Tenshi no Tatakai, não Há apenas Um escrita por Anita


Capítulo 1
Um Sonho e Um Anjo




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Tenshi no Tatakai, Não Há Apenas Um § 1-Um Sonho e Um Anjo

Notas Iniciais:

Esta é uma fic original, sobre um tema que já foi muito explorado: o triângulo amoroso. Mas também teremos algo de aventura e suspense. Não haverá nada de muito pesado e quanto ao tema, religião, tentarei pegar leve e ir aumentando gradualmente. Espero que gostem de minha primeira tentativa e meu mail tá aí pra isso anita_fiction@yahoo.com

Usarei algumas palavras japonesas: (se alguma não estiver aqui, provavelmente foi só algo sem muita importância)

-san – sufixo formal, -sama – sufixo de enorme respeito, como a Deus ou a um patrão

-chan, -kun –sufixo informal, para pessoas íntimas ou de mesma idade

hai – sim

sensei – professor

Tadaima – “cheguei”, “estou em casa”

Baka – idiota

Ohayo, Konnichiwa, konbanwa, oyasumi – bomdia, boa tarde (após 10 am), boa noite (chegada) e boa noite (despedida)

Kawaii – fofinho (a)

Olho Azul Apresenta:

Tenshi no Tatakai,

Não Há Apenas Um

 

Capítulo 1 – Um Sonho e Um Anjo 

  O céu estava claro, apesar de no dia anterior haver chovido. A água havia feito com que todas as plantas da cidade de Tóquio ficassem mais verdes, como se agradecendo a água da vida. E o calor do Sol fazia não só as plantas mas também as pessoas ficarem felizes.

 

  Era fim de verão e as ruas estavam repletas de meninas e meninos com roupas de marinheiro. Saias pregadas bailavam à brisa que anunciava o iminente outono e um burburinho animado estava misturado à ansiedade de se rever os amigos após as longas férias.

 

  Uma menina de colete e saia marrons se destacava naquele entusiasmo todo. Tinha o semblante pesado e caminhava como um prisioneiro no corredor da morte. Algo parecia fora do lugar... Mas não conseguia discernir o quê. Estaria louca?

 

  O sonho que tivera fora ainda mais estranho que aquele aperto que sentia em seu peito. De início, estava tudo negro e então veio uma luz bem forte e estava num campo. Podia até sentir o cheiro de terra molhada. Não chovia, o Sol parecia com o do presente, bem claro e imponente. E então via coisas estranhas por toda parte. Eram luzes ambulantes.

 

  Tentara andar, mas não obtivera sucesso. Não havia vento, não estava frio, não estava quente. Não ouvia sua respiração, nem seu coração, nem outras funções essenciais à vida.

 

  As formas estranhas caminhavam; acompanhadas de outras e também sozinhas. Como pessoas... Tinham a altura normal de alguém, mas não andavam, flutuavam.

 

  Então uma pareceu vê-la, enfim. Tinha os olhos vermelhos bem brilhantes e redondos. A menina sentira-se vista por dentro, como se aquilo fosse de raios-X... Não era uma sensação boa.

 

  Ela podia ver o que esses olhos vermelhos viam. Lembranças boas e ruins suas. Lembranças pessoas, que deveriam ser só dela, de mais ninguém.

 

  Não conseguira gritar, pedir por socorro. Não tinha voz. Nem conseguia sentir sua boca se abrir.

 

  Encarou, então, a forma luminosa. Aquilo lhe cegaria se tivesse olhos... Era estranha a sensação de enxergar sem senti-los em seu corpo. Em breve notara que as outras formas a cercavam formando uma estrela e também um círculo.

 

  Mas não eram todos. Alguns flutuavam para longe, em alta velocidade. Mas sumiam. Não no horizonte, mas a luz se apagava e eles sumiam.

 

  Suas costas doíam. Latejavam.

