A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 12
Confie


Notas iniciais do capítulo

Oi, Xenites! Vocês devem estar com saudades de momentos calmos na fanfic, aposto! xD

Esse capítulo é dedicado a linda, Helena Menezes, que irá começar a ler a fanfic esta semana, seja bem vinda!

Boa leitura à todos!



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A noite começava a trazer seus típicos ruídos, os sons dos animais noturnos se faziam mais presentes do que nunca e a brisa quente de verão dançava em um ritmo inconveniente, rebatendo sem piedade na carcaça da guerreira. Um leve tremor percorria o corpo de Xena, ela sentia seu rosto contra o solo gelado e sua cabeça pesar, latejar, gritar de dor. Com as mãos apoiadas na terra, a mulher se levantou. Ficou sentada no chão, tentando organizar seus pensamentos. Os guardas de César haviam vindo, mas ela derrotara todos eles, o que acontecera depois? O que eles queriam? Gabrielle! Sua mente gritou o nome da barda. Seus olhos correram pelo perímetro, nenhum sinal da jovem.

Em um ímpeto de raiva, Xena levantou-se bruscamente, ignorando sua cabeça latejante, e adentrou a floresta escura. Rapidamente ela chegou na caverna em que estavam instalados, seus movimentos foram mais cuidadosos, não queria assustar seu filho. Ela observou atentamente cada indivíduo dentro do lugar e ponderou o que poderia falar.

Ao fundo, Autolycus brincava com Solan de alguma coisa que ela não havia identificado, enquanto Joxer estava sentado perto da fogueira, apenas observando a lenha queimar. Somente o soldado percebeu a chegada da Princesa Guerreira no local, logo, ele levantou-se e foi até ela.

– Joxer. – Ela disse entre um suspiro e outro, tentando recuperar seu fôlego. – Preciso de um favor.

O homem percebeu o olhar angustiado de Xena, percebeu a inquietude nos gestos dela e um temor tomou seu corpo. O que teria acontecido?

– Onde está Gabrielle, Xena? – Sua voz era embalada por preocupação. – Aconteceu algo com ela ou com o bebê?

– Aconteceu sim. – A guerreira disse de maneira pesada, mais sem rodeios. – Eles a levaram, os guardas de César a levaram, Joxer.

– Pelos Deuses... – A respiração dele parou por um segundo.

– Preciso ir buscá-la. – Ela dizia determinada.

– Iremos juntos. – O homem afirmou, temendo que a guerreira fizesse alguma besteira enquanto estivesse de cabeça quente.

– Não. Preciso que fiquem aqui.

– Não, ela é minha amiga, Xena. – A mulher não estava surpresa com a coragem do homem, entretanto, ele era muito diferente do Joxer que ela conhecia na outra vida, este possuía o porte de um soldado e a garra de um leão, esse pensamento fez com que ela risse internamente. – Eu irei junto com você.

– Não, preciso que cuide de Solan e me prometa... – Ela o encarou, fazendo com que ele olhasse diretamente em seus olhos azuis. – Me prometa que se alguma coisa acontecer comigo no palácio, você o tirará de Roma o mais rápido possível.

– Mas, Xena...

– Me prometa, Joxer. – A mulher disse ainda mais firme.

– Eu... eu prometo. – Ele disse hesitante.

Em seguida, Autolycus percebeu a chegada da Imperatriz, assim como o garotinho de cabelos loiros, sem delongas, ambos foram de encontro a ela. Solan, porém, percebeu imediatamente algo de errado com a mãe, ele possuía uma vaga ideia do que ocorrera, mas não tinha certeza. Mesmo sem saber que ela lhe dera a vida, o pequeno parecia conhecê-la por mais tempo do que qualquer um naquela caverna e conseguia ver além dos olhos celestes.

