As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 7
Primeira Fase: En(canto)


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631907/chapter/7

No intervalo das aulas, juntei-me ao grupo.

Eu fingia sorrisos, gargalhadas e palavras animadas, mas tudo que queria era correr dali.

O assunto ainda era Sabaku no Gaara — e provavelmente continuaria sendo pela próxima década inteira.

Sasuke-kun comentava que ele havia sumido. Hinata dizia que ninguém o tinha visto desde que saiu da sala, um pouco antes do intervalo começar.

Todos se perguntavam onde o ruivo estava.

Eu tinha um palpite — um palpite muito forte e com 99% de chances de acerto: o "esconderijo". Invejei Gaara. Naquele momento tudo que queria era um lugar só meu.

Agradeci mentalmente quando o sinal tocou. Na aula, pelo menos, eu não precisava fingir sorrisos e poderia voltar a trabalhar na música que estava compondo desde o segundo tempo. Era bem mais difícil expressar sentimentos por escrito quando não havia silêncio ao meu redor, nem instrumentos para me ajudar — além do fato de eu não poder cantar em voz alta —, mas, ainda assim, era reconfortante.

Um pouco depois da aula de Biologia começar, Gaara retornou para sala.

Pensei na possibilidade de ele ter deixado a porta do esconderijo aberta. Se eu pudesse, só por uma vez, tocar a minha nova música...

Então, mais inspirada, finalizei as letras e as notas musicais e pedi ao professor para ir à enfermaria.

Eu ficaria melhor assim que cantasse.

*

*

*

Parada em frente à porta vermelha do esconderijo de Gaara, fiz uma pequena oração desejando que ela estivesse aberta.

Sorri assim que girei a maçaneta e a porta se abriu.

O lugar estava exatamente como eu lembrava. Ok... Talvez um pouco mais bagunçado, com algumas garrafas de água e sacos de bolachas perto do sofá.

Mas era o violão que me interessava.

Encontrei-o no canto mais afastado da porta, junto com outros instrumentos musicais.

Assim que dedilhei as primeiras notas senti minhas mãos machucadas reclamarem, mas não me importei. Estava acostumada a ignorar a dor. Logo percebi o quanto aquele violão era melhor que o meu, com o som mais claro e límpido.

Sorri. Era uma oportunidade única... Tocar um instrumento tão bom quanto aquele em um lugar todo preparado para músicas.

Coloquei as folhas com as notas e as letras em um suporte — até isso tinha, aqui! — bem em frente ao banco que estava sentada. Posicionei o microfone e liguei o amplificador de som do violão.

Seria a primeira — e provavelmente única — vez que eu cantaria em um microfone. Estava ansiosa.

Gaara havia me dito que o lugar possuía isolamento acústico, então não precisava me preocupar.

Eu só queria cinco minutos para tocar minha música e ir embora. Só isso.

'Day by day'. [Dia por dia.] 

Esse era o nome da canção privilegiada por ser cantada em um lugar como esse.

Então, respirando fundo, toquei as primeiras notas.

*

*

*

POV: Sabaku no Gaara

Aquela garota de cabelos rosas era mesmo esquisita.

Sakura, o seu nome.

De todas as garotas que conheci — e eu já havia conhecido muitas, de todas as partes do mundo —, ela tinha que ser a mais estúpida.

A primeira vez que a vi foi quando ela, simplesmente, se jogou em cima do meu carro. Encontrei-a caída no chão e com o rosto banhado em lágrimas. Aquilo me intrigou. Perguntei-me o que havia acontecido para que ficasse naquela situação. Como garotas costumam ficar descontroladas e choronas quando levam um fora, concluí que ela devia ter um amor não correspondido.

A segunda vez, foi quando ela acordou. E se em mim havia alguma compaixão pelo seu estado deplorável, acabou-se no momento em que a garota jogou a culpa em mim. E foi aí que concluí que ela era maluca. 

Mentirosa, chorona e maluca. Não podia ficar pior, certo?

Errado.

A terceira vez em que a encontrei foi quando resolvi ir disfarçado até o centro da cidade, já tarde da noite, buscar alguma coisa para comer. E então, a rosada esbarrou em mim. Novamente, ela estava chorando, só que dessa vez parecia até a encarnação da tristeza e da dor. Parecia estar perdida... E sozinha. Nem mesmo olhou para mim — para falar a verdade, tenho dúvidas se ela ao menos percebeu que esbarrou em alguém. Concluí, então, que a garota maluca estava quebrada.