 

  As formas que a rodearam soltavam sons metálicos que lembravam os sons de bichos numa selva. Daqueles bichos que não se via. A luz de seus corpos, outrora branca, fora se enegrecendo. Os campos se congelando. O Sol se apagando. Apenas uma luz ainda permanecia ali. Não sabia de onde, mas iluminava tudo ao seu redor.

 

  A luz vinha dela.

 

  As formas, agora negras, criaram asas. Gigantes e cheias de escamas, como as de um dragão. Os círculos vermelhos a fitavam e continuavam a ver dentro da menina. Ela se sentia sozinha, com uma forte dor nas costas. Então, a última luz fora se apagando.

 

  E tudo ficou escuro.

 

  Não pensava em nada. Não sentia nada. Não era mais nada.

 

  Era como a morte seria quando esta chegasse. Seria aquilo? Aquilo era morte? Teria morrido, com aquela intensa dor em suas costas?

 

  Então acordara.

 

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

 

-Sou Tentoai Beatrice e estudo aqui desde sempre, acho, -apresentou-se, logo indo sentar para ouvir os últimos dizerem seus nomes.

 

  Suas costas ainda doíam e as imagens daquele sonho ainda lhe eram vivas.

 

  Seus olhos dourados circularam pela sala. Tinha conseguido uma ótima turma para seu primeiro ano de colegial. Nem acreditara quando entrou na sala e vira o amor de sua vida inteira finalmente estudando ali.

 

  Amada Eyuku. Popular, apesar de nunca ter parecido notar. Seus cabelos vermelhos, arrepiados e rebeldes, formavam um conjunto sombrio e misterioso com seus olhos negros profundos. E era isso o que atraía tantas garotas a primeira vista. Estava sempre no seu canto, não se importando com amigos, notas, nem nada. O único com quem parecia falar era o popular Meichi Hanato.

 

  Sim, mas este sabia o que era e fazia questão de cuidar de sua fama, assim como de seu fã-clube. Por Amada ser sempre tão fechado, desde sempre a escola os colocavam juntos. Era uma forma de Amada parecer mais humano e de Meichi notar que aquilo era uma escola e não uma passarela. Um cuidava incrivelmente bem do outro. Mas Beatrice não achava Meichi bonito, só normal. E barulhento. Desde sempre o garoto de cabelos e olhos castanhos implicava com o jeito quieto dela ser.

 

  Os dois sempre se viam em recuperações e outras atividades similares. Eram sempre os últimos da lista de notas e sempre acabavam de castigo, juntos, por um motivo ou outro.

 

-Vai, Trix-chan!-ele dissera enquanto se a menina se sentava.

-Vai você pr’aquele lugar, seu idiota! –respondeu a altura, -É tão retardado que não ouviu como é o meu nome!?

-Sim, Beatrice. Por que quer que eu saiba, Trix-chan, será que tem uma queda por mim e quer que eu te mande um cartão no White Day com seu nome? Acho que Trix é o bastante.

 

  Ele sempre mandava um presente caro para ela, ano após ano. Desde quando Beatrice mal sabia o que era aquilo, quando chegara da Itália, onde nascera. Mas com a morte de sua mãe, o pai decidira que queria voltar à sua terra natal, o Japão.

 

  Ela deu uma última olhada pela sala. A maioria era conhecida sua desde sempre. Aquela era uma escola tradicional e cara. Portanto eram raros alunos novos. Mas, mesmo assim, Beatrice achara que com o início do colegial outros viriam.

 

  Com o fim das apresentações o sensei decidira que seria melhor a turma se conhecer melhor. Não que aquilo fosse necessário.

 

-Olá!-uma voz calma e feminina se dirigira a Beatrice, -Sou Tadahara Kari, é um prazer. Seu apelido é Trix-chan? Posso chamá-la assim?

-Não... Aquele idiota é que gosta de mexer comigo...-Beatrice respondeu, não era a primeira vez que alguém tentara chamá-la assim.

-Desculpa! Que tal Bia-chan?

-Pode ser...-Beatrice respondeu, -É meu apelido mesmo.

