - Por que seria da sua conta se eu vou nessa missão ou não? Eu sou adulto, maior de idade, vacinado, treinado e ciente dos meus atos. A não ser que o seu problema seja que você vai ter restrições pessoais em se envolver numa missão comigo.

— Não é isso!

— Então se você é indiferente a quem vai ou deixa de ir a uma missão com você, por que diabos isso seria da sua conta?

— Porque é perigoso! É arriscado, Kanon!

— Sei. E daí?

— E daí que você é meu irmão, oras!

— Ah, tá. Então é porque eu sou seu irmão. - Kanon fez um muxoxo. - Tem certeza que não é porque você me acha um inútil?

Saga fechou os olhos e suspirou longamente.

— Saga, nada do que você disser vai me fazer mudar de opinião. Eu vou nessa missão e ponto.

— Kanon, por favor, seja menos cabeça-dura! - Saga exasperou-se. - Você sabe que é perigoso, sabe que é arriscado, e vai fazer essa loucura só pra me esfregar na cara que você não é um inútil? Você já foi mais inteligente do que isso!

— Já fui sim, claro! Mas é que agora eu sou uma menininha. Não é verdade, Saga?

— Você está retorcendo tudo o que eu falei. Você sabe que não foi isso que eu quis dizer...

— Não interessa o que eu sei ou o que eu não sei, Saga. Mas você disse o que você disse. Vai negar?

— Você me provocou, Kanon. Você sabe disso!

— Claro, eu sempre te provoco, não é? O malvado do Kanon sempre provoca o irmãozinho bonzinho dele! Por isso que você faz besteira, porque eu te provoco!

— Eu não sou obrigado a aturar as suas provocações, Kanon. Mas você é que parece que gosta de ficar o tempo todo me espezinhando. Qual é o prazer que você sente nisso, hein?

— O mesmo prazer que você sente de ficar me diminuindo, me criticando, como se tudo que eu dissesse ou fizesse fosse errado...

— Não é bem assim...

— ...Como se eu nunca fosse deixar de ser o irmão malvado e imprestável que você tem que arrastar pra tudo quanto é lugar...

— Não é bem assim! - Saga suspirou longamente. Já tinha passado por isso antes, por vezes o suficiente para saber que aquela tentativa de conversa provavelmente descambaria para mais uma sessão de acusações mútuas.

— ...Ah, quer saber? Já estou de saco cheio dessa conversa. - Kanon bufou, juntando algumas de suas coisas no chão para ir embora dali. - Eu tenho mais o que fazer, Saga.

— Kanon... - O outro balançou a cabeça em negativa. - Pelos deuses, não faça isso...

— Mas se isso te incomoda tanto, não esqueça que você sempre tem a opção de me trancar no Cabo Sunion de novo. - O ex-rapaz disse, de costas, sem se virar para o irmão.

Saga balançou a cabeça, desolado.

OOO

Casa de Gêmeos, dois dias depois, onde Kanon se dedicava a treinar seu novo disfarce: o de mulher da alta sociedade, junto com as amazonas Marin, Gisty, Shina e... a inestimável ajuda de Afrodite de Peixes.

— E eu que pensava que andar de salto era uma tarefa fácil... - Kanon tirava os sapatos de salto agulha quinze que estava usando para aprender a caminhar neles com um mínimo de elegância. - Dói o pé, essa m****!

— Muita gente já te disse que essa não era uma boa ideia, então eu nem vou repetir. - Afrodite de Peixes colocou, já um tanto irritado. - Outra coisa: mocinhas bem nascidas não usam esse palavreado. Aprenda de uma vez por todas a maneirar essa boca, sim?

— Coragem, Kanon. - Gisty, a ex-líder dos cavaleiros fantasmas e amazona de Vampiro, seguia tentando animar o ex-rapaz a continuar com seu 'treinamento'. - Saiu na chuva, agora tem que se molhar.

— Mas precisa mesmo usar essa porcaria pra andar no cassino? - A agora moça lançou à outra um olhar esperançoso.

— Precisa. - Afrodite meneou a cabeça afirmativamente, para tristeza do ex-rapaz. - Ou vai me dizer que você vai aparecer num cassino em Mônaco de vestido de gala e chinelo de dedo?

