O Grande Mago escrita por Davi Sumback


Capítulo 5
A Viagem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/631256/chapter/5

22º Ano De Llane Wrynn– 07º Dia do Verão

Quinze dias se passaram após aquela reunião. Era meia-noite. Duas comitivas estavam prontas na ala militar de Ventobravo, uma com centenas de carroças de suplementos para a Bastilha De Etergarde, do qual iam seguidos por ferreiros, alfaiates, artesões, mineradores, e sacerdotes, incluindo Dovahkiin. Grandes sacerdotes e magas já haviam partido por meio de portais, Dovahkiin foi chamado para acompanhá-los, mas recusou dizendo que preferia a estrada. Na verdade está com medo da guerra, quanto mais conseguia adia-la melhor se sentia, porem sabia que um dia ela chegaria e tinha que estar preparado. A comitiva ia escoltada por um grande grupo de soldados, dois para cada carroça.

A segunda comitiva era um pouco maior, tinham centenas a mais que a outra. Carroças carregavam armaduras e armas, e iria levar outras centenas de soldados.

As mesmas iriam partir na madrugada. Foi decidido assim, porque poucas pessoas iriam vê-las partindo, então causaria pouco alarde na cidade.

Partiram à uma hora da manhã, meia hora mais tarde que a comitiva dos soldados, Dovahkiin estava em uma das primeiras carroças. Atravessaram toda cidade, nas ruas não havia nada e nem ninguém, porem Dovahkiin não era ingênuo o bastante para acreditar nisso, sabia que nas vielas e nos becos havia Mestres Das Informações e os Corvos escondidos nas sombras, pessoas que ganhavam a vida vendendo informações.

Ao passarem pelos portões de entrada da capital, com as rodas das carroças ressoando no chão de pedra, o cheiro do mar foi dando espaço ao cheiro da floresta. Dovahkiin começou a lembrar de quando era mais jovem, que se aventurava sozinho nas matas próximo a Vila D’ouro. Nunca foi de ter muitos amigos.

–Um tolo pensando? Coisa rara de se ver. – Disse uma voz ao seu lado.

Olhou e ficou espantado. Era Montres quem estava guiando a carroça. Desde quando partiu se perdeu em seus pensamentos e não reparou na companhia inesperada.

–É um prazer em revê-lo. – Respondeu Dovahkiin com um leve sorriso no rosto, não conseguia esconder o nervosismo.

–Vejo que se tornou um sacerdote, pelo que me lembro esse não era seu objetivo.

–Não sou um sacerdote, só fui ensinado por um. Sou o melhor mago da Catedral. – Isso não era verdade.

–Ser o melhor mago na Catedral é igual ser o melhor corredor em uma terra de mancos. – Gargalhou o anão, Dovahkiin o acompanhou sorrindo.

–Aliás, o que faz aqui? – Perguntou o jovem mago.

–Sou um ferreiro livre, me voluntariei.

–Um ferreiro? Se é um ferreiro, por que quis minha ajuda a dois anos a trás?

–Bom, na verdade foi ao contrario não é? Você é quem precisava de ajuda, mas como não sou muito bom com as palavras, tive que fazer com ações. – Disse o anão.

Aquilo pegou o jovem de surpresa, nunca tinha pensando nessa possibilidade. Após um longo momento refletindo sobre aquilo, Dovahkiin resolveu quebrar o silencio:

–Então você se voluntariou? Foi um ato de um homem determinado ou de um homem bêbado?

–Assim você me ofende, seu frangote. Na verdade foi um pouco dos dois, eu estava determinado a participar dessa festa, e curiosamente eu também estava bêbado quando decidi.

–Você está com medo? – Perguntou Dovahkiin. Queria que ele respondesse sim, pois não queria ser o único amedrontado.

–Na verdade não, a morte não me amedronta já faz um tempo. Pra ser sincero, eu estou ansioso. – Respondeu Montres

Dovahkiin não conseguia explicar, estava com medo e ao mesmo tempo ansioso também, queria viver uma experiência épica, mas tinha medo de morrer ou algo pior. Montres continuou:

–Relaxe garoto, você é um mago, não estará na linha de frente. Se algo acontecer, seu batalhão poderá se mover para algum lugar mais seguro. Não entenda mal, isso não é fugir, é algo sensato a fazer.

