Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 11
Lei de Conway: Em toda organização sempre há alguém que sabe tudo o que se passa - Esse alguém deve ser dispensado.


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior...
Kanon de Gêmeos, transmutado em uma mulher e impedido de utilizar seu cosmo, tenta seguir com sua vida enquanto busca uma solução para seu problema, contando com a ajuda (?) dos outros cavaleiros e em especial de seu irmão Saga (?), cavaleiro oficial da constelação de Gêmeos. Neste ínterim, porém, eis que Sorento de Sirene e Thetys de Sereia, servidores leais de Poseidon também conhecido como Julian Solo, chegam ao Santuário em busca do General Marina de Dragão Marinho, ignorantes de sua atual condição...



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Santuário de Atena, escadarias da entrada do Terceira Casa Zodiacal...

Saga de Gêmeos estava surpreso.

Muito mais do que isso: Estava assombrado.

Não era pelo fato de que diante de sua casa estavam dois completos desconhecidos. O que, por si só, seria um bom motivo: Era de se esperar que o espaço das Doze Casas, última trincheira de resistência do Santuário ao acesso do Salão do Grande Mestre e da Estátua de Atena, fosse um lugar de acesso extremamente restrito. Essa era, afinal, a função dos Cavaleiros de Ouro que guardavam cada um dos templos zodiacais.

Não era, tampouco, pelo fato de que os dois desconhecidos consistissem em uma garota loira e até bem bonitinha, trajando um tailleur mais justo ao corpo do que o recomendado para um ambiente tão predominantemente masculino como era o Santuário (o que Saga achava bom); e um rapaz metido em um terno de linho com gravata rendada que pareciam absurdamente quentes para o clima escaldante do verão grego, mas que se mantinha impávido diante do calor e seguia medindo-o de alto a baixo com um certo ar de enfado e trejeitos irritantemente aristocráticos (o que Saga não achava bom).

Na verdade, o que lhe surpreendera tanto foi o fato que o almofadinha lhe confundira com Kanon, e não o contrário.

Isso sim era assombroso.

Afinal, sendo ele o gêmeo 'oficial' no Santuário devido a todo o segredo que cercava a existência do irmão, era muito natural que Kanon, enquanto estivesse no Santuário, assumisse sua identidade e se fizesse passar por ele. E Saga esteve pouquíssimas vezes na ilha onde seu irmão treinara, e mesmo lá todos sabiam que ele era seu irmão.

Assim sendo, não era exagero nenhum dizer que Saga nunca passara pela situação de ser confundido com seu irmão gêmeo idêntico antes.

O janota se aproximou, ainda o olhando atentamente, junto com a garota.

— E então, Kanon, é assim que você trata os amigos? - A garota perguntou com voz irônica, enquanto ele seguia calado.

— Nota-se que nem sua estadia no Santuário melhorou seus modos. - Completou o rapaz, num tom enfadado.

Saga, apesar do silêncio, pensava a todo vapor. Se ela e o mauricinho o estavam confundindo com Kanon, isso era sinal de que eles o conheciam, mas não conheciam a ele. Por estranho que isso parecesse.

Rapidamente, Saga fez uma lista mental de possíveis amizades do irmão que ele não compartilhava; mas duvidava muito que o almofadinha ou a garota diante de si se encaixassem no perfil de pessoas com que Kanon convivera em seu tempo livre na ilha onde vivera antigamente. A saber, marinheiros e estivadores vagabundos, frequentadores de estabelecimentos duvidosos, jogadores de pôquer incautos que o irmão depenava sem dó, e mulheres de espírito mais... liberal, por assim dizer.

Mas Saga atentou para um detalhe: o janota o chamara de Dragão Marinho.

Seria possível que aquele mauricinho de cara enjoada era um dos Generais Marinas de Poseidon?

— Er... - Saga pigarreou, decidindo apostar nessa última opção, por mais estranha que parecesse. - Na verdade, não...

— Oh, sim... - Sorento de Sirene pôs o dedo indicador no queixo. - Então, presumo, você deve ser o irmão gêmeo dele, Saga de Gêmeos.

— Isso.

