O Rebelde escrita por Sereia Literária


Capítulo 11
O Anúncio do Rei


Notas iniciais do capítulo

Heeey! Ontem, 15/08 foi aniversário de 1 mês da Fic! Fico muito feliz pelos comentários, acompanhamentos (Obrigada Gabriella Jackson) e pelas favoritações!

Falando nisso, gostaram da nova capa? Ficaria muito feliz se comentassem o que estão achando da história!



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Três dias se passaram. Dias que esfriavam cada vez mais e nos quais eu não comia quase nada, pois meu estômago parecia estar cheio de borboletas. Dias que eu passei nervosa; em que tive dificuldades para dormir e interagir com as pessoas. Não só por tudo o que já havia acontecido e que estava acontecendo, mas porque magoei Conor. Quando ele fez a pergunta, eu não tinha a resposta – e para ele saber que eu poderia abandoná-lo era terrível, por isso, ele começou a se afastar gradativamente de mim. Isso me afetava, e muito. Cada vez mais ficava claro que minha vida sem ele não seria mais que uma longa, lenta e interminável morte.

Não o via desde o segundo dia após a conversa que mexeu conosco. Parecia que eu não ter dito nada o tenha levado a entender:

´´Sim, Conor, eu o deixaria. Afinal, você foi basicamente como uma pausa na minha interminável rotina real; apenas uma vírgula, um travessão ou um par de parênteses que eu pretendo fechar``.

Com certeza não era isso. Eu o amava muito, de uma maneira completa e incondicional. Hoje, eu ainda não tinha certeza de que iria ou não voltar, afinal, eram outras pessoas que eu amava muito e minha responsabilidade desde que eu nasci que estavam em contrabalança com minha outra metade, meu amor eterno. As únicas coisas de que eu tinha certeza era de que eu o amaria para sempre e que, mesmo que eu voltasse, meu coração bateria para Conor até o dia em que o anjo da morte achasse conveniente me buscar.

–Ei, princesa- ouço a voz da pessoa que eu mais temo e odeio no mundo. Ele corre do outro lado da rua até onde eu estou. Aperto o passo, e ele também.

–O que está acontecendo, Alteza? Cadê seu cão de guarda?- grita ele, parando logo depois. Eu apenas cruzo os braços e me encolho um pouco, praticamente correndo até a cozinha a fim de preparar o jantar.

–_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-

Na hora de servir a comida, pela primeira vez, vi Conor. Ele pegou seu prato e parou em minha frente.

–Um pouco de molho, por favor- disse ele. Mas eu vi que em seus lindos olhos havia uma mensagem implícita; ele queria falar comigo. Era quase uma súplica, tão gritante e tão discreta ao mesmo tempo... Fiz que sim e, quando me inclinei na sua direção para servir o molho, ele disse quase sem mexer os lábios e de maneira muito, muito baixa.

–Às 10:00- e logo depois saiu.

Foi como quando alguma coisa muito importante ou especial está prestes a acontecer; como uma prova importante, um casamento ou mesmo um aniversário para algumas pessoas, uma viagem longa ou, no meu caso, uma coroação. É nesses casos que você fica estressado, ansioso e inquieto. É quando os os segundos viram horas; os minutos viram dias e as horas viram anos. Era bem assim que eu me senti até a hora em que o relógio bateu marcando 09:50 PM. Eu ainda estava na cozinha e tive de encenar uma tontura para conseguir chegar ao quarto de Conor na hora combinada. Quando entrei lá, tudo estava escuro – com a exceção de uma pequena televisão com imagem ruim que ruía de vez em quando. Na frente dela sentado no chão, com as pernas esticadas, estava Conor. Então, entrei na ponta dos pés fazendo o mínimo de barulho possível. Sentei-me ao lado de Conor, mas mantemo-nos a pelo o menos 10 centímetros um do outro. Como o silêncio era incômodo e ele não parecia disposto a quebrá-lo, decidi fazê-lo eu mesma;

–Então, o que houve?

Quando estava começando a achar que ele não iria me responder, ele disse:

–Achei que deveria saber.

–Saber de quê?

Então, ele ajusta a imagem e aumenta o volume, e quando percebo o brasão de Iléia e a música do Jornal Oficial, sinto um nó na garganta.

