O Rebelde escrita por Sereia Literária


Capítulo 21
Manchas de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários, meninas! Gabi Jackson e Eleanor Liesel Grey! E mais alguém favoritou! Obrigada ViiJay! Obrigada também à Black Life, que está acompanhando... Gente, não vou me demorar muito porque o capítulo não é todo florido,com cupcakes falantes e unicórnios - se é que me entendem -, e não quero estragar o clima... ´Tenso` falando demais. Espero que gostem, e comentem!



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O vento ainda uivava em nossos ouvidos, enquanto uma tempestade – interna e externa – dava promessas de que aquela noite não seria calma. Conor e eu estávamos em um lugar escondido, debaixo da sacada de meu quarto, entre flores e folhagens. Agachados, de mãos dadas.

Pisquei duas vezes, pensando no que aconteceria se fôssemos pegos – eu seria no máximo castigada e condenada a me casar como um monarca velho e rico que o Parlamento escolhesse, mas Conor... Pelo o menos seria chibatado, isso, se por sorte, não fosse condenado à forca ou mandado à guilhotina... Ou ainda torturado, na cadeira elétrica... Antes que eu me desse conta, estava fungando e choramingado.

–Shh, shhh...- pediu ele, virando meu rosto em sua direção. Suas palavras eram sutis, e seu toque era doce. Mas eu vi em seus olhos uma preocupação semelhante a minha.

–Nós vamos conseguir, não chore- sussurrou ele aos meus ouvidos, enquanto secava minhas bochechas e descolava delas fios louros e molhados.

–Se não conseguirmos, você...

–Eu sei do que pode acontecer. E sei também que vamos conseguir.

E ele me abraçou. Encaixei o rosto em seu peito e me deixei ser consolada. Ele era meu porto seguro, e quando ouvi seu coração mais acelerado que o normal e senti sua respiração mais curta, fiquei preocupada, amedrontada.

A noite seguia, e não tínhamos quaisquer sinais de Natan. Nem bons, nem ruins. Os uivos e silfos longos do vento passaram se tornar mais frios e cortantes, violentos, desesperadores. Foi quando me dei conta de que já deveriam ser quase três da manhã, e Conor também percebeu.

–Precisamos ir. Não podemos esperar mais, o dia vai amanhecer- disse ele, afastado algumas folhagens e esticando o pescoço para fora. Eu apenas me encolhi um pouco mais. Sem dizer mais nada ou se virar para mim, ele me pegou pelo pulso e me puxou, e saímos correndo com passos leves em direção à saída dos funcionários.

Eu olhava para trás a cada segundo, esperando encontrar um guarda apontando para nós e chamando reforços, mas não foi o que eu vi. Via apenas, cada vez de uma perspectiva mais distante minha varanda e suas cortinas que giravam e se contorciam ferozmente de um lado para o outro. ´´Adeus...``, pensei.

Foi quando Conor parou de correr bruscamente e me puxou para trás de si, nos prensando em um vão mais escuro das paredes de mármore. Eu sentia dois extremos opostos; a parede gélida, que parecia indiferente a nós e o corpo de Conor, que se colocou de tal forma a me esconder e proteger. Ele então pegou minha mão e mais uma vez corremos até virar em uma quina do castelo, chegando a uma grande porta de madeira, e ao seu lado, para nossa surpresa, dois cavalos.

–Natan...-murmurei, me aproximando de Anastácia, minha égua negra. Para Conor, ele havia trazido Meio-Sangue, um cavalo árabe lindo de pelagem tão escura quanto a noite.

–Ele cumpriu o que prometeu- comentei, alisando a crina de Anastácia.

–Ou parte disso. Vamos - e ele me ajudou a montar rapidamente na égua, e logo fez o mesmo e se endireitou em Meio-Sangue.

Começamos a cavalgada em direção à floresta, até que o som de uma arma foi disparado pelos ares, tal como a bala de aço da mesma. Conor arregalou os grandes olhos dourados para mim, enquanto os cavalos continuavam correndo a máxima velocidade. Mais um disparo, mas nenhum morto. Então, Anastácia tropeçou como uma bêbada, e quando percebemos que ela fora atingida e que iria cair, Conor me estendeu o braço, que eu peguei. Mas não a tempo de minha perna ficar presa debaixo de minha pobre égua.

Berrei de dor. Ela caíra perto de uma árvore, sendo que minha perna esquerda ficou enterrada sob seu grandioso corpo e minha coluna retorcida por conta do tronco forte que me havia cortado e rasgado as costas.

–Conor... Vá embora- pedi, em lágrimas, tanto pela dor quanto pelo fato de me separar dele. Mas ele não foi. Antes de tudo, ele já havia desmontado e tentava erguer o corpo de Anastácia de cima do meu, me puxar de lado... Mas a cada tentativa os guardas estavam mais perto, eu estava mais exausta e machucada e ele estava cada vez mais perto de uma sentença horrível.

Foi quando ele me pegou por trás, e minha coluna estalou como se houvesse se partido. Berrei de dor, mas ele conseguiu me libertar, e ri e chorei ao mesmo tempo. Conor começou a correr, mas parou do nada, e eu senti seus músculos retesarem. Então ele desabou. Eu bati a cabeça no chão. Apaguei.