— Pois bem... - Sorento não se abalou com a confusão, visto que ainda mantinha seu ar irritado. - Eu sou Sorento de Sirene, General Marina de Poseidon e antigo Guardião do Pilar do Atlântico Sul, e esta é Thetys de Sereia, Comandante Marina.

— Ah... Muito prazer. - Saga acenou a cabeça, ainda um tanto surpreso.

Seria realmente possível que aquele almofadinha fosse mesmo um guerreiro? Mas, de pronto, veio em sua mente o relato de Kanon sobre seus antigos companheiros; especificamente um comentário muito depreciativo a respeito de um deles que tocava uma flauta, seguido por opiniões impublicáveis a respeito do que ele sentia vontade de fazer com o dito instrumento musical.

Será que era esse o tal flautista que escapou por tão pouco de ver sua flauta usada em si próprio como supositório?

— E então, Saga de Gêmeos, onde está seu irmão? - Perguntou o outro, e a pergunta trouxe a Saga uma incômoda realidade: O que ele deveria dizer a respeito de Kanon, afinal? Que ele tinha caído numa lagoa mágica e virado uma mulher de corpo sinuoso e peitos arrasadores? Definitivamente não parecia uma boa ideia.

— Eu acho melhor perguntar pra aquela mulher saindo ali. - Thetys observou, enquanto a forma feminina de Kanon saía do templo em seus habituais trajes de treino, que para sua desventura eram ainda mais justos que o tailleur da mocinha. - Ela tem bem o jeitão das sirigaitas com quem ele anda.

O ex-rapaz, pego de surpresa, arregalou os olhos azuis. Reconhecera de pronto os antigos colegas do Templo de Poseidon. E definitivamente esse reencontro, nessas condições, não estava em seus planos.

Saga, por sua vez, volta o rosto em direção à agora moça, literalmente sem palavras.

— Ô querida... - Thetys interpelou a outra, quebrando o silêncio. - Estamos procurando um rapaz igual a esse aqui. Ele estava aí dentro com você, por acaso?

— Thetys, que deselegante! Isso lá é jeito de falar com uma dama?

— Onde que você está vendo uma dama além de mim aqui? Francamente, Sorento, vamos deixar os cortejos de lado, afinal você não veio aqui pra cantar 'moçoilas' como essa daí. Nós viemos aqui atrás do Dragão Marinho. - Thetys pôs uma das mãos na cintura. - A 'senhorita' aí, quem é?

Kanon crispou os lábios e franziu a testa, colocando as duas mãos na cintura. Saga podia intuir que teria problemas.

— Vem cá, coisinha, posso saber porque você tá se referindo à minha pessoa desse jeito? Até onde eu sei, até agora eu não te dei motivo nenhum pra você insinuar qualquer coisa a meu respeito.

Thetys imediatamente endireitou as costas no momento em que foi interpelada pela outra mulher. Ser chamada de 'coisinha' a irritara profundamente, mas ela não podia dizer que era a primeira vez: Dragão Marinho e ela tinham uma antipatia recíproca, e ele habitualmente a chamava assim para irritá-la.

E agora aquela sirigaita vinha e chamava ela assim? Com que direito?

— Nem precisa. Porque usualmente moças de respeito não saem da casa de homens solteiros a essa hora, muito menos amazonas consagradas à -aham- deusa Atena que nem você, querida. Especialmente conhecendo, como eu conheço, o histórico de um dos habitantes dessa casa. Dá até pra imaginar o treinamento que você devia estar fazendo aí dentro.

Saga já não estava mais achando graça nenhuma, até porque podia praticamente antever seu irmão assassinando a loirinha, dada a forma como a agora moça apertava os punhos tentando conter sua raiva.

— Nossa, coisinha, tudo isso é despeito porque ele nunca te deu cabimento, foi? - A agora moça disparou, mordaz. - Não é nada pessoal, mas é que ele não curte pegar peixinho pra criar não.

— Nem que ele quisesse muito, minha filha, nesse corpinho aqui ele nunca ia por a mão! - Protestou imediatamente a comandante marina.

— Olha que quem desdenha quer comprar, coisinha. Ahhh... Esqueci. Você então deve ser a tal capacha do Julian que é paradona na do teu chefe, que pelo jeito continua sem saber que você existe. Ainda mais agora que ele e a chefinha do Saga aqui andam se... Entendendo melhor. Foi mal pra você, né?

