O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 5
Capítulo 5 - A Escolha




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Capítulo 5 – A Escolha

Terra estava orgulhosa de si mesma. Após alguns minutos de busca, ela encontrara a pessoa: uma mulher de jaleco, apavorada porque não conseguia subir para os outros andares, já que haviam interditado os elevadores, únicas vias de acesso para aquele lugar, e tampouco falar com outras pessoas, do prédio ou de fora, pois os telefones estavam mudos e celulares não pegavam sinal embaixo da terra.

Terra então a acalmou e agora estava levando-a para a superfície pelo túnel que criara quando estava vindo. Ao alcançarem as ruas de Jump City, a moça a abraçou e agradeceu tanto quanto pôde. Policiais e ambulâncias estavam prontos para recebê-la. Eles a informaram que Ravena já passara por lá, mas com apenas um civil. Terra estranhou isso, e achou que a colega poderia estar precisando de ajuda. Tentou falar com a empata pelo comunicador, mas ela não atendia. Assim, sem pensar muito, ela desceu correndo novamente.

Quando chegou, no mesmo lugar onde ela e Ravena se encontraram da primeira vez, não avistou ninguém. Ela saiu correndo, na direção que a empata tinha ido, mas não encontrou nem a colega nem o civil. Então seu comunicador tocou.

–Ravena! – chamou ela, ligando o aparelho. - Ravena?

–Terra! – exclamou a imagem da amiga, que parecia zangada. – Onde você está? Me disseram que você veio, deixou a moça e voltou.

–Hã... Bom, me falaram a mesma coisa de você, então eu resolvi descer pra te ajudar. – respondeu a loira, coçando a cabeça envergonhada. Já previa bronca. – Hehe, que desencontro, não é?

–Terra, nós tínhamos combinado de nos encontrar aqui! Eu voltei porque os dois estavam muito nervosos, e decidi trazer um de cada vez.

–Mas por que você não atendeu seu comunicador?

–Provavelmente porque eu estava me teleportando, no espaço inter-dimensões ele não capta sinal. – respondeu Ravena, perdendo a paciência. – Quanto tempo você esperou até descer correndo pra me 'ajudar'?

–Hummm... – murmurou Terra, mordendo o lábio. Realmente, ela não fora muito paciente. Na verdade, ela não esperou nada por Ravena. Depois de dois toques não atendidos, ela voltara para o subsolo sem nenhum plano definido.

–Foi o que eu pensei. – disse a empata em um tom de censura. – Você é muito impaciente e impulsiva, Terra. Eu estou descendo. Vê se consegue esperar no mesmo lugar por pelo menos 5 minutos sem entrar em pânico.

A imagem desapareceu. Terra ficou com raiva. Ravena não precisava ter dado uma bronca dessas por um errinho bobo. Afinal de contas, ela conseguira salvar a civil, não é? Sem perder o controle nenhuma vez, não foi? Foi só um errinho, uma coisa pouca, e...

De repente, Terra escutou um barulho muito alto e um grito. Vindos de não muito longe. Ela quis correr na direção de onde vieram, mas pensou em Ravena. Ela ficaria zangadíssima se Terra não esperasse por ela. O barulho se repetiu. Terra não pensou duas vezes. Correu na sua direção.

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Ravena chegou ao local onde sentira Terra quando estava na superfície. Ela não estava lá. Seus cabelos violeta se levantaram em uma onda e ela colocou as mãos na cabeça para se controlar. Garota irresponsável e impulsiva... Murmurou seu mantra (Azarath Metrion Zinthos) e suspirou. Tentou se concentrar para procurá-la telepaticamente.

Encontrou... Não muito longe dali... Por que ela- - Abriu os olhos repentinamente. Muito perto de Terra, ela sentira a presença de outra pessoa. Uma presença fria e maligna.