Isso era uma possibilidade, mas Dovahkiin sabia de coisas que o anão não sabia. Estavam lidando com Medivh, ele saberia que atacar os sacerdotes e as magas era algo importante para se vencer a batalha.

Por um instante, o jovem mago olhou de relance para o anão e se assustou. Pela cara que o ferreiro fazia, em um segundo, Dovahkiin suspeitou de que ele sabia de alguma coisa sobre Medivh e o Portal Negro. Impossível, ele jamais saberia disso. Somente pessoas escolhidas pelo próprio rei sabiam, pensou.

–O que faz da vida? – Perguntou o mago, tentando esconder a suspeita e tendo duvidas de si mesmo, se estava ficando louco ou não.

–Bom, como disse, sou um ferreiro livre. – Disse o anão com um olhar que transmitia duvida.

–Ah, é verdade. – Disse Dovahkiin, tentando não parecer tolo e desconfiado. Não sabia que a guerra iria afetar ele de tal maneira. Continuou tentando parecer descontraído. – Você não parece ser um grande guerreiro.

–Na verdade, eu não sou nem um bom ferreiro. – E cai em gargalhada de novo.

E seguiram a viajem conversando e contando histórias.

Uma hora depois de o sol ter nascido, Vila D’ouro foi avistada entre as arvores. Naquele momento Dovahkiin gostaria muito de ter ido pelo portal como foi lhe oferecido algumas horas atrás.

–Lazúlis. – Disse Montres.

Dovahkiin os avistou de longe próximos à entrada da cidade, eram inconfundíveis.

Lazúli é uma das mais ricas e poderosas famílias em Ventobravo. Eles têm os cabelos azuis cor do céu, e sempre usam túnicas também azuis ornamentadas por safiras. Dizem as historias de tavernas que foram por causa deles que os telhados do Distrito Comercial são azuis. Alguns dizem que já era assim quando surgiram. O fato é que nenhum deles é confiável, eles são capazes de matar centenas apenas para melhorar seus negócios, e são pouco atingidos, pois tem grandes poderes políticos. Eles têm grandes influencia na Aliança, pois são proprietários das maiores minas de metais nobres de todo Reino Do Leste. Eles tinham ouro e metais para armaduras e armas, ter uma guerra financiada pelos Lazúlis era sinônimo de vitória, eles nunca tinham perdido uma guerra, nem sequer uma batalha. Pelo menos era o que dizia nas ruas de Ventobravo, e também nos livros e documentos que Dovahkiin leu.

–O que será que eles fazem aqui? – Perguntou Dovahkiin.

–Suponho que estejam tentando comprar toda a vila, ou até mesmo, toda Floresta Elwynn. Não duvido muito. – Respondeu Montres.

Seguiram por mais alguns minutos até chegarem à entrada da cidade.

–Alto lá. – Disse um dos Lazúli. Um rapaz provavelmente com a mesma idade que Dovahkiin, tinha o rosto fino e corpo esbelto com olhos claros. Tinha o cabelo penteado para trás.

–Alto lá é o cacete. Quem pensa que é para sair dando ordens para um soldado da Aliança? – Disse um dos guardas.

–Eu sou quem lhes das essas armaduras e armas, e lhe ordeno que tenha respeito. – Disse o Lazúli como que se sentisse prazer em falar aquilo.

–E eu sou quem protege o chão em que pisa. E não tem poder de ordenar coisa alguma, aposto que não manda nem nos empregados de sua casa. Direi apenas uma vez, não nos atrapalhe. – Disse o guarda.

–Ei, Lazúli – Intrometeu-se Dovahkiin. Sentiu um ódio repentino rugir dentro de si – está vendo meu rosto?

–Sim, e daí? – Respondeu o outro jovem em tom esnobe. O segundo Lazúli começou a rir sem motivo algum.

–Caso traga problemas a alguém desta vila, esse será o ultimo rosto que vira antes de morrer. – Terminou Dovahkiin. A comitiva começou a andar novamente.

Dovahkiin não sabia por que tinha dito aquilo, foi algo feito por instinto. Tinha um grande carinho pelas pessoas daquela vila, mesmo que muito deles o mal tratavam quando mais jovem.

