O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 29
Capítulo 29 – Sementes




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Teen Titans não me pertence.

Capítulo 29 – Sementes

Por onde andei
Enquanto você me procurava?
Será que eu sei
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava?

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21 de Março de 2011

Ravena chegou à sua nova casa depois de um dia exaustivo. Sentou no sofá ainda coberto com um pano protetor e colocou seus pés para cima. Não usar os poderes era mais difícil do que ela pensava.

A empata tinha uma poupança com um fundo para emergências, e fora com isso que conseguiu quase tudo que tinha agora. Um contrato de aluguel de um ano de uma casa pequenina e aconchegante na extremidade da nova cidade e algumas coisas novas para o seu disfarce. Mas ainda tinha mais onze meses de aluguel para pagar e coisas de bebê para comprar. Por esse motivo tinha ido procurar um emprego.

Robin tinha a ajudado com todos os documentos que ela precisaria. Agora usava o nome de Rachel Roth. E com seu novo visual conseguira um emprego de bibliotecária que cobriria o que ela tinha em mente. Mas era relativamente longe de sua casa. Anotou mentalmente para procurar um lugar escondido para onde pudesse se teletransportar sem ser notada.

Antes que dormisse no sofá, ela se levantou e foi até a cozinha. Abriu um pote com as folhas com as quais preparava seu chá e inspirou o doce aroma. Sentiu o pouco de almoço que comera algumas horas antes ameaçar voltar, e tapou o pote rapidamente. Sim, ainda estava com enjôo de seu amado chá de ervas.

Então pegou a bolsa que largara no chão e dela tirou seu livro. Entre suas páginas, estava cuidadosamente guardada a impressão do ultrassom que havia feito mais cedo. Ali, não mais do que um pequeno círculo branco em meio a sombras negras, estava a primeira imagem de seu bebê.

Ela sorriu e o prendeu na porta da geladeira com um ímã em formato de estrela. Toda vez que estivesse insegura e desejasse correr de volta para Jump City e seus amigos, toda vez que estivesse com raiva e quisesse mandar Terra para outra dimensão, toda vez que seu coração doesse por Mutano não estar lá e ela sentisse a urgência de voltar e perdoá-lo, viria aqui e olharia para essa imagem em busca de forças.

"Tudo vai ficar bem" disse, mais para si mesma do que para o bebê em sua barriga. Abrindo a geladeira, pegou uma caixa de suco de laranja e o despejou em sua velha caneca azul e voltou à leitura sobre o que aconteceria com seu corpo nos próximos meses.

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"Alguém viu o Mutano?" perguntou Ciborgue, entrando na sala comum e dando falta do amigo. "Ele precisa fazer o acompanhamento da cabeça dele"

"Você procurou no quarto dele?" questionou Robin, sem levantar o olhar.

"É claro..." o homem-robô revirou os olhos, se esforçando para não dar uma resposta extremamente sarcástica.

"Você procurou... no quarto da Ravena?" sugeriu Estelar em voz baixa. "Ele... tem passado um bom tempo lá ultimamente."

"Hm, não..." disse Ciborgue, conforme um clima tenso se estabelecia. "Vou fazer isso. Obrigada, Estelar."

No momento em que se dirigiu para a porta, Terra entrou. Ele perguntou por Mutano, mas ela também negou ter visto o colega. Um silêncio pesado se estabeleceu quando ela sentou no sofá. Estelar fixou seu olhar em Silkie, no seu colo, e Robin no computador recém-consertado.

Tiveram uma conversa com Terra depois dos últimos acontecimentos. Robin a levara para a sala de interrogatório, dizendo que estava tudo bem e ele só queria um lugar calmo para estabelecer o que tinha acontecido. A loira se manteve firme em sua história original. Tinha ido ao quarto de Mutano conversar, e eles acabaram tendo um momento de fraqueza por sua história e se beijaram. Logo em seguida Ravena entrou, lhe deu um tapa e saiu correndo. Terra tentou segui-la quando os objetos começaram a se mover. Ouviu um baque e quando se voltou para Mutano, ele estava desmaiado. Achava que um dos objetos tinha batido em sua cabeça, mas não tinha como ter certeza. Ela só podia concluir que Mutano esqueceu o momento deles por causa da pancada.

