I've Got You escrita por Queenie Winchester


Capítulo 13
Capítulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/630496/chapter/13

“Porque suas palavras são como balas e eu sou a mira da sua arma”

Lies — McFly

Clarita estava terminando de fechar o caixa quando ouviu alguém gritar o seu nome.

— Clara!

Ela reconhecia aquela voz, sabia que Érica estava furiosa, mas não entendia o motivo. Virou-se tranquilamente enquanto via a garota morena se aproximar a passos pesados.

— Érica, o que houve? — Clarita perguntou calma.

— O que houve? — Érica usou de toda ironia que era capaz. — Como você é sonsa! Pensa que eu não sei que tipo de garota é você? Por favor, eu não nasci ontem.

A garota loira olhou para Érica indignada, o que ela estava insinuando?

— Olha Érica, eu não estou entendo o que você quer dizer — Clarita disse tentando manter-se calma. — E você está me ofendendo.

— Oh, eu estou te ofendendo? — Érica riu. — Eu nem comecei ainda queridinha. Você é tão sínica, “Ah pode me chamar de Clarita”, “Eu sou super meiga e fofa”, “Nossa eu sou amiga de todo mundo” — ela imitava pobremente a voz de Clarita. — Poupe-me.

— Eu não gosto do modo como você fala — a loira disse, usando o último resquício de paciência que ainda tinha sobrado dentro dela. — Então pare de me ofender e diga logo o que aconteceu.

— Você aconteceu! — Érica gritou. — Eu sabia que essa história de “melhor amiga” era só uma fachada. Você estava atrás do meu namorado, sua piriguete anã!

Melhor amiga? Namorado? Clarita pensou por um instante, então todo esse barulho era por ciúmes de Beto?

— Érica eu não tenho nada com o Beto, nunca tive — Clarita afirmou sincera. — Esse seu ciúme não tem cabimento. Nós mal nos falamos. Fique tranquila, não tenho a intenção de atrapalhar o seu namoro.

— Você já atrapalhou! — a garota vociferou. — Por sua culpa o Beto terminou comigo. SUA culpa!

— Vocês terminaram?

— Não se faça de desentendida, eu sei que você já sabia disso. Acho até que foi você quem mandou ele fazer isso. Cansou de ser a outra, é?

— Érica eu não vou responder o que você merece porque você deve estar sofrendo com tudo isso. Mas, por favor, pare de me ofender.

— Você realmente acha que alguém como o Beto quer algo além de diversão com você? Você acredita mesmo que ele vai ser capaz de te apresentar para os amigos dele ou te levar para um jantar de negócios? — Érica iria destilar todo o veneno que podia em cima de Clarita, independentemente de a garota estar ou não com o seu ex. — Acorda Clarita, você mal serve para sair na coluna de fofocas ao lado dele.

As palavras de Érica atingiram Clarita com força. Ela sabia que não era bonita como a cantora, ou sequer refinada. Clarita mal sabia usar saltos quem dirá se vestir para ir a um evento importante ao lado de Beto, isso sem contar os talheres, ela nunca aprenderia usá-los. Contudo isso não significava que Érica poderia humilhá-la.

— Você já parou para pensar que talvez ele tenha terminado tudo por sua causa? — Clarita devolveu no mesmo tom que a garota. — Você só pensa em status, no que os outros vão pensar de você. Só se preocupa se seu nome vai estar em uma lista VIP ou algo do tipo. Você é superficial, Érica. Eu lamento muito lhe dizer isso, você não é uma pessoa ruim. Mas você está muito equivocada quanto aos seus princípios.

— Você quer me falar de princípios? Que princípios tem uma garota como você que dorme com um cara porque ele é rico? Com um cara que tem namorada? — aquela conversa estava longe de ter fim, Érica estava deixando isso bem claro naquele momento. — Que tipo de princípios são esses que você tem Clarita que me fez acreditar que você era minha amiga, quando na verdade ria de mim enquanto se esfregava no meu namorado?

— Pelo amor de Deus Érica! — Clarita ficou ainda mais indignada. — Eu nunca tive nada com o Beto! Nada!

— Ele disse que te ama — Érica debochou. — Não é algo que alguém diria sobre uma pessoa com quem nunca teve algum tipo de envolvimento. Vocês tiveram algo — ela se aproximou de Clarita de forma intimidadora. — Eu sei que tiveram. Seja mulher e admita isso.

