Minha Gotinha de Amor escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 4
A mais certa das incertezas


Notas iniciais do capítulo

Como agradecer tantos comentários lindos adequadamente? É impossível!
As palavras de vocês são o SONHO de qualquer escritor, saibam disso :3



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Já fazia quase quinze minutos que Aria estava à frente do espelho tentando deixar uma trança única impecável. Seus cabelos não eram tão longos quanto os de suas amigas, então fazer isso não era uma tarefa muito fácil. Ela não sabia bem por que, mas queria que, acima de tudo, ela estivesse impecável para aquela noite. O que era bastante estranho, já que geralmente ela não era nem um pouco perfeccionista quanto a sua aparência. Mas parecia que agora deixar um fiozinho fora do lugar já era motivo para uma grande frustração.

Havia escolhido um vestido soltinho em cor-de-rosa claro e sandálias baixas de tiras fininhas que subiam até um pouco acima de seus tornozelos, isso como sendo uma singela e indireta homenagem aos gregos. Estava dando um último retoque em sua trança quando ouviu um “hum” em tom malicioso vindo por trás, de sua mãe.

— Posso saber onde a senhorita vai assim, tão linda? – Ella cruzou os braços e parou ao lado da filha. Um sorriso doce repousava em seus lábios enquanto ela observava Aria se arrumar.

— Eu vou sair para jantar – respondeu casualmente enquanto ajeitava os brinquinhos dourados em suas orelhas.

— É mesmo? – a mulher arqueou uma sobrancelha, parecendo estar surpresa de um jeito bom.

— Com a Spencer – Aria virou-se, querendo destruir quaisquer que fossem as esperanças de Ella, que soltou um “ah” um tanto frustrado depois disso. – Mamãe, por favor, fazem quatro dias. Eu ainda posso não ter encontrado outra alma gêmea, mas estou bem.

— Sei disso, querida. Na verdade eu estou é aliviada por você já estar querendo sair com suas amigas assim tão rápido. Mostra que você é bem mais forte do que eu quando briguei pela primeira vez com seu pai – Ella riu levemente consigo mesma sentando-se à ponta da cama de Aria, que revirou os olhos e também sorriu. Sua mãe às vezes gostava de melancolizar o passado.

— Nós duas somos fortes, está bem? – Aria virou-se para Ella novamente depois de derramar algumas gotinhas de perfume nos dedos de uma mão e espalhá-las pelas laterais do pescoço – E é amiga. Só vamos eu e Spencer hoje.

— Que coisa, não? Vocês cinco sempre viajam em grupo.

— Pois é – ela sentou-se por um momento ao lado da mãe, pensativa – Na verdade, eu não sei porque vamos só nós duas – deu de ombros. Bem que elas podiam ter contado às outras que haviam batizado o conversível de Kristen Cullen mais cedo naquela tarde – Ela apenas me convidou.

— E para onde vocês vão?

Aria parou por um segundo para pensar e sorriu outra vez. Elas não haviam combinado.

— Eu também não sei.

Ella riu.

— E o que você sabe?

— Eu sei que ela já deve estar aqui embaixo. – Aria levantou-se e beijou a mãe na testa – Até mais.

— Nada de voltar tarde – Ella recomendou enquanto Aria retocava o gloss, apressada.

— Pode deixar – gritou já descendo as escadas.

Quando já estava prestes a pisar em seu gramado, Aria começou a pensar no quão nervosamente animada ela estava para aquilo. Provavelmente havia se arrumado em excesso e as simples palavras “sair para jantar com Spencer” soavam por si só como a descrição de um... encontro. Isso mesmo. Um encontro formal com sua melhor amiga. Aria estava nervosa com a ideia de sair sozinha com sua melhor amiga. Por quê?

De qualquer jeito já não dava mais tempo para questionamentos. O Audi prata de Spencer já estava estacionado ao meio-fio. Aria abriu um grande sorriso.

— Você é pontual – elogiou, vendo que o relógio no painel do carro marcava 08:03.

— E você caprichou – Spencer olhou com o canto do olho para ela.

— Foi você quem disse “roupa mais apresentável”.

— Eu posso ter dito isso. É claro, eu digo muita coisa.