Agora era Thetys quem apertava os punhos, furibunda; e teria partido para cima da agora moça se não fosse contida pelo colega.

— Thetys! - Sorento, que tinha se empertigado todo quando viu o ex-rapaz saindo do templo de Gêmeos, imediatamente repreendeu a colega. - Pelos deuses! Agora você não está mais sendo deselegante, você está ofendendo a moça! Já não bastava toda a querela com o aprendiz do cavaleiro de Áries, e agora isso? O que essa dama vai pensar que nós somos?

Sorento adiantou-se na direção da agora moça, para lhe fazer uma mesura.

— Perdão, senhorita, pela falta de educação de minha rude companheira. Eu sou Sorento de Sirene. - O marina apanhou a mão da moça estupefata e curvou-se, beijando de leve o dorso da mão; fazendo com que Saga quase engasgasse enquanto a agora moça ficava sem ação. - Encantado, minha bela dama.

Saga agora tampava a boca e o nariz com as duas mãos, desesperado para abafar as gargalhadas teimosas que nasciam em sua garganta. Os olhos de Kanon, por sua vez, faiscavam.

— Se você soltar um piu, Saga, eu te mato. - O ex-rapaz puxou a mão, para limpá-la na roupa de treinos. Saga seguia se contorcendo para não rir.

Sorento piscou, com uma expressão confusa no rosto que era acompanhada por Thetys.

Não entendia o desconforto da moça, muito menos as quase gargalhadas abafadas com muito custo pelo cavaleiro de Gêmeos. O que havia de tão engraçado em se cumprimentar uma bela dama como aquela da maneira apropriada, afinal?

A propósito, quem era a moça, mesmo?

— Ha... Haa... Perdão. - Saga parecia mais controlado.

— Err.. Qual a sua graça, senhorita?

Saga mordeu os lábios com força, mas não deixou de soltar um risinho abafado. Parou na mesma hora ao receber um olhar mortal do ex-rapaz.

— Eu sou... Tessália, prima do Saga e do Kanon. - Respondeu a agora moça. - E não, não sou amazona, sou só instrutura física a serviço do Santuário... E nem tenho nada com nenhum deles dois, credo.

— Como assim prima? - Thetys disparou. - Que eu saiba eles são órfãos. De onde sairia uma prima?

— Ah... - Saga já estava ficando confuso. Teria problemas para manter essa história, a começar pelo ponto que a Comandante de Sereia acabara de levantar. Mas Kanon resolveu cortar a moça.

— Ô coisinha, larga mão de ser chata, viu? Se eu tô falando que eu sou prima deles, é porque eu sou, ora! Não vê que a gente até se parece? Presta atenção!

— Realmente, senhorita Tessália, agora que estou reparando bem vocês tem... bem... traços em comum. - Sorento novamente fez um floreio para chamar a atenção da moça. - Só que, no seu caso, ditos traços são muito melhor aproveitados!

Dessa vez Saga mal conseguia conter as risadas, e mordia o nó dos dedos com o rosto vermelho e os olhos já lacrimejando.

— Qual a graça? - Indagou a Sereia, levantando um sobrolho, enquanto Kanon olhava exasperado para Sorento.

— Ah... Ahhh... - Saga tentava não rir, mas sabia que precisava pensar numa solução para evitar que o General Marina seguisse cantando seu irmão. - A Tessália é... bem...

— A Tessália aqui não gosta de homem, meu bem. - Kanon afastou-se de golpe do Marina, que ficou assombrado. - Não curte, não gosta, nada pessoal. Mas valeu pela tentativa, fofo, porque você é tão delicadinho que eu quase me senti atraída por você. Mas só quase.

Thetys, assim como Saga, não conseguiu segurar o riso; e Sorento estava agora genuinamente irritado.

— Ah, bem... Obrigado pela parte que me toca, Tessália. Embora eu possa te garantir que eu nada tenho de 'delicadinho'.

— Haa... Hum, claro, claro. - Saga seguia tentando engolir as gargalhadas. - De qualquer forma, Kanon não está aqui.

— E onde ele estaria, Saga? - Sorento indagou, ainda irritado como nunca. - Porque os outros cavaleiros de Ouro me garantiram que você saberia dizer onde estaria seu irmão.

