O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 32
Capítulo 32 – O Retorno do Corvo




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Teen Titans não me pertence.

Capítulo 32 – O Retorno do Corvo

Who is the man I see
Where I'm supposed to be?
I lost my heart, I buried it too deep
Under the iron sea

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9 de Janeiro de 2012, 9h05min

Quatro titãs tomavam café da manhã à mesa, em silêncio absoluto. O ar era tão denso que poderia ser cortado com uma faca. Cada um em seu próprio mundo, dois guardando segredos dos companheiros. Robin tinha uma xícara de café intocada à sua frente, um braço deitado em cima da mesa e o outro apoiando seu queixo com a mão, o cotovelo na beirada da mesa. Não olhava para nada em especial, mas de vez em quando lançava espiadas à Terra.

A loira, por outro lado, parecia alheia à presença dos amigos, mexendo um cereal que há muito perdera sua integridade em uma tigela cheia de leite. Tinha grandes e escuras olheiras sob os belos olhos azuis e a testa franzida, como se estivesse pensando em alguma coisa importante.

Os outros dois, que desconfiavam do fato do líder e da amiga estarem guardando algo só para si mesmos, nada diziam, seus pensamentos completamente tomados de preocupação pelo colega de equipe, normalmente a alma e vida da Torre, que se encontrava alguns andares acima, sedado e amarrado a uma cama.

Robin olhou para o seu comunicador. Além do horário, a tela também lhe mostrou que Ravena já estava a caminho. Só mais quatro horas. Ele não contara a ninguém sobre a sua vinda, por um simples motivo: estava desconfiado de Terra. E temia que avisá-la de antemão sobre a iminente melhora do estado de Mutano e por consequência, a exposição da verdade, a levasse a fazer uma besteira. Também estava interessado na reação da loira ao reencontrar a colega de equipe.

Só esperava que não fosse muito exacerbada.

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9 de Janeiro de 2012, 13h15min

"Tem certeza que ele vai ficar bem?" perguntou Ravena pela terceira vez.

"Sim, Sra. Roth, pode ficar tranquila" repetiu a mulher de meia-idade, de cabelos negros e atitude firme. "Essa é a melhor creche de Jump City! Todas as crianças e mães ficam satisfeitas com os nossos serviços."

Ravena suspirou. Sabia muito bem disso, tinha pesquisado o melhor e mais seguro lugar para deixar seu bebê enquanto fosse ver seus amigos. Mas agora que chegara o momento, percebera que se separar de Caleb era mais difícil do que previra.

"Tudo bem" ela concordou. A bolsa com todas as coisas que Caleb precisava já estava guardada em um armário, com uma etiqueta com o nome dele. Só faltava entregar seu filho àquela mulher estranha.

Se concentrando na ansiedade por ver seus amigos de novo, assim como no fato de eles precisarem de sua ajuda, ela invocou Coragem e, dando um beijo na testa verde de Caleb, o depositou nos braços fortes de Sra Sanchez. O bebê soltou um gritinho de insegurança e estendeu a mãozinha na direção da mãe. Aquilo partiu o coração de Ravena.

"Que precioso!" ela disse, sorrindo, e começou a balançá-lo de um jeito mais intenso que Ravena fazia. Ela estendeu a mão para impedi-la de continuar, mas o bebê pareceu gostar, dando uma risadinha e se esquecendo de que fora abandonado. "Ele é um menino bonzinho!"

"Eu sei..." murmurou a empata, lutando contra o impulso de pegar Caleb, voltar para sua casinha e mandar Robin e Mutano...

"Agora aproveite para ir antes que ele te veja de novo!" a mulher ordenou, indicando a saída.

"Sim... Eu estarei de volta antes do anoitecer!" ela informou novamente, se afastando de costas para a porta.

"Tudo bem, até lá" respondeu a Sra. Sanchez, em tom de negócios, enquanto ela arrumava a bolsa no ombro e se virava para a saída.

