Experimento Vermelho Sangue escrita por Bolinha Roxxa


Capítulo 9
Bônus - Alfie


Notas iniciais do capítulo

Como prometi, o bônus... bônus, onus, onus...
Entendam, é o eco, já que eu acho que estou falando com as paredes...
Enfim, se por algum milagre ainda tenha gente lendo, por favor aproveite.



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Fazia tanto tempo que o garoto não dormia daquela forma, que quando o fez sentiu que poderia ficar ali para sempre. Desta vez ele não estava em uma cadeira, mas sim em uma simples cama com colchão, lençol e travesseiro. Pela primeira vez em muitos dias que ele não sonhava com a sua falecida mãe, pois naquele sono não havia nenhuma imagem de seu subconsciente. Tudo era escuro, e apesar disso ele pareceu estar agradecido. Só foi perceber que realmente estava quando acordou e abriu as pálpebras de forma lenta. Seus olhos fitaram o quarto em que permanecia, e por um momento ele esqueceu que era um prisioneiro junto de seus irmãos.

Alfie se levantou e jogou as pernas para fora da cama, permanecendo sentando enquanto esfregava os olhos com as palmas das mãos. Ele finalmente olhou ao redor e não conseguiu segurar um sorriso ao perceber que aquele lugar era muito melhor do que todos os quartos que tivera em sua vida inteira. O local não tinha aquele aspecto metálico que todo o ambiente de lá possuía, porém ele era reconfortante.

O garoto foi coçar a sua nuca, contudo ao fazer isso os seus dedos sentiram o grande chip grudado firmemente em sua pele. Alfie sorriu ao lembrar e perceber que não havia acontecido as coisas estranhas enquanto estava dormindo. Ele exibiu os dentes brancos em um riso orgulhoso. Aquela mulher dissera que aquele chip iria ser o bloqueador noturno do garoto, para que ele não desaparecesse no meio da noite. Entretanto ele não havia precisado, Alfie teria acordado se tivesse acontecido.

No momento em que ele se preparava para levantar, a porta se abriu de modo automático, exibindo quatro militares altamente armados. O garoto os encarou enquanto adentravam de maneira disciplinada no quarto e permaneciam na porta. O homem da frente deu um passo em adiante e retirou o capacete que lhe cobria a face. Alfie se levantou no mesmo momento com um sorriso no rosto e exibiu os seus incríveis músculos descobertos. O militar era um homem belo por volta de seus trinta anos, que possuía olhos castanhos claros e cabelo negro.

O garoto deu uma boa olhada nele, analisando-o de cima a baixo com um sorriso maroto nos lábios. Contudo, o militar não exibiu nenhuma expressão de desconforto, para a infelicidade de Alfie.

– Prepare-se. A diretora quer vê-lo em uma hora. – ele murmurou. –Ela mandou dizer que os testes estão encerrados por tempo indeterminado, e agora se inicia a fase dos treinamentos.

Logo depois de falar aquilo o homem retornou a colocar o capacete e ordenou a retirada dos outros militares. Eles deixaram o quarto e Alfie para trás, que não soube exatamente o que fazer. O jovem ficou parado em frente a sua cama enquanto olhava a porta se fechar automaticamente.

– Treinamento... – ele sussurrou para si mesmo.

As palavras da mulher que ele ainda não sabia o nome preencheram a sua mente; eles eram apenas empregados, soldados O garoto lembrou-se de toda a cena que havia acontecido um tempo atrás com seus irmãos e sentiu algo ruim dentro de si. Ela queria eles, queria as suas habilidades ainda inaptas.

Alfie cerrou seus punhos e tentou controlar a sua raiva. Mesmo que ele soubesse dominar as suas habilidades, ainda não poderia fazer nada. O garoto desviou o olhar para os dois braceletes em seus pulsos. Eles teriam mesmo toda aquela capacidade de quebrar os seus ossos e o envenenar? Alfie fechou os olhos. Talvez algum dia ele conseguisse de algum jeito contornar aquela situação, com as suas habilidades...

O garoto abriu as pálpebras de maneira rápida ao pensar naquilo. Sim, com minhas habilidades. Ele pensou com um sorriso brotando em seu rosto. Este é o único modo que eu possa fazer algo. Entretanto, ele não sabia domina-las, e muito menos quais suas limitações. Inferno, eu nem sei exatamente como defini-la. Apenas eles sabem.

Então Alfie se decidiu; ele faria tudo o que lhe pedissem de livre espontânea vontade, assim como esperava que seus irmãos fizessem. Aquele era o único jeito de conseguir sair dali. Além disso, ainda havia o homem que assassinara a sua mãe. O garoto não podia deixar aquilo impune, e pelo o que se lembrava, a mulher havia falado a ele que possuía este homem em seu poder. Falou também que Octávio aceitou em fazer o que ela mandara se conseguissem finalmente matar o homem.