Clarita estava encurralada, literalmente. Érica estava de frente para ela que havia se aproximado ainda mais do balcão. Clarita temia que a cantora partisse para a agressão, ela não saberia como reagir a isso. Pensou em muitas coisas para dizer a garota, mas ela merecia a verdade.

— Nós nos beijamos — Clarita admitiu pela primeira vez. — Mas foi uma única vez.

— Claro — a morena sorriu com desdém. — Uma única vez. Olha Clarita, na boa, eu espero que você e o Beto sejam muito felizes. Vocês se merecem. Dois falsos, mentirosos. Um vale menos que o outro.

Clarita não sabia se ficava feliz ou triste pelo que acabara de acontecer. Feliz porque Érica parecia ter desistido de brigar com ela antes que elas chegassem ao ponto de se bater. Triste porque a garota não acreditava nela.

Mas também quem mandou se meter com Beto?

Beto.

Só de pensar nele Clarita sentiu seu rosto esquentar. Era tudo culpa dele. Se ele não tivesse dito a Érica que a amava ou se não tivesse a beijado a força nada disso teria acontecido. Clarita não teria sido humilhada, ofendida e de quebra não receberia a culpa por algo que ela nem mesmo causou.

Se Beto tivesse ficado do outro lado do mundo nada disso teria acontecido.

Ela precisava esfriar a cabeça. Fechou o Café depressa e ligou para Letícia sugerindo uma noite das garotas. Clarita não bebia, mas de acordo com a amiga o álcool era o melhor amigo dos corações despedaçados e das mentes confusas. A garota mal podia esperar para ver do que ele era capaz.

— x —

A campainha da casa dos Almeida Campos tocava insistentemente. Quem poderia ser àquela hora? Carol torcia para que não fosse Érica, havia conversado com Beto horas antes e ele contara sobre o término e sobre o tapa. Não era como se Carol isentasse o irmão de todos os erros que ele havia cometido, mas achava que Érica deveria estar grata por ele ter sido honesto com ela ao invés de ter seguido com o relacionamento nada saudável dos dois.

— Clarita? — Carol encarou a garota com uma expressão assustada.

Clarita estava descalça, com os cabelos bagunçados, a blusa azul que ela usava estava caindo pelos ombros e ela cheirava a algumas bebidas alcoólicas que Carol não sabia distinguir muito bem.

Algo estava muito errado ali.

— Você está bem? — Carol abriu a porta ainda mais. — Quer entrar? Quer falar com o Beto?

— Tudo o que eu quero do seu irmão é distância — Clarita respondeu com a voz carregada. — Eu só quero que ele suma da minha vida, de novo. Que me deixe em paz. Que finja que eu não existo.

— Clarita — Carol chamou com pena da garota. — Não diga isso, você sabe que ele não fingiu que você não existia.

— Fingiu sim! — Clarita gritou. — Fingiu por onze anos. E de repente ele vem me dizer que me ama? Ele pensa que tem o direito de me beijar? De se intrometer na minha vida?

— O que está acontecendo aqui? — Júnior se aproximou tentando entender o motivo dos gritos que ele ouvira.

— Ela não está bem, meu amor — Carol disse indo de encontro ao marido. — Algo aconteceu com ela. E o Beto tem culpa, lógico.

— A culpa é sua — Clarita disse dura. — E sua — ela apontou para Júnior. — Foram vocês que o levaram embora. Eu fiquei sozinha naquele orfanato. E quando eu tive a chance de ter uma família, ela era bem diferente do que eu imaginei. Quando eu mais precisava dele, ele não estava aqui. Eu tive uma péssima vida se querem saber. Eu não estudei em colégios caros, nem conheci meio mundo. Eu conheci o trabalho doméstico e estudei nos intervalos de uma faxina e outra. Então quando eu finalmente me sentia pronta para seguir em frente, ele volta e acha que pode ser tudo como antes. Ele acha que pode bagunçar algo que eu mal terminei de organizar.

— Eu não sabia — Beto disse assim que ela se calou.

Ele tinha ouvido a voz dela desde o momento em que Carol abrira a porta, mas não tinha coragem de se aproximar. Ela estava com tanta raiva dele e com motivo. Mas isso não era um problema para Beto, poderia lidar com a raiva dela, com a indiferença, só queria entender o que a havia feito perder o controle.

— Não é como se você se importasse com alguém além de você — Clarita rebateu de forma dura. — No que você estava pensando quando disse a Érica que me amava? Achou mesmo que ela ia aceitar isso numa boa?

— O que a Érica tem a ver com isso? — Carol estranhou a fala de Clarita.