"Tchau Caleb" ela sussurrou, olhando para trás mais uma vez. "Vou voltar logo... Prometo."

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A creche era relativamente longe da Torre Titã. Sem Caleb, Ravena não se deu ao trabalho de andar, se teleportando diretamente para a pequena ilha. Com a mão agarrada na bolsa, avisou Robin que tinha chegado e se identificou às portas do elevador.

Depois de encostar seu dedo no lugar indicado e deixar um scanner ler seus olhos violeta, as portas familiares se abriram e ela entrou, sentindo um frio na barriga. Sentimentos conflitantes se misturavam dentro dela. Estava ansiosa para rever os amigos, mas hesitante em relação às perguntas que lhe seriam dirigidas. Também não sabia o que esperar de si mesma ao ver Terra ou Mutano. Estava ressentida da ex-colega de equipe, mas sua verdadeira decepção fora em relação ao metamorfo. Ao mesmo tempo, não podia deixar de se sentir preocupada com o que Robin havia dito sobre ele.

De repente se lembrou que não dissera à Sra. Sanchez que Caleb gostava do cachorro verde para dormir. Antes que pudesse verdadeiramente se preocupar com isso, porém, um som indicou que havia chegado ao andar informado, e as portas se abriram, revelando seus amigos à sua espera.

"Hã... Oi"

Houve um breve instante de silêncio após suas palavras, e ela percebeu que Robin não havia informado ninguém de sua vinda. O líder tinha um sorriso e uma expressão esperançosa, e parecia lançar olhares à sua volta, como se estivesse esperando alguma coisa. Estelar estava com os olhos bem abertos e Ciborgue com a boca aberta, ambos totalmente surpresos. Terra, mais ao fundo, também tinha uma expressão chocada, mas havia algo mais – seria medo?

"Amiga... Ravena?" chamou Estelar, se aproximando com cuidado, como se para ter certeza que ela não era uma ilusão.

"Sim, Estelar" concordou a empata, se enchendo de um sentimento de afeição ao ouvir de novo a voz doce e inocente de sua amiga. A Tamaraneana prendeu a respiração, os olhos se encheram de lágrimas e ela se adiantou, atirando os braços em seu pescoço. Ravena fechou os olhos, esperando aquela sensação de ossos quebrando e ar sendo expelido dos pulmões, mas logo em seguida percebeu que ainda estava respirando com facilidade. Estelar a abraçava com delicadeza, o que era muito incomum, indicando não felicidade, mas sim busca por conforto.

"Obrigado por voltar, Ravena" disse Robin, colocando a mão em seu ombro, ainda atento a alguma coisa da qual ela não estava ciente.

"Ravena!" exclamou Ciborgue, se aproximando, e Estelar a soltou, deixando que o homem-robô a abraçasse também. Ravena pôde perceber que algo estava muito errado. As emoções reinantes naquele momento não eram de uma felicidade pura, mas algo mais próximo de um alívio esperançoso. Como quando você está lidando com algo muito difícil e alguém chega para te auxiliar.

"Como estão vocês?" ela perguntou ao se separar de Ciborgue, e reparou que nenhum deles parecia descansado. Todos tinham faces cansadas, pálidas e uma aparência desgrenhada.

"Já estivemos melhores..." disse Ciborgue em voz baixa, olhando para baixo.

"Amiga, por que motivo você nos deixou sem se despedir?" perguntou Estelar com um tom de ferimento na voz.

"Podemos colocar a conversa em dia mais tarde" determinou Robin antes que ela pudesse responder. "Agora, se você puder nos acompanhar até a enfermaria, Ravena..."

"Sim" concordou ela, o seguindo. Em seu caminho, passou por Terra.

"Oi Ravena" ela cumprimentou, sem graça, olhando para baixo e segurando o braço direito com a mão esquerda.

"Olá" respondeu Ravena sem emoção na voz. Ela sentiu de novo medo emanando da loira, e reparou que ela se encontrava em pior estado que todos os outros. Sombras quase roxas estavam sob seus olhos e o cabelo estava mal cuidado, apontando para todas as direções.