–Boa noite, Iléia- começa Gavril, mas bem sério, muito mais que o comum.

–Sabemos que os ataques rebeldes continuam, cada vez mais intensos a medida que o País perde dinheiro e soldados. Hoje mesmo, um orfanato foi incendiado. Por sorte, não houveram mortes, somente dois voluntários ficaram levemente feridos.

–Como fizeram isso Conor?! Como permitiu uma coisa dessas?- perguntei pasma. Mas logo que arrependi. Ele se virou para mim com mágoa e disse, a voz escondendo o que os olhos deixavam claro;

–Será que você é tão ingênua que ainda não entendeu, Katherine?! Não fomos nós, nada desses ataques ocorreu por nossas mãos! Somos rebeldes, sim, mas não como vocês que se adaptam ao sistema nos rotulam. Nós acolhemos os excluídos, socorremos os necessitados e ajudamos os que precisam, aqueles que o seu sistema e sua família renegam.

Fiquei triste com suas palavras ásperas e me encolhi. Sabia que ele somente estava magoado e triste, decepcionado, e que isso era culpa minha. E sim, eu fui tola para não desconfiar disso. Sabia que não era culpa deles, mas simplesmente saiu, da boca para fora. Afastei-me um pouco e trouxe os joelhos ao queixo.

–Desculpe- disse ele, a voz assumindo um tom mais calmo, mais parecido com o tom do meu Conor.

–Me trouxe aqui só para isso?- perguntei.

–Não. Trouxe você aqui para isso- e ele aumentou o volume. Quando foquei a imagem na tela, percebi que Gavril se dirigia a um homem que eu vi a minha vida inteira, e que ele pareia mais sóbrio que na última vez que o vira.

–Pai...-suspirei, e me aproximei da imagem, tocando com os dedos a parte da tela em que ele aparecia.

–As buscas pela princesa recomeçaram sim, Gavril, esta semana. Eu acredito dentro de mim que ela ainda está viva e que vou encontrá-la.

Prendi o ar.

–Sim, papai! Estou aqui...- disse num sussurro.

–Sim, Majestade, mas por que então ela foi dada como morta um mês atrás?

–Gavril, desculpe, não quero ser rude ou inconveniente, mas isso não é uma entrevista, e sim um anúncio- então, ele olhou para a câmera e declarou:

–A Princesa Katherine está viva, e eu sei disso. Se você tiver qualquer informação a mais sobre seu paradeiro e informar à Guarda Real será generosamente recompensado.

–Como assim ´qualquer informação a mais`? O que eles já têm?- perguntei, e Conor baixou o volume e olhou para mim.

–Encontraram algumas tiras de pano do seu vestido pela floresta, assim como duas presilhas de prata com diamantes que prendiam seus cabelos no dia do Desfile no leito de um rio no qual o Rassingfox desagua.

Deixei escapar o ar, e logo depois olhei para ele.

–Não acredito que você esteja fazendo isso- disse, realmente surpresa. Ele queria que eu ficasse, afinal. Por que estaria me dando informações sobre a busca?

–Acredite apenas que isso é muito difícil para mim- respondeu ele.

–Acredito. Para mim também é.

–Como pode ser difícil pra você, Katherine? Você vai você voltar para o palácio, para o conforto. Para a sua família, para uma vida de mordomias e dos mais altos luxos e requintes! Vai se casar com alguém rico, bem apessoado e interessado mais na sua conta bancária e em sua coroa do que em você! Enquanto eu vou ficar aqui, lembrando-me com melancolia os momentos que passamos juntos, as vezes em que nossos lábios se tocaram e nos esquecemos de tudo ao nosso redor, e você terá arrancado de mim toda e quaisquer família ou sentimento de amor, sonhos e esperanças que eu pude um dia ter!

A maneira como sua voz soou, ganhando cada vez mais força e expondo cada vez mais seus sentimentos mexeu comigo tanto quanto as palavras propriamente ditas. Mas me irritei muito também; ele realmente estava achando que era uma pausa ne minha rotina. Com uma raiva e estresse que nunca tinha tido, me levantei em um salto e comecei a berrar, pouco me lixando para quem as ouvisse.