-Pode me chamar como quiser, Kari não é um nome para muitos apelidos. Sou nova aqui, mas todos já parecem se conhecer. Quando te vi sozinha, vi que era minha chance! Mas você disse que não era nova... Não entendo por que está tão só.

-É só que eu tive um sonho estranho, aí estou meio quieta hoje.

-Ah! É isso... Você é muito bonita, parece um anjinho, deve ter muitas amigas!

-Eu sou normal... É que por minha mãe ser meio italiana tenho a aparência um tanto exótica, mas não sou popular. Não gosto disso.

-E quem é que senta ao seu lado?-Kari apontou para uma mesa vazia.

 

  Bia deu de ombros.

 

-Não faço nem idéia, talvez tenha faltado.

-Será aluno novo? Parece só ter eu de nova...

-Não sei.

-Podemos ser amigas?

-Claro!-Bia forçou um sorriso. Amigos eram bem-vindos, mas não estava num dia legal. Suas costas doíam muito.

 

  Duas pessoas se aproximaram por trás. Bia logo se virou, como podia ter certeza exata do número?

 

  Amada estava ali... O que queria?

 

-Ei, Trix-chan, já conhece meu amigo? Amada Eyuku, chame-o de Kuku-kun! Gostou da piada!? Hahahahaha! É ótimo para um gago... Yu, você está estranho, cumprimente a Trix-chan e a amiga dela!

 

  Os dois se olharam. Bia sentiu seu rosto ferver, era a primeira vez que seus olhos se encontravam. Nem se importara com o apelido.

 

-Olá...-ele disse, enfim.

-Oi! Meu nome é Tadahara Kari, pode me chamar pelo nome! Vocês três se conhecem?

-Bem, eu nunca vi esses dois conversando, mas eu e a Trix-chan somos muito mais que amigos!-Hanato respondeu.

 

BUMP!

 

-Seu idiota!-Beatrice recolocou a arma, o estojo, de volta em sua carteira.-Não diga asneira. Não somos nem amigos... Ele é só a sina que eu tenho que aturar...

 

  Kari sorriu e algo similar apareceu no rosto de Eyuku, ou era impressão de Bia?

 

-Quem diabos senta ali? Quero trocar de lugar com essa pessoa só pra ficar do lado de minha amada...-Hanato disse apontando para o local vazio.

-Não diga coisas sem sentido e não sabemos,-Bia falou.

-Era o que discutíamos...-Kari acrescentou.

 

  Nisso notaram um rapaz conversando com o professor, que agora apontava para o assento vazio.

 

-Maldito! Competição...-Hanato disse, estranhamente sério.

 

  Realmente, era um garoto de ótima aparência, parecia estrangeiro e logo atraíra a atenção de todos da sala, enquanto se dirigia ao seu lugar. O cabelo negro parecia propositalmente desengonçado, dando-lhe um certo estilo de estrela de música teen. Seus olhos azuis se destacavam, como que a luz de um luar.

 

  Ao sentar-se, olhou para os quatro ao seu lado, sorrindo.

 

-Sou novo aqui, cheguei atrasado, vocês sentam aqui perto?

-Não, só a Trix-chan aqui.-Hanato parecia pela primeira vez na vida forçar um sorriso.

-Ah, também sou nova! Sou Kari e você?

-Itonokoi Michael. Sou meio inglês.

-Então por isso é tão estranho...-Eyuku comentou, assustando todos.

-Acho que sim, mas também sou meio japonês.

-E daí?

-Eyuku, cara, fica calmo... Não devemos ser agressivos com rivais; olha a cordialidade.-Hanato bateu nas costas do amigo.

-Rivais?-Michael perguntou, intrigado.

-Bem... É que, pra mim, todo cara a um raio de mil quilômetros da minha amada Trix-chan é um rival, sinto muito. Você se encaixa no perfil, né?

-Mas... Ela nem falou comigo, não se preocupe!-seus olhos azuis encararam logo Bia, o que lhe deu calafrios.