Algo mais emanava dela, a empata não conseguia discernir o que, devido ao grande aporte de emoções que tomava o cômodo por seus outros três amigos. O que seria?

"Eu realmente espero que você consiga ajudar o verdinho, Ravena..." disse Ciborgue, tirando-a de seus devaneios.

"Ele está tão ruim assim?" ela questionou, embora já soubesse a resposta. Era preciso algo sério para deixar toda a equipe daquele jeito.

"Veja por você mesma" respondeu a voz de Robin, abrindo a porta da enfermaria para permitir sua entrada. Ravena respirou fundo e entrou.

Um sentimento de nostalgia a invadiu quando pisou no cômodo alvo e brilhante, se lembrando que fora ali que ela concordara em namorar Mutano. Esse sentimento logo passou, porém, quando virou a cabeça e encontrou o mesmo.

Mutano estava irreconhecível. Amarrado a uma cama branca, ainda em seu uniforme, olhando fixo para o horizonte, a boca entreaberta, ele parecia quase sem vida. Uma casca sem ninguém dentro.

Ravena sentiu seu coração se apertar. Ela pensara que não conseguiria olhar na cara do ex-namorado sem querer esbofeteá-lo por beijar outra pessoa, mas tudo isso foi esquecido à visão do estado em que se encontrava.

"Mutano..." ela murmurou, deixando sua bolsa escorregar e cair, andando até o metamorfo. "O que aconteceu com ele?"

"Eu sei que é chocante, mas muito disso é o efeito do sedativo" informou Ciborgue, se aproximando. "Ele... Fica muito agitado sem. Eu diminuí a dose, e posso cessar se for mais fácil para você."

"O que exatamente tem acontecido?" ela perguntou, se voltando para os amigos, se esforçando para não deixar sua voz tremer. Terra fixou o olhar no chão como se não estivesse ouvindo ninguém e os outros três se entreolharam com expressões significativas.

"Terra o encontrou desmaiado, supostamente por uma pancada na cabeça" explicou Robin. "Desde então, ele tem tido ataques de amnésia cada vez mais frequentes."

"Eu não chamaria isso de amnésia, Robin... Talvez delírios?" sugeriu Ciborgue, os braços cruzados. "Às vezes ele se esquece de onde está. Por exemplo, acha que ainda está na África, ou na Patrulha do Destino. Mas às vezes... ele também chama por pessoas que não conhecemos ou procura coisas na Torre que nunca existiram."

"Você... Tem alguma idéia do que possa estar acontecendo, amiga Ravena?" questionou Estelar. Ravena não respondeu de imediato, a mão no queixo, a testa franzida.

"Isso parece..." ela disse finalmente "... Um caso de instabilidade temporal da mente..."

"Temporal? Você quer dizer que..." começou Robin.

"Ele está, em falta de uma palavra melhor, viajando no tempo, sim" ela completou, examinando o metamorfo de perto agora. "Mas isso é um estado muito raro... E geralmente é desencadeado quando a pessoa tenta viajar no tempo, como uma seqüela... Ou quando há contato com um objeto de magia muito poderoso."

"Mutano?" ela chamou, com cautela. O metamorfo se virou para ela como se estivesse sonhando.

"Oi, Rae. Aqui. Pra dar sorte" ele disse simplesmente.

"Viu? Eu falei que ele diz coisas sem nexo nenhum" disse Ciborgue, frustrado. Ravena, porém, tinha reconhecido aquela fala. Por um instante, ela mesma reviveu o momento em que Mutano depositou a moeda em sua mão, logo antes da batalha contra Trigon.

"Estelar" ela disse em voz baixa. "Você o chama agora."

"Hã... Amigo Mutano?" obedeceu a Tamaraneana, as mãos juntas em uma posição de insegurança.

"Estelar" ele disse de novo, como se lendo algo. "Desculpa. Mas você tem que admitir que foi engraçado."

