Tenshi no Tatakai, não Há apenas Um escrita por Anita


Capítulo 15
Abandono e Acolhimento




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Tenshi no Tatakai § 15 - Abandono e Acolhimento
Olho Azul Apresenta:
Tenshi no Tatakai,

Não Há Apenas Um


Capítulo 15 - Abandono e Acolhimento
 
  A pequena criatura caminhava como uma cobra e balançava seu rabo igual ao de um macaco, enquanto ria. Era uma gargalhada tão tenebrosa que causava calafrios em Beatrice.
 
  Aquele salão estava deserto. Além dos três, não parecia haver qualquer sinal de vida. Os sons demoníacos daquela coisa ecoavam livremente, tornando-os cada vez mais assustadores.
 
  E aquilo parecia se divertir com cada eco, tentando cada vez mais alto.
 
  A jovem deu um tímido passo para trás, tremendo muito. Aquele cenário todo já parecia irreal demais por si próprio; poucos sonhos seus o superavam. Mas havia um algo mais, pior que tudo... O ser à sua frente, tão mudado que ela não sabia mais se o poderia chamar de "ser", Eyuku.
 
  Ele ficara imóvel por todo o tempo, só observando. Parecia muito confiante e entendia todas as cosias ao seu redor.
 
-O que faz aqui...?-Beatrice arriscou, temendo qualquer resposta.
-Eu?-o rapaz deu um leve sorriso e a olhou -Vim te fazer novamente a proposta que acaba de recusar, minha querida...
-Quê...?-ela prendia o ar sem nem perceber.
-Junte-se ao meu lado, seja minha esposa.
-Seu lado?-sabia que estava fazendo perguntas patéticas, mas se recusava a ver o óbvio. Ademais, não sabia que mais questionar.
-Sim... O do grande Príncipe das Trevas.
 
  Ele não falava com o entusiasmo do senhor anterior. Era como se dissesse para apoiar seu melhor amigo, ou algo similar. Atrás dele estava uma nova cruz invertida e dela vinha um cheiro muito forte e desagradável.
 
  Como sairia daquela armadilha sem Fahel?
 
-E quem é ele?
-Há tantos nomes... Chame-o de Vossa Alteza, afinal, este mundo é reconhecidamente dele. Infelizmente esses humanos imundos o tomaram por sua ausência. Mas agora, contigo aqui, querida Beatrice... Ele o terá de volta. Creio que você será largamente recompensada, caso aceite.
-São seus planos?
-Os dele, mais precisamente.
-E você não tem nenhum?
-Servi-lo, apenas. Quer me enrolar para que o Céu a ajude? Fiquei aqui tempo o bastante para ver muitos filmes parecido...
-E o mais engraçado -ela deu uma risada nervosa -é que você faz o perfil de vilão traidor em todos eles, não é?
-Talvez...
 
  Ela caiu de joelhos, sem nem conseguir chorar. Sentia-se a pior.
 
-Devo ser tão ingênua...-falou bem baixo, sentindo Eyuku se aproximar e ajoelhar-se a seu lado.
-Minha amada Beatrice, sirva ao Príncipe e nunca mais se preocupe com isso.
-Não cairei em tentação... Jesus recusou o mundo no Novo Testamento. Eu também o faço.
-E o que ganha com isso? Ele tinha a garantia de um lugar no Céu.
-Pensei que era budista.
-Ha ha! Minha querida, idolatrada, Bia-chan... Tenho planos para você, aceite!
-Não.
-Então acho que terei que lhe roubar o medalhão e aí... Bem, sem a proteção divina, você ficará um tanto indefesa.
-Como assim?
-Já disse, não conto meus planos como um patético de Hollywood. -Ele tirou uma faca do bolso e a apontou -Agora, creio que não vai me entregar de graça, não é?
 