De fato, ele não tinha certeza do que havia acontecido. Quando interrogado, ele disse que a última coisa de que se lembrava era levantar para atender a porta. Logo em seguida, estar beijando Terra e Ravena aparecer, mas não conseguir ligar os pontos. Sua cabeça sempre começava a doer quando forçava, e Robin resolveu deixar quieto. Quando ele se recuperasse, poderia esclarecer as coisas.

Até lá, só podia observar Terra com cautela. A semente da dúvida estava plantada.

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Enquanto Ciborgue batia na porta do quarto com a inscrição 'RAVENA', um enorme Mastiff verde andava por uma rua movimentada do outro lado da cidade, farejando como se sua vida dependesse disso.

Um carro virou no último segundo para não bater no enorme cão quando ele se dirigiu para a rua bruscamente, sem nem olhar para os lados. Alguém poderia dizer que cães não olham para os lados antes de atravessar a rua. Sem querer entrar em uma discussão sobre o intelecto dos animais, aquele não era um cão comum.

Ignorou completamente as buzinadas que levou e correu, seguindo o rastro que captara, ansioso. Suas narinas se encheram de fumaça subitamente e ele se transformou em um jovem rapaz, também de pele verde. Estava em uma estação de trem.

Isso não era bom sinal.

Mas tudo bem, ele pensou logo em seguida, reparando em todos os olhares que estava atraindo só por estar ali. Se um rapaz verde podia ser notado facilmente, então uma garota de cabelo violeta também seria lembrada em um período de apenas vinte e quatro horas. Por aí. Ele achava.

Algumas horas depois estava sentado no meio-fio, observando os trens irem e virem. Não, não me lembro. Eu não estava trabalhando ontem. Tenho certeza que me lembraria de uma garota de cabelo violeta. A Ravena dos Jovens Titãs? Não, não.

Mutano sentia a esperança se esvaindo. Aquela estação tinha dezenas de destinos diferentes. Isso se ela não veio até aqui só pra despistá-lo e depois se teletransportou para outra dimensão.

Pensava em outra maneira, mas sua cabeça doía intensamente. O que ele estava mesmo fazendo ali?

Melhor ir pra casa. Ele queria ver Ravena antes de se deitar. Talvez ela desse um jeito em sua dor de cabeça.

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9 de Maio de 2011, 7h32min

Ravena saiu do banho enrolada na toalha e correu para se trocar no quarto. Depois de vestir sua roupa de baixo, ela viu a si mesma de relance no espelho. Então virou a cabeça para olhar melhor, reparando que algo estava diferente.

Postou-se em frente ao comprido espelho com moldura dourada, que a refletia dos pés à cabeça. Seus seios estavam relativamente maiores, mas ela já tinha reparado isso há cerca de duas semanas. Piscou, olhando melhor. Então se virou, ficando de perfil.

Já dava pra ver sua barriga. Uma leve protuberância próxima ao ventre.

Repousou as mãos ali e sorriu.

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Robin estava passando pelo corredor quando ouviu algumas vozes. Se virou e viu Mutano na sala de treinamento, levantando alguns pesos.

"Mutano!" ele exclamou, feliz de ver seu amigo se sentindo melhor. "É bom ver você se exercitando!"

O metamorfo soltou o peso e se levantou, encarando seu líder como se ele estivesse maluco.

"Bom, claro, só estou me preparando para o treino de combate de amanhã..." ele explicou, sem expressão detectável. Robin ficou em silencio por alguns segundos.

"Mutano... O treino de combate foi no começo da semana" ele informou em voz baixa.

"Dessa semana, é?" repetiu Mutano, coçando a cabeça com uma expressão de curiosidade. "Bom, acho que não preciso ficar aqui então."

Robin seguiu com os olhos seu colega de equipe. Ele não parecia saber muito bem onde estava indo. Era melhor pedir a Ciborgue para checá-lo de novo.

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13 de Junho de 2011, 10h05min

"Bom dia, Srta Roth" cumprimentou o médico que a vinha acompanhando, um homem loiro.

"Bom dia, Dr. Steven" ela respondeu, deitada na cama de exame pacientemente.

