O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 16
Capítulo 16 - A Última Tulipa




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Teen Titans não me pertence.

Capítulo 16 - A Última Tulipa

20 de Fevereiro de 2009, 15h43min

Uma semana havia se passado desde a grande festa com todos os titãs. Ravena não estava indo muito bem desde então. Terra ainda não havia contado sobre sua traição a Mutano, e guardar esse segredo estava atrapalhando muito o equilíbrio emocional da empata.

Ela sabia que tinha chegado a um beco sem saída. Se lembrou da última conversa que tinha tido com a loira, na noite anterior. Depois de questioná-la pela terceira ou quarta vez sobre contar o ocorrido a seu namorado, finalmente recebeu uma resposta direta. E não havia gostado nada.

"Escuta aqui, Ravena, porque é que você se importa tanto com isso?" ela perguntou, irritada. "Você mesma disse que ele nunca me odiaria. Então, adivinha só: nós duas sabemos que de um jeito ou de outro, o Mutano vai me perdoar. Contar isso pra ele só vai servir pra deixá-lo triste e chateado com ele mesmo por um tempo, e aí vamos continuar juntos do mesmo jeito. Não seria melhor poupá-lo desse sofrimento?"

Ravena conseguiu sentir o sangue subindo conforme Raiva tentava, com sucesso, assumir, mas naquele momento Estelar apareceu tagarelando alegremente sobre qualquer coisa, permitindo que ela se retirasse antes de arrancar o belo cabelo dourado da colega.

Nesse momento, ela havia terminado de meditar, e chegara à conclusão de que não podia mais ficar de braços cruzados. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, porém, ela sentiu emoções extremamente negativas se aproximando. Logo em seguida, o quarto se encheu de batidas altas e seguidas à sua porta.

Confusa, ela se dirigiu até a entrada do quarto, pronta a dar uma bronca em quem quer que estivesse tentando botar sua porta abaixo, mas, ao abri-la, encontrou algo que a deixou completamente sem reação.

Terra, chorando. Chorando de verdade, com lágrimas, nariz escorrendo, rosto vermelho e distorcido.

"Mas o que..." começou, mas foi interrompida.

"Foi você, não foi Ravena?" ela questionou, apontando para ela acusadoramente. "Você contou pra ele, eu sei que sim, você sempre teve inveja de nós dois!"

"Acalme-se, Terra, do que você..."

Ravena parou de falar ao ver Mutano dobrar o corredor em direção a elas, a expressão dura, com um mix de emoções difíceis de identificar emanando dele. Ele pareceu tão surpreso quanto ela.

"Terra, o que diabos você veio fazer aqui?" ele perguntou, e não havia sequer um traço da bondade ou gentileza que ele usava para falar com a namorada, nem mesmo com os amigos.

"Foi ela, não foi?" ela gritou, histérica. "Ela contou pra você, ela só quer a minha infelicidade!"

Se Ravena estava surpresa, não era comparado à expressão de choque que surgiu no rosto do metamorfo, que olhou para a amiga com um olhar machucado.

"Você sabia?!" ele perguntou, incrédulo. "Sabia que ela estava me traindo?"

Ravena se sentiu empalidecer, o calor deixando seu corpo.

"O que? Não, eu... Eu só vi uma vez na festa..."

"Isso já faz uma semana!" ele berrou "Vim te ver todas as tardes desde então e não me disse?"

"Eu..." Ravena se sentia perdida.

"O que está acontecendo aqui?" perguntou uma voz do outro lado do corredor. Robin, Estelar e Ciborgue haviam sido atraídos pelos berros e tentavam entender a situação. Mutano deu uma risada sem humor algum.

"Nada com que você precise se preocupar, ó grande líder!" ele respondeu. "Só um mau dia, incluindo encontrar minha namorada com a língua na boca de outro cara..."

Os três se viraram surpresos para Terra, que ainda soluçava baixinho com o rosto nas mãos.

"... E claro, descobrir que ela tinha como cúmplice uma das pessoas que eu mais confio!" ele completou, indicando Ravena. Por um segundo ninguém falou. Terra chorava, Ravena mordia o lábio inferior com uma expressão culpada, Robin analisava a situação com a testa franzida, Ciborgue parecia incapaz de fechar a boca de choque e Estelar parecia, também, à beira das lágrimas.

Então Mutano se virou e começou a ir embora.

"Mutano, espera!" pediu Ravena, sem saber o que a impelia. Antes que pudesse tocar o metamorfo no ombro, porém, ele se esquivou e se voltou para ela com um olhar de raiva.

"Traído pela namorada e pela melhor amiga no mesmo dia..." ele murmurou, então se transformou em uma águia e voou por uma janela. Eles ficaram um tempo lá, observando o pontinho verde se distanciar até sumir no horizonte.

"Como assim, cara... Eu sou o melhor amigo do Mutano!" disse Ciborgue, quebrando o silêncio. Isso pareceu tirar todos do estado de transe em que se encontravam.

"Isso é verdade, Terra, Ravena?" perguntou Robin, olhando para as duas.

"Não é da sua conta!" respondeu Terra, esbarrando nele e correndo para o próprio quarto.

Todos se voltaram, então, para Ravena.

"Eu... Eu a vi beijando um homem na festa uma semana atrás" ela contou, parecendo extremamente triste. "Mas ela disse que foi um acontecimento isolado. Eu tentei convencê-la a contar para Mutano... Não queria parecer..."

"Intrometida" completou Robin, mas ele tinha um sorriso triste no rosto. "Você fez a coisa certa, Ravena"

"Sim, amiga, você não deve se culpar" confirmou Estelar, colocando ambas as mãos em seus ombros em um gesto de consolo que, pela primeira vez, foi muito bem-vindo.