O dia em que Estelar fora pega em uma das peças do metamorfo acidentalmente.

"Ô Verdinho!" chamou Ciborgue quando Ravena apontou para ele.

"Ciborgue... Cara, você tem que chamar ela pra sair..." ele murmurou.

"Hm? Ele ta falando da Sarah...?"

"Mutano!" chamou Robin com a voz séria.

"Dick..." respondeu o metamorfo. "... Nós fizemos sua Despedida de Solteiro."

Robin corou violentamente.

"Ah! Acabei de me lembrar de algo!" exclamou Estelar, se dirigindo para a porta. "Eu estarei de volta em alguns minutos!"

"Isso é estranho... Ele foi para o futuro?" perguntou Ciborgue, coçando a cabeça.

"Uma versão de futuro, sim" concordou Ravena, ainda muito séria. "Mas isso é preocupante. Ele está viajando a uma velocidade alarmante. Isso vai esgotar a mente dele muito rápido."

"Você pode fazer alguma coisa?" perguntou Robin em uma voz de urgência.

"Eu... Posso entrar na mente dele" ela respondeu com um pingo de hesitação. "E tentar restaurar sua noção de tempo, deixando-o fixo no presente, como deve ser."

"Você precisa de alguma coisa?" questionou Ciborgue, já que a empata declarara isso e não fizera nada em seguida.

"Não... Não" ela disse, sacudindo a cabeça. Estava com medo de entrar na mente de Mutano, com medo do que iria encontrar lá. Mas não podia virar as costas para ele agora. Eles eram, apesar de tudo, amigos. Ele estivera lá pra ela quando precisara. E ela também estaria por ele agora.

"Ah... Caleb, pega a mangueira" murmurou Mutano, apontando para algo que eles não conseguiam ver. Ravena virou a cabeça tão rápido que quase estalou o pescoço.

"O que... O que você disse?" ela perguntou, sem esconder sua surpresa. Ele tinha dito o nome de seu filho. Será que Robin...? Mas não, ela não se lembrava de ter dito ao líder que seu bebê se chamava Caleb.

Mas Mutano já voltara a balbuciar coisas incompreensíveis.

"O que foi, Ravena?" chamou Ciborgue, desconfiado.

"Nada" ela declarou, se acalmando. "Vocês... Precisam ficar por perto. Não sei quanto tempo isso vai levar. Mantenham o corpo dele estável."

"Feito" declarou Ciborgue, indo até os monitores ao redor do amigo.

"Sei que você consegue, Ravena" disse Robin, encorajador.

"Eu espero que sim... Robin... Se anoitecer e eu ainda não tiver voltado..." ela começou, em voz baixa para Ciborgue não ouvir. "Você pode... Ir nesse endereço?"

"Não se preocupe" Robin deslizou o cartão para fora de vista, entendendo tudo.

"Tudo nos conformes!" exclamou Ciborgue, e eles se aproximaram.

Ravena se sentou em posição de lótus, flutuando na altura de Mutano.

"Azarath Metrion Zinthos" ela recitou, de olhos fechados, e um corvo feito de energia negra saiu de seu peito, voou pelo cômodo e se dirigiu a Mutano, penetrando em sua cabeça.

Ninguém reparou que Terra havia deixado a enfermaria.

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Oh, crystal ball, crystal ball
Save us all, tell me life is beautiful
Mirror, mirror on the wall
Oh, crystal ball, hear my song
I'm fading out, everything I know is wrong
So put me where I belong

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Música - Crystal Ball por Keane

Tradução:

Bola de Cristal

Quem é o homem que eu vejo
Onde eu deveria estar?
Eu perdi meu coração, eu enterrei ele bem fundo
Embaixo do mar de ferro

Oh, bola de cristal, bola de cristal, salve todos nós
Me conte que a vida é bonita
Espelho, espelho na parede
Oh, bola de cristal, ouça minha música
Eu estou sumindo tudo que eu sei está errado
Então me coloque aonde eu pertenço

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