-Gomen ne. Eu só não estou bem hoje, mas como seremos vizinhos, creio que seremos grandes amigos!-ela respondeu, sentindo pontadas em suas costas. O que estava de errado com ela, -Ah, a menos que me chame como esse retardado faz. Meu nome é Beatrice.

-Um nome italiano? Também é mestiça!?

-Hai!

-Que maravilha! Isso é ótimo, eu amo a Itália... Terra de Dante, Boccaccio, DaVinci e outros gênios! Sabia que toda a visão de Inferno da Igreja Católica veio do livro de Dante? E seu nome... Parece o da personagem principal, a nobilíssima Beatrice.

-Creio que seja bastante comum na Itália também. E você fala muito, dará dor-de-cabeça na Tentoai-san,-Eyuku interrompeu.

-Yu-kun, vamos... Você está pegando muito pesado hoje.

 

  E foi levado por Hanato até seus lugares, num dos cantos da sala.

 

-É que não fui pra cara dele...-os três ainda puderam ouvir a resposta.

-Ele é sempre assim?-Kari perguntou a Beatrice.

-Não sei... nunca havia falado com ele, mas não é de sua fama.

-É que ele está com ciúmes, você ouviu o amigo dele, sou rival dele, como qualquer cara num raio de não sei tantos quilômetros...-Michael sorriu.

-Não fale como se ele gostasse de mim, Hanato é que é um implicante desmiolado.

-Não se desanime, você tem chances...-o garoto respondeu, finalmente se virando para cumprimentar os outros ao seu redor.

 

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

 

-Tadaima...

 

Beatrice tirou os sapatos, deixando-os à porta. O pai não fazia tanta questão do costume. Ele só gostava dos italianos, como forma de manter a lembrança viva da falecida esposa.

 

-Beatrice-sama...-uma das empregadas interrompera seus pensamentos.-Encontrei este pingente de ouro em sua cama. Não o perca assim, é muito bonito.

-Nana...-Bia falou, pegando o pingente, -Mas não é meu...

-Estava em sua cama. Ah, o senhor disse que não jantará contigo hoje, então mandei a cozinheira fazer algo bem japonês, como você gosta, Beatrice-sama.

-Obrigada, Nana, sabe que é como uma mãe para mim. Jante comigo!

-Hoje não poderei, fica para a próxima.

-Hai!

 

  A menina subiu a longa escadaria e foi para seu quarto, onde se despiu e entrou na banheira. Suas costas doíam demais, ainda bem que Nana nunca se esquecia de preparar seu banho após a escola.

 

  A água estava quentinha e aconchegante. Beatrice fechou seus olhos, tão incomuns, e estava a ponto de adormecer quando um som de algo caindo a fez abri-los novamente.

 

“O pingente...” Era estranho... Sabia que o havia deixado bem longe do banheiro, mas agora estava ali, no chão ao lado da bela banheira.

 

  Pegou-o e o olhou de perto. Era pesado, sem dúvidas era ouro da melhor qualidade. Nele estava esculpido a figura de dois anjos se encarando. Não como um espelho, um era bem diferente do outro. Em alto relevo estava uma bola em vermelho que eles pareciam segurar e riscos indicavam que esta brilhava.

 

  Fino dedo dela começou a sentir as figuras ali. Quando os passou pela bola, ela desceu e  subiu, como um botão; uma luz foi em direção à parede oposta a Beatrice.

 

  Beatrice viu algo muito brilhante, como na tela de um aparelho de televisão. E, no que parecia ser a cabeça dela, estavam dois círculos vermelhos que brilhavam ainda mais que o objeto em si.

 

  Um calafrio invadiu o peito da menina. Seu corpo, mesmo na água quente, gelou-se. Era o objeto do sonho! O ser luminoso... Suas costas doíam mais ainda, quase estava perdendo os sentidos por conta de tanta dor.

 

-Quem é você?-conseguiu perguntar, bom sinal, podia se ouvir, tinha voz.

 

  Um som metálico ensurdecedor como um trovão veio da projeção. Instintivamente, Bia cobriu seus ouvidos.