— Não...

— E olhe que nós ainda nem entramos na lição dois, que vai ser a parte da lingerie e maquiagem. - Sorriu Shina de Cobra, divertida, enquanto Afrodite ia até a porta atender um chamado.

— Não. Peraí. Lingerie já é demais. Demais! - Protestou Kanon, veemente. - Porque ninguém mencionou que eu ia ter que usar uma calcinha! Calcinha NÃO!

— Ah, tá. Vai usar um vestido lindão com uma cuecona samba-canção por baixo? - Shina perguntou, irônica.

— E por que não? Pois NINGUÉM daquele lugar vai sequer chegar perto de ver minha roupa íntima. Qual o problema de eu usar cueca?

— Pode marcar o vestido! - Gisty colocou, solícita. - Ah, não vai ser um sacrifício tããão grande assim, vai...

— Você fala porque não é você quem vai passar por isso!

— Kanon, você tem que ter disciplina! Não é isso que você vive falando pras meninas no treinamento? - Shina não resistiu à piada.

— Disciplina? Pois aqui ninguém mais tem moral pra vir me falar em disciplina! - Bradou a agora moça. - Afinal, quem aqui está aceitando participar de uma missão usando salto alto e vestido de festa? Mas aí querer que eu encare uma calcinha já é demais! Outra coisa: sutiã nem pensar, também!

— Só um minutinho aí, porque -aham- mandaram um pacote da S.H.I.E.L.D pra você... - Afrodite esticou o pescoço, posto que tinha saído momentaneamente para recolher a encomenda entregue por um mensageiro do Santuário, destinada a Kanon e a Saga.

As duas amazonas abriram a pare da encomenda referente a Kanon, para dela retirar um vestido de gala, uma bolsa, um par de sapatos e algumas jóias.

— Sorte sua, Kanon, não vai precisar de sutiã... - Shina disse, divertida, enquanto Gisty levantava o vestido para todos verem.

— Não? - O ex-rapaz meneou a cabeça.

— É tomara que caia, com bojo embutido... - Gisty esmiuçava o vestido atentamente. - Olha esse forro. É seda? E essa renda por cima!... Não vem o preço? Porque um vestido desses deve custar bem um ano do meu soldo...

— Gisty... Esse vestido é um Dior! - Afrodite adiantou-se à amazona, para pegar a peça nas mãos com todo o cuidado, como que enfeitiçado por ela. - Um vestido Dior de renda Chantilly negra e fundo de cetim de seda adamascado! Por todos os Deuses do Olimpo...

— Ah... - Kanon olhava o vestido nas mãos de Afrodite, que virava e revirava o vestido como que se quisesse reparar em cada detalhe. - Parece coisa fina, hein?

— Coisa fina, Kanon? - Afrodite soltou um bufido. - Céus, você não prestou atenção em NADA do que eu te disse a respeito de moda e alta sociedade? Isso é coisa finíssima! Um vestido desse custa um ano do MEU soldo! E do seu também...

— Olha esses sapatos. Olha esses sapatos! - Shina agora parecia um pouco alterada. Não era para menos: um dos fetiches de moda da amazona de cobra eram sapatos, como o de tantas outras mulheres. Era certo que como amazona de prata ela tinha um soldo razoável, mas passava longe de ser o suficiente para comprar um sapato daqueles sem ter que recorrer a um crediário. E ela era uma moça muito conscienciosa de seus limites financeiros.

Mas isso não significava que ela não soubesse reconhecer um par de sapatos que tivessem um preço na casa dos quatro dígitos.

— Olha esse colar e esse brinco! - A amazona de Vampiro ficou um tanto mais alterada do que a colega ao ver Afrodite abrir a caixa da joalheria Tiffany's e dar de cara com um belo colar de brilhantes com anel solitário combinando.

— Ah, mas não deve ser jóia de verdade não... - Kanon coçou a cabeça, impressionado com o conjunto nas mãos do colega da décima segunda casa. - Mas que é uma bijuteria bem feita, isso é...

