Experimento Vermelho Sangue escrita por Bolinha Roxxa


Capítulo 6
Enzio


Notas iniciais do capítulo

Ok, ok... Eu sei que demorei, gente, foi mal :( mas é que eu não consegui terminar no fim de semana, e quando eu não termino no fim de semana eu demoro a outra semana inteira para terminar. :P
Eu quero agradecer imensamente para a garotinha Laurinha 120, que tem comentado em todos os caps. Seus comentários fazem meu coração feliz.
Espero que gostem do capítulo que demorei duas semanas, por isso deu 4 mil palavras, me perdoem... Ele vai ser a apresentação de Enzio, um personagem muito estimado pela minha pessoa.
Qualquer erro... ;)



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No rosto duro e divertido de Enzio, o suor se misturava com sangue. Seus músculos estavam contraídos e seus punhos estavam cerrados e levantados. O jovem de dezoito anos dava leves passadas enquanto encarava o oponente em sua frente, que fazia o mesmo. Os intensos olhos azuis do garoto fitavam o outro com atenção, causando certo desconforto ao menino, que tentava ao máximo disfarçar isso.

Enzio era um garoto grande, de quase dois metros de altura, com músculos bem desenvolvidos, e feições duras. Sua pele era macia e levemente branca, não contendo nenhum fio de cabelo em seu peitoral suado e exibido. Seus olhos cor de gelo eram frios, porém seu sorriso era alegre e espontâneo.

Muitos que visualizavam o sorriso divertido em seu rosto nas horas da luta acreditavam fielmente que ele era assim o tempo todo, contudo se enganavam. Enzio vivia para lutar, e quando não estava fazendo isso, ele se sentia incompleto, como se uma parte dele não estivesse no devido lugar.

Um fio de sangue começou a escorrer da boca do jovem, e ele o limpou com o punho, esboçando um leve sorriso para o garoto em sua frente. Andie era o felizardo que lutava com Enzio naquela noite, apesar dele não se sentir assim. Enzio nunca havia perdido nenhuma luta desde que começara com aquilo, e ele esperava carregar esse título de vencedor por mais um bom tempo.

O menor avançou em direção do outro, tentando ser rápido o bastante de conseguir atingi-lo sem sofrer nada. Seu punho duro e ossudo atingiu o queixo de Enzio com força, que recuou levemente para trás. Após do doloroso golpe, ele voltou o rosto para frente. O garoto encarou o outro em sua frente com um largo sorriso, sentindo o fogo da vitória queimar dentro de si. Era hora de atacar. Seus olhos estavam em chamas. Enzio apertou os punhos e foi em direção ao menino, que pareceu ficar ainda menor do que já era.

Geralmente o garoto começava a bater em seu oponente até ele desmaiar ou até os outros retirarem ele a força, contudo desta vez fora diferente. Com apenas um soco no rosto do jovem, Andie foi jogado para trás com força e caiu no chão, de maneira inconsciente. Os gritos da multidão ficaram mais altos ao perceberem o rápido e imprevisível nocaute. Por um segundo Enzio ficou surpreso, entretanto logo um sorriso brotou de seus lábios ao ouvir seu nome sendo gritado. O garoto deixou seus olhos azuis deslizarem pelo lugar, observando as pessoas aclamando por ele. Enzio se sentiu poderoso ao ver aquilo, ignorando completamente os homens que apareceram para retirar Andie da pequena roda que estava formada entre ele.

No meio da noite, quando a lua cheia já estava no céu, Enzio se encontrou com Martin para receber o dinheiro do dia. O loiro estava com o peito estufado e o lábio levemente machucado quando o mais velho apareceu.

– Você está tirando o dinheiro de todos eles. – o homem murmurou com um sorriso malicioso no rosto, entregando notas de cinquenta em suas mãos. – Espero que algum dia você use sua habilidade para fazer algo que preste na vida. Não aguento mais ver você nesta espelunca sem futuro.

O mais novo sorriu com as palavras do outro, exibindo dentes incrivelmente brancos.

– Talvez um dia... – ele falou. – Mas enquanto isso eu permaneço aqui. É graças a esta espelunca que minha mãe e irmãs podem comer à vontade.