 

-Ah, desculpa...-ouviu uma voz masculina de um menino que devia ter a sua idade ou um pouco mais, -Eu esqueci que na sua forma humana não se lembraria de sua língua-mãe...

-Quem é você? Isso não é italiano...

-E nem deveria ser... É a língua Angelus. Nossa língua. E eu sou Fahel, seu escravo.

-Quê?

-Modo de dizer... Bem, sirvo aos céus e finalmente consegui que tocasse no Regina... O tempo estava se esgotando. Quando completasse quinze anos poderia ser tarde demais...

-Do que está falando?-Bia levantou e tentou agarrar o ser na parede, mas foi de cara no azulejo.

-Desculpa, eu não estou exatamente aí, é só um holograma. Faça o seguinte, pendure o Medalhão de Regina no seu pescoço para que não o perca. Aperte o botão sempre que precisar falar comigo.

-Como assim!?

-Virão atrás de você, mas você não pode se deixar pegar. Desenvolva seus poderes, Beatrice, você é a nossa esperança.

-Como assim, está me complicando mais ainda!!!

-Digamos que... Cristo veio à Terra livrar todos os pecados do mundo. Você veio à Terra para eliminar os agentes do Mal. Assim, mesmo que o Mal sempre exista, ele nunca aumentará, como tem feito ultimamente, ameaçando o equilíbrio fundamental. Entendeu?

-Eu o quê!?

-Você é um novo Cristo, mas não Cristo. Este não é o juízo final, é só que o pessoal malvado fez algo errado e tudo está se perdendo. Se você falhar, o Bem deixará de existir.

-Isso é fantasioso demais, devo ter dormido no banho; o calor está em fazendo ver e ouvir coisas...-Bia deitou-se de novo.

-Eu sou um anjo que recebeu a missão de ser seu anjo da guarda. É claro que é só um disfarce. Deus suspeita que alguém quer trai-lo, mas não consegue descobrir quem é. Então ele te fez, Beatrice, a filha de Deus. Você está na Terra, aquela que divide o Céu e o Inferno, onde Lúcifer está maquinando alguma coisa. Entendeu?

-Pare de “entendeu”s e diga coisas concretas!

-Mas isto é concreto!

-Jesus sabia quem era. Eu nem Católica sou... Fui batizada e meu pai me obrigou fazer Primeira Comunhão, mas não vou à missa desde a morte de minha mãe.

-Isso é porque estão te sabotando. Descobriram os planos do Senhor e agora ficam no seu ouvido, te tentando...

 

  Bia ficou olhando aquele ser luminoso que lhe dizia tantas besteiras. Era incrível demais para serem algo além de besteiras. Ela estava longe de ser aquele menino calmo e piedoso sobre quem lera nos livros durante a catequese. Quanto mais a irmã dele.

 

  Quando deu por si estava ouvindo a voz da governanta, enquanto batia na porta, a chamá-la:

 

-Beatrice-sama, está passando bem? Há algo errado?

-Nana...-Olhou para si, ensopada de sabão, nua.-Estou há muito tempo aqui?

-Sim! Menina de Deus... Já são quase seis horas! Está há duas horas aí. Tem um homem na porta querendo falar contigo, diz trabalhar na tua escola.

-Já estou indo, peça-o pra esperar por uns dez minutos.

-Certo...-disse e se foi.

 

  Estava sozinha de novo, pelo menos as dores nas costas haviam passado. Levantou-se de vagar, procurando a toalha com os olhos.

 

-Menina de Deus, até a Nana sabe...-Fahel falou.

 

  Beatrice jogou-se de novo na banheira.

 

-Não deveria me ver nua!

-Sou seu anjo da guarda, eu te observei nascendo.

-Mas está na bíblia que não deves descobrir minha vergonha!

-Isso não se aplica a anjos. Não temos sexo nem nada.

-Quer dizer que me observa que nem um pervertido desde que nasci!?