— Bijuteria, Kanon? - Afrodite fez uma expressão de desgosto quase dolorida. - Isso é uma jóia Tiffany's! O que eu te falei a respeito de decorar tudo o que pudesse do filme que eu te mandei assistir?

— Mas que m****, eu nunca tive paciência de assistir aquele filme da Bonequinha de Luxo, não! Nunca achei aquela atriz muito bonita mesmo...

— Audrey Hepburn é uma diva, Kanon! - Afrodite já estava perdendo a paciência. - E você tinha que comer, beber, andar, tomar banho e fazer tudo do resto do seu dia pensando nela! Eu já não te falei que ela era o melhor modelo pra você se inspirar pra se comportar como uma dama?

— Mas hein, ela é muito sem graça! - O ex-rapaz protestou. - Você bem acha que eu vou chamar a atenção de um mafioso cheio da grana me baseando nela?

— Bom, imitando aquelas garotas de programa do Harém é que você não vai... - Shina colocou.

— Mas o que é essa gritaria? - Marin chegou por ali, já que coincidentemente passava por ali vinda da casa de Leão. - O Kanon está precisando de ajuda?

— Olha isso! - As duas outras amazonas falaram ao mesmo tempo, uma mostrando as jóias e a outra com os sapatos de pelica nas mãos.

Marin, entretanto, tinha os olhos fixos no vestido Dior que repousava placidamente na mesa.

— Isso é... - A amazona ruiva pegou o vestido, levantando-o para vê-lo melhor.

— Um legítimo Christian Dior de renda chantilly e cetim adamascado de seda pura, meu bem. - Afrodite estava quase emocionado. - Aproveita e olha bastante, que você nunca mais vai por a mão num desses.

— Oh meu Zeus... - Marin estava extasiada. - Isso é... Olha! Olha! Olha as luvas combinando! OLHA A BOLSA!

— Mas o que tá... - Aiolia, que vinha descendo atrás da namorada, estava surpreso de ver as três amazonas à beira de um aparente ataque de nervos, junto com um Afrodite apenas levemente mais controlado. Mas Kanon, a outra mulher também no local, partilhava sua expressão de estranhamento. - Kanon, o que tá acontecendo?

— Eu recebi as roupas que eu vou ter que usar na missão e aí elas... ficaram assim.

— E como que você queria que a gente não ficasse? - Shina continuava namorando os sapatos. - Olhem esses sapatos!

— É, tem jeito de roupa cara mesmo... - Aiolia olhou para o vestido e os sapatos atentamente.

— Caro? - Afrodite virou-se para o colega de armas. - Aiolia, esse vestido é haute-couture! Feito sob medida! É quase um vestido de princesa!

— Ah, foi por isso que veio aquele alfaiate aqui pra pegar minhas medidas e costurar uns panos no meu corpo? - Perguntou o ex-rapaz.

Ao ouvir isso, os olhos da amazona de Águia quase lacrimejaram.

— Mas... Vestidos de alta costura não demorariam mais pra ficarem prontos? - Perguntou Shina.

— O tal costureiro disse que eu tinha medidas parecidas com as da modelo de prova. Ou algo assim. O que é uma modelo de prova?

— Aff, Kanon... - Afrodite revirou os olhos. - Esquece.

— Vamos experimentar o vestido! - Gisty pegou o ex-rapaz pelo braço. - Vem!

— Ei... Espera aí, eu... - Kanon tentou protestar, mas foi arrastado dali até o quarto.

— Cadê o Saga? Chegou a parte dele, também... - Afrodite já desempacotava os pertences de Saga dentro da encomenda. - O que... OH MEU ZEUS!

— O que foi? - Aiolia ficou preocupado. Afrodite já estava empolgado com a parte das encomendas referentes a Kanon, mas agora...

— Ei, mas que feira é essa dentro da minha casa? - Disse o dono das encomendas abertas por Afrodite, que acabava de chegar. - Ei, Afrodite, essas encomendas aí não são as roupas que a S.H.I.E.L.D. mandou pra eu participar da missão?

— Olha. Esse. Smoking! - Afrodite deu pouca atenção a Saga, agora que estava verdadeiramente emocionado.

— Que é que tem? - Saga olhava para a roupa, sem entender o motivo de tamanha comoção.