O menino a olhou, tentando desvendar a profundidade da alma da guerreira, sentiu rapidamente a falta de Gabrielle e assumiu que algo havia acontecido com a barda. Se ele havia entendido bem, os guardas, os mesmos guardas que o mantiveram preso depois da morte de seu pai, haviam capturado a jovem e, se ele conhecia Xena tão bem quanto achava, a mulher iria atrás da amiga. Com os olhos marejados, ele perguntou:

– Você irá voltar para mim? – Sua voz infantil saiu ainda menor do que o de costume e cheia de angústia.

A preocupação do menino doeu no coração de Xena. Talvez fosse cedo para dizer que era amor, mas a guerreira sabia que seu filho, seu menininho, sentia algo por ela, algo realmente bom e verdadeiro. A Imperatriz abaixou-se, para ter uma visão mais clara do rosto de Solan, em seguida, sorriu, memorizando cada traço, cada linha oculta da face do garotinho espoleta que era dono do mesmo par de olhos azuis que ela. A mulher, que possuía cabelos tão negros quanto o ébano, sabia a verdade, ela nunca deixara de ser mãe de Solan, nem mesmo por um segundo.

– Eu estarei sempre com você, Solan, não importa o que aconteça. – Ela depositou um beijo quente, cheio de amor na testa do pequeno. – Trarei Gabrielle de volta, tudo bem?

Ele acenou positivamente com a cabeça. A Imperatriz fitou Autolycus, que estava um pouco perdido, contudo muito preocupado e logo em seguida fitou Joxer. Os olhos suplicantes da guerreira informavam a ele seu dever: Cuidar de Solan e contar tudo ao amigo.

Dias antes deste fatídico dia, o Rei dos Ladrões havia levado uma égua para ela, não o velho cavalo de Joxer, mas uma linda e esbelta égua com crina branca e pelos dourados, Solan havia escolhido o nome para tão formoso animal e a escolha parecia se encaixar perfeitamente para ela, Argo, um nome curto, fácil de pronunciar e muito bonito.

Xena, então, subiu em Argo e partiu. Ela redesenhava os traços do rosto de Solan em sua mente, imaginava o lindo verde dos olhos de Gabrielle colorindo a estrada escura e sentia o gosto doce dos lábios de sua amada ainda tão vívido em seus próprios lábios. A Princesa Guerreira sabia onde deveria ir, conhecia bem o caminho para tão perigoso lugar.

Um dia de viajem foi o necessário, mais poucos quilômetros e ela estaria no castelo do Imperador, o castelo que um dia servira de casa para ela. Entretanto, sua primeira parada não era o palácio do grande Júlio César, sua primeira parada era o templo do Destino, ela precisava conversar com as três parcas.

Uma fina chuva se iniciou quando ela chegou em frente ao lugar, contudo, antes mesmo que a capa de Xena pudesse molhar, a mulher se abrigou no templo. Ela retirou o manto marrom de suas costas e ficou apenas com a blusa azul e com as calças pretas que havia emprestado de Autolycus. Uma rajada forte fez com que o lugar inteiro se clareasse, o que também alertou a Imperatriz de que ela precisava ser mais rápida.

Xena adentrou o local sem muitas delongas. Seus olhos percorriam cada pilastra, cada viga, cada janela do templo, eles só pararam, no entanto, quando se encontraram com o tear do destino. As linhas formavam uma obra abstrata, tão sem nexo quanto qualquer pergaminho escrito por Bell, o bobo da corte. Luzes sem vida brotavam de lugares inexistentes, sons desconhecidos se misturavam com gritos de pavor.

A Imperatriz estava hipnotizada com a visão horrenda, porém, algo a mais chamou sua atenção. As parcas, elas não estavam fiando o tear. A guerreira não demorou a encontrá-las, presas a uma parede, as três mulheres gemiam de dor e cansaço.

Xena correu até elas, um olhar de terror tomando o seu rosto. Tentou retirar as correntes, contudo, não obteve sucesso.