-Não bem assim. Quando sua mãe morreu você me implorou para acompanhá-la. Aí te deixei o medalhão para que me chamasse quando fosse preciso. Quando voltei, você havia sumido... Com tantas sabotagens no céu, foi impossível achá-la! Então de uns tempos pra cá tenho tentado pôr esse medalhão pra te encontrar... Você não se lembra de mim, né?

-Não... Eu... Eu só tinha dois anos e meio quando mamãe morreu. Mal me lembro dela e nem sei como me lembro. Talvez por papai sempre me mostrar fotos dela...

-É porque você não é dessa terra... Por isso é um prodígio no que quiser. Tem o corpo de uma bela Santa e a voz de um Anjo. Sem contar que a Sabedoria dos Sábios e os dons dos Heróis. Você é perfeita!

-Devo é ter defeito de fábrica. Sou quase a última da turma, quando canto pensam que é dor de barriga, sou péssima em esportes e nunca fiz parte da lista das mais bonitas. Eu acho que está na banheira errada... E mais: minha família não é de pobres, somos ricos... Tive berço de ouro.

-Isso é porque você perdeu seu contato conosco... Foi falha minha e já fui punido por isso. Quanto às suas riquezas, sua família foi predestinada desde a criação a ser sua. Com o Céu ao lado deles e eles sempre fiéis... Quem não seria rico?

-Jesus...

-Ele é outra história e outra missão. Sem contar que a tentação será bem maior para você, por causa de meu erro. Mas estou pronto para repará-lo agora. Nunca mais te abandonarei, Beatrice, minha Senhora.

-E como saberei se eu não estou esquizofrênica?

-Por isso deve ter fé.

 

  Beatrice levantou-se da banheira. Enxugou-se rapidamente e vestiu-se.

 

-Tenho que ir ver o visitante... Como te faço sumir?

-Pegue o medalhão, não o abandone. Quanto a mim, não há como. Eu te seguirei por toda a sua vida.

-Mas e se os outros te virem?

-A menos que eu queira, não me verão.

 

  Bia sabia que ele sorria. Por um instante ele lhe parecia um tanto humano, seria um bom amigo, sendo ou não sendo ilusão sua.

 

  Desceu até a sala de visitas. O homem de terno escuro tomava o café oferecido e levantou-se que a viu.

 

-Tentoai Beatrice-san, eu presumo...

-Você não é da minha escola...-Bia o olhou atentamente, que homem era aquele?

 

  Ele estendeu sua mão.

 

-Sou da Inglaterra e chegue faz pouquíssimo tempo. Tinha que vê-la...-Ele mostrou a mão, pedindo para que a menina a apertasse.

 

  Beatrice estendeu sua própria hesitando. Quando tocou a do homem a dor nas costas voltou, e a outra mão, com a qual segurava o Medalhão de Regina, começou a arder.

 

-O que tem na outra mão?-ele perguntou, sorrindo simpaticamente,-Por um acaso é alguma jóia de família? Fui enviado para ver um Medalhão que você possui.

 

  Ele soltou a mão de Beatrice para pegar na outra. Morta em dor, a menina não fez nada para impedi-lo.

 

  Os olhos negros e profundos do homem brilharam ao ver a jóia.

 

-É perfeito! A Coroa dos Céus, o Medalhão de Regina!-Estendeu a mão livre para agarrá-lo, aproveitando as dores que Beatrice sentia.

 

  Mas uma luz invadiu toda a sala.

 

-Fahel...-o homem disse, com raiva na voz.

 

  Um som de trovão quase ensurdeceu a menina, que caíra no chão de dor. Mas seu coração parecia traduzir aquilo, como se fosse alguma espécie de língua perdida. “Saia desta casa, demônio!”

 

  Beatrice viu o homem se fazer em terra e esta em nada. A luz sumiu e Fahel a olhava.

 

-Nunca mostre este medalhão a estranhos, sua burra!

 

A jovem se apoiou nas mãos para se levantar, mas notou que estava fervendo, como se água quente ali houvesse caído. Todos os lugares tocados por ele estavam assim. Era tão doloroso que ela caiu de novo e ficou em posição fetal, chorando. Eram lágrimas de sangue.