  Rasgou-lhe levemente o braço, saindo um filete vermelho de lá. A jovem estava assustada demais para qualquer reação.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Fahel mirava o teto de seu escritório, de lá se podia ver uma cachoeira que parecia jorrar água em cima dele, mas nada ocorria. Era só um enfeite a fim de acalmar os ânimos. E agora? Como ajudá-la?
 
  Não conseguia entender o que havia com aquele Eyuku. Por menos que gostasse dele antes, não esperava que ele fosse uma peça tão importante. Imaginava-o apenas um enganado pelo inimigo para atrair Beatrice para o mal ou coisa assim. Mas ele agora parecia estar por trás de tudo junto com o Anjo das Trevas.
 
-Não faz sentido...-comentou para si, ainda olhando para a cachoeira -Tanto sentido como essas águas que somem no ar.
-Falando sozinho, meu caro Fahel? Pensei que ao invés de enlouquecer iria fazer de tudo para salvar sua protegida.
 
  Uriel havia entrado e o encarava com uma expressão um pouco preocupada.
 
-Já enlouqueci quando a conheci e senti todo o trabalho que me daria. Enfim decidiu se comover com meu drama?
-Ora, passei esse tempo todo pesquisando. Observei como ela pode ser forte e como é seu ambiente... Em geral, creio que podemos fazer algo.
-O quê?
-Saiba que perderá o Céu com isso, Fahel.
-Não me importa.
-Como imaginei... Siga o que eu disser!
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
-Por quê!? Por que não posso usar os poderes de antes?-Beatrice gritava para Eyuku.
 
  O rapaz sorria sem qualquer emoção e se aproximava de novo da menina que só fugia.
 
-Que jogo infantil, Beatrice...
-Diga! O que fez!?
-É porque você não quer me destruir. Não pode me "purificar"; é patético!
-Mas não foi o que fiz antes?
-Assim me decepciona, futura rainha...
-Não me chame assim!
 
  A criatura deu uma nova gargalhada e saiu correndo de forma semelhante ao macaco até os dois. Ficou entre eles e se esfregava em Eyuku. Então foi para Beatrice, encarando-a e dando uma nova gargalhada.
 
-Até ele acha graça...
-O que é isso?
-Um diabinho que fica olhando o mundo para Nosso Mestre. Nada com que você precise se preocupar... Ele não tem alma.
-Quê...?
-Sim, é possível. Tudo é possível para nós!
 
  Beatrice olhou para a criatura, ainda tremendo um pouco. Tomou coragem e-
 
BUMP!
 
  Ele saiu gritando como um morcego. Ela o havia jogado contra Eyuku, mas não o atingira. O bicho passou por ele, como se um deles fosse um fantasma...
 
-Como?-ela se perguntou, olhando o bicho levantar-se e gargalhar de novo. Olhou para a própria mão que o segurara e estava queimada, exalando um forte cheiro de enxofre.
-Beatrice... Parece uma criança!
-Como fizeram aquilo?
-Nós não temos motivo para nos atacarmos... Agora farei a pergunta pela última vez. Deseja se juntar a nós?
-NÃO! Quantas vezes devo repetir? Não sou malvada e nem pretendo...-ela estava em lágrimas.
-Que discurso patético!
-Eyuku, volta...
-Eu nem fui pra voltar.
-Eyuku!-ela pegou umas pedrinhas do chão e as arremessou contra ele. Mas elas haviam virado cinzas antes de tocá-lo -Ai... Meu Deus, me ajuda! Por favor... Fahel!!!
 
  Ele andou até ela e sorriu de novo.
 
-Eu tentei te ajudar e você não aceitou, minha querida...-disse quase que numa voz metálica. Aquele tom a fez tremer -Você me irritou com tanta BURRICE!
 
  E a esmurrou no rosto, fazendo bater contra a parede.
 
-Está desacordada, Beatrice?-caminhou até ela -Tente chorar... Quem sabe um milagre não me deixa "bonzinho"? Mas peça a meu Senhor, pois parece hoje é dia de descanso do seu.
 
