– Algum problema? – ouvi o moreno indagar, mas antes que pudesse dar uma resposta plausível, me desesperei ao vê-lo entrar no café e acabei me escondendo embaixo da mesa como uma maldita criminosa que foge da polícia. Maldição! – Sakura? – Sasuke voltou a me chamar e bati com a cabeça na mesa, praguejei de novo, havia me esquecido dele.

– T-Tudo bem... eu só, só... deixei cair a minha lente – disse querendo me matar por ter dado uma desculpa tão ridícula.

Sasuke se inclinou e levantou a toalha da mesa para me observar e eu sorri sem graça, aquilo estava cada vez pior.

– Hum... – murmurou com o cenho franzido, claramente desconfiado – E você já achou?

– Ahh... bom... – coloquei uma mecha para trás da orelha, desconfortável.

– Sabe, eu não me importo de ter uma garota abaixada entre as minhas pernas, mas acho que as pessoas vão estranhar, então porque não sobe logo? – o encarei com os olhos arregalados, totalmente corada pelas palavras proferidas e, vendo isso, ele suspirou antes de dizer – Então, qual o problema de fato?

– Você está vendo um ruivo na entrada da lanchonete acompanhado de uma morena peituda? – resolvi ser sincera, assim não bancava a pervertida, era preferível ser apenas maluca... eu acho.

– Impossível não ver – disse e eu praguejei baixinho. Homens! Era só um par de peitos! Olhei para o moreno, irritada, e pude vê-lo sorrindo de canto para mim. Qual o problema dele? Ele estava me fazendo de idiota? – O que têm eles?

– Ele é o meu ex-namorado e aquela é a... noiva dele – a palavra saiu meio estrangulada, mas Sasuke conseguiu entender já que exclamou uma monossílaba para que eu continuasse a explicação – Eu não quero que eles me vejam.

– Isso eu já percebi, mas por quê? – ele perguntou revirando os olhos.

– Porque eles estão vindo nessa direção e se eles me virem, vão vir para cá me infernizar e eu não quero! – disse como se fosse óbvio e Sasuke me encarou como se fosse demente.

– Não seja paranoica, eles apenas... – Sasuke voltou a encarar onde estava o falecido e parou de falar abruptamente. Ah meu Kami, o que aconteceu?

– O que foi?

– Acho que você é um imã para confusão – disse simplesmente e antes que eu o questionasse sobre isso, ele me cobriu com a toalha de mesa e ouvi outra voz se manifestar ao lado da mesa que me fez congelar.

– Com licença, esta cadeira está vaga? – ouvi Sasori questionar ao Uchiha. Droga, mil vezes droga!

– Sim... – Sasuke disse e eu belisquei a perna boa dele com força, fazendo-o arfar baixinho – ...Quero dizer, não... – disse entredentes e eu podia apostar o meu fígado que estaria morta depois desse encontro desastroso, mas já que estou no inferno... belisquei novamente a perna do moreno, aquele idiota!

O que ele estava fazendo? Se ele dissesse que a cadeira estava ocupada, Sasori perceberia que eu estava me escondendo dele ao sair e se dissesse que não havia ninguém, quando eu saísse debaixo da mesa, não teria lugar onde sentar e seria duplamente humilhada. Será que ele não conseguia entender?

– Desculpe, não entendi. Tem alguém sentado aqui ou não? – Sasori perguntou novamente e pela voz parecia um pouco irritado pela indecisão do moreno.

– Olha... – Sasuke também não parecia estar muito calmo e eu até entendia o porquê, então suspirei e resolvi acabar com essa palhaçada. Que ótimo Sakura, você só se mete em furada!

– Achei! – exclamei alto, saindo debaixo da mesa com o resto de dignidade que ainda me restava e como a boa atriz que sou ensaiei uma perfeita cara de espanto ao ver Sasori parado ali ao meu lado – Sasori! O que faz aqui? – cara, eu merecia um prêmio por essa atuação, sério!

– O que você fazia embaixo da mesa desse cara, Sakura? – indagou com o cenho franzido e corei ao me lembrar das palavras mencionadas antes por Sasuke.

– A minha lente de contato caiu – disse sem graça e vi pelo canto do olho Sasuke revirar os olhos por usar a mesma desculpa duas vezes. Bom, não custava nada tentar de novo, não é?

– Saso-chan, porque a demora e... o que você está fazendo aqui? – a siliconada se agarrou ao braço de Sasori ao me ver e eu revirei os olhos, ignorando-a.

– Não sabia que usava lente – o ruivo disse, chamando a minha atenção.

– As coisas mudam e você não sabe tudo sobre mim – repliquei com o peito estufado por dar uma boa resposta a ele que se encolheu. Sakura 1 x Sasori 0.

– Sim, pelo jeito também não sabia que procurava uma lente embaixo da mesa de um desconhecido – aquele imbecil retrucou e antes que minha mão fosse de encontro àquela cara, Sasuke se manifestou.

– Eu não sou um desconhecido. – levantou-se, encarando o ruivo e pude ouvir a rata-de-academia-siliconada suspirar. Agora que ela havia percebido o Deus Grego que era Sasuke? Acho que quem tinha problema de visão era ela.

– E quem é você, então? – e foi justamente a noivinha quem indagou, curiosa ela não? Na verdade, isso tinha outro nome...

– Vadia – pigarreie, fingindo uma tosse e ela me fuzilou com os olhos. O quê? Ela era mesmo!

– Quem é você? – Sasori foi quem perguntou dessa vez e eu podia ver a raiva no seu olhar, ele não gostava de ser desafiado e também não deve ter gostado de ver a siliconada praticamente se jogando em cima do Uchiha. Mas quem não se jogaria aos pés de Sasuke?