— ARMANI! É um smoking Armani! Olha a gravata! Olha o sapato! OLHA TUDO, meu Zeus do céu!

— Ah?

— Um smoking Armani! Sapatos Ermenegildo Zegna! O cinto, as... Abotoaduras! Abotoaduras de ouro! Mas... Veio pronto assim, ou veio alguém aqui tirar suas medidas?

— Ah... - Saga coçou a cabeça. - Bom, veio um alfaiate tirar minhas medidas sim, mas... o que é que tem?

O cavaleiro de Peixes era agora quem estava quase lacrimejando.

Afrodite, entusiasta de moda que era, sempre tivera o sonho de ter um smoking Armani feito sob medida em seu armário. Porque só um conjunto como esse, de um renomado estilista como Giorgio Armani e com o caimento impecável de uma peça custom-made, poderia fazer jus à seu porte e beleza quando ele não estivesse trajando sua armadura de ouro. Mas, é claro, um conjunto desses era caro. Feito sob medida, então...

— Como 'o que é que tem'? Mas é o cúmulo de entregar pérolas pra porcos, mesmo! Eu, que sou eu, e que SEI apreciar uma preciosidade dessas fico aqui chupando o dedo enquanto esses jecas aí vão pra MÔNACO se misturar com a fina flor da realeza européia vestindo Dior e Armani!

— ...Ele me chamou de jeca? - Saga fechou a cara, perguntando para um Aiolia incrédulo.

— ...Onde está o merecimento nesse mundo? Onde está a justiça nessa terra? Como que ELES vão pra Mônaco e eu fico nesse Santuário quente e empoeirado no meio desse mundo de mulher feia e bigoduda? Ainda tendo que ensinar esses jecas a se portarem em um ambiente de alto luxo que EU devia estar frequentando? Assim não pode! Assim não dá! Por um acaso Atena está pensando que eu tenho cara de fada madrinha de Cinderela?

— ...Ele me chamou de jeca de novo? - Saga fechou ainda mais a cara, mas Aiolia pousou a mão em seu ombro.

— Ah... Deixe estar, que eu acho que ele já tá enfrentando a punição dele...

Ma che, que gritaria é essa que o Rudy tá fazendo? Tá pancada de sair gritando desse jeito a essa hora? - Máscara da Morte entrou pela porta dos fundos, atraído pela indignação do colega.

— Tem alguma coisa a ver com o smoking que o Saga vai usar na missão... - Aiolia meneou a cabeça, enquanto o italiano foi olhar a tal roupa causadora de tanta discórdia.

— Mas é um terno isso? Rudy, se é um terno que você quer tem um alfaiate em Rodório que faz igualzinho! É só você levar esse que ele tira o molde e ó, não tem quem diga que não é o mesmo... Não precisa ficar nesse chororô!

— Que terno de alfaiate de Rodório o quê! Isso é um ARMANI legítimo, feito à mão e sob medida! SOB MEDIDA! Você acha que EU ia me contentar com um reles molde de um alfaiate de meia tigela de Rodório? Mas por que eu, justo eu, tinha que viver no meio dessa cafonalha toda? Por que não podia ir eu para uma missão dessas, e quem sabe arrumar uma mulher linda, chiquérrima e podre de rica pra me bancar e me tirar desse murundum e eu enfim ter a vida que eu mereço?...

A expressão de estranheza do protetor da quarta casa dizia que ele, também, não entendia o motivo de tanta indignação.

— Mas tá parecendo o Milo naquele dia que ele descobriu que a Shina... - Aiolia disse, meio sem pensar.

— Que é que tem eu? - Perguntou a aludida.

— Ah... Você? Não, não tem nada com você não...

— Você disse meu nome, Aiolia.

— Eu disse? Não, não disse não.

— Disse, sim...

— Ah... Eu devo ter me enganado, então...

— Sei...

— Gente, mas que gritaria era essa? - Kanon volta para a sala, já com o vestido no corpo seguido por Gisty, que teimava em lhe ajeitar o zíper. - Dá pra alguém me explicar o que tá acontecendo?

Ninguém respondeu, já que todos, agora, olhavam insistentemente para a visão que era agora o ex-rapaz, trajado no vestido que lhe fora encomendado.