  A jovem o encarou, quase desistindo. Implorava aos céus por ajuda, mas nenhuma chegava. E agora? Observou a criaturinha brincando com as coisas na sala e percebeu um negócio negro... Não, novamente, parecia mais algo que engolia toda a luz... E estava abrindo.
 
-Vê aquilo?-Eyuku disse, apontando para o buraco -É um buraco, algum problema?
 
  Para que serviria, talvez ela não descobrisse, mas por que a incomodava tanto?
 
  Eyuku estendeu seu braço para ajudá-la a se erguer. Por instinto, Beatrice ofereceu a mão, porém quando o rapaz ia pegá-la, algo negro brilhou e ela notou que, ao invés de linhas, ele tinha um vazio riscando o membro também sugando toda a luz.
 
  Ela a puxou pelo braço e foi diferente de qualquer outro toque seu anterior. Não foi quente nem frio, mas a fez tremer. Seu estômago se revirou e não podia respirar. Suas orelhas ficaram gélidas, assim como seu nariz. As unhas pareciam dilatar-se. Seu pulso... Após se acalmar um pouco, notou o mais importante: o pulso por onde ele a segurava estava fervendo e congelando.
 
  Sem o uso de muita força, ela estava novamente de pé, mas ele não a soltou; sabia que cairia de joelhos se o fizesse.
 
  Olhou-lhe o olho.
 
-Eu quero morrer - Beatrice murmurou tremula e pesadamente.
-Entregue-me o medalhão, querida.
-Não!
-O que ganha com tanta teimosia?
 
  Ele a arremessou de volta ao chão e, num som muito alto sua cabeça se chocou contra a parede. Algo quente começava a encharcar suas orelhas.
 
"Eu vou desmaiar, sei disso... E aí? O que será da luta?" pensou. Mas era sarcástico chamar aquilo de peleja.
 
-Eyuku...-sussurrou com sua derradeira força.
 
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*
 
  Sentia-se quente, como se todo o abandono sentido nas últimas horas houvesse sido preenchido. Mas pelo quê? Que esperança era aquela que ardia em seu peito?
 
  Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Não podia mexer-se, falar...
 
"Onde estou?" perguntou-se, olhando ao redor.
 
  Ainda era a mesma sala. O buraco negro ainda estava lá, mas a criatura enfadonha de outrora jazia parte de um lado parte no teto. Eyuku estava bem a sua frente, falando coisas indecifráveis. Pareciam ruídos de um disco antigo na vitrola... Mas seus olhos estavam mais acuados que os de uma lebre frente a um tigre.
 
  Sentiu sua perna se mexendo e seu braço indo para frente, em posição de defesa. Quase que instantaneamente, Eyuku ergueu a mão e uma bola púrpura voou em sua direção. O cheiro sulfúrico penetrou em suas narinas e o impacto era iminente.
 
  Enviou ordens a todo seu corpo que se mexesse, que tremesse, que se paralisasse. Que ao menos-
 
"Aaaaaaaaaah!" gritou mentalmente, já que sentia ser a única reação possível.
 
  Seus braços mexeram-se sozinhos novamente, defendendo-a. O que estaria fazendo aquilo? Estava sendo controlada por Eyuku?
 
"Impossível", logo concluiu, "não haveria lógica já que ele quer me matar."
"Bia, acordou?" uma voz familiar ressoou pela sua mente. Simultaneamente, seu estômago se aqueceu e sabia que, em condições normais, choraria oceanos completos.
"Fahel?"
 
-Você consegue imaginar sua punição, amiguinho caído?-ouviu Eyuku dizer friamente, enquanto se aproximava.
-Tão bem quanto o número de pedacinhos teus daqui a pouco - sua própria voz declarou, agressiva.
 
"O que tá acontecendo!?" perguntou ao anjo, desesperada.
"Eyuku vai perder!"
 