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Quanto mais Terra corria, mais alto ficavam os gritos. Eram gritos muito finos... A loira se apressou ainda mais ao imaginar que poderia se tratar de uma criança. Enfim, chegou a uma porta, metálica e completamente lisa, como as portas da Torre Titã. Nela havia uma placa com os dizeres "Proibida a entrada de pessoas não autorizadas", e na parede, perto de onde ficaria uma maçaneta, um painel com teclas. Era necessária uma senha.

–Eu não tenho tempo pra isso... – murmurou ela quando ouviu mais um grito. Uma pedra de tamanho médio se ergue do chão e se arremessou contra o painel. Ele explodiu, mas a porta continuou fechada. Outro grito. Ela teria que arrombar. Foi a vez de um pedregulho muito maior se desencaixar da terra e se chocar contra a porta, arrancando-a. Terra entrou apressada.

–Olá? – chamou, pois a sala estava escura. – Tem alguém...

Nesse momento, a sala foi mergulhada em uma luz vermelha e um alarme começou a tocar. Uma voz feminina dizia "Invasão" e do teto saíram grossas placas de metal que cobriram as paredes. As saídas estavam lacradas. Terra caiu. Mais um grito. O alarme cessou; tudo ficou escuro de novo, e por fim, a sala se iluminou.

Havia várias estantes na sala. Quatro estavam caídas. A origem do barulho. Em cima de uma mesa estava um pequeno gravador de onde vinham os gritos. Uma mão revestida por uma luva metálica o desligou.

–Olá, Terra. Será que podemos conversar?

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–Robin! – gritou Ravena ligando o comunicador. – Robin, atenda.

–O que foi, Ravena? – perguntou Robin, aparecendo na pequena tela.

–Slade está aqui. – respondeu ela com a voz sombria. – Ele prendeu Terra em uma das salas.

–O que? Como ele...

–Slade a atraiu para uma das salas mais bem protegidas quando eu não estava por perto, e ela caiu como um patinho. Quando ela arrombou a porta...

–... Ativou o sistema de segurança boca de lobo. – completou Robin, com cara de desânimo. – Você não consegue entrar?

–Não, seja lá quem for que administra esse prédio protegeu com feitiços que me confundem quando tento me teleportar.

–... Já estamos acabando com os slabotes aqui, e todos os civis foram retirados do prédio em segurança. – informou Robin. – Já estamos descendo.

–O que foi que aconteceu? – Mutano apareceu, dividindo a tela com Robin. – Terra está em perigo?

–Está, Slade a capturou. – respondeu Ravena, virando os olhos. Particularmente, ela achava aquilo patético.

–Ah, eu estou descendo! – gritou ele desligando. Robin fez uma careta de impaciência e desligou também.

Ravena suspirou. Ela já imaginava o que Slade queria com Terra. Estava na hora da prova de fogo.

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–Olá, Terra. – disse Slade com sua voz calma. – Será que podemos conversar?

–Eu não tenho nada pra conversar com você. – respondeu a loira se levantando rapidamente.

–Ah, eu acho que tem. – rebateu ele se aproximando. – Eu te dei seis meses, Terra. O que está achando da vida na Torre Titã? Está... Se divertindo?

–Isso não é da sua conta. – ela correu pra longe dele, até a parede oposta, onde começou a socar o metal.

–Não adianta, Terra. É feito de um material muito forte, vai levar um bom tempo pra te tirarem daqui.

–Isso é o que nós vamos ver. – retrucou ela, os olhos brilhando com uma luz amarelada. Porém, nada aconteceu. – O que...

–Está revestido com três placas iguais a essas da parede, Terra. – informou Slade, com prazer transbordando de cada palavra. – Tanto o chão como o teto. Para evitar intrusos que tenham uma britadeira. Você vai ter que fazer um esforço tremendo para arrancar uma única pedrinha da sua querida terra.