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Sentia o gosto metálico de sangue em minha garganta. Os olhos pesados, mas não me movia. Sentia o cheiro familiar de flores, o vento frio da noite, que passava a se tornar mais quente enquanto o sol despontava no horizonte, e seus raios se estendiam dolorosamente até mim. Senti também algo em minhas mãos – algo que eu segurava. Não sabia por que, mas sabia que era um punhal, ou uma espada. Sentia minhas pernas nuas, e sabia estar com alguma de minhas camisolas leves para os dias de verão. Sentia meu rosto no carpete macio, mas que estava molhado de algo viscoso, pegajoso... Molhado de sangue.

Comecei a ficar ofegante e abrir os olhos foi tão difícil quanto erguer duas toneladas. As pálpebras pareciam de chumbo. Com minha visão embaçada, vi que meu quarto estava destruído. Vasos quebrados, flores pelo chão. Sangue, sangue... De repente, a porta foi escancarada, e gritos de horror ecoaram distantes em meus ouvidos. Como um fantasma meu pai chegou ao quarto.

–O QUE HOUVE AQUI?!- berrou ele desesperado. Aquele grito ecoou dentro de mim enquanto eu sentia – ou melhor, eu não sentia. Apenas sabia que ele me ninava em seus braços, entre lágrimas, como se faz com uma criança. Era como se meu corpo estivesse morto, e somente meus sentidos funcionassem. Dizem que é isso que às vezes acontece em casos de coma... Mas eu não estava em coma. Não conseguia dar nenhum acalento ao meu pai, nem um piscar de olhos, que, agora semiabertos, pareciam não querer voltar a se fechar. Também não conseguia falar, quando tentava, o gosto de sangue ficava mais forte e era como se uma espada ou uma navalha subisse e descesse pelas minhas cordas vocais e por toda a garganta. Enquanto ele chorava por sua filha, minha cabeça tombou para o lado, e pude ver de onde vinha o sangue: Natan jazia inerte, colado ao chão, com uma espada, a espada de papai, cravada em seu peito. Muito mais que isso, ele tinha hematomas pelo rosto e as mãos estavam duras, e eu gritei seu nome por dentro, o chamando de volta, desesperada. Ele também tinha cortes por todo o corpo, de onde o sangue havia fluído, e agora estava quase seco.

Sangue.

–Quem, por Deus, é o responsável por essa atrocidade?- perguntou o rei, de maneira traumática e pausada. Eu, que estava perto de seu coração, pude sentir a vingança que ele agora almejava, a dor que sentia e pior de tudo; soube quem seria o culpado.

Então, ouvi o som das portas sendo abertas, e nesse segundo, o som de correntes pesadas agitando-se umas contra as outras.

–KATHERINE- gritou Conor, e nesse segundo vi que ele se debatia nas algemas que o prendiam, tanto nas mãos quanto nos pés. Foi quando um dos guardas puxou as algemas dos pés dele de tal maneira que o fez cair , ficando de joelhos, ao lado de meu pai. Ele se inclinou sobre mim, os olhos com uma preocupação, uma dor, um medo... Também não pude dar-lhe sinal algum. Mas isso durou um mísero segundo, pois meu pai se virou e socou seu estômago, enquanto os guardas o puxavam de volta para trás.

–Seu miserável desgraçado...- meu pai cuspiu em Conor, que apenas permaneceu com os olhos e a cabeça baixos.

–Majestade, eu amo a sua filha, jamais faria uma coisa dessas- e ele olhou na direção do primeiro ministro, o olhar acusador, sombrio e amedrontador, e foi quando o chutaram para o lado.

–É um rebelde, Senhor. Faremos todos os exames para sabermos de sua sanidade e ele será levado ao tribunal.

O Rei soltou um riso sarcástico.

–Depois disso, ainda precisamos de um tribunal?

Senti meu coração apertar e então meu corpo tomou conta de mim. Ele tremia em convulsões e eu cuspia sangue, enquanto todas as atenções se voltaram para mim. Duas enfermeiras me colocaram em uma maca, enquanto eu me debulhava em sangue e me afogava no que queria – mas não podia – dizer, fazer. Queria sair daquela maca e abraçar e defender Conor; sentenciar ou decapitar eu mesma todos os parlamentares; chorar por Natan...

Mas eu não podia fazer isso, pois estava sendo erguida em uma maca, enquanto engasgava em meu sangue e meu corpo parecia estar em um curto circuito ao mesmo tempo que minha visão se esvaía, assim como minha noção de tempo e espaço.

Todos abriam caminho enquanto a princesa saía do quarto e era levada às pressas por enfermeiros e paramédicos desesperados. Inclusive os guardas, que seguravam com garra o homem que não havia cometido crime algum, a não ser o de roubar meu coração e minha mente para si. Não, nem isso ele havia feito – eu os havia entregado a Conor de bom grado, e agora ele sofreria por isso. Senti seus olhos cravados em mim até não sentir mais nada e cair no profundo vazio de minha mente, onde fantasmas, vozes, gritos e sonhos me assombravam e me rodeavam, e continuariam fazendo isso até que eu acordasse. Ou morresse.


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