Os dois se afastaram, ambos com sorrisos nos rostos, e seguiram o caminho. Enzio adentrou na escuridão da noite e começou a caminhar com calma em direção á sua casa. Seus passos eram longos e lentos, como se ele não se preocupasse com o perigo eminente que havia em cada beco silencioso e escuro por qual passava. O garoto colocou a mão dentro do bolso de seu casaco azul e retirou de lá um maço de cigarros com um isqueiro. Enzio parou por um segundo para abrir o pacote e ascender um cigarro. Ele voltou a andar quando levou o cigarro até a boca e deu uma tragada profunda, sentindo a nicotina adentrar em seu organismo de maneira prazerosa. O garoto soltou a fumaça pela boca, sentindo toda a onda de prazer ir embora por um momento.

Enzio continuou a andar daquela maneira, sem se preocupar se na manhã seguinte ele teria uma importante prova para fazer de matemática. Infelizmente o garoto ainda continuava na escola, porém ele não se importava muito com aquilo; ele era feliz lá, e não gostaria de sair tão cedo.

O jovem teria continuado a andar até sua casa se não fosse pela movimentação estranha atrás de si acompanhada por um barulho. Enzio se virou no mesmo momento, tentando saber o que seria aquilo. O garoto não avistara nada demais, tudo estava como antes; a rua estava escura e nenhum carro passava por ela, a calçada vazia, com exceção de um grupinho de garotos muito longe dali, e os becos continuavam silenciosos.

Enzio retornou a olhar para frente e continuou a andar, ignorando aquele acontecimento. O jovem teria conseguido, entretanto algo o fez parar. O toque afiado e mortal de uma faca prensava o casaco azul escuro do garoto em sua pele.

– Passa tudo o que tem. – uma voz ligeira ecoou em seu ouvido.

O garoto ficou imóvel ao ouvir aquelas palavras. Suas expressões duras franziram, deixando a sua testa ficar enrugada. A única coisa que fez foi deixar o cigarro em sua mão cair no chão, sendo, logo em seguida, esmagado pela sola do sapato de Enzio.

– Não me ouviu? – o homem empurrou a faca de encontro com o garoto, machucando-o. – Me entrega tudo o que tem, ou vai virar churrasquinho de gato!

As expressões sérias de Enzio sumiram, dando lugar para um sorriso sem mostrar dentes e um olhar intenso. O jovem apertou o seu punho, e então de modo rápido e inesperado ele se virou em direção ao homem atrás de si, batendo com força na mão firme e magra do assaltante. A faca voou longe, caindo no meio da rua com um barulho metálico.

O garoto sorriu com os punhos já levantados para o homem em sua frente. Ele não teria mais do que trinta anos, porém a sua barba por fazer o envelhecia mais do que esperava. Seus olhos eram castanhos claros, brilhando na escuridão daquela bela noite, e seus cabelos negros estavam cobertos pela toca que o homem utilizava em sua cabeça. Enzio notou um brilho de surpresa em seu olhar, sendo trocado por um brilho de raiva. Sem paciência, e agora com raiva do jovem que o enfrentara, o homem colocou a mão em seu quadril e retirou de lá uma pistola 380, que apontou imediatamente para o garoto. Enzio ficou parado ainda com os punhos no ar, porém desta vez expressando uma feição séria. Lentamente ele ergueu as mãos para o alto, em sinal de rendição.

– Quem é o machão agora?! – o homem questionou, ainda com raiva, fazendo os seus olhos brilharem. – Agora passa toda a porra do dinheiro se você não quiser levar bala na cabeça.

De modo lento, Enzio fez sinal de que iria pegar o dinheiro em seu bolso, e enquanto fazia isso, seus olhos azuis fitavam intensamente o assaltante em sua frente. Percebeu que o homem estava meio trêmulo, talvez estivesse com um pouco de medo de fazer aquilo, ou provavelmente estava em abstinência. No momento em que o garoto iria retirar as coisas de seu bolso da calça, ele jogou as suas fortes mãos em direção à arma de fogo. Sabia muito bem que fora arriscado, contudo ele conseguiu tirar a pistola de sua direção antes que o homem apertasse o gatilho. A arma foi disparada, e a bala atingiu de raspão o braço esquerdo de Enzio. Assim como a faca, a pistola também fora jogada em direção á rua, quicando de modo desajeitado pelo asfalto.

O assaltante olhou para a arma no chão, e quando desviou o olhar para Enzio a única coisa que viu foi um punho vindo em sua direção. O garoto derrubou o homem com apenas um soco, e logo em seguindo se jogou no chão para continuar batendo nele. O jovem lançava socos de direita e esquerda no rosto do assaltante, sentindo o sangue espirrar em sua roupa e rosto. Apesar do homem já se encontrar inconsciente, Enzio não parou de desferir golpes contra ele, e apenas resolveu parar quando seus músculos e punhos começaram a doer e se cansar.