O garoto sorriu e sentou-se em sua nova cama. Esperaria pela uma hora até o treinamento.

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Assim como falaram, os militares retornaram em exatamente uma hora para buscar o garoto. Seus olhos verdes deslizavam de uma coisa para outra, visualizando e absorvendo tudo o que podia em sua mente. Ele se perguntava como seria aquele “treinamento” que eles definiram, e se as mesmas coisas estavam acontecendo com os seus irmãos.

Alfie seguiu em frente junto com os militares. Eles percorreram vários corredores, apesar de todos parecerem os mesmos. Apenas pararam quando chegaram a uma porta maior que o usual daquele lugar. O garoto a analisou com cuidado e então ela se abriu de repente, exibindo o belo lugar que havia por dentro. Os soldados empurram-no com as armas em direção a enorme sala branca, e a única coisa que Alfie fez foi obedecer de modo boquiaberto.

O local era totalmente branco e possuía mais de dois andares de espaço livre. Havia um enorme vidro protetor que dividia o espaço onde ele estava do lugar onde a senhorita permanecia. Após longos segundos observando a vasta sala, Alfie percebeu que a tal mulher estava acompanhada. Ao seu lado havia vários senhores de idade com pranchetas e canetas nas mãos que anotavam cada movimento do garoto. Ele sorriu de modo malicioso para eles, o que pareceu deixar sem jeitos os homens. O jovem sorriu ainda mais e então desviou o olhar para a mulher. Como eu gostaria de saber o nome dela. O garoto pensou ao vislumbrar a sua face inexpressiva.

Alfie foi deixado sozinho dentro da sala, sendo observado por todos através do vidro. Ele permaneceu no centro, esperando pelas ordens e indicações da mulher.

– Obrigada por concordar vir aqui de boa vontade, Alfie. – o garoto apenas abaixou levemente a cabeça, em sinal de reverência. – Hoje iniciaremos o treinamento de habilidades com você, e espero que você colabore com isso.

– Eu quero isso tanto quanto você. – ele respondeu. – Talvez as minhas noites melhorem.

Ela não respondeu nada, apenas murmurou um “huum” com os lábios fechados e então se virou para um homem sentado em frente a um computador ao seu lado. Seus olhos permaneceram lá por uns segundos, ela falou algo, contudo Alfie não ouviu, pois as caixas de som não produziram a voz. O garoto aproveitou e desviou o olhar pelo lugar mais uma vez, parando na mesa – também branca – que havia no canto. Sobre ela havia um tipo de capacete que possuía vários eletrodos ligados por fios e mais fios. Aquilo o lembrou dos testes, então ele engoliu em seco e voltou a olhar para a mulher atrás do vidro.

– É bom saber que também quer isso, - ela voltou a falar. – mas apenas para o caso de você ter esquecido, eu lhe aconselho a não tentar nada. Lembre-se que quando o seu bracelete é acionado, os de seus irmãos também são. Então siga todas as minhas ordens de forma submissa, caso contrário...

Ele não a deixou terminar.

– Sei, sei. Ossos quebrados, venenos e sangue. To sabendo de tudo isso.

A mulher assentiu.

– Vá até a mesa, Alfie.

O garoto olhou da mesa para a mulher.

– O que eu preciso fazer?

– Ir até a mesa.

Ele revirou os olhos e andou até ela. Antes de se aproximar ele deu mais uma olhada nos braceletes em seu pulso. O garoto fechou seu punho com força.

– Coloque o capacete em sua cabeça. – Alfie hesitou por um momento, contudo o fez. – Para que você saiba, basicamente este capacete irá produzir descargas elétricas no seu córtex motor do hemisfério direito, tentando reproduzir o efeito que ocorre quando você dorme. Ainda não temos certeza, contudo achamos que isso pode ajuda-lo na hora de lidar com o teletransporte.

No momento em que ela disse isso o garoto ergueu o rosto e a fitou um tanto surpreso. – Então é isso? Essa é a minha habilidade, o teletransporte?

A mulher o encarou por um momento, sem expressar nada.

– Pensei que você já soubesse. – ela disse. – Antes de captura-lo, nós presenciamos várias noites você acordar em diferentes lugares.

– Sim, é verdade. – ele murmurou um tanto desgostoso. – Mas nunca pensei que fosse isso. Poderia ser qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. A primeira coisa que pensei era sonambulismo!

Ela não respondeu nada, apenas franziu levemente o cenho.

– Uau, teletransporte! – ele sorriu. – Nunca pensei.

– Alfie! – a mulher chamou sua atenção e ele se calou rapidamente, olhando para ela. – É importante que você guarde a sensação em sua memória, para que depois você consiga repeti-la sem os eletrodos. Entendeu?

– Uhum.