  Naquele exato momento, Fahel puxou o medalhão para frente e retirou do nada uma espécie de facão prateado. Passando o Regina por sua lâmina, exibiu-o ao adversário.
 
-Quer me matar com isso?-este perguntou, olhando cinicamente.
-Se fosse só morte o que quero, não gastaria esta arma assim.
-E o que seria, então? Cometer suicídio indireto?
 
"O que ele quer dizer? Fahel..."
 
  Porém não houve resposta. Beatrice, em troca, passou a sentir os olhos queimarem febrilmente assim como os dedos segurando o objeto sagrado.
 
  O anjo encarnado ergueu-o até a boca e o assoprou fraca e continuamente.
 
  Ao contrário dos olhos e dedos ali parecia haver uma rápida perda de calor, trazendo-lhe um calafrio. Após o vento passou pelo medalhão, uma luz dourada refletiu em Eyuku.
 
  O rapaz a olhava assuntado.
 
-É insano? Por uma simples menina, comete tal crime?
 
  Por um segundo, parecia que o mal seria invisível a Beatrice. Mas logo viu uma fumaça sair do jovem. Não era de calor... Fahel parou o sopro por um instante; inspirou e-
 
"Pára! Não o mate, por favor!" estava gritando ao guardião.
"Sinto muito, Bia..."
 
  Mas, quando estava preste a soltar o ar, Eyuku começou a brilhar.
 
-Demorou demais, anjinho - disse, flutuando. Seus pés se evaporavam num gás cheirando enxofre.
-Ele vai fugir... - Fahel falou entre dentes, puxando um novo fôlego. Porém o ar puxado o intoxicou; o golpe não funcionava mais de forma efetiva.
 
"E agora? Podemos salvar Eyuku, pelo menos?"
"Não há mais como, minha menina... Ele aí em frente é o Eyuku."
 
  Beatrice sentiu como sua própria a impotência de Fahel.
 
-Até mais, recru-
 
  De repente, o jovem caiu no chão e o ar parecia mais puro.
 
-Vai logo, seu inútil!-o rapaz gritou embargado.
 
  Fahel inspirou e assoprou o medalhão. Antes que Beatrice pudesse fazer algo, assistia, já, ao fim de seu grande amor. Ela desmaiou ao perceber seu corpo inerte, como um exoesqueleto não mais usado.
 
  O buraco fechou, aspirando todo o enxofre numa nuvem negra de maldade.
 
Fim da Primeira Fase.
 
Continuará...
 
Anita, 29/03/2005
 
Notas da Autora:
 
Caramba! Que demora, né? Desculpa gente, eu sofri buscando inspiração para este capítulo chato, mas necessário. Não se preocupem com a Bia, ela só vai tentar se matar umas n vezes e depois vai virar uma moribunda. Brincando hehehe. Bem, ninguém, além de mim, gostava do Eyuku... Então ele foi pro céu.
 
Deixa eu entregar o jogo ^^U. O nome desse aí já dizia tudo o que ia acontecer, não sei pra que tentar adivinhar tanto hoho: Amada do Eyuku é escrito com o kanji para "céu" "e" é uma preposição significando "para" e "yuku" é o verbo ir em japonês ^^
 
Mas não pensem que vão ter essas dicas no resto dos nomes! As dicas serviam só pra primeira fase.
 
Na segunda fase, Fahel enfrentará as conseqüências de seus atos e Bia terá que superar a perda de seu grande amor. E se não o fizerem, a fic será cancelada e ficarão desempregados! Torçam por eles, porque vai ser duro!
 
Muitos devem se perguntar sobre o que houve com Michael nestes últimos caps, os próximos devem explicar melhor. Só garanto que ele será bastante importante nos prox caps.
 
Mandem e-mails para anita_fiction@yahoo.com e me apressem a entregar logo a segunda fase!!! E visitem meu site para os caps mais recentes de todad as minhas fic: http://olhoazul.here.ws

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