I've Got You escrita por Queenie Winchester


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

- Espero que gostem e sejam todos bem-vindos



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Os raios de sol mergulhavam por entre as árvores da pequena pracinha, sentada em um dos bancos a menina de cabelos dourados pronunciava os números vagarosamente enquanto Beto tentava encontrar um lugar para se esconder. Todos os dias, após chegar da escola Beto ia com a irmã Carolina até o orfanato para brincar com as crianças que lá moravam. Já havia feito grandes amizades lá, mas nenhuma se comparou a que fez com uma garotinha chamada Clara.

Quando se conheceram, dois anos antes, ela havia acabado de chegar ao Orfanato Raio de Luz, seus pais tinham morrido em um acidente e ela não possuía nenhum responsável legal. Ele logo se encantou pelo sorriso da garota que possuía um rosto angelical e acabou se tornando responsável por ajudá-la a se adaptar. Com o tempo a amizade dos dois foi crescendo e se tornando mais forte, tão forte que despertou nela um sentimento diferente.

Mas ela sabia que isso não era possível, Beto além de ser seu melhor amigo, quase irmão, ainda era irmão mais novo da diretora do orfanato onde morava e dois anos mais velho, ele se interessaria por garotas da idade dele, não por uma garotinha que mal tinha completado sete anos. Sua única opção era se conformar em ser só sua amiga, sua melhor amiga.

— Noventa e oito, noventa e nove, cem! — ela gritou. — Pronto ou não ai vou eu!

De cima de um galho na árvore Beto observava a menina correr de um lado para o outro a sua procura, ela nunca o encontraria.

— Beto! — ele ouviu alguém chamar. — Beto!

Péssima hora, ele pensou. Olhou novamente para onde a amiga estava não tinha como descer dali sem que ela o visse.

— Beto! — gritaram novamente.

Ele bufou. O que será que de tão importante estaria acontecendo?

— Achei você! — ele ouviu a voz da menina logo abaixo dele.

— Ah não! — ele fingiu lamentar. — Como pode isso Clarita? Eu me escondi tão bem.

— Não sei — ela riu.

— Beto! — chamaram mais uma vez.

— Acho que estão chamando você.

— Pois é — ele fez uma careta. — Bom vou levar você primeiro, depois vejo o que é.

— Não precisa, eu sei o caminho.

— Tem certeza? Você é tão nanica, pode acabar se perdendo.

— Não vou me perder! — ela falou séria. — E eu não sou nanica!

— Tudo bem não precisa ficar brava — ele disse levantando os braços se desculpando.

— Eu não estou brava — ela riu.

— Mentindo para mim? — ele fingiu indignação.

— Aham — ela riu sapeca.

— Você vai ver eu vou...

— Poxa Beto é difícil falar com você hein! — Carol apareceu de repente, fazendo Clarita parar de rir.

— Desculpa, nós estávamos brincando — ele respondeu.

— Eu sei, mas nós precisamos ter uma conversa muito séria — ela disse compreensiva.

— Então eu vou voltar para o orfanato — Clarita disse sem graça. — Até mais Carol, até amanhã Beto!

— Até mais meu amor — Carol deu um beijo na testa da garota.

— Até mais nanica — Beto beijou-a na bochecha.

Clarita seguiu pela calçada sendo observada pelos dois. Eles a observaram até ela dobrar a esquina rapidamente e sumir de suas vistas. Caminharam para casa em silêncio, até que Carol finalmente resolveu falar:

— Beto, você sabe que eu e o Júnior estamos namorando há bastante tempo não sabe?

— Sei — ele disse sem entender onde a irmã queria chegar.

— Então acontece que ele me pediu em casamento — Carol falava devagar para não assustá-lo.

— Bem que legal — Beto ficou feliz pela irmã. — Fico feliz por vocês.

— Eu sei que fica, mas acontece que ele tem que administrar os negócios do pai, e bem o senhor José Ricardo tem muitas empresas em muitas cidades diferentes, muitos estados e até mesmo países diferentes.

— E o que isso tem a ver com o seu casamento?

— Bom, acontece que Júnior terá que se mudar para o Rio e eu como sua esposa também terei.

— Tudo bem, mas e eu?

— Bem eu sou sua responsável legal não é? Então você vem com a gente.