— Oh, bem... Bem que eu gostaria que isso fosse verdade, mas infelizmente... É como disse a senhorita Thetys, aqui. Oras, vocês sabem como é o Kanon, não é mesmo? Ele achou de justo ontem passar a noite fora e não dizer onde ia, nem com quem. E aquele irresponsável resolve fazer isso justo no dia que recebemos a visita de nossa adorável prima que veio de longe só para nos ver. Muita falta de consideração, não acha, Tessália querida?

— Claro, Saga. Uma insensibilidade. - Kanon respondeu, a contra-gosto.

— Mas... Ele some assim, sem mais nem menos, sem nem dar satisfação? - Thetys perguntou. - Pensei que Atena fosse mais rigorosa com seus comandados...

— Ela é, Thetys, mas Kanon é um caso perdido. - Saga balançou a cabeça, exasperado, enquanto Kanon fuzilava o irmão com o olhar. - Bem, mas vocês vieram aqui só para vê-lo?

— Na verdade... Mais para saber notícias dele, mesmo. Há algum tempo ele não se reportava à Ordem Marinha; desde a missão na China, precisamente.

— Típico, caro Sorento, Típico... Mas enfim, ele retornou da missão e achou de dar essa escapada. - Saga completou.

— E Julian Solo, onde está? - Kanon perguntou, tentando parecer desinteressado.

— Na Fundação Graad, foi falar com Saori Kido. - Bufou Thetys.

Saga e Kanon arregalaram os olhos, ao mesmo tempo...

OOO

Fundação Graad...

— O QUÊÊÊÊ?

— Calma, Julie... - Saori tentava acalmar seu 'amigo' Julian Solo, depois de contar a ele a novidade acerca de seu General Marina.

— Como assim calma? - Julian estava estupefato. - Você está me dizendo que o Dragão Marinho virou uma MOÇA? É isso?

— É...

— Shun, o que foi que fizeram com ela dessa vez? - O milionário voltou-se para o cavaleiro de Andrômeda, presente ali para dar apoio moral para sua amiga deusa nesse momento difícil. - Foi o Hades, não foi? Mas pelos deuses, nós não estamos em tempos de paz?

— Julian, ninguém fez nada, juro... - Shun tentava contemporizar.

— COMO que não fizeram nada? Gente, ninguém aqui tá percebendo que ela está alucinando? Por Zeus! Os demônios de Hades agora estão se infiltrando na cabeça dela para fazê-la ficar LOUCA! Não é possível que nenhum de vocês INÚTEIS não tenham percebido!

— Julie...

— Isso é loucura! LOUCURA!

— Julie...

— Eu vou convocar uma reunião com Zeus! Vou! Isso é uma violação CLARA do acordo de paz e...

— JULIAN! - Saori gritou, chamando a atenção do outro para si e o fazendo calar a boca.

— Ah?

— Eu NÃO ESTOU ALUCINANDO, DROGA! - Gritou a deusa de novo. - Por mais louca que pareça a história, ela É VERDADE!

— COMO ASSIM? Um homem não cai em uma lagoa mágica e vira uma mulher, Saori! Isso NÃO EXISTE!

— Existe sim, e INFELIZMENTE aconteceu! Se você quiser a gente vai lá no Santuário e confirma a história toda com o Shion, com o Dohko...

— E o Kanon... - Shun completou, enquanto Julian seguia sem palavras.

— E o Ka... Melhor não. Ele vai ficar muito, muito, muito muito muito bravo se descobrir que o Julian sabe. É capaz de tentar me matar de novo!

— Saori... - Shun interrompeu suavemente a deusa. - Mas o Julian teria que saber. E o Kanon vai ter que saber que ele sabe.

— Tá, tá, tá.

— Espere. Isso é verdade mesmo? - Julian ainda se recusava a acreditar.

— CLARO QUE É, Julian! Acha que eu ia brincar com uma coisa dessas? Mas Julie... Pelo amor de Zeus não deixe os outros generais descobrirem! Com certeza ele ia achar o cúmulo da vergonha!

— Ah... - O fato de que seu general de Dragão Marinho agora era uma moça finalmente entrou na cabeça do jovem magnata. - Mas... Ih, droga.