Aria riu, notando que Spencer ainda usava o mesmo estilo de legging que usara naquela tarde, um que deixava parte da canela de fora – é claro que a que ela usava agora não estava melecada de gema de ovo e farinha. Seu figurino era complementado por all star pretos com meias curtas e uma jaqueta jeans. Aria desejou não estar parecendo uma bonequinha de porcelana.

— Então, aonde vamos?

— Não sei. Me diga você.

— O quê? – dramatizou – Spencer Hastings não tem um plano? Só pode ser o Apocalipse!

— Ei, eu posso ser impulsiva também, tá legal?

— É claro que pode. A tarde de hoje não prova outra coisa.

Foi a vez de Spencer rir.

— É sério, para onde você quer ir?

Aria suspirou. Sentia-se confortável agora e aquela pergunta realmente parecia querer dizer que as duas poderiam ir a qualquer lugar que quisessem.

— Ao Rockefeller Center.

Spencer arregalou os olhos.

— Não quer mesmo que eu dirija quase duzentos quilômetros até Mannhattan, quer?

— Ora, você me perguntou para onde eu queria ir.

— Certo, você tem que parar de ser tão literal – ela lançou um meio sorriso para Aria – Vou refazer a pergunta: o que você quer fazer? Algo que seja na cidade, por favor.

Aria riu outra vez. A imagem da grande pista de gelo que ficava ao centro da ilha de Mannhattan ainda não havia saído de sua cabeça. Visitara o Rockefeller Center apenas uma vez quando era pequena, mas fora o suficiente para fazê-la pensar que aquele era um dos lugares mais incríveis do mundo. O frustrante era que funcionava apenas nas temporadas de inverno e aquela era uma noite quente típica de início de primavera.

— Ainda quero patinar no gelo – disse ingenuamente.

— É claro. Só porque te convém. – Spencer ironizou, mas era visível que não estava irritada de verdade.

— Como é? – Aria fingiu indignação.

— Você sabe que eu não ando nem meio metro com aquelas coisas nos pés.

— Eu sei. É divertido ver você cair.

— Está certo, então. – Spencer rebateu num tom desafiador – Quando eu cair hoje, tenha certeza de que você vai para o chão comigo.

***

O bom de se morar em Rosewood era que ir para a Filadélfia era como dar uma passada no supermercado mais próximo. Muitas vezes os habitantes das duas cidades simplesmente esqueciam onde terminava uma e começava a outra. E um dos shoppings da tão amada “Philly” – como alguns americanos a chamavam – abrigava uma pista de gelo significativamente menor do que a de Nova York, mas que pelo menos funcionava ao longo dos 365 dias do ano.

À cinco dólares cada meia hora, não admirava Aria o lugar estar praticamente lotado. Tentar deslizar sobre aquele gelo era como tentar andar pela Times Square por volta das seis da tarde. Quase ninguém ali usava os equipamentos de segurança recomendáveis, mas Aria decidiu pelo menos pedir por joelheiras caso um estranho desavisado ou mesmo Spencer decidisse empurrá-la, intencionalmente ou não.

Aria deu duas voltas pela pista e estranhou Spencer ainda não ter se juntado a ela. Avistou-a do lado de fora junto à meia parede que delimitava a pista e dirigiu-se até ela, realizada por ainda saber como ganhar velocidade usando os patins. Ela não fazia isso há bastante tempo.

— Você fica tão bonitinha quando está assim, feliz – Spencer sorriu, tocando a bochecha de Aria, que revirou os olhos.

— Por favor, o diminutivo é degradante. E eu não acredito que sou a que está de vestido e é você quem vai ficar aí.

— Eu não gosto de gelo – reclamou infantilmente.

— Bem, hoje mais cedo você me arrastou para fazer uma coisa que eu não queria fazer e eu acabei me divertindo também, não foi?

Spencer bufou.

— Você vai usar esse argumento toda a vez que eu não quiser fazer alguma coisa que você queira?

— Pode apostar que vou.

Aria conseguiu fazer Spencer ceder e calçar os patins em seguida, mas a palma da garota grudou-se à sua com força, e não estava quente como da outra vez, ao contrário, estava começando a suar frio.

— Isso tudo é medo que você tem de escorregar? – Aria indagou, achando a situação adoravelmente engraçada.

— Cale-se – Spencer rebateu com os olhos no chão congelado, visivelmente nervosa.