–Você não tem ideia Conor! Eu vou voltar para uma vida de mordomias e para a minha família sim! Mas vou voltar também a minha vida de antes: cheia de restrições, farsas e sorrisos falsos! Vou voltar para os meus amigos falsos, para as entrevistas estressantes e para frente dos paparazzi que não lhe permitem respirar de maneira errada sem te apedrejar! Vou voltar e provavelmente serei forçada a me casar com um homem rico e poderoso, que eu nunca irei amar e que me esfriará o sangue a cada segundo e com certeza irei chorar todos os dias pelo resto de minha vida por não poder ficar com você!

Ao longo do meu discurso, ele me olhava ainda do chão, mas de uma maneira indecifrável com os olhos dourados. Assim que terminei, estava chorando e saí correndo, escancarando a porta e pisando com força, ignorando completamente o toque de recolher e a voz de Conor a chamar meu nome, enquanto o vento gelado que parecia endurecer meus ossos batia em meu rosto, no qual meus cabelos soltos batiam como chicotes.

Quando já estou relativamente longe da maioria das casas, alguém me atinge de lado e eu caio no chão, o peso de outro corpo sobre o meu. Fico sem ar e me contorço tentando me livrar de David, que ri de maneira maldosa e nojenta enquanto tenta prender minhas mãos. Ele me beija com força e de maneira rude e vulgar. Então, leva um soco e cai, saindo de cima de mim. No mesmo segundo, Conor me ergue pelo braço e coloca as mãos em meu rosto, os olhos aflitos, olhando dentro dos meus. Então, vejo atrás dele David correndo em nossa direção com um punhal.

–CONOR!-grito, e no mesmo instante ele se virou e segurou o antebraço de David, a ponta do punhal a centímetros de sua cabeça. Afastei-me um pouco, chocada demais para saber o que fazer, levei as mãos a boca e Conor torceu o braço de David, que deixou a arma cair no chão e logo depois levou um soco de Conor que parece ter doído tanto que achei ter ouvido o som de algo se partindo. Então, ele correu floresta adentro com Conor indo logo atrás. Ofegante, gritei por ele e os segui.

Na floresta, bem próximo ao rio, eles continuaram lutando. David corria mais rápido, mas Conor era com certeza mais forte e habilidoso no corpo a corpo. Quando David caiu no chão próximo ao rio com um ferimento no braço esquerdo, Conor ergueu o punhal e eu não pude deixar de intervir:

–Conor, não!- disse, correndo para o seu lado e segurando seu rosto com as mãos.

–Ele não sairá vivo depois do que fez!

–Conor, você é melhor que isso, é muito melhor que ele! Você é bom e justo...

–Nada mais justo que morrer pelo o que fez!- disse ele, me tirando do caminho, mas eu segurei seu braço.

–Não pelas suas mãos! Conor, meu amor, você não é assim.

Quando disse isso, seu olhar se desviou de David e veio para mim, finalmente vacilando. Ele tocou meu rosto.

–Você é tão boa, Katherine... Como pode ser assim?

Foi nesse momento que David rolou para o rio Rassingfox, com suas águas traiçoeiras e pedras mortais. Alguns meses antes, Conor me salvara daquele rio. Ele pareceu ter hesitado em ficar aqui e deixá-lo ser afogado pelo rio, mas eu coloquei com delicadeza a mão em seu peito e ele olhou para mim.

–Ele está gravemente ferido e o rio é turbulento, largo e fundo. Vai morrer de qualquer maneira.

Então, ele colocou a mão sobre a minha, e, um pouco temerosos e cautelosos no começo, nos abraçamos. Era a primeira vez que eu me senti completa em dias, e eu não pude conter lágrimas.

–_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-_-

Eu estava sentada na beirada da cama de Conor, ele de joelhos em minha frente, limpando com cuidado os machucados em meu rosto. Em geral, nada muito grave; apenas alguns arranhões na testa e bochechas e um pequeno corte em meus lábios, perto do canto da boca. Quando ele pegou o algodão com álcool e tocou-os delicadamente, gemi de dor.