— O que foi? - Perguntou Saori.

— Thetys e Sorento foram atrás dele. Capaz que já tenham descoberto...

— Então usa seu cosmo e convoca eles aqui! - Saori falou num tom urgente. - Anda, Julie!

— Mas e se eles já souberem?

— A gente obriga eles a esquecerem com um Satã Imperial do Shion!

— Ei, isso não! - Protestou Julian.

— Julie, você não está entendendo a gravidade da situação!

— Esperem... -Shun interrompeu os dois. - Acho que seria mais prudente contatar o Saga primeiro. Porque eu tenho certeza que, dada a situação, é bem provável que eles achem o Saga antes do Kanon.

— A não ser que algum cavaleiro linguarudo já tenha dado com a língua nos dentes! - Saori seguia andando de um lado para o outro, preocupada.

— E eu NÃO vou deixar ninguém acertar nenhum dos meus generais com um Satã Imperial. Depois é um sufoco pra desfazer os efeitos do golpe! - Completou Julian, também absorto em seu próprio poblema. .

— Gente, vamos ligar pro Saga primeiro antes de ficarmos pensando no pior? Porque quanto mais a gente demorar pra ligar, maior vai ser a chance de eles descobrirem a verdade...

Julian e Saori olharam atônitos para o cavaleiro, mas não podiam deixar de dar razão a ele.

OOO

Casa de Gêmeos...

No momento em que Saga e Kanon seguiam olhando um para o outro, com olhos arregalados, o telefone toca; chamando a atenção de todos os presentes.

Saga, contrafeito, resolve atender.

— Alô?

— Quem fala? - Perguntou Julian, no outro lado da linha.

— Saga de Gêmeos. Quem está falando?

— Saga, sou eu, Julian Solo.

— Ah... - Saga franziu as sobrancelhas. - Olá, Senhor Solo...

— Olá. Sorento e Thetys estão por aí? - Julian perguntou, tendo Saori e Shun do seu lado, apreensivos; ouvindo a conversa no viva voz. -

— Ah... - Saga franziu a testa, tendo sob si o olhar atento do irmão e dos dois visitantes. - Sim.

— Ótimo. Posso falar com ele?

— Ah... - Saga arregalou os olhos, pensando que Julian já pudesse estar sabendo da verdade, e teria ligado para contar para os dois o que realmente estava acontecendo. Mas como ele poderia enrolar o avatar de Poseidon? Esse era um talento do Kanon, não dele... - Bem...

— Eu sei que eles estão aí. E e Saori já me contou tudo.

— Ah...

— Eles descobriram o que aconteceu?

— Bem... não.

— Não desconfiam de nada?

— Não...

— Então me passe logo pro Sorento.

— Mas...

— Anda, Saga!

— Ah...

— Eu não vou contar pra eles não. Ok? Eu não quero que eles saibam, eu quero é tirar eles daí. Certo?

— Certo. Já vou chamar, senhor Solo. - Saga colocou o telefone na mesa, sob o olhar aterrado do ex-rapaz. - Sorento, Julian quer falar com você.

— Alô? - Sorento pegou o telefone.

— Sorento, sou eu. Conseguiu encontrar o Kanon?

— Bem... - O general marina levantou os olhos, olhando para Saga. - Não. E o irmão não sabe dizer onde está. Parece que ele saiu do Santuário depois da tal missão na China e não deu notícias de seu paradeiro até agora.

— É? - Julian não conseguiu repreender um suspiro de alívio, compartilhado por Saori. - Ufa...

— Ufa?

— Aaah, sabe como é. - Julian apressou-se em se consertar. - O Kanon é cansativo quando começa com essas.

— Eu sempre lhe disse que ele não era digno de sua confiança, Julian... - Sorento fez uma expressão de enfado no rosto, mas não percebeu o olhar assassino que recebeu da agora moça.

— Bem, bem. - Julian cortou o amigo no outro lado da linha. - Mas enfim, quem está aí com vocês?

— Fomos recebidos pelo cavaleiro de Gêmeos, bastante prestativo até; e pela sua prima.

— Prima? - Julian arqueou uma sobrancelha. - Que prima?

— Tessália, uma prima de Kanon que veio visitá-los, mas também não encontrou o Dragão Marinho por aqui.