A comitiva parou em volta da vila apenas para dar comida, água e descanso para os cavalos. Dovahkiin não sentiu vontade alguma em entrar na vila, não queria ter lembranças indesejáveis. Tinha uma suposta guerra pela frente, não podia se deixar abalar. Ele olhou em volta, para toda comitiva, e sentiu-se espantando. Finalmente havia notado. Nenhumas daquelas pessoas estavam preocupadas, e nem com um pouco de medo, só pareciam que estavam em uma viagem comum, como as que os viajantes fazem. Como elas podem estar tão despreocupadas? Estão indo para uma guerra, que poderá causar a mortes de milhões de pessoas.

Montres se aproximou. Vinha com frutas e cantis de água para os dois.

–Me diz uma coisa, por que essas pessoas estão tão calmas? Elas estão indo para uma guerra. – Disse Dovahkiin.

–Bom, elas não tem nada a perder. – Respondeu o anão.

–Nada a perder? E suas vidas? E como vai ficar suas famílias se eles morrerem? – Disse o jovem incrédulo.

–Você não sabe, não é mesmo? – Perguntou Montres.

–Não sei o que?

–Não percebeu? Grande parte dessas pessoas são prisioneiras da Aliança, foi lhes dado uma chance para ter a liberdade de novo, basta eles lutarem pelo reino, então eles aceitaram. Muitos desses homens são estupradores, assassinos, ladrões, Corvos sem línguas. Já as mulheres são a maioria putas viúvas-negras, mas também ladras e Corvos sem línguas. Você esta no meio dos piores tipos de pessoas que já existiram e só agora foi notar?

–Todas elas? – Perguntou o mago.

–Não, nem todas, algumas são voluntarias como eu. Outras estão aqui, pois pertencem ao exercito da Aliança, e foram pedidas para elas vim para manter a ordem.

–E a comissão dos soldados?

–Também é feita por prisioneiros. – Respondeu Montres.

–Mas então qual motivo dessas tropas? – Questionou Dovahkiin ainda espantado – Sei que pode ser um bom plano gastar os peões para descobrir as forças inimigas, mas assim? Talvez a Aliança tenha apenas essa chance de detê-los.

–Dovahkiin, vou ser sincero com você, sei que tem o coração bom e não quero engana-lo. Ninguém aqui sabe dessa sua suposta guerra, nem eu sabia. Disseram-nos que ia haver um pequeno conflito, e que quem fosse um bom guerreiro poderia se juntar ao exercito e se tornar livre. Não sou ingênuo o bastante para acreditar nisso, sei que só estamos servindo e isca. Mas uma guerra? Nunca ouvi falar. Conversei com os guardas e eles também não sabem de guerra alguma.

Dovahkiin não conseguia acreditar no que ouvia, era simplesmente impossível.

–Mas e a frota de soldados? Acha mesmo que aquilo era para um pequeno conflito? – Perguntou Dovahkiin.

–Acho que se enganou mago. Aquelas tropas foram para o norte. Em todas as estações são mandadas frotas para todo Reino Do Leste, a fim de substituir os soldados que morreram por alguma causa. Olhe a sua volta, saímos só meia hora mais tarde que os soldados e está vendo algum deles aqui? Bom, acho que infelizmente te enganaram.

Dovahkiin lutava contra aquele pensamento, mas aquilo incrivelmente fazia sentido. Reparou nos sacerdotes que partiram junto com eles e só então viu que boa parte trazia consigo uma espada. Sacerdotes não usam espadas. Sentia que talvez estivesse sendo usado pela Aliança e até mesmo pela Catedral.

Em um piscar de olhos, a dúvida se tornou decepção. Lembrou sobre a reunião que teve há uma quinzena atrás, o rei falando que tudo dito ali era de extrema importância e sigilo. Eu estava falando da guerra aos sete ventos, feito uma criança que não sabe guardar segredo, era obvio que eles não iam saber sobre a guerra. Porem algumas coisas ainda não estava explicado. Cadê todos aqueles soldados? Foram realmente todos para o note? Se não, era para eles estarem ali, ou até mesmo a vista durante a viajem. Por que usar criminosos para travar uma guerra tão importante? Eu estou indo, realmente, a Barreira do Inferno? Pensou Dovahkiin.