"Como você tem se sentido?" ele perguntou, se sentando ao seu lado e examinando uma ficha.

"Grande..." ela informou, ao que ele riu. "É normal a barriga crescer assim tão rápido?"

"É normal, sim" ele assegurou, puxando um pequeno monitor para perto. "Pode levantar a camisa? Vamos nos certificar que está tudo bem"

A empata levantou a camisa, expondo sua barriga redonda, e a enfermeira ao lado depositou gel em sua pele, dando uma sensação gelada. O médico colocou o receptor em contato com o gel e apertou levemente, e ela ouviu o som tranquilizante das batidas do coração de seu bebê.

"Tudo parece ótimo" ele disse após examinar alguns minutos. "Gostaria de saber o sexo?"

"Hã... Claro" ela decidiu repentinamente, pensando que seria o mais prático. Ele se aproximou do monitor e depois se voltou para ela com um sorriso.

"A Srta vai ter um menino"

Ravena sorriu. Pela primeira vez em cinco meses, realmente desejou que Mutano estivesse ali.

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Estelar dobrou seu vestido verde intocado que comprara especialmente para o noivado de seus amigos, agora separados. Os últimos tempos estavam muito sombrios, desde que Ravena fora embora. Ela sentia que Robin sabia de algo importante que eles não sabiam, mas não insistiu em descobrir. Ele sempre tomava as melhores decisões para todos da equipe. Se achava melhor guardar esse segredo, ela aceitaria.

Também sentia que Terra estava escondendo algo. Mas ela se recusava a dizer o que. Todos achavam que, o que quer que fosse, estava relacionado ao súbito fim do relacionamento de Ravena e Mutano e do comportamento estranho do último.

"Estelar?" chamo uma voz conhecida, acompanhada de batidas na porta. Ela se encaminhou para lá, curiosa.

"Amigo Mutano" ela disse, ao ver o metamorfo parado na sua frente, com olheiras fundas e uma expressão miserável. "Você precisa de ajuda? Gostaria de ter a conversa?"

"Não... Vim te pedir um favor" ele informou, retirando uma pequena caixa de veludo azul do bolso. "Ultimamente, eu não tenho estado muito confiável... E eu ainda tenho esperança que a Ravena vai voltar um dia. Você pode guardar isso para mim... Até esse dia?"

Estelar recebeu a pequena caixa e a abriu, revelando um magnífico anel de outro branco com um grande diamante rodeado de pequenas e delicadas safiras de um azul escuro. A Tamaraneana sentiu seus olhos se encherem de lágrimas.

"Você disse que não tinha comprado..." ela sussurrou.

"Ontem... Eu me esqueci do que aconteceu" ele explicou, olhando para o chão. "Peguei o folheto, lembrei que tinha marcado esse e... Fui comprar..."

"Enfim, é justamente por isso que não é seguro ele ficar comigo" ele suspirou, levantando o olhar para encontrar o da amiga. "Pode guardar pra mim? E, se quando a Ravena voltar eu não estiver em condições... Você dá pra ela por mim?"

Estelar segurou as lágrimas e fechou a caixinha.

"É claro"

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8 de Julho de 2011, 20h22min

Ravena se levantou com rapidez, os olhos molhados, a boca entreaberta. Estava sentada no sofá, lendo, totalmente distraída, quando sentiu uma pressão na barriga, pelo lado de dentro. Pela primeira vez, seu bebê tinha chutado. Aproximou sua mão, trêmula, do local, e sentiu de novo.

Mordeu o lábio, tentando não pensar em Mutano. Mas ela desejava ardentemente poder compartilhar isso com alguém. Sentia falta dele, de seus amigos, sentia falta de Bubbles. Então se lembrou com quem poderia falar. Andou até o quarto e de dentro de uma gaveta em seu armário retirou o espelho de mão que levava a Nevermore. Evitava ir até lá desde sua separação de Mutano, com medo do que poderia encontrar. Mas hoje, algo a impelia a entrar em sua mente. Por um momento delirante, imaginou se as suas emoções também estariam todas grávidas. Afastando essa imagem, atravessou o espelho.