— Sua adorável cunhada foi até o Café dizer à piriguete aqui — ela apontou para si mesma — que não precisava mais fingir que não estava se esfregando com o namorado dela. Que por conta da sínica aqui, o namoro perfeito deles tinha acabado.

Beto ficou furioso ao ouvir tais palavras. Então Érica era o motivo para Clarita estar daquele jeito. Como ela se atreveu a confrontá-la? A insinuar que os dois tinham um caso, quando tudo o que havia entre eles era uma parede enorme de mágoas e erros. Como ela pode ofender Clarita de tal forma? Não bastava ter batido nele, tinha que descontar nela também?

— Eu vou falar com ela — Beto se pronunciou.

— Caso você não se lembre, foi falando com ela que tudo isso começou — a loira o recriminou. — Apenas fique longe de mim, okay?

Clarita se virou para ir embora, Beto encarou a irmã e o cunhado como se pedisse permissão para fazer o que tinha em mente. Os dois concordaram em silêncio e o rapaz correu até a loira que tentava inutilmente recolocar os sapatos.

— Fica — Beto disse. — Não pode sair assim pelas ruas.

— Endoidou Beto? — Clarita riu descrente.

— Talvez, mas você vai ficar.

Beto colocou Clarita em seu ombro e andou em direção a casa com ela estapeando suas costas. Seria uma cena engraçada, se não fosse a trágica situação em que ela se encontrava. Passou pela sala notando que a irmã e o cunhado não estavam mais lá e rumou com a garota até o seu quarto, onde finalmente a colocou no chão.

— Não vou ficar aqui com você!

— Deixa de ser teimosa — ele trancou a porta, colocando a chave no bolso da calça em seguida. — Apenas para o caso de você tentar fugir — ele explicou vendo a expressão dela mudar radicalmente de agressiva para intimidada.

Clarita bufou, aquilo só podia ser brincadeira.

— Aqui — Beto estendeu uma toalha para ela. — Primeiro um banho, depois um remédio, uma xícara de café e amanhã você vai estar bem.

— O que te faz pensar que eu vou aceitar qualquer coisa que venha de você?

— Você não queria ficar, eu te coloquei nos ombros e te trouxe, pega logo essa toalha antes que eu mesmo dê um banho em você — ele colocou o pano nas mãos dela. — E garanto que não vai ser do jeito bom.

Clarita ficou vermelha, imaginando, mesmo que contra a sua vontade, como seria o jeito bom de Beto lhe dar banho. Preferiu espantar esse tipo de pensamento, ainda estava bêbada, não iria fazer nada que lhe causasse arrependimento mais tarde. Caminhou até a porta do banheiro do quarto de Beto e torceu para que ele ficasse longe do lugar.

Minutos mais tarde Clarita ainda se encontrava enrolada na toalha. Não tinha roupas ali, e não queria incomodar Carol, principalmente depois de ter sido uma estúpida com a mulher que sempre lhe tratou tão bem. Mas ela precisava vestir algo.

Ouviu baterem na porta, sabia que era Beto. Ele abriu a porta apenas o suficiente para passar seu braço pela fresta e entregou a Clarita um pano que ela agarrou rapidamente. Mal pode conter a surpresa quando notou que se tratava de uma camiseta dele. Vestiu a peça com cuidado e quando sentiu a malha entrar em contato com sua pele percebeu pela primeira vez que o tecido estava impregnado com o cheiro de Beto. Aquilo não era bom para a sua sanidade.

Assim que Beto encarou a garota teve vontade de agarrá-la. A camiseta dele era quase um vestido para ela, um vestido que ia até a metade das coxas. Ela tinha os cabelos molhados caídos pelo ombro enquanto a franja caía pela lateral do rosto. Ela parecia uma obra de arte que ele estava adorando observar.

Se aproximou dela com cuidado e ofereceu um comprimido que tinha na gaveta, ela o olhou confusa, tinha pensado que ele iria beijá-la.

— Não vou cometer o mesmo erro duas vezes — ele sussurrou, os dois estavam próximos o suficiente para que ela ouvisse. — Não vou beijar você a força. Sei o que isso pode me custar.

Clarita tinha os olhos fixos nos dele. Ele era sincero em suas palavras, ela sabia. E sabia também que ela queria o beijo.

— Não é a força se eu quiser que você beije — ela respondeu num fio de voz.

Beto passou sua mão pela cintura de Clarita e tomou a boca dela com cuidado, iria fazer as coisas direito dessa vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I've Got You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.