— Ahhh... - Julian logo percebeu o estratagema de Kanon para ocultar a verdade dos colegas marinas. Mas para ele, que sabia da verdade, era bem óbvio que a tal 'prima' só podia ser a forma feminina de seu General de Dragão Marinho. - Bem, já que ele não está por aí mesmo, eu gostaria que você e Thetys viessem aqui me encontrar na Fundação Graad. Pode ser?

— Claro, Julian. Vamos te encontrar aí. Até mais...

— Até.

Sorento desligou o telefone, e virou-se para Saga.

— Agradeço a hospitalidade, Saga de Gêmeos, mas teremos que partir até a Fundação Graad para encontrar Julian. Creio que esse é um até logo...

— Ele sabe alguma coisa do Kanon?... - O ex-rapaz perguntou, reticente.

— Não, não sabe. - Sorento dirigiu-se até a porta, para voltar por onde veio. - Mas creio que ele deva aparecer logo. De qualquer forma, foi um prazer conhecê-la, senhorita Tessália. Vamos, Thetys?

— Tchau, Saga. Tchau, querida. - Respondeu a sereia, irônica.

— Tchau, coisinha. Tchau, Sorento. - Respondeu a agora moça, enquanto os dois saíam pela porta.

Alguns minutos se passaram, até que Saga começou a gargalhar.

— Tá rindo do quê, idiota? - Kanon deu um tapa no ombro do irmão.

— Nada não, Tessália. - Saga agora ria solto, enquanto Kanon mantinha a cara fechada. - Mas olha... você devia reconsiderar sua opinião a respeito do Sorentinho. Ele estava bem interessado em você, priminha! E ainda tem cara de menino pra casar. Mas, cá entre nós, 'cê jura mesmo que não curte homem não?

— Cala a boca, imbecil!

— Awww, mas que falta de espírito esportivo! Não fui eu que fiquei aí seduzindo o mauricinho... Aliás, onde vocês foram achar essa figurinha pra ser General Marina, pelos deuses? Aquilo lá tá mais pra dublê dos Menudos do que pra um guerreiro!

— Hohohoho, COMO você é engraçado! Nossa, me deixa ir ali morrer de rir e eu já volto! - Kanon estava afuribundo com o irmão que ria e ria, como que por vingança das gargalhadas que teve que engolir.

— Ai, ai... - Saga tentava agora parar de rir, pois sabia que se continuasse poderia entrar em risco de vida. - Mas nem tudo está perdido, a 'coisinha' não era de se jogar fora...

— Hunf. - Kanon bufou. - A coisinha é bonitinha mas é um porre. Pense numa metidinha que se acha a última bolacha do pacote... Fora que quando desembesta a falar lembra MUITO uma certa pessoa que eu conheço.

— Jura, Tessália?

— Dá pra parar? Eu aqui todo preocupado com o fato de que eles podiam descobrir alguma coisa a meu respeito e você aí tirando sarro da minha desgraça! Tudo bem o Santuário saber, mas os Generais? Aí não! Mas, nossa, essa passou perto!

— Não comemore ainda, Tessália, porque o teu patrãozinho tá sabendo, já.

— O QUÊ?

— Calma, calma... A Saori contou pra ele, mas ele, não sei por que, não quer que o Sorentinho descubra.

— Mas que M****!

— Calma! Mas o que você queria? Tudo bem que eu até concordo que os Generais Marinas não precisam ficar sabendo disso agora, mas o Julian ia ter que saber de qualquer jeito, mesmo! Ou você ia passar nele também a conversa da Tessália, a prima gostosa que não gosta de homem? - Saga irrompeu em gargalhadas de novo.

— Saga... - Rosnou o ex-rapaz. - Você tá doido pra morrer, é isso. Mas, se continuar assim, bem que eu posso cumprir seu desejo...

— Mas priminha, que ódio é esse no seu coração?

— Saga, vai tomar no olho do seu c*! - Kanon tentou dar uma bofetada no irmão, que esquivou-se ainda rindo; enquanto o ex-rapaz bufava de raiva e dirigia-se até a porta.

— Mas Tessália, não vai dar pra seguir essa sua sugestão não, viu? Porque a gente tem realmente algo em comum, que é não gostar de homem! - Saga continuava rindo. - Ei, Kanon, volta aqui!