A respiração do garoto estava rápida e intensa quando ele se levantou e admirou o que havia feito. Quando observou o homem caído com dentes quebrados, olhos e boca inchados e sangue por toda a sua face, Enzio finalmente percebeu o que havia feito. O menino recuou alguns passos e encarou o estrago em sua frente. Levantou as suas mãos e fitou os punhos machucados.

Eu já fiz isso milhares de vezes. Ele pensou desesperado. Por que desta vez parece ser tão errado? Enzio fechou os olhos com força e chacoalhou a cabeça. O garoto saiu do lugar de modo rápido, deixando o homem lá. Ele chegou a sua casa mais rápido do que esperava, e deu graças a Deus de não ter encontrado nenhuma de suas irmãs acordadas. Não queria que elas o vissem daquele jeito.

O garoto foi direto para o seu pequeno quarto, e se jogou em sua cama ainda com roupa e sapato. Demorou muito para dormir, mas quando assim o fez, caiu em um sonho conturbado.

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Enzio... O garoto conseguiu ouvir o seu nome sendo chamado, contudo não sabia de onde vinha aquela bela e suave voz. O grande menino estava envolto de uma forte neblina, que o impedia de conseguir enxergar qualquer coisa. Enzio. A voz retornou a falar. Ele se virava de um lado para o outro, tentando procurar a dona daquele som. Passou um tempo até ele finalmente perceber que a voz estava dentro de sua mente, fazendo o garoto ficar mais desorientado do que já estava.

– O que você quer? – ele questionou de modo autoritário para ninguém em especial.

Enzio... Aquela voz... Tudo aquilo estava dando dor de cabeça, e piorava cada vez mais quando ela o chamava. O garoto colocou as mãos em sua cabeça no momento em que a dor começava a ficar insuportável. Seus joelhos tremeram e acabaram cedendo pelo peso. Enzio caiu de quatro, com uma mão segurando a sua cabeça com força.

No exato instante em que pensou que iria desmaiar, toda a dor que sentia evaporou de seu ser, e a única coisa que conseguiu sentir foi uma mão em seu ombro. O garoto olhou para o chão em sua frente e encontrou um par de sapatos. Ele foi levantando o seu olhar até encontrar uma mulher de olhar penetrante.

Enzio caiu para trás ao vislumbra-la, contudo foi acudido pela mesma, que se sensibilizou pela queda. A senhora possuía longos cabelos vermelhos e olhos incrivelmente dourados, que traziam uma sensação de conforto. Sua pele era marcada por poucas linhas de expressões, e suas mãos eram duras e firmes. Ela trajava uma roupa inteiramente negra, tendo grande contraste com o seu cabelo ruivo e lábios rosados. Apesar de não se sentir atraído por ela, Enzio possuía uma estranha sensação quando a encarava nos olhos. Era uma boa sensação, como se ela fosse alguém que havia conhecido há muito tempo e eles finalmente se reencontravam.

– Você está bem, meu filho? – ela questionou um tanto preocupada.

Ele não conseguiu falar, apenas acenou positivamente. Ela se sentou ao seu lado, e ele engoliu em seco.

– Quem é você, e o que quer?

Ela pareceu se divertir com a pergunta, pois sorriu.

– Quem eu sou? – seus olhos dourados brilharam de maneira estranha. – Sou Antonella, e o que eu quero é que você me encontre.

– O que? – Enzio questionou confuso.

A mulher não deu tempo para ele perguntar mais nada, nem para ela responder. A tal Antonella guiou sua mão até a testa dele, fazendo-o mergulhar em uma nova escuridão.

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Enzio acordou de maneira abrupta, com a respiração intensa e o batimento cardíaco acelerado. Ele sentou na cama com um movimento rápido, com a sensação de que estava caindo. Ainda sonolento, o garoto deixou os seus olhos cor de gelo deslizarem por seu quarto, identificando onde estava. Enzio suspirou profundamente ao perceber que nunca havia saído de sua casa, e que tudo aquilo fora um sonho. Ele olhou para sua janela e percebeu que o sol ainda estava nascendo. Ficou um minuto em silêncio, tentando escutar se alguém de sua família já havia acordado, entretanto tudo o que ouviu foi o barulho da televisão. Enzio fechou os olhos e retornou a abri-los, olhando diretamente para as suas mãos, que ainda estavam sujas e machucadas de sangue.

