Interlúdio escrita por Lab Girl


Capítulo 3
Queda


Notas iniciais do capítulo

Chegando com um novo capítulo pra vocês. É muito bom contar com tanto incentivo, assim a autora aqui fica até mais motivada para escrever os próximos. Boa leitura!

* Música do Capítulo: Crush, Mandy Moore; recomendo ouvi-la a partir do ponto indicado no texto; abrir em uma nova janela para escutar sem sair da fanfic *



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Megan parou em frente ao espelho, pela primeira vez não para admirar seu corpo como sempre fazia, mas para observá-lo. Fazia exatamente um mês e dois dias que tinha feito o teste de farmácia. Logo depois, tinha ido ao médico e confirmado. E descoberto que estava grávida de dois meses.

Sua mão direita deslizou sobre a barriga coberta pelo blusão. Ainda era cedo para aparentar, mas curiosamente ela já se sentia diferente. Desde a descoberta, parecia que algo havia mudado dentro de si.

E, olhando-se no espelho naquele momento, ela de fato se via como outra Megan. Aquela que tinha feito de tudo para manter Davi a seu lado parecia uma outra garota, de uma outra vida. De repente, tudo isso tinha ficado tão distante… infelizmente, as consequência de seu comportamento não. Tinha consciência de que sua mentira havia minado a confiança de Davi, e essa era a principal razão por que estava adiando o inevitável - contar a ele que estava esperando um filho. A última coisa que queria era que ele pensasse que estava se aproveitando disso para tê-lo de volta.

Com um suspiro, deixou a mão que tocava a barriga cair, seus olhos fixos no reflexo de seu rosto. Ainda não havia contado sequer à mãe. Tinha dado uma desculpa qualquer a Pamela sobre o médico ter dito que estava com uma leve anemia por causa do estresse dos últimos acontecimentos em sua vida, o rompimento com Davi e a separação dos pais. Não tinha certeza se a mãe havia comprado a ideia, mas, por enquanto, ela não estava pressionando por maiores explicações.

Como ia fazer agora? Depois que Davi havia procurado por ela e feito as pazes, por assim, dizer, ele tinha deixado uma porta aberta. Mas ela temia que, ao contar a novidade, ele se fechasse em copas de novo, que a afastasse pensando se tratar de outro esquema seu para prendê-lo.

Mil pensamentos já haviam circulado por sua cabeça nas últimas semanas, mas nenhuma decisão havia se concretizado ainda. Não sabia o que era melhor, o que era o mais prudente. O que fazer era a pergunta que se repetia incansavelmente.

A única coisa que sabia era que precisava fazer alguma coisa, ficar trancada em casa não resolveria nada. Precisava ocupar seu tempo, sua cabeça. Foi então que as palavras de Davi na última visita dele a sua casa lhe vieram à lembrança. Ele não se importaria se ela voltasse à Brazuca.



~

Quando ele a viu entrar pela porta com um sorriso e uma bandeja de cupcakes, sem se dar conta, um sorriso surgiu em seu rosto.

“Megan?”

Hello, boys” ela saudou a ele e Ernesto, que estava sentado sobre a borda da mesa onde Davi digitava.

“Megan!” o amigo e futuro padrasto também abriu um largo sorriso, avançando para abraçá-la. “Mas que surpresa boa.”

“Espero que sim” ela disse, erguendo a bandeja com os bolinhos. “Trouxe pra nós.”

Virando-se para pegar a garrafa térmica com o café que Rita havia feito, Ernesto abriu espaço numa mesinha que ficava perto da área dos computadores. “Pra comemorar o retorno da filha pródiga” ele brincou.

Megan avançou até a mesa, deixando os cupcakes sobre ela enquanto Ernesto servia o café em três canecas. Foi somente quando ela se virou em sua direção e sorriu, tímida, que Davi foi arrancado da espécie de transe em que se havia inserido desde a chegada dela.

“Espero que gostem. Fui eu mesma que fiz” ela anunciou.

Levantando-se da cadeira finalmente, Davi se aproximou da mesa com os comes e bebes, fazendo cara de surpresa. “Sério? Isso eu tenho que provar.”

“Não sabia que você tinha dotes culinários, Megan” Ernesto estranhou com divertimento, pegando um dos cupcakes e levando-o à boca para uma mordida.

“Na verdade o Nacho me ajudou” ela confessou. “Mas eu bati a massa praticamente sozinha.”

“A mão?” Davi pegou um dos bolinhos.

“Na batedeira, of course.”

Davi não conseguiu disfarçar o riso. “Claro.”

“Hmmm” Ernesto murmurou, arqueando as sobrancelhas em grata surpresa. “Tá uma delícia!”

Really?” Megan questionou, esperançosa.

“Sério, tá bom mesmo” Ernesto avançou na bandeja, pegando outro cupcake.