OOO

Fundação Graad...

— Ufa, mas essa passou perto...

— Ufa nada, Saori! - Protestou Julian. - Porque e agora, como é que eu fico? Eu tô com um General Marina a menos! A menos, claro, que a prima Tessália do Kanon possa vestir a escama no lugar dele...

— De jeito nenhum, Julie! Ela, no caso ele, não pode usar o cosmo.

— Não?

— Não! Ele pode morrer se fizer isso!

— Morre nada! É impossível matar o Kanon!

— Julie, é sério! - Saori ralhou. - Ele, ou ela, teve um belo piripaque quando tentou só elevar o cosmo pra assustar o Shion, agora imagina o que pode acontecer se ele tiver que executar um golpe! É alguma coisa como uma dissonância entre o cosmo dele e o corpo... dela.

— Sério?

— É.

— Mas e aí? Eu fico sem General Marina?

— Ah... - Saori baixou os olhos, pensativa. - Até a gente resolver a situação...

— Saori, benzinho, pelo que eu entendi da história, vocês não estão nem perto de chegar em uma solução! Eu não posso ficar sem um general por tempo indeterminado!

— Então porque que, ao invés de criticar, você não ajuda a encontrar uma solução?

— Eu VOU ajudar, lógico. Mas até lá você vai me ceder o Saga pra eu colocar no lugar dele!

— De jeito nenhum! - Saori protestou imediatamente. - Eu não posso ficar sem o cavaleiro de Gêmeos! Eu não posso, aliás, ficar sem nenhum cavaleiro de ouro meu!

— Como não? Eu é que não vou ficar com um General a menos! Vai que eu sou atacado?

— Atacado? Você? Faz-me rir, Julian! Não sei se você percebeu, mas a atacada SEMPRE sou eu!

— Pessoal... - Shun tentava apaziguar os ânimos já alterados.

— Isso não é justo, Saori!

— Claro que é!

— PESSOAL! - Shun elevou a voz, com um timbre que lembrava muito o tom de Hades.

Claro que isso chamou a atenção dos dois outros deuses, que sabiam que, desde que o corpo mítico de Hades foi mortalmente ferido por Seiya e estava se recuperando, o Deus do Submundo usava o cavaleiro de Andrômeda como avatar sempre que precisava entrar em contato com outros deuses na Terra.

Não que fossem possessões longas, mas como Hades não podia deixar o submundo ele usava Shun como uma espécie de 'comunicador'. Mas nada disso diminuía o medo dos outros dois deuses, que tinham péssimas recordações do Senhor do Inferno.

— Tenho a atenção de vocês dois agora?

— Hades...? - Saori perguntou receosa. - Hã... Nós já não tínhamos conversado sobre essas suas possessões no corpo do Shun?

— Sim, minha cara. - Shun levantou uma sobrancelha, numa expressão claramente estranha ao doce cavaleiro de Andrômada, mas extremamente característica do Senhor do Submundo. - Mas não se esqueça de que eu estou aqui convalescente graças a... um de seus cavaleiros. Então é justo que eu faça uso de seu colega aqui para me fazer ouvir quando necessário, especialmente quando as criancinhas mimadas aí ficam brigando por conta de um cavaleiro.

— General... - Corrigiu Julian, hesitante.

— Que seja. - Shun/Hades soltou um bufido. - Mas enfim, no momento ninguém está mais interessado do que eu na manutenção da paz. Porque vocês sabem, minha esposa Perséfone está aqui comigo, e vai ficar indefinidamente por aqui enquanto a paz dure. Então vocês podem ficar bem despreocupados em relação a um ataque.

— Mas mesmo assim eu fico sem um General. - Julian colocou. - Por que eu tenho que sair prejudicado? Qual o problema dela me ceder o cavaleiro de Gêmeos pra que ele vista a escama do irmão?

— Poseidon, por favor, sim? Eu sei que os hormônios do rapazinho que você está usando como avatar estão comprometendo seu juízo, mas pare de se comportar como um moleque de dezenove anos! Já parou para pensar que é bem provável que a escama de Dragão Marinho não aceite o Saga como aceitou o Kanon?

— Mas...