Ao ver aquilo, as lembranças vieram de modo forte na mente o garoto. O homem havia tentado assaltar ele e Enzio se defendera, então por que ele permanecia com essa sensação estranha? O jovem fechou os olhos com força e passou as mãos por seu curto cabelo loiro. Quando as trouxe de volta, percebeu que alguns fios dourados cobriam as suas palmas. Enzio olhou para as suas mãos de maneira intrigada, devia estar muito estressado.

O garoto se levantou, e foi tomar um banho, para tentar tirar todo o sangue e impureza de seu corpo. Enquanto deixava a água quente bater em suas costas, o seu braço esquerdo começou a doer. Com aquele incomodo, ele finalmente se lembrou de que havia recebido uma bala de raspão. Ao ver sua pele, Enzio se surpreendeu, já que não havia nenhum sangue nem nada, apenas estava um pouco irritado, como se tivesse sido arranhado.

O jovem analisou aquilo com cuidado, constatando que havia tido muita sorte. Não era todo dia que se escapava da morte. Enzio saiu do banho e se vestiu. Antes de sair do quarto, abriu a porta com cuidado para ver se suas irmãs continuavam dormindo, e mais uma vez a televisão era o único som que ele escutava. O garoto desceu as escadas enquanto ouvia o som de longe.

– ...um viciado foi brutalmente assassinado nesta madrugada de terça feira. O homem, cujo nome é Marcos Oliveira, apareceu gravemente ferido na rua Morisono com a rua Baião do Norte. – ao ouvir o nome das ruas, Enzio parou repentinamente no final da escada. – O homem estava com a mandíbula quebrada e parte do crânio rachada. Ele resistiu até o hospital, mas acabou morrendo ao chegar lá. Na cena do crime estavam presentes uma faca e arma, que possuem as digitais do falecido, assim como um cigarro. Suspeitamos que Marcos Oliveira tentou furtar o suspeito do assassinato e foi surpreendido pelo mesmo. O cigarro pode pertencer ao tal suspeito, ou pode ser de uma testemunha, ainda nada foi resolvido...

Enzio sentiu um calafrio percorrer o seu corpo, então ele engoliu em seco. O garoto saiu de modo silencioso de sua casa enquanto pensava naquilo. E se o tal drogado era o mesmo em que em batera? Colocou seu capuz cinza e adentrou no suave frio da manhã que sua cidade proporcionava. Ele fechou os olhos e começou a andar de modo rápido. Não sabia direito para onde seus pés o levavam, entretanto deixou ser guiado. Tentou esquecer aquilo, mas as palavras da jornalista não saíam de sua cabeça. O garoto pensou no homem que tentara rouba-lo, e no prazer que tivera quando socou o seu rosto repetidamente vezes. Não queria mata-lo, apenas queria vê-lo sofrer.

Este sentimento deveria ser tão bom e tão ruim ao mesmo tempo? Enzio não sabia direito o que sentir, apenas tinha certeza de que precisava de um tempo para si mesmo. O garoto continuou andando por suas ruas por uma longa hora, acenando com um olhar para as pessoas que conhecia. Quando o estômago do jovem começou a gritar por comida, ele achou melhor voltar para casa. Nada que um bom café da manhã com suas mulheres não resolveria.

Enzio retornou para a sua casa de modo rápido, não esperando a hora de chegar lá. Ao avistar seu lar, a primeira coisa que fez foi observar a janela do quarto de suas três queridas irmãs. Elas sempre a deixavam aberta para que o sol pudesse entrar no recinto, porém daquela vez a janela de vidro não estava aberta. O garoto parou imediatamente em direção a casa, estranhando o acontecimento. Tentou ouvir as finas vozes que preenchiam a casa logo de manhã, entretanto não escutou nada. Não havia nada de diferente. Tudo estava igual à antes, o que o assustou. As meninas já deveriam ter levantado a esta hora.

O garoto desviou os olhos cor de gelo para a sua calma rua, que parecia continuar a vida normalmente, sem se importar com o que estava acontecendo com Enzio. Um pressentimento ruim passou pelo coração do jovem, e ele retornou a fitar a casa de dois andares a sua frente. A antiga sensação de desconforto foi substituída por uma de preocupação. O garoto franziu a testa e apertou o punho, tentando provar para si mesmo que tudo estava bem. Ele andou até o seu lar e abriu a porta branca de maneira lenta e silenciosa, introduzindo apenas a face para dentro. Analisou o corredor que dava para a escada e a sala de jantar, e tudo o que ouviu foi o barulho da televisão, dizendo as mesmas coisas de quando ele saiu.

