O Rebelde escrita por Sereia Literária


Capítulo 2
Os Selecionados




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Eu estava me vestindo para o Jornal Oficial. Preparei-me da melhor maneira que pude; sabia que as luzes do estúdio eram quentes, então, desde a primeira visita ao Jornal – quando era bem, bem pequena – fui orientada a vestir roupas leves. Já tive pelo o menos 10 minutos a sós com cada um Selecionados, e alguns deles foram realmente... Decepcionantes. Era mais do que claro que alguns deles não eram o tipo para mim, mas seria muito rude e grosseiro de minha parte mandá-los embora assim, logo no segundo dia.

Escolhi um vestido lilás e fluído, com as costas abertas. Os olhos foram maquiados em tons de violeta e eu calcei sandálias de salto prateadas, optando por uma de minhas tiaras mais simples – porém delicadas. Lily prendeu meu cabelo em um coque com tranças, com alguns cachos dourados caindo de maneira leve pelo meu rosto, e logo depois, seguimos para o estúdio.

–Vamos ao ar em alguns minutos, querida- disse minha mãe, se aproximando e prendendo uma mecha atrás de minha orelha. Quase lhe perguntei sobre meu pai, que estava mais distante, mas não me pareceu apropriado no momento.

Então, o Jornal começou. As notícias, um pouco de política e esporte e então Gavril tomou palavra.

–Boa noite, Iléia!- dizendo isso, a platéia irrompe em aplausos.

–Hoje, para matar nossa curiosidade sobre a Seleção, temos um foco especial em nossos Selecionados e em nossa linda princesa Katherine!- e a platéia nos ovaciona enquanto eu cumprimento Gavril e todas as câmeras são voltadas para mim e para os Selecionados. Eu sorrio e aceno, andando com todo o cuidado para não cair – pela segunda vez no mesmo ano – durante o Jornal Oficial. Por sorte, no dia em que ocorreu, meu pai estava ao meu lado e me segurou, disfarçando muito bem.

Sento-me ao lado de Gavril, e a nossa direita estão os Selecionados.

–Diga-nos, querida, como vai a Seleção?

Olhei para os rapazes e depois para as câmeras, um sorriso no rosto.

–Muito bem. Ainda não os conheço bem, mas posso afirmar que temos muitos jovens promissores! Todos são ótimos a sua maneira, e vai ser difícil daqui a uma semana, quando terei de fazer a primeira eliminação...

Houve um burburinho logo silenciado quando Gavril começou as perguntas ao Selecionados.

–Então, conte-nos, Sr. Bryan, como é a vida no palácio? E nossa adorável Katherine?

Bryan. Foi aquele que, de manhã, me fez rir como nunca. Conversamos sobre diversos assuntos, e ele me disse um pouco sobre sua família. Ele tinha duas irmãs mais novas, gêmeas, e sua mãe e pai trabalhavam com educação em áreas pobres em toda Iléia. Achei bem impressionante, mas não pude saber de mais nada em meros 30 minutos.Ele era uma graça com os cabelos escuros e pele de ébano, um sorriso branco e radiante.

–Meu tempo no palácio foi incrível até agora, com decorações, jardins e pessoas extraordinárias. Quanto a princesa, ela é tão doce e meiga quanto parece, é muito engraçada e inteligente também- ouço um ouwn generalizado quando ele diz isso, e logo palmas.

–Isso é ótimo! E você, Barnes? Diga-nos como está sendo essa convivência para você, como vai a competição.

Lee Barnes. O japonês tímido. Ele tinha sido muito atencioso comigo, mas não conversamos muito - fomos interrompidos por Dylan, um dos moços que me desagradou. Acho que ele chegou muito ´chegando`, achando que já ganhou. Além de ter sido um pouco ousado ao passar o braço ao meu redor nos primeiros 5 segundos de conversa... Também senti que ele ficou mais interessado em meu decote do que em mim propriamente dita.

–Tem sido ótimo, e, ressaltando o que disse Bryan, a princesa Katherine é uma mulher incrível, muito doce e que está preocupada conosco. Entre nós, acho que a competição é equilibrada, e já fizemos amizades que vão durar mesmo após o término da Seleção.

Mais uma salva de palmas. Me pego desprevenida quando a pergunta de Gavril é direcionada a mim.

–Já tem um preferido, Alteza?

Sorri e olhei para os rapazes.

–Eu diria que ainda é cedo para favoritismos; todos merecem uma chance.

–Bom, e o que você tem a dizer sobre esta foto?