Davi, curioso, mordeu o bolinho que tinha em mãos. Viu a expressão de Megan mudar na hora, como se entrasse em expectativa observando-o provar o doce. Ele sentiu a textura macia e o gosto doce do chocolate, e logo algo líquido e delicioso fez registro em seu paladar. Teve de se conter para não gemer ante o gosto delicioso do bolinho e do recheio.

“E então?” ela perguntou, ansiosa.

Ele esforçou-se para manter a expressão neutra, tentando fazer mistério. Inclinou a cabeça para o lado, balançou-a de leve, como se estudasse bem o sabor enquanto terminava de mastigar, o que somente a deixou mais aflita.

Damn, eu sabia. Ficou uma droga!” ela murmurou, a expressão murchando.

“Ei” Ernesto exclamou de boca parcialmente cheia, sem se importar nem um pouco com isso. “E a minha opinião? Não conta?”

“Você é suspeito. Está saindo com a minha mom” Megan retrucou.

Davi conteve uma risada, passando a língua pelos lábios melados. “É… acho que dá pra dar uma nota 6.”

“Só 6?” os olhos enormes de Megan o fitaram.

De repente, Davi sentiu algo estranho e quente no peito. A expressão dela era tão graciosa, quase infantil… teve ganas de tocar o rosto delicado entre as mãos. Mas percebendo logo que a encarava feito um bobo, limpou a garganta antes de tornar a falar.

“Acho que para uma cozinheira iniciante nota 6 está bom, não?”

Ela franziu os lábios num muxoxo. Dessa vez Davi não conseguiu ficar imune. Sorrindo, esticou o braço e tocou a ponta do nariz dela com o indicador, o que a fez franzi-lo e abrir um belo sorriso. E ele sentiu o coração dar um pequeno salto dentro do peito. Recolheu a mão, os olhos ainda sobre ela sem que conseguisse desviá-los.

O momento foi rompido por Ernesto, que tornou a se pronunciar, curioso. “E a que devemos a honra dessa visita com direito a guloseima e tudo?”

Megan desviou os olhos para o outro, rompendo o momento de conexão com Davi, que pigarreou mais uma vez, levando o cupcake que tinha nas mãos à boca, tentando ocupar-se e disfarçar o calor que sentia subir pelo pescoço.

“Resolvi aparecer pra fazer uma visita” Megan disse, “Mas também queria saber se ainda sou bem vinda no nosso projeto.”

Davi foi rápido em responder. “É claro que sim. Afinal, você também faz parte disso.”

Ela virou-se para ele, abrindo um pequeno sorriso.

Ernesto fez coro às palavras de Davi. “Claro, Megan! A Brazuca só existe porque você também foi responsável pelo nascimento dela.”

Thank you, boys” ela agradeceu com ternura na voz.

“Se você já tá pronta pra retomar a sua função na nossa startup, a gente anda precisando de mais divulgação” Davi informou.

“Podem deixar comigo. Já sabem que comunicação é a minha especialidade, right?”

Right” Davi se pegou sorrindo para ela enquanto a mirava e repetia a palavra no idioma dela.

Ernesto esfregou as mãos. “Então, já que você tá por aqui, Megan…vamo começar! Que tal? O Davi e eu, a gente tava mesmo tentando bolar uma nova campanha de captação de recursos antes de você chegar.”

Os três se reuniram diante da mesa do computador, começando a discutir ideias em torno do objetivo, e Davi não pôde evitar se lembrar da época em que se reuniam frequentemente para tentar tirar a Brazuca do campo das ideias e transformá-la em realidade. Ali, junto a Ernesto e Megan, ele sentiu-se como nos velhos tempos, não tão distantes assim, mas que pareciam ter passado tão depressa.

Meia hora depois, já estavam com uma campanha toda projetada e Megan sorria com as mil ideias que já estava pronta a colocar em prática.

Guys, eu prometo que hoje mesmo já começo a mexer os meus pauzinhos… é assim que se diz, right?”

Ernesto ergueu os polegares, sorrindo. “Certinho.”

Os três se aproximaram da mesinha com o resto do café e dos bolinhos. Distraidamente, Megan pegou um deles.

Davi sorriu, contente. “Ótimo. Que bom que você tá animada.”

Ernesto serviu-se de mais uma caneca de café, “E não tem como não ficar, animação é o segundo nome dela, não é mesmo, Meg-”

O resto da frase morreu na garganta de Ernesto ao erguer os olhos e vê-la abaixar-se, como se estivesse sentindo-se mal.

Megan não teve tempo de evitar, mal colocou o cupcake na boca, sentiu o estômago revirar. Dobrou o corpo por cima da mesinha de café, respirando fundo para conter a onda súbita de enjoo. O que conseguiu com sucesso. O que não pôde evitar, porém, foi a tontura que sentiu logo em seguida, e antes que pudesse tentar se equilibrar, tudo ficou completamente escuro.



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