Juvia dormia com a serenidade de um anjo. Seus olhos moviam-se de vez em quando por trás das pálpebras, o quê levava Gray a tentar imaginar o que ela estava sonhando. Dois dias haviam passado desde que o grupo a trouxera de volta. Ele estava sentado no batente da janela que a maga deixara aberta ao dormir. É claro que eram proibidos rapazes em Fairy Hills, a estalagem das moças da Fairy Tail, mas era tarde da noite e ninguém o veria ali. Pelo menos foi o que ele pensou.

– Ei! – O grito veio de debaixo da janela, dois andares até o chão. – Gray!

Era ninguém menos que Natsu Dragneel e seu adorável Exceed. No susto Gray se desequilibrou e quase caiu para dentro do quarto de Juvia, o que seria um desastre.

– Diabos, Natsu! – O mago do gelo forçou à voz a um sussurro. – Que você ta fazendo? É proibido homens por aqui!

– Olha quem fala! – Natsu retrucou, gritando.

– Vou contar pra Erza! – Happy declarou com um tom de voz nada moderado.

Gray praguejou e ia saltar para onde os dois estavam quando uma janela à cima da que ele estava se abriu. Lucy apareceu ali com cara de travesseiro.

– O que está acontecendo? – Olhou para baixo e assustou-se. – Gray?! Natsu?!

– Oi, Lucy! – Natsu cumprimentou com naturalidade.

Enquanto Gray maldizia o mundo e quase tudo que nele há, mais duas janelas se abriram sendo Erza e Cana, e...

– Gray-sama?

Olhando para o quarto o mago do gelo encontrou Juvia acordada. Estava de pé ao lado dele, enrolada num lençol olhando-o com encantada adoração. Corando, Gray murmurou alguma coisa inaudível e pulou para o chão lá fora. Agarrou Natsu e Happy e se pôs a correr, enquanto Juvia o chamava com a voz cheia de amor e Erza se preparava para puni-los por invadir o território feminino.

No dia seguinte a guilda toda ficou sabendo do fracasso de Natsu e Gray ao se infiltrarem no Fairy Hills, para o que devia ser um plano de conduta questionável. Os homens riram até ter lágrimas nos olhos e dores de barriga e as moças pareciam um tanto constrangidas. Gray já desistira de se explicar, uma vez que Erza o ameaçou com uma espada e Juvia mostrava-se compreensiva até demais.

– Gray-sama devia ter entrado para ficar. – Disse, tomando-o pelo braço. Sua voz era chorosa e ela lançou um olhar mortal a Lucy quando essa fez menção de falar. – É claro que ele foi só para ver a Juvia.

Para a surpresa da azulada, houve um momento em que Gray tocou sua mão numa brevíssima caricia delicada. Logo depois se retirou do abraço dela de forma delicada e num contraste de ações bateu com o punho de forma brusca sobre a mesa, para chamar a atenção de Natsu.

– Que diabos você estava fazendo lá, afinal? – Perguntou numa voz de irritação contida.

– Eu achei que você ia naquela missão sem mim, e por isso te segui. – Natsu parecia bastante mal humorado depois de ter levado uma pequena surra da Titania ao desafia-la de forma imprudente.

– Você é idiota? – Gray resmungou. – Eu disse que era amanhã.

– Não tenho culpa se você faz coisas suspeitas. – O Dragneel retrucou.

– Suspeito! – Happy deu um risinho malicioso.

Por algum motivo ele fora o único a não receber bronca pelo ocorrido da noite anterior. É claro que teve sua punição, considerando que Charles parecia mais fria do que de costume.

– Em que missão o Gray-sama vai? – Juvia questionou interrompendo a eminente briga dos dois.

Ultimamente todos se calavam quando ela falava algo, assim os olhares da mesa – Lucy, Erza, Natsu e Happy voltaram-se para Gray. Era uma reação normal considerando a preocupação que tinham passado. Logo tudo se normalizaria.

– A gente vai atrás daquele sequestrador de merda. – O Salamander quem respondeu, distraído com um espeto de carne que comia.

Gray bateu na própria face, irritado. Aparentemente não queria que os outros soubessem. Lucy mostrou-se surpresa e Erza interessada, mas a primeira pronuncia veio de Juvia.

– Eu vou. – Declarou sem dar chances para qualquer um discordar.

Gray olhou para ela preocupado, mas sabia que pouco adiantaria dizer não e também... Queria ter ela por perto.

– Vocês tem certeza? – Erza perguntou. – Essas buscas são um tanto difíceis.

– Na verdade – Lucy disse. – Já tem boas pistas de quem é e onde está esse tal sequestrador. Aparentemente o conselho está apenas fazendo um plano de ação, para poder recuperar as moças em segurança. Parece que algumas delas apareceram e contaram coisas.

– Isso é bom. – A ruiva parecia séria. – Irei com vocês. Vamos acabar de vez com isso.

– Aye!

Assim à tardezinha o grupo se reuniu sob a estação de trem, desta vez acompanhados de Juvia. Haviam se apresentado no conselho da magia para oferecer seus serviços. Por terem muitas coisas para resolver com algum assunto que permanecia desconhecido, aceitaram a ajuda mesmo que um tanto relutantes. Descobriram que o sequestrador parecia ter pelo menos quatro “esconderijos”, por assim dizer. O grupo iria até a cidade mais próxima das localizações que tinham e lá se separariam em duplas. Eram algumas horas de viagem a pé, uma vez que aparentemente o tal não gostava tanto da civilização.

Embarcaram no trem sob os protestos de Natsu e ficaram a observar a paisagem que voava através da janela.

Juvia parecia perdida em pensamentos até que adormeceu levemente amparada por seu Gray-sama, e ele por sua vez resolver parar de preocupar-se tão aflitivamente como vinha fazendo há alguns dias, para relaxar e aproveitar a reconfortante presença da azulada e seus leais amigos. Poriam um fim naquilo de uma vez por todas e então ele teria todo o tempo do mundo para se redimir de seus erros.