Gargalhadas escrita por Midori


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é a primeira historia que posto aqui, por isso, estou bastante empolgada. Espero que gostem.



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Sentada com seus amigos, ela gargalhava. Mesmo não sabendo do quê exatamente. Não sabia, não se importava e não achava graça. Mas ainda assim gargalhava. Ela acreditava que se continuasse gargalhando desse jeito eventualmente encontraria a graça. Ela realmente queria acreditar nisso. Mas não importava o quanto sorrisse, o quanto gargalhasse, ela ainda se sentia vazia. Perguntava-se onde ela havia errado.

Todos os dias acordar era uma luta. Ela gostava de dormir, gostava de não ter consciência das coisas ao seu redor, gostava de estar em um mundo só dela onde tudo era possível e os sentimentos eram bonitos e puros. Mas ainda assim, ela precisava acordar. Precisava se levantar e gargalhar mais uma vez.

Certo dia ela parou em uma ponte. Observava a vista com indiferença. Ela não era uma pessoa diabólica, mas naquele momento odiava a todos. Achou graça ao reparar em como as pessoas se pareciam com formigas vistas de cima e por um breve momento ela desejou que fossem, para que assim pudesse passar por cima de todas sem se preocupar. Ela estava cansada. Cansada de hipocrisias, cansada de enxergar tudo em preto e branco.

Um sentimento de angústia crescia rapidamente dentro de si. Esforçou-se tanto e mesmo assim ainda não encontrou a graça. Esforçou-se tanto, mas ainda se sentia vazia. Esforçou-se tanto. Ódio, tristeza, solidão. Era o que a definia naquele momento.

Inútil. Ela não conseguiria mais se segurar. Você é uma inútil. Sentia que sua sanidade estava se esvaindo. De repente, ela queria se juntar às formigas.

Num brusco ato de desespero ela passou por cima do parapeito da ponte, segurando-se com apenas uma mão. Perguntou-se qual seria a expressão que as pessoas fariam quando escutassem o baque de seu corpo. Será que se assustariam? Será que ficariam horrorizadas? Esperava que sim. Ela queria que se abalassem.

Fechou seus olhos lentamente e com um sorriso estranho no rosto, ela soltou sua mão. Esperou sentir seu corpo voar e se chocar contra o chão com certa impaciência. Um mísero segundo era tempo demais para ela. Queria se apressar e descansar.

Mas não sentiu a dor. Não sentiu seu corpo caindo.

Sem entender, ela abriu seus olhos novamente. Sem nem ter tempo de se virar, algo a puxou para a ponte de novo. Estava segura, mesmo que não desejasse estar. Um homem que nunca vira antes a segurava pelos pulsos. Seu rosto parecia aflito. Ela não entendia o motivo, não tinha nada a ver com ele.

O homem a chacoalhou pelos ombros.

“O que está fazendo com sua vida?!”. Foi tudo o que ele disse.

O que ela estava fazendo? Sentiu vontade de rir de sua pergunta boba. Era óbvio o que ela estava fazendo. Mas, para sua surpresa, ela paralisou. Não se atreveria a encará-lo. Sentiu algo gelado escorrer por sua bochecha. Estava ainda mais surpresa, ela nem sabia que ainda podia chorar.

O que eu estou fazendo? Sua cabeça girava e doía. Ela pôs a mão na testa e massageou suas têmporas na tentativa frustrada de amenizar a dor. O que estou...? A pergunta do homem misterioso era tudo no que conseguia pensar. O que esteve fazendo esse tempo todo?

Aos poucos a dor sumiu e ela pôde finalmente buscar o olhar do estranho em sua frente. Ele havia se acalmado e estava com uma expressão serena, mas a aflição em seu olhar ainda era visível.

“Quem é você?”, ela perguntou. O olhar do homem se suavizou e, em reposta, sorriu. Ele enxugou as lágrimas que ainda escorriam pelo seu rosto fino, deixando-a atordoada com seu toque, e logo em seguida desapareceu diante de seus olhos.

Seus joelhos vacilaram e ela não conseguiu se segurar. Seus joelhos doeram com o súbito impacto, mas ela não se importou, estava aterrorizada. Ainda havia várias perguntas a serem respondidas. O que havia acontecido? Qual era seu nome? O que ele estava fazendo ali? Por que a ajudou? Provavelmente nunca saberia. Ele não deu o tempo que ela precisava para saber.

Quando percebeu, estava chorando de novo. Um choro silencioso e doloroso.

Seus olhos se abriram. Estava em seu quarto, na sua cama. Um sonho. Era apenas um sonho. Frustração? Alivio? Desespero? Ela não sabia o que estava sentindo naquele momento. Lágrimas persistentes ainda escorriam de seus olhos. Ela não se deu ao trabalho de secá-las. Dessa vez, ela se entregou à tristeza. Seus soluços ecoavam por todo o quarto. Ela chorava como se tivesse perdido algo importante. Quem sabe ela realmente tivesse perdido. Quem sabe ela chorava porque se dera conta do que havia perdido. Algo que ela já havia jogado fora há muito tempo. Quem sabe?

Ela sentiu vontade de ir para aquela ponte de seus sonhos novamente, voltar para o seu próprio mundo. Mas não iria, já era hora de se levantar. E hoje ela tinha a impressão de que finalmente encontraria a graça.


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Notas finais do capítulo

Deixe-me saber o que acharam! Comentem! ♥



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