Enzio escutou aquele silêncio aterrorizador de modo preocupado.

– Mãe? – o garoto gritou para dentro da casa e esperou alguns segundos pela resposta que nunca veio.

Deixou que seus olhos claros observassem o lugar e constatou que tudo estava igual, com exceção do quadro na parede do fim do corredor. A bela pintura de rua estava torta de uma maneira que sua mãe nunca deixaria ter ficado.

Enzio baixou o capuz e adentrou a casa com passos ligeiros, esperando ver suas irmãs aparecerem correndo na escada, contudo elas não vieram. O jovem começou a andar por seu lar. Não sabia dizer, mas este sentimento o incomodava de uma maneira estranha, sem saber o porquê de senti-lo.

Foi até a cozinha e não achou sua mãe e nenhuma de suas irmãs. Subiu as escadas com rapidez e bateu na primeira porta, que pertencia a sua progenitora. Passaram-se alguns segundos e não houve resposta.

– Mãe. – ele chamou com suavidade e retornou a bater na porta com o punho fechado, entretanto nada aconteceu. – Mãe!

Enzio bateu novamente e tentou abrir a porta, porém ela estava trancada. Ele retornou a chamar ela e então começou a forçar a madeira para frente. Ela não cedeu nas primeiras tentativas, contudo o garoto foi fazendo mais força, até ela finalmente quebrar a tranca e abrir violentamente.

O jovem foi levemente lançado em direção ao quarto quando a porta se abriu, e demorou uns dois segundos para se recompor. Quando deixou os seus olhos subirem até a cadeira perto da janela que sua mãe sempre se sentava ás tardes, Enzio sentiu seu coração parar de bater por um segundo.

Uma jovem mulher de mais ou menos trinta e poucos anos estava sentada na poltrona florida de maneira pacifica. Suas pálpebras estavam fechadas enquanto seus finos lábios estavam levemente entreabertos. Os fios dourados caiam por seu ombro e rosto, tornando as feições da mulher muito mais suaves. Suas mãos estavam juntas em seu colo, entrelaçadas uma na outra. Ela parecia um verdadeiro anjo ali na janela, onde o sol batia fracamente em sua pele pálida. Apesar de todos aqueles traços delicados, Enzio não conseguiu observa-los com a devida atenção, pois a única coisa que se concentrava era no buraco no meio da testa de sua mãe. Dois pequenos fios de sangue escorriam por ele, manchando a pele da mulher de maneira violenta. O garoto sentiu um forte soco em seu peito, como se não pudesse respirar.

– Mãe... – ele murmurou ao vislumbrar aquela imagem avassaladora. – Mãe?

Com passos pequenos e lentos, ele começou a andar até Dona Tereza, a mulher que criara o garoto com todo amor e carinho. Ao chegar perto dela, o desejo de Enzio foi de tocar-lhe a face, contudo achou que a machucaria, então se ajoelhou e segurou suas mãos. Elas ainda estavam quentes e suaves como sempre foram.

Seus olhos começaram a lacrimejar ao visualizar o líquido vermelho e espesso escorrer pelo meio dos olhos fechados. O garoto apertou fortemente a mão da mulher, como se tentasse ressuscita-la. No momento em que pensou isso, a imagem de suas três irmãs lhe veio a mente, e no mesmo instante ele se levantou, sem desviar o olhar.

Apesar de estar muito desgostoso de abandonar sua mãe daquele jeito, Enzio precisava encontrar suas irmãs. O que pudesse ter acontecido com Dona Tereza, as três meninas teriam o mesmo destino.

O garoto se virou rapidamente e correu até a porta em direção ao quarto das irmãs, contudo um barulho atrás de si o fez olhar sobre o ombro no meio do caminho. O que ele viu não trouxe tristeza e nem medo, foi provavelmente confusão e raiva ao mesmo tempo. Enzio observou cinco homens atrás de si; todos com roupas negras, coletes protetores, e com armas grandes e potentes apontadas para o jovem. O garoto arregalou os olhos e apertou o punho com força ao perceber que eles se aproximavam rapidamente com passos ágeis. Tudo aconteceu em questão de segundos, e Enzio mal percebeu como aquilo havia acontecido. O jovem se virou rapidamente para dentro do quarto mais próximo, apesar de ouvir as armas sendo disparadas. Ele não sentiu nenhuma bala o atingindo, e considerou um golpe de sorte. O garoto fechou a porta com força, porém ela acabou batendo de forma tão violenta que a madeira rachou no meio ao fechar.