— Nossa... - Até mesmo Afrodite, antes tão preocupado em reclamar das injustiças do Destino em relação a sua pessoa, tinha que dar a mão à palmatória: o ex-marina (e ex-rapaz) agora era uma visão de tirar o fôlego.

— Ei, tão olhando o quê? - Kanon imediatamente colocou-se em defensiva devido ao silêncio do grupo que antes gralhava em sua antesala. - Nunca viram uma mulher de vestido, não?

— Pelos deuses... - Marin aproximou-se da agora moça. - Você está... Linda!

A cara de contrariedade que Kanon fez não deixava dúvidas: não tinha ficado feliz com o comentário.

— Mas está, não está, Aiolia? - Marin virou-se para o namorado, que preferiu ficar calado. - Tá parecendo quase uma princesa!

— Olha... - Afrodite recobrou a fala. - Princesa eu não digo, mas dá pra passar fácil por uma dessas herdeiras européias milionárias... Tirando os modos, é claro.

— Kanon, meu camarada... - Máscara da Morte, atônito, aproximou-se do ex-rapaz para então se ajoelhar diante dele e pegar em sua mão esquerda, num galanteio. - ...Casa comigo?

— Olha o respeito, Lucchese! - Kanon quase deu um chute no italiano que agora se dobrava de rir, mas foi impedido por Marin e Gisty, que temiam que ele, agora ela, pudesse rasgar o tão precioso vestido. - Tá pensando o quê, carcamano filho de uma rapariga?

Mas Pierino não se livrou de um tapa de Saga na cabeça, que aparentemente também tinha ficado ofendido pela brincadeira do italiano.

— Ei, eu só estava brincando! - O protetor da quarta casa passava a mão no cocoruto.

— Sei... - Saga, de cara fechada, olhava severamente para o outro. E depois se virou para Afrodite. - A propósito, Peixes... Não é só o Jeca aqui que vai pra Mônaco, não. Parece que outros cavaleiros de ouro estarão escalados para a missão, incluindo você.

— Eu? - Afrodite abriu um sorriso iluminado. - Eu vou pra Mônaco?

— Vai. E eu trouxe uma caixa pra você também, com o material que você vai usar na missão...

Afrodite correu até a entrada do templo, ansioso pela sua caixa.

— E quem serão os felizardos que vão pra Mônaco? - Máscara da Morte perguntou, puxando Saga para um canto para apartá-lo dos outros, especialmente Kanon.

— Na verdade, todos os cavaleiros de Ouro estarão envolvidos. O Kanon vai ser a isca, junto comigo. Você, o Shura, o Camus e o Afrodite vão formar o time responsável pela captura do elemento. O Mu, o Aldebaran, o Aiolia e o Milo vão ficar responsáveis pela nossa saída e fuga do local. O Shaka, o Aiolos e o Dohko vão formar o time de apoio pro caso de algum imprevisto. E o Ikki... O Ikki vai atuar infiltrado para proteger o Kanon durante a aproximação do alvo e intervir caso alguma coisa dê errado.

— Até o Ikki vai? Porca miseria... Tudo isso pra uma missãozinha chinfrim dessa?

— Máscara, veja bem, nós vamos nos infiltrar em outro país pra sequestrar um chefe da máfia italiana para entregá-lo pras autoridades da S.H.I.E.L.D. - Saga franziu a testa, falando em um tom grave que deixava entrever sua preocupação. - Se der qualquer coisa errado, nós poderíamos desencadear uma crise diplomática, no cenário mais otimista. Isso sem falar no risco que o Kanon vai correr...

— Pfff... Relaxa. - O italiano fez um muxoxo. - Mas não precisa de tanto estresse... Afinal de contas, o que poderia dar errado com um time desses?

Saga meneou a cabeça, querendo muito concordar com o colega.

OOO

E, com a intrépida equipe formada para essa importante missão, conseguirão os cavaleiros de Atena capturar o terrível mafioso Benicio Basili e mais uma vez salvar o mundo das garras do crime organizado? Lograrão eles esse intento em relativa segurança? Ou Saga teria razão em sua apreensão?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned...


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