No dia seguinte, eu a encontrei quase arrebentando a porta da minha sala privada, na escola. Ela gritava e, mais uma vez, chorava. Concluí que havia muita raiva dentro de si.

Suas mãos estavam feridas e ela ainda estava bastante machucada do acidente. Na minha opinião, não deveria ter saído de casa até estar completamente recuperada. Por isso, convidei-a a entrar no meu pequeno lugar de refúgio. Pela primeira vez tivemos uma conversa decente, e concluí que a garota não era tão ruim assim.

Até o dia seguinte.

Uma hora ou outra, eu teria que aparecer nas aulas. Sabia que ia ser um caos, mas era melhor enfrentar a escola antes da mídia saber que eu estava em Konoha. Então, respirando fundo, fiz minha primeira aparição em Konoha School. Fiquei surpreso quando encontrei a garota maluca na minha turma. Como era o único rosto que eu conhecia, sentei atrás dela. A garota chegou até a virar a cabeça para me olhar, mas não falou nada. Foi quando concluí que, além de tudo, a rosada era ignorante.

Saí de sala antes do sinal de intervalo bater, porque, assim que batesse, seria novamente cercado pelos alunos eufóricos daquele colégio e não conseguiria ir até o meu lugar de refúgio. No entanto, precisei voltar para a sala de aula, discretamente, antes do intervalo terminar, pois havia deixado meu celular lá. Então, tomando cuidado para não ser notado, passei pelo pátio. Na volta para o meu refúgio, vi a garota de cabelos rosas novamente.

Rindo. Gargalhando como se fosse a pessoa mais feliz do mundo e como se ontem mesmo não estivesse socando portas e chorando rios de lágrimas. Foi quando eu concluí que ela seria uma ótima atriz, porque sabia fingir muito bem.

Depois, na aula de Biologia, a garota disse ao professor que precisava ir à enfermaria. Antes de sair, no entanto, arrancou algumas folhas que havia rabiscado a aula inteira e levou-as consigo. 

Será que ela iria mesmo para onde dizia ir?

Por pura curiosidade resolvi segui-la, falando para o professor que precisava tratar de um assunto importante na diretoria. De qualquer modo, era melhor do que continuar naquela tortura de aula.

E aqui estava eu, sem explicação nenhuma, seguindo uma garota estúpida e confusa que estava indo para... 

...Meu refúgio?

O que essa garota iria fazer?

Assisti-a passando pela porta, parecendo satisfeita por encontrá-la aberta, e depois fechando-a.

Merda! Eu devia ter trancado!

Por um momento fiquei ali parado, admirado e irritado com a audácia daquela garota. Será que ela queria roubar alguma coisa?

Ah! Eu iria pegá-la no flagra.

Sem fazer barulho, abri a porta, lentamente. Queria assustá-la. 

Mas então a vi: sentada no banco com meu violão em mãos, microfone à sua frente e as folhas que antes carregava colocadas no suporte de partituras. Ela estava quase de costas para mim, mas eu ainda conseguia ver um pouco do perfil de seu rosto.

Eu, no entanto, estava fora do seu campo de visão.

A curiosidade falou mais alto e, novamente, sem fazer barulho, fechei a porta e a assisti.

Ela, então, tocou as primeiras notas. Impressionei-me com a sua capacidade. A garota sabia tocar violão muito bem. E olha que estava com as mãos bem machucadas!

Aquela melodia era muito bonita. De quem seria a canção? Talvez de algum cantor japonês que eu não tenha ouvido falar...

Rapidamente, coloquei meu celular para gravar áudio. Depois pesquisaria que música era aquela.

Foi enquanto eu ainda estava admirado com suas habilidades no violão que ela começou a cantar.

 

Sozinha em um quarto pequeno

Eu fico acordada a noite inteira imaginando você

Eu não posso te deixar nem por um único dia, simplesmente não posso

Eu sou tão tonta

 

Cada palavra que ela cantava me atingia com a força de mil trovões. E, ainda assim, acariciava-me com a delicadeza de mil pétalas. Ela tinha a voz de um anjo. A voz mais linda que eu já ouvira em minha vida. Poderosa, ao mesmo tempo que era suave, doce e até mesmo... Sexy.