Terra ofegou e correu para trás de uma mesa com computadores. Só podia ser verdade, ela sentia uma distância muito grande entre ela e a terra, e quando tentava arrancar um pedaço do chão, sentia uma dificuldade incrível, o que nunca acontecera antes. Ficar naquele lugar estava lhe dando claustrofobia. Ela tentou chamar alguém pelo comunicador, mas sua tela só mostrava chuviscos, e não saía som dele.

–O seu comunicador também não vai funcionar aqui. Então você não tem opção, Terra. – a voz macia de Slade chegou a seus ouvidos novamente. –Você vai ouvir o que eu tenho a dizer, e vai me dar uma resposta definitiva, hoje.

–O... O que você quer? – perguntou ela com a voz trêmula. Nunca se sentira tão indefesa assim antes.

–Eu só quero te ajudar, Terra. Eu quero olhar nos seus olhos enquanto falo sobre isso.

Terra mordeu o lábio. Estava morrendo de medo, mas se levantou, e encarou o vilão.

–Muito bem. Viu só, já estamos começando a nos entender. – disse ele com um falso tom paternal. – Agora me diga, durante esses seis meses que você passou com os titãs, o quão melhor está o controle sobre seus poderes?

–Eu... Está muito melhor. – mentiu Terra com a boca seca. – Robin está me ajudando muito e...

–Isso não vai funcionar se você começar a mentir pra mim, menina. – o tom de voz de Slade, pela primeira vez desde que Terra entrara na sala, ficara realmente zangado. Realmente perigoso. – Eu sei que não está ajudando nada. Pode estar ajudando sua capacidade de luta, mas de controle, não. Robin não entende do que você precisa. Eu entendo.

–Mas eu... Eu não quero fazer coisas ruins. – murmurou a loira olhando para baixo.

–Mas por que não, Terra? – perguntou Slade se aproximando lentamente. – A vida não foi ruim com você? Não foi tudo que ela te ofereceu? As pessoas não foram ruins com você? Você nunca desejou poder revidar isso? Todas essas pessoas comuns, inferiores, que não vêem como você é especial e te rejeitam quando uma coisinha sai do controle?

Terra nada respondeu. Sua cabeça estava inclinada, e mechas de cabelo loiro cobriam sua expressão.

–Seis meses. Sem nenhuma melhora. Você acha que Robin não está percebendo? – Slade tocou na ferida, naquilo que ela se esforçara para não pensar nas últimas semanas. – Ele se acha um treinador tão bom, que não vai achar que o problema é ele, e sim que é você. Quanto tempo você acha que ele vai esperar pra te considerar um caso perdido e te expulsar da equipe?

–Não... Para com isso. Você está errado. – lágrimas começaram a escorrer por seu rosto sujo de terra. Slade chegara muito perto sem ela perceber. Ele levantou seu queixo com uma surpreendente delicadeza.

–Junte-se a mim, Terra. Só eu posso te ajudar. – sussurrou ele, encarando-a com seu único olho a mostra. – O que mais a prende a esses moleques? Mutano? Você acha que ele é bom o suficiente pra você? O mais fraco da equipe inteira... Tentando se engraçar com a mais forte de todas...

Terra não conseguia afastar seus olhos do de Slade. Era azul, assim como o seu. Mas azul forte, seguro, confiante. Não verdes... E nem fracos.

Era uma oferta muito, muito tentadora. Naquele olhar ela via segurança de verdade. Ele realmente poderia ensiná-la a controlar seus poderes. E junto com o controle, viria mais e mais poder. Ninguém nunca mais ousaria dizer a ela que ela não era boa o suficiente. E se ela fosse considerada perigosa, não seria porque a qualquer momento ela perderia o controle, e sim porque a qualquer momento ela perderia a paciência... Ela se lembrou da bronca de Ravena e de seus olhares desconfiados.

Mas ela se lembrou de outra coisa. De um vulto que vira no dia que fugira dos titãs. Daquele vulto tão familiar, que a fazia lembrar de... Si mesma. E do que ele dissera...

"–E nunca, nunca dê ouvidos a Slade, ouviu? Ele será a sua perdição. Você deve se proteger dele."