— Como é?

Beto ficou perplexo. Como ele poderia se mudar e deixar para trás seus amigos e principalmente sua nanica. Como ela sobreviveria sem ele? Ela até era amiga das meninas do orfanato, mas ele era seu melhor amigo. Ele a entendia como ninguém. E de repente ele tem que ir embora. Isso não era certo.

— Eu não posso ir Carol — ele tentou negociar. — Meus amigos estão todos aqui, e tem a escola ainda. Não dá.

— Eu sei meu amor, mas você fará novos amigos no Rio — Carol falava carinhosa, sabia que seria difícil para Beto — e Júnior já está vendo uma escola para você.

— Mas são os meus amigos.

— Eles vão entender.

— Quando iremos embora?

— Semana que vem a empresa precisa do Junior urgentemente, então nós iremos nos casar lá.

— Certo, acho que vou começar a arrumar as malas então.

— Faça isso.

Beto foi para o seu quarto cabisbaixo, não estava feliz em ter que se mudar, mas faria isso pela irmã. Desde que os pais morreram, ela tinha se dedicado a ele, perdera boa parte da sua juventude se dividindo entre ele, a faculdade e o trabalho de garçonete. Antes de ser diretora ela era garçonete do Café Boutique que era da família de Júnior, onde os dois haviam se conhecido e se apaixonado. E depois de tantas dificuldades, principalmente com a família dele, ela estava tendo sua grande chance de felicidade ele não podia pedir que ela desistisse de tudo.

Então, ao invés de arrumar suas malas como havia dito, ele escapou pela janela do quarto e foi contar a novidade para os amigos da escola, queria prepará-los para sua partida desde aquele momento. Obviamente eles não receberam a notícia muito bem, mas entenderam que ninguém era culpado pelo que iria acontecer. Já os amigos do orfanato, Beto preferiu não contar a eles ainda, sabia que Carol estaria preparando-os para sua partida e preferiu não se meter.

Deixaria que o tempo falasse por ele.

Uma semanada havia se passado desde que Carol anunciara que eles iriam se mudar. Todos já estavam sabendo da novidade e embora estivessem felizes por ela, não escondiam a tristeza por terem que se afastar. As crianças do orfanato haviam preparado uma festa de despedida, todos desejavam felicidades não só à Carol como a Beto também. Mas havia uma pessoa que não estava preparada para desejar coisas boas aos dois e ele percebeu isso.

— Então a senhorita vai finalmente se livrar de mim — Beto disse tentando quebrar o silêncio que havia se instaurado entre ele e Clarita desde que ele contara a ela que iria embora.

— Pois é — ela respondeu cabisbaixa. — Mas eu acho que é o contrário, afinal você é quem está indo embora.

— Você sabe que isso não vai mudar o que eu sinto por você, não sabe?

— Sei, mas mesmo assim...

— Olhe que tal fazermos um pacto — ele sugeriu.

— Um pacto? — ela ficou confusa.

— É tipo uma promessa, só que mais forte.

— E que pacto seria esse?

— Bem, de nós nunca nos esquecermos independentemente do que aconteça com a gente daqui para frente.

— Me parece bom.

— E não é? — ele a viu esboçar um pequeno sorriso, ele sentira falta disso. — Agora me de sua mão — a menina obedeceu, Beto colocou a sua sobre a dela de forma que um segurasse o pulso do outro. — Eu Alberto, prometo nunca me esquecer de você Clarita, e prometo que um dia anda irei te reencontrar. Agora sua vez.

Clarita olhou para suas mãos e respirando fundo pronunciou seu juramento:

— Eu Clara, prometo nunca me esquecer de você Beto — ele sorriu — e prometo que ficarei esperando pelo nosso reencontro.

Eles soltaram as mãos e ficaram se olhando por um tempo. Beto sabia que talvez não pudesse cumprir sua palavra, mas também sabia que se tivesse a chance cumpriria.

Tudo havia se transformado em uma questão de crença e dependência de uma força maior que a vontade de duas crianças, uma força que poderia agir tanto a favor, tanto contra eles. Só restava torcer para que ela os ajudasse.


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Notas finais do capítulo

- É isso pessoal espero que tenham gostado e nos vemos no próximo capítulo :*