E atrás de Gavril, surge no telão uma foto de mim e Natan, quando ele tocou meu rosto- por sorte, não dava para ver o glacê em meu rosto ou o fairycake em minha mão. O som de ´´uhm...`` conspiratório toma o auditório, enquanto os olhares voam de mim para Natan. Na foto estamos de perfil, do tronco para cima, e parece que ele apenas está tocando a minha bochecha – que está rosada pelo nervosismo da hora, e ele tem um sorriso tímido e doce, assim como eu.

Abri a boca para falar, mas o que saiu foi um suspiro misturado com um riso nervoso, e senti minhas faces queimarem enquanto o estúdio explodia em sons como awn, uhm, e ownt.

–Foi um encontro inesperado- comecei, sorrindo na direção de Natan.

–Uhm, só um encontro inesperado? Conte-nos um pouco mais, Sr. Natan.

O estúdio irrompeu em aplausos quando ele riu e virou o foco.

–Eu estava pensando sobre isto noite passada. Foi mágico... Os jardins por si só são magníficos, mas ver a princesa Katherine a luz da lua, os cabelos soltos e olhos brilhantes... Nunca havia visto nada tão belo - seu romantismo me fez queimar, e sinto que devo ter virado um pimentão. Novas exclamações românticas vinham seguidas de aplausos e gritinhos de moças e assobios de rapazes. Dentre os suspiros femininos, pude ouvir a voz de minha mãe.

–Uhm... Muito interessante... E romântico! Obrigada Natan, concorrente de Angeles! -disse Gavril, a platéia ovacionando a todos nós.

–Muito obrigada pela presença divina, Princesa Katherine! Vemos-nos semana que vem na próxima edição do Jornal Oficial! Não se esqueçam de votar no site em seus candidatos preferidos! Boa Noite, Iléia!

Quando o Jornal Oficial terminou, fui bombardeada de perguntas de todos os lados. Por sorte, agora, sozinha em meu quarto, podia pensar. Ao entrar, me peguei suspirando quando percebi que, na mesa de centro, um lindo buquê de flores que variavam do rosa ao branco me aguardavam. Era de Liam, um dos garotos que mais me havia agradado naquela manhã. Era alto e tinha olhos azuis e cabelos louros, mas um sorriso charmoso e jeito romântico. Sobre o buquê, um cartão;

´´Suponho que fadas apreciem flores``

Sorri. Era normal me compararem a uma fadinha, delicada e tímida, mas quando garotos faziam isso...Era vergonhosamente agradável.

Depois do banho, fui para a minha escrivaninha; meu pai me havia liberado de meus afazeres como rainha até o final da Seleção; ele a considerava um processo sério e delicado, afinal, o futuro rei estava no andar de baixo, e eu podia deixar que ele passasse despercebido se me distraísse. Comecei a listar os garotos, os mais promissores e os nem tanto.

Enquanto fazia isso, Lily me trouxe chá e bolinhos, e me disse que o jantar seria servido dentro de três horas. Agradeci e pedi que se retirasse. Pouco depois, ouvi o som de um piano, uma melodia calma e triste, porém bela. Só poderia ser minha mãe tocando, afinal ela era a única que conseguiria executar uma melodia destas. Troquei então o roupão por um vestido um leve e simples, mas elegante em tons de azul, que ai até metade de minhas canelas e desci – logicamente, após atacar um contingente delicioso de bolinhos de amora e creme.

Fiquei surpresa ao perceber que, na verdade, o som vinha do corredor dos quartos dos garotos, mais especificamente do quarto de John, um jovem de estatura média e cabelos castanhos. A porta estava entreaberta e segui a música, entrando com cuidado. Ele estava de costas para a porta, de maneira que não me viu. O quarto estava cheio de instrumentos dos mais variados – violinos, violões, pianos, gaitas... Até uma bateria. Nessa confusão de instrumentos, eu tropecei em um fio de guitarra, que caiu fazendo um barulho desastroso, que o fez parar de tocar no mesmo instante em que caí de joelhos no chão.

–Alteza!- disse ele, correndo para me socorrer. Estava vermelha, mas tentei disfarçar com um sorriso.

–Está tudo bem?-perguntou ele.

–Sim, tudo ótimo John. Desculpe, não quis invadir... Mas a melodia estava tão bela...

Ele sorriu sem jeito.

–Obrigada... Eu toco um pouco.

Eu ergui os braços e ri, falando alto e olhando ao redor.

–Se com pouco você quer dizer quase todos os instrumentos, você toca bem pouco mesmo.

Ele riu e me convidou para sentar ao seu lado no piano, e eu passei os dedos delicadamente pelas suas teclas brancas... Era um instrumento complexo e sofisticado, e pude imaginar que após saber do seu amor por música, John seria provavelmente um dos top 5 na lista de mamãe.