Ele será a sua perdição...

Ela deu um passo para trás, soltando-se dos dedos de Slade. O chão começou a tremer. Ela não conseguia se decidir. Do lado de fora vieram as vozes de seus amigos.

–Tic Tac, Terra. – disse Slade, se afastando. – Você é mesmo uma bomba-relógio, não é?

–Não. – murmurou ela.

–O que foi?

–Eu disse que não. – o lugar inteiro estava tremendo agora. – Eu não vou me juntar a você. Nunca mais me ofereça isso de novo. Para todos os efeitos, somos inimigos agora. Eu sempre vou ser uma jovem titã.

O vilão não teve chance de responder. Pedras pontudas começaram a surgir do chão, junto com pontas das placas de metal. Nesse momento, raios verdes surgiram da parede, formando um círculo que logo foi arremessado, e os cinco titãs entraram. Robin correu na direção de Slade, Estelar e Mutano, na direção de Terra, e Ravena e Ciborgue tentavam evitar que o tremor desabasse o prédio.

Terra desabou, pois fora sugada muita força e energia de dentro dela para fazer isso. Estelar a tomou nos braços antes que caísse e a pousou no chão, onde Mutano a recebeu. Slade saiu correndo e, apesar de Robin ir atrás dele, conseguiu escapar novamente. O tremor parou, depois de um grande esforço de Ravena. Ciborgue salvara os computadores e experimentos tão bem protegidos do prédio, pegando os pedregulhos antes que caíssem em cima deles. Ele sabia que se tivessem quebrado por decorrência dos poderes de um membro da equipe, seria uma grande dor de cabeça para os titãs. Finalmente, aquela missão chegava ao fim.

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–Terra?

–Ah, oi, Mutano. Entra.

Terra estava deitada em sua cama, com alguns curativos nos braços e nas pernas. Usava uma camisola de hospital.

–Nem acredito que o Ciborgue deixou você sair da enfermaria. – disse ele, se aproximando encabulado.

–Nem acredito que Robin deixou você vir me ver. – rebateu ela. Os dois se entreolharam.

–Eu não conto se você não contar. – disse Mutano, fazendo-a rir.

–Combinado.

–Terra, Slade machucou você?

–Não, Mutano, não se preocupe, ele não fez nada comigo. – respondeu ela sem olhar para ele. – Ele só me chamou pra me juntar a ele de novo.

–Não acredito que esse cara insistiu tanto. – retrucou o metamorfo, zangado. – Será que ele não percebe que você está com a gente, que você não é uma pessoa como ele?

–É... – murmurou Terra, envergonhada de dizer que lá no fundo, ela considerara a oferta. Ela avistou a caixa de coração que ele lhe dera mais cedo e resolveu mudar de assunto. – O que você tinha pra me dizer, Mutano?

–Hã? Ah, sim, isso! – exclamou ele, enrubescendo. – É que eu queria te pedir uma coisa...

–O que? – ela perguntou com os olhos grandes. Olhos verdes se encontraram com os dela. Verdes cristalinos. Verdes... Fracos. Ela não conseguia ver neles a segurança que via no de Slade.

–Você... Você quer namorar comigo, Terra?

O pedido a pegou de surpresa, embora ela já devesse imaginar algo assim.

–Eu... – ela não queria realmente. Achava que os dois estavam apenas se divertindo. Nada sério. Eles eram muito novos pra isso, na verdade. Mas... Talvez um compromisso a impedisse de cair na tentação de se juntar a Slade novamente. Era a melhor coisa a se fazer.

–Eu quero sim, Mutano.

Seus olhos verdes brilharam mais do que ela jamais havia visto, e ele a beijou.

Em uma prateleira, dentro do armário fechado de Terra, a areia de uma ampulheta começou a brilhar intensamente. Os desenhos na caixa ao seu redor se alteraram levemente: o futuro estava mudando.

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