A noite, como era de se esperar, estava fria. Um tipo de frio que se instalava nos ossos, percorria sua pele exposta com dedos congelados e era tão úmido que era necessário usar o capuz para não molhar os cabelos.

Lucy fechou mais o casaco ao redor de si mesma. Estava voltando da guilda, tendo passado o dia inteiro procurando uma missão. No fim, acabara fazendo coisas em Magnolia mesmo, como ajudar a pendurar as luzes de Natal.

Era dia vinte um de dezembro. A primeira noite de inverno, lembrou a si mesma. Entretanto, a neve já estava caindo há um tempo. Aquele tinha sido um ano de opostos gritantes, com um verão escaldante, o começo do outono quente ainda, o fim deste um frio horrível.

Não tinha ninguém no rio para alertá-la para tomar cuidado quando estava chegando a sua casa. Era estranho fazer aquele caminho em silêncio completo, uma vez que conhecia todos que moravam por ali e estes sempre lhe cumprimentavam.

A porta de sua casa teve de ser aberta com um empurrão. A fechadura tinha emperrado com o frio, e isto vinha acontecendo há um tempo. O aquecedor tinha cuidado de manter o lugar razoavelmente quentinho, e ela ficou satisfeita em poder se livrar logo do casaco.

Não ficou nem um pouco surpresa ao encontrar Natsu em sua cama. Ele não tinha o costume de vir tanto no calor, por ela sempre gostar de usar edredons, mas no frio, aquela era a segunda casa dele. Lucy suspirou, pousou tudo que tinha consigo na escrivaninha e foi buscar seu pijama debaixo do travesseiro.

Aquela era uma operação complicada. Tinha de evitar acordá-lo, e isso requeria extremo cuidado. Levantou a cabeça dele e puxou o pijama que tinha embaixo. Infelizmente, tudo foi por água a baixo quando ela, sem querer, puxou o cachecol dele também.

Ele acordou em um segundo, já com fogo em uma das mãos. Seus olhos estavam assustados, e seus ombros demonstravam a tensão que sentia.

— Calma, Natsu — ela disse suavemente. Ele, ao ouvir sua voz, já se acalmou. — Foi um acidente. Desculpa.

— Luce — ele reconheceu, apagando o fogo de uma vez. Seus olhos se suavizaram nas pontas, mas ele ainda estava alerta. — Que horas são?

— São dez e meia — ela respondeu, tirando o casaco e o encostando na cadeira. — Eu vou tomar um banho, já volto.

Fechou a porta do banheiro atrás de si e resolveu tomar uma ducha rápida. Estava frio demais para um banho de banheira, uma vez que a água esfriaria rapidamente e ela morreria de frio logo. Quando saiu, fumaça a acompanhou.

— E como foi o seu dia? — ele perguntou, esfregando os olhos. Estava com sono, também tinha ajudado a todos no festival de inverno, carregando coisas pra lá e pra cá. No dia seguinte, o festival seria lindo. Ele foi um pouco para o lado e levantou o edredom.

— Foi bom. — Ela escorregou para dentro das cobertas. Ele rolou para perto dela novamente, sentindo o corpo dela ainda frio em contato com o seu quente. Ela suspirou, feliz. —Virgo, como sempre, trabalhou mais do que eu consegui. E você?

— Só besteiras do Gray. — E ele a olhou enquanto ela se ajeitava embaixo de seu braço. A olhou com aquele olhar, e a beijou enquanto ela fechava as pálpebras.

Uma noite de inverno normal, era aquela. E, não importa o frio lá fora, dentro de casa estava quente.