Enzio se afastou da porta com raiva, sentindo o seu coração bater de forma rápida e intensa. O que estava acontecendo? Quem eram aqueles homens e o que queriam ali? Ele apertou o punho quando percebeu que a porta de madeira estava sendo derrubada a força. Sua mãe e suas irmãs... Seriam eles que haviam matado Dona Tereza daquela forma horrível e violenta? Tantas perguntas e emoções ao mesmo tempo que o menino não conseguia organizar tudo em sua mente.

Com os poucos segundos que lhe restaram para esperar a porta ser aberta, Enzio sentiu uma leve picada em seu pescoço, e quando levou a mão até ele, sentiu uma coisa afiada o incomodar. Ao pegar o objeto afiado na gola da blusa, que tocava em sua pele quando se movimentava, sentiu uma parte de sua pele ficar levemente dormente. Quando trouxe a palma para si, percebeu que o objeto era um dardo tranquilizante, e que o havia atingido, apesar de não ter sentido.

Aquela visão apenas fez Enzio ficar com raiva. O que eles queriam? Matavam a sua mãe, contudo o atingiam com dardos soníferos? Ele fechou a sua palma e escutou o pequeno objeto ser quebrado com facilidade.

– Eu não deixarei isso impune.

A voz de Enzio soou confiante antes da porta ser quebrada e os cincos homens aparecerem por ela. O garoto encarou os militares altamente armados com raiva, e sentiu que seus olhos estavam queimando. Sem hesitação, ele correu até os cinco, apesar de ver os dardos atingindo a sua pele com força. Sem dar tempo de qualquer homem fazer alguma coisa, ele pulou no primeiro em que viu e quebrou o seu pescoço com apenas um movimento. Nos segundos seguintes, Enzio não saberia falar o que aconteceu. Ele perdeu o controle sobre e seu corpo, e usou toda a sua força naqueles homens. Não importava quantos dardos ele recebia, nem quando choques seu corpo sofria, pois ele continuava do mesmo modo; firme e forte. O sangue começou a surgiu um pouco depois, e o jovem não poderia dizer que sabia se era dele ou dos outros.

Quando ele lançou o último homem pela janela afora e observou o seu redor com a respiração acelerada e intensa, o mesmo sentimento que presenciara quando batera naquela assaltante voltou. Seus olhos de gelo fitaram todo o ambiente a sua volta com raiva, procurando por mais alguém em quem bater.

Todos os seus músculos estavam contraídos, e seu coração batia de modo forte em seu peito, fazendo com que ele mesmo conseguisse ouvir. O suor lhe manchava a face, assim como o sangue, que o cobria desde os punhos até os cabelos loiros.

A raiva ainda o dominava, e a única coisa que o trouxe de volta foi o som de um carro. O jovem percebeu tudo o que havia acontecido, e finalmente entendia que não se sentia mal por aquilo, nem ao menos vingado. Enzio andou até a janela e percebeu que um grupo de dez homens, todos vestidos como os outros, saía do carro preto em frente a sua casa. Seu coração parou e ele finalmente caiu na realidade.

O que estava acontecendo, o que era tudo aquilo? Ele queria correr até a sua mãe, ou pelo menos tentar encontrar as suas três belas irmãs, mas agora não parecia uma coisa possível, não com aqueles homens ali. Enzio precisava sair dali. Enzio precisava encontrar suas meninas. Enzio precisava fugir... Mas ele não iria fugir sem sua mãe.


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Notas finais do capítulo

Ps: Ele fala progenitora pois pensa que é sua mãe verdadeira.
E aíiiiiii? Espero que tenham gostado, pois demorou muito para fazer.
Essa foi a introdução do Enzio, e eu sei que ficou muito grande, mas tuuudo foi necessário. E o que vocês acharam dele?Qual anomalia vocês acham que Enzio tem?
Comentem, pleaaase pessoal. Vocês farão o meu dia feliz, e isso apenas me anima para escrever. Então vamos lá, comente e eu tentarei (lê-se tentar e não conseguir) postar o próximo capítulo ainda este domingo ;)
Beijos e até o próximo :)))))
Próximo Capítulo: Franklin



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