E justamente por causa disso, devo confessar que uma parte minha, uma grande parte, queria que ele mentisse e dissesse que erámos namorados, apenas para eu poder esfregar o quanto eu estava melhor sem o Sasori na cara dele e que a peituda havia perdido a oportunidade de ficar com Sasuke. Sempre com os restos siliconada, sinto muito! pensei com um sorriso debochado no rosto, mas esse logo se desfez ao ouvir a frase proferida por Sasuke.

– Somos colegas de academia.

Só isso? pensei indignada, antes de bufar baixinho, mas o que eu queria? Nós realmente erámos só colegas de academia, talvez nem isso se pensar bem, já que nossa única relação se baseou em um atentado a vida de Sasuke e mais momentos constrangedores. Suspirei. Era realmente melhor ele nos apresentar como colegas do que dizer a verdade vendo por esse lado. Além do mais aquilo não era a droga de uma comédia romântica, onde o mocinho finge ser o namorado falso da mocinha para impressionar o ex, mas eles acabam se apaixonando e ficando juntos no final, enquanto que o ex sofre amargamente por ter deixado a mocinha de lado. Claro que não! Aquilo era a vida real, onde pessoas como eu só se ferram e também não é como se eu quisesse que algo assim acontecesse. Quem iria querer alguém tão insuportável, debochado, grosseiro, bonito, sexy, com um sorriso matador, gostoso... quanto Sasuke? Eu é que não!

– Então quer dizer que é verdade que a Sakura está malhando? – a voz do falecido me despertou dos meus devaneios e fuzilei o ruivo.

– Como assim é verdade? Você achou que eu estava mentindo?

– Bom, você nunca foi do tipo atlético, Sakura. Você nem gostava de subir as escadas do prédio quando o elevador quebrava – disse dando de ombros e senti o olhar de Sasuke em mim, como se quisesse rir. Maldito. Os dois.

Mas, em minha defesa, quem em sã consciência, depois de chegar cansado em casa e ver o elevador enguiçado teria forças para subir escadas? Era melhor fazer hora em outro lugar até ajeitarem tudo, não? Eu somente sou prática.

– Bom, como eu disse as coisas mudaram.

– Então ainda está de pé a nossa pequena competição? – a rata-de-academia-siliconada chiou ao lado de Sasori, praticamente gritando a sua vitória. Merda.

– C-Claro – disse e me odiei por gaguejar, era melhor dar um basta nisso de uma vez – Bom, mas agora se não se importam estamos lanchando – e segurei no braço de Sasuke que apenas arqueou uma sobrancelha pela proximidade, mas ignorei.

– Certo, nós também viemos comer algo, a comida daqui é ótima, lembra Sakura? – Sasori falou com um sorriso falso – Ah, aqui não era o seu restaurante favorito? Eu havia me esquecido disso – quis gritar mentiroso!, mas apenas sorri de forma forçada e apertei o braço de Sasuke.

– Se nos dão licença – o Uchiha se pronunciou para o meu alívio e os dois se viraram para ir até outra parte da lanchonete, mas não sem antes a siliconada se dirigir a mim mais uma vez:

– Cuidado para não exagerar nos doces, engorda, sabe? – e apontou para a minha torta.

– Sei – disse entredentes, me contendo para não dar um soco no rosto dela.

Quando eles foram embora nos sentamos e eu mordia os lábios, totalmente estressada e irritada. Como eu odiava Sasori. Ele estava fazendo aquilo de propósito, ele sabia que eu sempre frequentava esse lugar, era perto do meu trabalho e a comida, os doces e o café principalmente, me atraiam feito abelha no mel. Por que ele estava querendo dar uma de superior? Ele era um sádico e eu não sabia? E aquela mulherzinha ainda quis me intimidar falando sobre peso. Olhei para o pedaço de torta pela metade e revirei os olhos ao ver que ela tinha conseguido. Não queria mais comer o meu doce preferido. Maldita, mil vezes maldita! Que o silicone dela exploda!

– Não ligue para isso. – Sasuke disse e o encarei.

– Não ligar para o que?

– Sobre o doce, você não é gorda – respondeu dando de ombros e eu senti meu sangue ferver.

– Eu não ligo. Como se eu fosse ouvir aquela marombeira siliconada! – disse entredentes, não queria admitir que ela havia me influenciado, muito menos queria que Sasuke tivesse que dar uma de bom samaritano e me elogiar para que eu me sentisse bem, meus níveis de estresse estavam perigosamente altos.

– Então porque não come? – Ele estava me desafiando? Espalmei a mão na mesa, o surpreendendo.

– Porque eu perdi a fome depois de ver aqueles dois e já terminou o meu intervalo, então com licença – disse ao me levantar, mas o moreno ao mesmo tempo em que tinha o dom da beleza, também tinha o dom de ser insuportável, por isso ele teve que retrucar:

– Tenho pena dos pacientes que serão atendidos por você agora.

– Você quer ser um? – rebati imediatamente e ele me encarou debochado.

– Não, já tive uma experiência ruim com você – e indicou a perna fraturada e sorri irritada.

– Você vai me jogar isso na cara eternamente, não é? – comecei e antes que ele respondesse algo, continuei – Eu já me desculpei e paguei todos os gastos médicos, não vou mais me rebaixar, não quando tudo o que ganho é má educação e uma mancha na minha calça que, a propósito, era nova e vou ter que jogar fora por sua causa. Então, até mais ver senhor Uchiha, nos vemos no tribunal! – e marchei em direção a saída, ainda ouvi Sasuke falar algo como Que tribunal?, mas ignorei. Estava espumando de raiva e meu humor só piorou ao ver Sasori me acenando com a noiva a tiracolo.