–Desculpe- disse ele, retirando o algodão e colocando-o novamente, com mais delicadeza ainda. Quando terminou, ele olhava em meus olhos e eu nos dele. Prolongamos esses minutos um pouco mais, apenas observando um ao outro, e foi então que ele se levantou bruscamente e começou a recolher seu kit de enfermagem, guardando tudo em um armário. Eu seguia cada passo seu com os olhos, e me surpreendi quando ele começou a forrar o sofá, terminando com um lençol simples e fino.

–O que você está fazendo, Conor?- perguntei.

–Acha mesmo que a deixarei voltar para o seu quarto, ficando afastada e sozinha ainda esta noite? Nem pensar- disse ele.

–Mas David morreu.

–Nunca se sabe, Katherine. Nunca se sabe de verdade.

Fiz que sim com a cabeça, me levantei e fui andando até o sofá.

–O que você está fazendo?- perguntou ele.

–Ué, não vou dormir aqui?- perguntei, me sentando no sofá.

Ele achou um pouco de graça e esboçou um sorriso.

–Não. Eu vou dormir aqui. Você, ali- disse ele, apontando para a cama, com o cobertor grosso e quentinho. Depois, olhei novamente para o sofá, apenas o lençol fino.

–Você vai morrer de frio, Conor!- disse, mas ele apenas riu e respondeu que já havia passado por coisas piores. Depois, foi até um o guarda-roupa de madeira e de lá tirou uma calça de moletom e uma blusa de mangas compridas e deu para mim.

–Vou ficar do lado de fora, na porta enquanto você se troca- disse ele, saindo antes mesmo que eu tenha a chance de responder. Observei as roupas que tinha nas mãos e comparei-as com as que tinha em meu corpo, que estavam sujas e eram com certeza menos quentes do que as de Conor. Olhei rapidamente para a porta, mais por instinto que por preocupação – afinal, era de Conor que eu estava falando. Levantei-me e vesti-as rapidamente, pois mesmo em um quarto com janelas e portas fechadas o frio era impiedoso. Depois, gritei para Conor que podia entrar, e ele o fez.

Algum tempo depois de me deitar na cama macia, ainda me sentia culpada. Fingia estar dormindo, mas na verdade me culpava e me reprimia mentalmente.

–Conor?- chamei.

–Achei que estivesse dormindo...

–Eu ainda me sinto culpada. Não está com frio? Posso dormir sem o edredom- disse, mas ele apenas riu com sarcasmo.

–Você é a pessoa mais friorenta que conheço, Katherine. Nem pense em tentar me convencer de algo que eu sei que é mentira.

Pensei um muito em pouco tempo antes de dizer:

–Você... Poderia dormir aqui.

Houve uma pausa tensa, e finalmente ele respondeu:

–Não seria inapropriado?

–Somente se acordarmos se roupas- disse, e rimos um pouco, mas logo ele disse que estava bem e que eu podia dormir em paz.

Sabia que Conor estava tentando se desvincular de mim, no intuito de fazer com que, quando a hora chegasse ele não sofresse tanto, mas ele não podia passar frio uma noite inteira! Então, algumas horas depois, quando tive certeza de que ele estava dormindo – afinal, ele não respondeu quando o chamei – eu fui até o sofá e coloquei com muita delicadeza o cobri com o edredom. Quando estava voltando na ponta dos pés para a cama, me detive ao ouvir a voz dele, sonolenta e nítida, dizer:

–Sabia que ia fazer isso. Venha cá.

Então, voltei até ele e me deitei ao seu lado, nós dois, um de frente ao outro, e ele disse:

–Você não pode passar frio, Princesa.

–Nem você- disse, baixinho, nossos lábios muito próximos.

Mordi o lábio ao dizer, com uma pitada de humor e sarcasmo.

Isso sim, é inapropriado.

–Somente se acordarmos sem roupas- diz ele, com um sorriso que eu retribuí. Então, ele fechou os olhos e passou o braço por debaixo de meu pescoço, enquanto com o outro ele tocava a minha bochecha e a acariciava. Por minha vez, dormi com uma mão acariciando seus cabelos e com a outra sobre o seu coração. Sabia que cada segundo juntos agora poderia ser o último, então, iria aproveitá-los ao máximo.


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Notas finais do capítulo

Fiquei muito em dúvida na hora de escolher um título para o capítulo... São tantas coisas importantes acontecendo, tantas possibilidades, mas ao mesmo tempo tão poucas que definam-o completamente...



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