– Quem fez isso com vocês? – Indagou impaciente.

– César. – As três sussurraram.

– O que foi que ele fez? – Ela tentou outra vez retirar as correntes. – O tear está tão bagunçado que eu não consigo ver a mim mesma nele.

– O Imperador mudou o destino. – A mulher que representava o futuro falou.

– E, se eu soltar vocês, tudo volta ao normal? – Mais uma vez ela puxou as correntes, entretanto, de nada adiantou.

– O único modo de nos libertar é matando o Imperador. – A mulher adulta continuou.

– Então, eu farei isso. – Disse determinada.

– César pagou um preço por ter mudado o destino, guerreira. – A menina, a terceira e mais nova parca, falou com cuidado. – Ele teve o fio da vida dele interligado ao fio da vida de seu maior inimigo.

– Eu? – Xena estremeceu ao perceber o que aquilo significava.

– Ele acredita que sim. Por isso a prendeu na torre, para ter certeza de que estaria viva, de que estaria salva. – A senhora voltou a falar.

– Então, se eu matá-lo, eu morrerei também? – Um calafrio percorreu a espinha dela.

– O fio da vida de César...

– ...está ligado...

– ... ao de seu maior inimigo.

As três fiandeiras retornaram a falar.

– Tem alguma maneira de anular essa condição?

– Se a pessoa que tem o coração de César morrer...

– ... a maldição será rompida.

Elas narravam sem vida, em um ritmo vicioso e com um vazio nos olhos apavorante.

– E quem seria esta pessoa? Que ele mais ama? – A Imperatriz perguntou um pouco alterada, sem paciência.

– Aquele que representa um futuro. – A anciã disse.

– Aquele que cuidará de Roma.

– Aquele que ainda não nasceu. – A menina contou com um pesar na voz evidente.

O filho de Gabrielle. Percebendo que não conseguiria mais informações e que não podia fazer nada para ajudar as três mulheres, Xena saiu correndo, montou em Argo e rumou para o castelo. Pedia aos Deuses para a criança ainda estar no ventre de sua amiga, ela realmente não confiava em César e morria de medo do homem matar o próprio filho para livrar-se dela, apesar de achar que ele era covarde o suficiente para não tomar tal atitude.

Os respingos da chuva ricocheteavam no rosto da guerreira e os galhos das árvores arranhavam a pele macia, a égua estava cavalgando tão rápido, que parecia entender a urgência da situação. Ao chegar à frente do palácio, Xena encontrou mais de cinquenta soldados em seus postos guardando a entrada do local. Com uma atitude súbita e arriscada, a mulher amarrou Argo em uma árvore nas proximidades e saiu de trás dos arbustos.

Imediatamente, todos os homens apontaram suas lanças na direção da Princesa Guerreira.

– Não se preocupem, eu vim me entregar. – Ela ergueu as mãos em sinal de rendição.

Todos os soldados se olharam, sem entender o que acontecia. Cinco deles vieram e prenderam os braços da morena para trás.

– Só peço uma coisa, me deixem ter uma palavra com o vosso Imperador, gostaria de contar o motivo de minha rendição.

Os homens acenaram com a cabeça e apertaram ainda mais a corda nos pulsos de Xena. Caminhando pelos corredores do castelo, nada lhe parecia familiar. Diferente dos olhos de Gabrielle, que a levavam para casa, este lugar que realmente já fora a sua casa um dia, só trazia más recordações. Ao chegar à sala do trono, ela precisou esperar alguns minutos até a chegada de César, logicamente, os guardas não a deixaram sozinha por nenhum segundo sequer.

O Imperador chegou logo, no entanto, trouxe Alti com ele, que possuía uma raiva inconfundível nos olhos, ela queria o trono e Xena sabia disso. Júlio César possuía um ar de debochado, uma postura extremamente correta e um sorriso irônico no rosto. A Imperatriz desviou sua atenção, entretanto, pois gritos foram ouvidos por ela, uma voz tão conhecida por ela ecoava pelo castelo. Estaria Gabrielle em trabalho de parto?