Seu pouso foi o mais suave que já tivera. Flutuou devagar na direção do gramado verde escuro e não sentiu peso nenhum sobre seus pés quando tocou o chão. Olhando para cima, encontrou simplesmente todas as suas emoções vindo recebê-la. Com alívio, percebeu que estavam todas magras e não-grávidas.

Em seguida o alívio deu lugar à surpresa ao perceber que todas elas estavam sorrindo. Sorrindo. Até Conhecimento, Insegurança e Raiva.

"Bem-vinda, Ravena!" cumprimentou Conhecimento, chegando até ela. "Já registrei. Estará aqui sempre, toda vez que quiser consultar..."

Sua sósia de capa amarela e óculos lhe estendeu um livro grande e grosso. Mas era um livro diferente de todos aqueles nas estantes de sua biblioteca. Ele era de capa azul clara e tinha a imagem de um corvo com olhos grandes e fraldas, sorrindo. Acima desse desenho, estava escrito 'Livro do Bebê' em letras coloridas.

"Não acredito que você fez isso..." ela murmurou, abrindo o livro. A primeira página tinha a inscrição: 'Meu nome é' e uma linha em branco. Abaixo, 'Sou... ' 'um menino' na sua letra. Folheando, percebeu que o livro tinha registro de toda a sua gravidez até o momento e tudo o que ela tinha descoberto sobre o bebê. A última inscrição tinha a data de hoje e estava escrito: 'a primeira vez que mamãe te sentiu movimentando'.

Ravena levantou os olhos marejados. Mas não teve tempo de expressar sua gratidão. As outras emoções já haviam a rodeado.

"Não precisa ter medo do parto" disse a emoção de capa verde, Coragem. "Eu andei treinando e acho que você devia também, o importante é a respiração!"

"Você vai ser mãe!" exclamou a uma voz entre temerosa e excitada de Insegurança. "Você... acha que ele vai gostar da gente?"

"É melhor dormir enquanto pode!" aconselhou Preguiça, bocejando. "Dizem que bebês não deixam a gente dormir..."

"Espero que você esteja pronta pro trabalho que ele vai dar" resmungou Raiva. "Não é pra deixar ninguém chegar perto, entendeu? Ele precisa de proteção constante."

Antes que pudesse responder a qualquer uma delas, porém, sentiu alguém a abraçando. Olhou para baixo e viu que Felicidade estava de joelhos, abraçando sua barriga, com um sorriso de orelha a orelha.

"Mal posso esperar pra quando você estiver aqui" ela sussurrou contra sua barriga. Ravena não pôde evitar uma risadinha. Levantando a cabeça, encontrou a emoção de capa lilás. Ela também estava sorrindo, e se aproximou.

"Eu achei que você estaria inconsolável" disse a empata para Afeição, sem conseguir evitar. Sua sósia deu um sorriso triste e balançou a cabeça.

"Não, Ravena... Toda vez que penso em Garfield, claro, tenho um aperto no coração e sinto vontade de chorar..." ela contou, colocando a mão no peito. "Mas como eu estaria inconsolável sendo que a pessoa a quem vou dedicar todos os meus esforços está a caminho?"

"Ainda existem... Girassóis aqui?" ela perguntou, sem olhar diretamente para a emoção.

"Existem. Nós... Você nunca poderia parar de amar Mutano" ela explicou, com uma voz controlada. "Mas... Quero te mostrar uma coisa."

Ravena olhou de novo para Afeição, vendo que ela tinha uma mão estendida.

"Sementes?" ela perguntou, recebendo-as em suas próprias mãos. Eram sementes grandes, do tamanho de sua unha, verde-escuras e com sulcos por toda a sua superfície.

"Sim, sementes. Elas apareceram na minha bancada um dia depois que você descobriu sobre a gravidez" contou Afeição, o rosto corado. "É a primeira vez que aparecem sementes, e não mudas. Plantei-as imediatamente, por toda Nevermore! Mal posso esperar para ver o que vai brotar!"

Ravena sorriu. Nunca imaginaria que um bebê mudaria as coisas tão bruscamente para ela.

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Que a vida é mesmo

Coisa muito frágil

Uma bobagem

Uma irrelevância

Diante da eternidade

Do amor de quem se ama

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Música - Por Onde Andei por Nando Reis


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