– Entendeu? – ela questionou com o tom da voz mais forte.

– Sim, senhora.

Ele sorriu para ela, que permaneceu do mesmo modo que antes.

– Fique calmo. Tente pensar no lugar para onde você quer se teletransportar, ou seja, para o outro lado desta sala. Se achar melhor pode ser para o seu quarto. E não se esqueça. – a mulher se aproximou do vidro. – Não importa para onde você for, ainda temos o controle dos braceletes. Permaneça mais de quinze segundos fora e iremos aciona-los. Pode falar conosco pelo capacete se não conseguir de imediato voltar, e então ligaremos mais uma vez as descargas elétricas.

O garoto apenas assentiu, absorvendo todas aquelas informações.

– Certo, então iremos ligar.

Alfie se preparou. Ele fechou fortemente os olhos e então esperou pelo choque em sua cabeça. Enquanto pensava se iria doer muito, a carga elétrica foi acionada. Primeiramente a sensação de vibração começou apenas na sua cabeça, porém ela foi começando a se espalhar por todo o seu corpo. O garoto sentiu o seu coração acelerar e sua respiração aumentar. Ele nunca havia presenciado aquela sensação em sua vida, era uma mistura de dor e prazer ao mesmo tempo. Alfie abriu seus olhos o máximo que pôde e se lembrou do que a mulher havia dito. Precisava pensar em um lugar. O garoto quis pensar no outro lado da sala, ele quis pensar no seu novo quarto, mas nada disso se passou pela sua cabeça. A única coisa que ele pensou e lembrou foi em sua mãe...

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Lá estava ele; sozinho, perturbado, com o coração acelerado e os olhos assustados. Ele sentia que o coração iria pular pela boca, enquanto todos os órgãos mudavam de lugar dentro de si. Alfie se ajoelhou pela dor e então finalmente fitou o lugar em que estava. Seus olhos verdes encaram o pobre e medíocre túmulo em sua frente, que aparentemente já conseguira se sujar pelo tempo. Ele ouviu um gato miando em uma senhora chorando de longe.

Merle Carvalho, uma grande mãe dizia o túmulo.

Lá estava ele, junto de sua querida mãe. Ele fitou com intensidade aquele lugar. A última vez que viera até ali fora há duas semanas, quando ainda não tinha sido pego.

– Alfie! – ele ouviu uma pequena voz perto de seu ouvido, então percebeu que ela vinha do capacete. – Alfie, responda, onde você está?

O garoto não conseguiu falar nada, pois ele apenas tinha olhos para a sua mãe, que permanecia enterrada como antes. Ainda havia as flores que ele e seus irmãos deixaram lá. O jovem questionou como ele podia ter deixado a mulher que mais amava morrer de uma forma estúpida. Ele deveria ter estado lá para ajuda-la. Contudo, não estava.

– Alfie! – ele ouviu mais uma vez, entretanto ignorou.

Ele poderia ter ficado ali por anos, apenas encarando o túmulo de sua mãe e sentindo como se ela estivesse ali com ele para poder debater. Ele poderia, se não tivesse começado a sentir dor em seus pulsos.

Ele gemeu de dor e se levantou com pressa, sentindo os braceletes apertarem o seu pulso.

– Ei, ei, ei. – ele disse apressado. – Eu não consigo voltar. Vocês precisam fazer alguma coisa!

No mesmo momento ele retornou a sentir as mesmas vibrações em seu corpo. Seu coração voltou a palpitar e até mesmo a sua alma tremeu. Aquela dor retornou, e ele sabia o que precisava fazer. Porém antes ele olhou mais uma vez para o túmulo de Merle e murmurou um “desculpas” desgostoso.

Alfie fechou os olhos e pensou no lugar. Os seus pulsos estavam começando a arder de dor, entretanto ele se concentrou onde queria ir e então sentiu o apagão. Todo o seu corpo tremeu e parou por um simples segundo.

Quando o garoto abriu as pálpebras, a primeira coisa que vislumbrou foi um par de olhos cinzas que o encarava. Todos os homens dentro daquela pequena sala se assustaram pelo barulho e movimentação, afastando-se o máximo que conseguiram. Porém, a mulher em sua frente permaneceu parada, olhando para o garoto de forma séria. Ele podia sentir a respiração dela em sua pele. Os seus pulsos continuaram a doer.

– Pode desligar isso?

De repente o aperto do bracelete parou, e então começou a alargar mais uma vez. O garoto suspirou e sorriu. Alfie começou a rir e depois levantou a cabeça, olhando para baixo para fitar a mulher nos olhos. Os dois estavam muito perto um do outro.

– Satisfeita? – ele questionou com o sorriso, fingindo que nada acontecera lá.

– Um pouco. – ela respondeu. – Mas precisa melhorar.


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Notas finais do capítulo

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