– Nós podemos fingir que você se rendeu apenas porque cansou de brincar, ou podemos ir direto ao assunto. –Ele quebrou o silêncio.

– Quando éramos casados você não parecia me conhecer assim tão bem.

– Nós ainda somos casados, minha Imperatriz. – Ele desce um degrau, enquanto Xena aproveitou para encarar Alti neste momento e descobrir sua reação. – Até que a morte nos separe.

– Mas, você me ama tanto que preferiu ficar comigo até depois da morte, meu Imperador. – Disse com desgosto as duas últimas palavras. – Uniu nossos fios da vida.

– Você descobriu? – Ele disse sem mostrar muita surpresa. – Pois sim, você e eu estaremos sempre ligados, isso é até um pouco poético, não acha? Daria um excelente romance no palco.

Xena revirou os olhos e se surpreendeu com o gesto, depois de tudo, ela ainda possuía algumas características da Princesa Guerreira da outra vida. Contudo, rapidamente voltou ao seu foco inicial.

– Na verdade, isso pode estar muito próximo de acontecer, mais próximo do que você imagina.

O coração de César começou a pulsar de maneira descompensado, um ritmo quente e acelerado. A mente dele tentava não demonstrar medo, mas os olhos dele gritavam o contrário.

– O que você quer dizer com isso? – A voz saiu entrecortada.

Outro grito de Gabrielle foi ouvido, enchendo o coração da Imperatriz de angústia. Tentando se concentrar na barganha, Xena respirou fundo.

– O que eu quero dizer é que: sem o antídoto, você e eu morreremos.

– Antídoto? Você não seria capaz de... – Mais pavor o tomou ao perceber o que acontecia, Xena havia envenenado a si mesma.

– Por Gabrielle eu seria capaz de muito mais, você sabe disso. – A guerreira disse determinada.

O Imperador olhou para Alti, procurando uma resposta, como uma criança pede instruções para mãe. A xamã, no entanto, apenas balançou a cabeça em negativa, sem uma alternativa para dar ao seu consorte.

– Diga seu preço. – O homem engoliu em seco.

Com um sorriso sarcástico, Xena pediu para os guardas soltarem seus braços, logo um deles tomou a frente e arrebentou a corda com uma adaga.

– Gabrielle. – Com os pulsos libertos, a guerreira falou rapidamente.

– Você sabe que não pode tê-la. – Ele rosnou. – Ela ainda não me deu o que é meu por direito.

– Por direito? Você a obrigou, César! – Ela cuspiu as palavras. – Ela não queria isso, não merecia nada disso. Sua luta é comigo, não com ela.

– Se ela não queria, não deveria estar tão relutante em dar a luz ao filho de Roma e me entregá-lo.

– Ao filho de Roma? – Desgosto embargava a voz de Xena

– Esqueça não poderá tê-la. – Ele tentou dar a última palavra.

– Você pode ter a criança, eu não me importo, só quero Gabrielle. – A mulher respondeu, mantendo uma aparência séria, escondendo bem suas reais intenções.

Os olhos de Júlio César se arregalaram, sua Imperatriz realmente parecia estar falando a verdade. Ele, mais uma vez, fitou Alti e viu o olhar de aprovação no rosto dela.

– Ela irá gostar da sua presença durante o parto. – Disse casualmente.

– Então, temos um acordo?

– Por Tártaro, temos um acordo.

Com um sorriso, o homem apontou o caminho para Xena e a guiou através do castelo em direção a sua alma gêmea.


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Notas finais do capítulo

Então, ideias? Alguém tem algum palpite do que irá acontecer agora? E o bebê? O parto já é no próximo capítulo, o que estão esperando? Comentem, me deixem ver suas opiniões e dúvidas!

Até o próximo capítulo!



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