"Mas ele..." ela começou, preocupada.

"Mutano só está com a cabeça quente" afirmou Ciborgue, levantando a mão para interrompê-la. "Quando ele se acalmar, vai ver que você não tem nada a ver com isso. A única culpada é... Bem..."

Ele deixou a frase no ar, e todos sabiam a quem ele se referia.

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O mesmo dia, 23h37min

Ravena estava sozinha na cozinha, esperando a água de seu chá ferver. Sentada, com a cabeça pousada entre os braços na mesa, poucas vezes se sentira tão miserável. Temia ter perdido a amizade de Mutano para sempre. As palavras que ele proferira e, principalmente, o olhar que ele lhe dirigira não paravam de aparecer em sua mente, e nem mil horas de meditação fariam isso parar.

Toda a Torre Titã tinha um ar melancólico, preocupados com os amigos. Terra ainda não havia deixado seu quarto, nem respondido às tentativas de Estelar de conversar, e Mutano ainda não havia voltado.

A chaleira apitou e Ravena desligou o fogo. Quando estava despejando a água quente em sua caneca azul, as portas de entrada se abriram. Ela derramou a água pelo balcão e sequer percebeu ao ver que era Mutano entrando.

"Oi" ele a cumprimentou com certa indiferença, andando até o sofá e se sentando.

"Oi..." ela respondeu, apreensiva. Pousou a chaleira no balcão encharcado e pegou sua caneca, esquentando as mãos. Por um instante, pensou em ir embora, mas percebeu que não era capaz de fazer isso até acertar as coisas com o metamorfo.

"Mutano..." ela começou, encarando sua nuca atrás do sofá.

"Está tudo bem, Ravena" ele a interrompeu, se virando para ela. "Desculpe ter dito que você me traiu... A única que fez isso foi a Terra."

Foi como se o peso de cem bigornas de ferro fosse tirado do peito da empata, que respirou aliviada. Ainda assim, sentia que devia dizer algo. Ela se aproximou e deu à volta pelo sofá, ficando cara a cara com ele.

"Eu queria te contar. Mas achei que a Terra devia fazer isso" ela explicou, olhando para o líquido que escurecia gradualmente na caneca em suas mãos. "Também achei que havia sido uma coisa isolada. Não tinha idéia que ela continuou..."

"Eu entendo" ele assentiu com a cabeça, ainda com a testa franzida. "Obrigada por tentar colocar juízo na cabeça dela, e por se preocupar com o meu bem-estar também"

"Ah, nós... Nós somos amigos" ela disse bobamente, como que se precisasse dar um motivo para se preocupar com ele. Em resposta, ele lhe deu um pequeno sorriso.

"Você que falar sobre isso?" ela perguntou, achando que era o protocolo na situação. Ele deu de ombros, indicando que ela poderia perguntar o que quisesse. "Como você descobriu?"

"Peguei eles no ato" ele explicou sem emoção, depois deu uma daquelas risadas sem humor que ela odiava tanto. "Fui até a pedreira onde ela gosta de treinar fazer uma surpresa... ahn..."

Ele começou a mexer nos bolsos e tirou uma caixinha de plástico, onde havia um par de brincos em formato de borboleta. Ele então a atirou em direção à cozinha, que bateu na parede e então no fundo da lata de lixo, proeza que ele nunca conseguira realizar antes.

"Eu sinto muito..." ela murmurou, sentindo a amargura por trás de suas palavras. "Mas tudo vai dar certo, você sabe."

"Eu suponho que o tempo cura todas as feridas ou algo assim..." ele respondeu sem muita animação. "Mas agora... É uma droga."

"Ainda tenho que lidar com ela..." ele suspirou, se levantando. "Vai ser uma longa noite..."

Ravena permaneceu sentada até seu chá esfriar, se perguntando o que exatamente isso significava.

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No dia seguinte, o café da manhã estava mais quieto do que o normal, e com uma leve tensão não mencionada. Robin lia seu jornal, mas não saía da mesma página há algum tempo, Estelar cutucava seu prato de ovos com mostarda, levando uma ou outra garfada à boca de vez em quando, Ravena bebia seu chá de ervas em pequenos e pausados goles e Ciborgue preparava ovos e bacon sem ninguém se opondo a isso.

Todos se voltaram quando os outros dois componentes da equipe entraram na sala comum e se dirigiram à cozinha. Terra tinha olheiras e o nariz vermelho, mas não mais chorava, e Mutano estava anormalmente sério, embora sua expressão estivesse mais suave. Ao ver os dois entrando juntos, Ravena teve certeza que já tinham feito as pazes, e no peito sentiu algo entre alívio e dor.

"Ei, caras... Temos um anúncio a fazer" disse Mutano, parando à frente deles com as mãos nos bolsos. Terra respirou fundo e cruzou os braços, assentindo com a cabeça. "Eu e Terra... Não estamos mais juntos."

Os quatro amigos ficaram sem palavras.

"Não estão mais namorando?" perguntou Estelar, e os dois balançaram as cabeças.

"Sentimos muito por não ter dado certo" disse Robin, levantando e batendo às costas do colega verde.

"Obrigado, cara" ele respondeu sem sorrir e se encaminhou para a geladeira.

"Bom... Bola pra frente!" exclamou Ciborgue, tentando soar animado, também batendo nas costas de Mutano. "Estamos todos aqui por vocês!"

Estelar abraçou os dois amigos e voltou à sua refeição. Ravena nada disse, surpresa com o desenrolar dos recentes acontecimentos. Ela encontrou o olhar de Terra e viu raiva neles, como se a culpassem.

O fato de ficar totalmente indiferente a isso a fez perceber que a última tulipa amarela havia perecido.

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