— Façam o seguinte: Vocês dois estão agindo em conjunto mesmo para manter a paz na terra. Poseidon fica sem Kanon como General para que a equipe do Santuário fique completa, mas em caso de necessidade Atena terá de mandar um cavaleiro de ouro para assumir as funções de General interinamente, embora eu ache improvável que isso vá acontecer. Satisfeitos?

— Mas... - Saori e Julian não pareciam satisfeitos.

— Bem... Claro que se vocês não aceitarem existe sempre a possibilidade de eu ter uma conversinha com meu irmão Zeus para mencionar, assim sem querer, que um certo milionário de uma família tradicional no comércio marinho anda de namorico com uma certa herdeira de uma das maiores fortunas do Japão; isso sem falar no fato de que, ó coincidência, ambos são as representações terrenas de seu irmão e de sua filhinha querida...

Os olhares assustados de Saori e Julian mostraram, nesse momento, que a nenhum dos dois ali tinha o menor interesse de que isso acontecesse.

— Então, todos estão felizes? - Shun deu um sorriso doce, mas era ainda Hades quem falava.

— Claro... - Responderam os dois em uníssono.

— Ótimo, problema resolvido! Agora eu já posso voltar para meu cantinho pra curtir minha mulherzinha? Porque eu estou indo. E se eu voltar aqui por causa disso, eu vou ter a tal conversinha com meu irmão Zeus querido. Ouviram bem?

— Sem problemas... - Saori respondeu, enquanto Hades deixava o corpo de Shun, que subitamente se viu de novo no local como se nada tivesse acontecido; mas logo surpreendeu-se com o fato de que a discussão que antes de desenrolava tinha sumido como que por encanto, dando lugar a duas deidades estranhamente caladinhas.

— Mas... O que aconteceu? - Shun piscava e piscava, confuso. - Pararam de discutir?

— Ah... - Julian apressou-se em responder. Sabe o que estava pensando, Saori? Que até a situação se resolver eu fico sem General mesmo, mas só se você me garantir que me cede um cavaleiro de ouro se eu precisar.

— É uma ótima ideia... - Shun ponderou.

— Realmente, Julian, não vejo porque não... - Saori completou, sem graça.

— Muito bem! Estão vendo como tudo se resolve pacificamente? - Shun respondeu com um sorriso, enquanto os outros dois se entreolhavam, desconcertados.

OOO

Saída do Santuário de Atena...

— Hihihihihihi...

— Do que você tanto ri, Thetys?

— Francamente, Sorento... - A sereia seguia rindo, satisfeita. - Você se deu mal, amigo. Foi lá cortejar a prima pirulona dos gêmeos e páááá! Ela é lésbicaaaaa!

— Eu não estava cortejando ninguém, Sereia! - Devolveu o austríaco, possesso. - Eu só estava tratando a moça com educação, coisa essa que você, pelo visto, esqueceu em casa!

— Bem feito! Bem feitoooo!

— Hunf...

— Mas bem que eu achei a tal pirulona beeeem estranha, ahahahahaha!

— Hunf...

— E ela te chamou de delicadinho! De-li-ca-di-nho!

— Thetys...

— Hehehehe... Oi?

Coisinha... Dá pra parar?

— Ai, Sirene, que falta de esportiva sua, viu... - Tethys fez biquinho. - Você sabe que eu não gosto que me chamem assim. Aliás... Como é que a pirulona sabia que o Kanon me chamava assim pra me irritar?

— Ele deve ter dito alguma coisa pra ela. Até a parte do Julian ele disse... - Sorento abafou um risinho.

— Eu não sinto NADA pelo Julian! - Protestou imediatamente a sereia.

— Sente naaada...

— Não sinto não!

— Tá, tá, tá...

E seguiram os dois, em direção à saída do Santuário, para rumarem então à Fundação Graad...

OOO

Conseguirá Kanon manter sua atual condição em segredo dos outros Generais Marinas? Conseguirão Atena e Poseidon, em suas atuais encarnações, manter a paz mundial e a paz entre si apesar do atual entrave; e mais ainda, manter sua errrmmh... amizade fora do conhecimento de Zeus? E passará o General Marina de Dragão Marinho incólume pela história de Tessália, a prima dos guerreiros gêmeos?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned...


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