–Minha mãe e meu pai eram da casta cinco, e mesmo depois da eliminação das mesmas, eles não perderam seu amor pela música... Nem o amor que sentem um pelo outro.

–Minha mãe também pertencia a cinco- disse, ingenuamente.

Ele riu e concordou. Só então me dei conta de que todos em Iléia sabiam disso, afinal, ela era a rainha. Sei que não deveria vê-los assim, mas vejo America e Maxon antes como meus pais - apaixonados hoje, amanhã e sempre - do que como Rainha e Rei.

–Eu sei, Alteza.

–Por favor, me chame de Katie.

Vi o brilho em seus olhos quando compreendeu estávamos nos aproximando, e que me chamar de Katie é como estabelecer o primeiro passo de uma relação. Ele tinha olhos grandes e escuros, o nariz reto e a boca rosada. Era uma gracinha.

–Sabe tocar?-disse ele, olhando para o piano.

Eu ri e gesticulei com as mãos.

–Como a sinfonia de trezentos pássaros morrendo- e rimos juntos.

–Sabe, eu tenho outros talentos... Mas adoro música- completei.

–Que talentos? –perguntou ele, se virando para mim.

–Bom, eu desenho e gosto muito de dançar. Também diria que sou boa cozinheira.

Ele sorriu e me olhou.

–Uma princesa que cozinha? Legal.

Sorri de volta e conversamos por mais algum tempo antes de ele se despedir de mim com um tímido beijo na bochecha.

Com certeza, John está na lista dos que ficarão por mais algum tempo.

Andando pelos corredores, me deparei com Dimitre, que - por mais que seja grosseiro sequer pensar nisso – era feio como a peste. Ele não me agradou muito, principalmente pelo fato de no primeiro dia ter me contado de suas tantas outras ´´diversas namoradas`` e de como elas ficaram abaladas ao saberem que ele as abandonou por, como ele disse? ´´Carne melhor``. Nem pensar.

Para a hora do jantar, vesti um vestido verde folha longo, com uma saia de tule e cintura marcada, com um decote nas costas. Prendi o cabelo e Lily me ajudou a enfeitá-lo com pequenas pérolas e adornos de ouro. Um colar delicado com pingentes de conchinhas minúsculas de ouro e pérolas completavam o visual com sandálias de saltos dourados e brincos de uma única pérola. Um batom vermelho e maquiagem nos olhos em tons de verde e dourado me deixaram parecendo uma princesa – que na verdade eu já era.

Sentei-me a mesa e ao meu lado estavam Dylan e Natan. Pouco antes de o jantar terminar, me Levantei para dar um anúncio.

–Cavalheiros, um segundo da atenção de vocês, por favor.

Todos os rostos se voltaram para mim – alguns ansiosos, outros sorridentes e alguns confiantes.

–No sábado da próxima semana, organizaremos um desfile pela cidade, uma chance de o público conhecê-los melhor. Seremos acompanhados pelas câmeras e paparazzis, então estejam prontos. Seus criados podem ajudar em seus trajes, se desejarem – digo, mas quando me sento, bato o braço na taça de água ao meu lado e molho Natan.

Levo a mão à boca e pego um guardanapo.

–Me desculpe- sussurro, esfregando desesperadamente o guardanapo em seu elegante terno cinza. Então, percebo – e fico constrangida – ao perceber que ele tem músculos, um corpo desenvolvido.

Ele sorri e toca minhas mãos, como a me acalmar.

–Não é problema.

Sorrio, mas ainda assim sinto que estou com as faces vermelhas.

Depois que o jantar termina, bato na porta de Natan. Ele a atende e me recebe com um sorriso e uma reverência.

–Alteza.

Rio e toco seu ombro, dizendo que se ele me reverenciasse a cada encontro, ficaria corcunda antes do final da semana, e rimos juntos. Ele fica muito bonito assim, sem o terno, só a camisa. Dá a ele um estilo largado, mas ao mesmo tempo, tentador.

–Por favor, me chame só de Katie.

Ele inclina a cabeça e faz que sim com um sorriso.

–No que posso ajudá-la, Só de Katie?

Rio novamente, ele me faz sentir leve.

–Gostaria de conhecê-lo um pouco melhor, Natan. Poderíamos ter um encontro amanhã... O que acha?- perguntei. Ele alargou um sorriso radiante.

–Eu iria adorar.

–Eu li na sua ficha que gosta de cozinhar...

–Leu certo, Só de Katie. Só não prometo que a comida fique... Agradável.

Sorri e continuei.

–Pois bem, o que acha de cozinharmos juntos amanhã?

–Uma ótima idéia, com certeza.

Sorrio, ele me dá um beijo na mão e a segura por um minuto a mais que o necessário. Então me despeço e saio pelo corredor.


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