 

-O que houve aqui!?-gritou, chorando.

 

  Novamente a sala foi invadida por uma luz. Esta enlaçou a menina no chão e Beatrice sentiu como se a própria paz estivesse ali. Todas as suas dores e preocupações foram substituídas por uma alegria pacífica que jamais sentira... Não... Que havia sido esquecida, há muito tempo atrás.

 

  Quando o clarão voltou para a parede, a menina estava de pé, sorrindo tolamente.

 

-Bia... Bia... Eu sinto muito por ficar bravo contigo. Eu não imaginava que eles já houvessem te achado. Isso é muito perigoso.

-Foi... Foi você? Que me salvou e me curou?

 

  O ser luminoso se mexeu um pouco, como se assentisse.

 

  Os olhos dela estavam repletos de lágrima.

 

-Você acredita agora?-Fahel perguntou.

-Hai.

 

Continuará...

 

Anita, 08/01/2004

 

Notas da Autora:

  Tanto para dizer... Só pra não esquecer, este capítulo foi especial, o resto será metade disto, em compensação, tentarei lançar com mais freqüência.

   Bem diferente de mim, não é? Nem tanto. Eu achei que ficaria mais... Mas ficou bom, não sei se faria melhor. Ficou nos meus padrões.

   Essa história foi toda criada por mim e os nomes dos personagens também. Alguns tendem a significar algo e por isso escolhi o Japão. Até porque eu não queria me afastar muito do meu normal, já que o meu público alvo são os adoradores do Japão.

   A fic vai ser bem longa, já que ficará dividida em capítulos pequenos. Não os lançarei em base semanal ou coisa assim. Sempre que tiver algo, eu lanço. Quanto à Beatrice... Bia por quê? Porque é um nome longo pra ficar se escrevendo, porque Beatriz e Beatrice dão no mesmo e porque nomes longos em fics ficam cansativos. Quais dos garotos é o par dela? Bem... Minha intenção é pegar os clichês do shoujo e pôr na fic. Então, bem... Isso é pro futuro! Meu sonho sempre foi fazer uma fic em que nem eu saiba com quem a menina acabará. Lá para o meio eu terei uma idéia mais nítida, mas alguém sabe onde é o meio?

   Por que anjos e céu e igrejas? Bem, isso é algo que encanta a todos e como a maior parte dos brasileiros é cristã, achei que conviria. Não tirei isto de fic alguma, aliás a idéia veio do Senhor dos Anéis. Então... Bem, nada a ver. Pensei em pôr fadas e bruxos... Mas pensei melhor e achei que a Igreja em si era um mistério a ser explorado. No mais foi saindo com o decorrer da fic. Agora, quanto ao Catolicismo. Eu o escolhi por ser a minha religião e principalmente porque ele é o aceita mais mistérios dentro do Cristianismo, pois temos a imagem da virgem. E mais: é também a mais difundida e conhecida (por mim), sem contar que foi a primeira, ou seja, é a mais antiga. Não estou subjugando as outras, só preferi uma mais fácil, sem contar que saiu naturalmente.

   E-mails são bem-vindos aos que querem dar sugestões, comentários, críticas, fazerem amizade comigo e conseguirem spoiler (pois sempre acabo dando...) e o meu é anita_fiction@yahoo.com

   Nos próximos capítulos, a coisa começa a esquentar e Bia quer saber que raios de medalhão é aquele e o que representa. Todos o querem e por que logo ela que o daria de graça tinha que protegê-lo? E mais: Eyuku começa a agir estranho... Será que o novato tinha razão ou Fahel?

   É só isso por ora. Para mais acessem meu site http://olhoazul.here.ws ou me mandem um mail. Sabe há uma terceira opção que é ainda melhor: façam os dois e também me procurem no meu canal!

   Parabéns aos meus pais e a mim pelo aniversário e casamento deles e pelo meu de batizado (devo ser a única que sabe que dia foi...)


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