 

A vida para mim é apenas suportável

Eu tento me conformar

Fingindo que estou bem

Mas tudo é inútil, nada está bem

 

Eu estava completamente hipnotizado pela voz daquela garota e pela letra da música, por sua melodia. Ela olhava fixamente para as folhas que havia rabiscado durante as aulas. 

Espera... Essa música... Não. Ela não poderia tê-la escrito. Poderia? Não! Como isso faz sentido? Não faz!

Mas... Durante a aula, a rosada só se concentrava naquilo. Por vezes a via apagando algo e voltando a rabiscar. Apagando e rabiscando... Apagando e rabiscando...

Não. Ela era apenas uma garota estúpida, maluca, confusa e fingida! Não poderia criar algo como aquilo — da mesma maneira como não poderia cantar e tocar daquele jeito, e ainda assim, podia!

 

Dia por dia, eu amo você

Mas eu estou com uma dor interminável.

De madrugada, eu não consigo dormir pensando em você

E eu não vou poder dormir hoje enquanto estou sentindo sua falta

 

Vejo quando uma lágrima desce por seu rosto. 

Ela cantava pensando em alguém, disso eu tinha certeza. Alguém que a fazia sofrer muito.

Quem a machucara tanto assim?

 

Quando eu encontro nossos amigos,

Eu finjo que tudo está bem, enquanto sorrio

Mas tudo é inútil, porque na verdade, eu não estou bem

Não posso superar você nem mesmo por um momento 

 

Sua voz, a música, as emoções que ela transmitia ao cantar — emoções verdadeiras, não fingidas — me fizeram achar, por um momento, que ela era algum tipo de anjo da música.

Nunca havia presenciado nada como aquilo.

Sentia como se, apenas por assisti-la, eu estivesse maculando algo sagrado. Era tudo tão poderoso. A garota estava transformada. Ela era a música. Tão pura e tão angelical que me fez, pela primeira vez, achar que eu fosse realmente um demônio.

 

Eu sinto sua falta

Sentada na beirada da janela, enquanto o sol se põe

Quando o vento gelado sopra, eu sou levada embora pelas memórias

Isso me abala mais uma vez no dia

 

Poucas vezes na vida, algo conseguiu me abalar. Eu, que pensava ser capaz de decifrar qualquer pessoa, vi-me em frente ao maior mistério do qual ouvi falar. Aquela garota de cabelos rosas foi além de qualquer expectativa. Nunca estive tão impressionado.

 

Apenas por um dia, só por um dia

Se eu ao menos pudesse apagar você de mim

Na madrugada, eu não posso dormir com pensamentos de você

E eu não vou poder dormir hoje, enquanto estou sentindo sua falta

 

Seus olhos derramavam lágrimas, mas em nenhum momento sua voz falhara — pelo contrário, parecia ficar ainda mais bonita.

 

Não vou poder dormir hoje, enquanto estou sentindo sua falta.

 

Ela canta, então, o último verso e para de tocar. Desejei que a garota continuasse cantando, mas ela apenas funga, respirando fundo e limpando as lágrimas em seu rosto.

Sentia-me um criminoso por tê-la assistido em um momento que não poderia ser descrito de outra forma a não ser sagrado.

Então, antes que ela se virasse, escondi-me atrás da poltrona que ficava perto da porta, abaixado.

Ouvi seus movimentos e deduzi que estava colocando o instrumento em seu devido lugar, mas não a olhei novamente.

Com passos suaves ela passou pela porta e a fechou, deixando-me sozinho.

Ainda em transe, movi-me para o banco em que a garota havia estado.

Foi quando percebi que meu celular ainda estava gravando. Salvei o arquivo e sorri. Eu tinha a prova de que aquilo tinha sido real. Poderia escutá-la mais vezes. Poderia até mesmo pesquisar na internet aquela música e confirmar se havia sido composta ou não pela garota.

Sakura, era o seu nome.

Eu não esqueceria. Tinha certeza.

Nenhuma performance, de alguém famoso ou não, havia me tocado tão profundamente assim.

Então, concluí por fim que não havia garota mais talentosa que Haruno Sakura.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi, pessoas maravilhosas! Esse cap foi menor que os outros, por ser para mim a parte final do 6. Mas o cap 8 tem quase 4000 palavras.

IMPORTANTE: A música do capítulo é coreana, não me pertence e eu não usei a tradução literal. Chama-se Day By Day, e quem canta é a Ailee.

Link da música:

https://m.youtube.com/watch?v=gBqUX_PccAQ

XOXO



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Máscaras de Sakura" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.