O jovem tentou se acalmar. Era hora de usar a cabeça.

–Vou dar uma volta, preciso tomar um ar. – Disse Dovahkiin ao anão.

Desceu da carroça e saiu andando pela multidão. Tinha que bolar um plano para descobrir a verdade.

Avistou um guarda próximo a uma das carroças, ele estava coberto pela armadura de aço com bordas azul escuro. Não podia ver seu rosto, nem nenhuma parte do seu corpo.

–Olá. – O guarda olhou, mas nada falou. – Você não acha melhor levarmos capim para os cavalos?

–Eu não estou aqui para achar nada. – Respondeu o guarda.

Merda. – Pensou o jovem.

Mais a frente, Dovahkiin viu um homem que cuidava de algumas provisões. Foi até ele.

–Olá. – Disse o mago.

–Diga. – Respondeu o homem. Tinha os cabelos castanhos emaranhados, olhos escuros e rosto com feridas e pequenos cortes. Vestia trapos.

– Você não acha melhor levarmos capim para os cavalos? – O homem olhou desconfiado.

–Hum, não é uma má ideia, já que na Barreira do Inferno não temos esse recurso.

Bingo. Estamos realmente indo para Barreira do Inferno.

–Como é chata essa viajem não é mesmo? Ser babá de criminosos não era algo que eu queria ser quando entrei no exercito. – Continuou o homem.

–Achei que só eu estava achando chato isso, mas parece que mais alguém aqui é sensato. Aliás, como é seu nome? – Disse Dovahkiin.

–Ah, meu nome? Meu nome é Rednaw. Estou no exercito a quat – E foi interrompido com violência.

Antes que pudesse terminar a frase, Dovahkiin sacou sua faca, que estava as suas costas, apunhalou o homem na barriga, e com a faca cravada rascou até ao peito. O sangue jorrou para fora manchando boa parte da túnica branca do mago.

O homem caiu de joelhos, todos olharam. Essa era a primeira vitima de Dovahkiin.

O jovem ficou paralisado por alguns segundos enquanto todos olhavam em sua direção. Após algum tempo virou-se e foi junto a Montres de cabeça baixa.

–O que foi isso? – Disse o anão incrédulo.

–Ele era um Corvo. Um Corvo com língua. – Respondeu um jovem de cabeça baixa e com voz assustada e chorosa.

–Como soube?

–Pelo seu nome. Rednaw é Wander de trás para frente. Já ouvi falar dele, é o Corvo que age nessas redondezas. Aliás, e um péssimo Corvo.

Todos olhavam com certo medo e duvida. Eles testemunharam um sacerdote matar alguém a facadas, viram um Corvo em meio aquela comissão, e viram alguém detectar um Corvo e mata-lo em frente a todos sem piedade, mesmo que esse fosse ridículo.

Dovahkiin, sentado na carroça, começou a sentir tonturas e sua visão começou a ficar embaçada e escurecida. O medo estava tão alto na garganta, que conseguia sentir seu gosto. O mago não conseguia falar, não conseguia olhar para o corpo morto a alguns metros de distancia, não conseguia nem mesmo levantar a cabeça. Em um súbito silencio, ouviu uma voz em sua cabeça, a morte pesa. E então adormeceu.

22º Ano De Llane Wrynn– 14º Dia do Verão

Acordou muito tempo depois, sentindo um calor infernal. Ao abrir os olhos, os sentiu arderem feito brasa. O sol estava no ponto mais alto do céu, ardia feito dois. Estavam em um deserto de areias vermelhas, com algumas ruínas aqui e ali. As dunas pareciam ondas de um mar de sangue. Rezam a lenda que o sangue de dragões que pintou as areias, em breve seria o dos homens.

Dovahkiin estava com os pulsos e as canelas acorrentadas, deitado em uma carroça militar. Estava tão tonto, que por um momento não se lembrava de seu nome.

O guarda que estava guiando a carroça se virou.

–Ah, você acordou. Acho que esqueci um detalhe. – Disse o guarda.

O soldado parou a carruagem e se levantou, pegou um saco de pano preto em algum lugar e encapuzou Dovahkiin.

Dovahkiin voltou a adormecer. A ultima coisa que se lembrou foi do rosto de sua mãe sorrindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Grande Mago" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.