— Spence, não existe nada tão fácil – ela amaciou a voz, passando o braço direito em torno da cintura da garota, que por sua vez envolveu os ombros de Aria com seu braço esquerdo. – Relaxe os joelhos.

Spencer obedeceu, arrastando os pés como se estivesse aprendendo a andar, e Aria classificou como ótima a sensação de cuidar de alguém ao invés de ser cuidada por alguém. Quase sempre acontecia o contrário devido à sua estatura. Era ridículo pensar nisso, mas acontecia. Não que ela não gostasse que apertassem suas bochechas, a beijassem na testa e a chamassem de fofa ou “bonitinha”, mas ela queria que as pessoas soubessem que ela não era apenas isso.

Até antes do dia anterior, Aria arriscaria dizer que Ezra fora o único que realmente a tratara de forma diferente; que não pensara nela como mais frágil por causa de como ela era fisicamente; que não olhara para ela como quem olha para uma criança. Ezra havia feito dela uma mulher mas, depois do rompimento, mais precisamente naquele domingo chuvoso, Spencer parecera começar a notar essa transformação também, apenas pelo jeito doce como ela perguntara “como está se sentindo?”. A entonação que ela usara para fazer a pergunta e o modo como os olhos dela fixaram-se nos de Aria significou muito, tanto quanto o braço esquerdo dela em volta de seus ombros agora, buscando apoio.

— Está com frio? – perguntou Spencer, uma vez que as duas já haviam saído da pista.

Aria esfregava inconscientemente os braços com as mãos.

— Mais ou menos – disse ela, mas na verdade seus braços estavam ainda mais esbranquiçados devido ao sistema de resfriamento do gelo.

Spencer não respondeu, apenas tirou sua própria jaqueta num movimento rápido e segurou-a para que Aria a colocasse. Aria pasmou por um segundo antes de fazer o que lhe era sujerido. Spencer nunca havia feito aquilo antes, ou aquilo nunca havia mexido tanto com Aria.

E a noite seguiu da mesma maneira deliciosamente diferenciada. As duas comeram bananas-split no lugar do jantar propriamente dito e, por mais que Aria adorasse sua dieta quase que estritamente vegetariana, sair dela em plena segunda-feira nunca fora tão bom.

Entre uma colherada e outra, encontraram Alison. A garota tinha óculos escuros no topo da cabeça – embora fosse por volta de nove da noite – e Noel Kahn em seu encalço, carregando duas ou três sacolas de lojas variadas. Mesmo às vezes Alison sendo irritantemente excêntrica, Aria amava-a tanto quanto amava suas outras amigas – e não tinha nada contra Noel também –, mas, estranhamente, durante o curto espaço de tempo em que a loira e Noel ficaram puxando papo com elas, Aria permaneceu mentalizando “vão embora, por favor”. E depois que os dois se despediram, deixando-as novamente sozinhas, Aria sentiu-se um pouco culpada, mas não menos feliz.

Ao fim daquele jantar açucarado, Aria sugeriu para que Spencer ficasse já em casa, já que a da garota ficava mais perto do shopping que a sua.

— Eu posso andar o resto do caminho – disse, enquanto via o celeiro dos Hastings se aproximar pela janela do carro –, não tem problema nenhum.

E Spencer cortou-a de uma maneira que a fez perder as estribeiras por um longo momento.

— Você não sabe qual é a regra primordial quando se trata de encontros? Quem convida é quem deixa em casa.

Então era mesmo um encontro! Aria não teve capacidade para contra-argumentar. De repente suas bochechas começaram a queimar e havia ficado quente demais em geral dentro daquele carro, mas ainda assim ela não sentia vontade de tirar aquela jaqueta.

— Obrigada por não me deixar cair – disse Spencer após ter desligado o motor e estacionado novamente em frente ao gramado de Aria.

— Não me agradeça antes da hora. Haverão outras chances de eu ver você indo para o chão. Aliás, você também me deve um empurrão, não é?

— Com certeza, e não se esqueça disso – riram.

— Eu gostei muito de hoje – Aria confessou, numa voz baixa, sem olhar direto para ela.

— Entrou para a minha lista de Melhores Dias – Spencer sorriu, deixando as covinhas em evidência outra vez, o que fez o coração de Aria perder momentaneamente o ritmo.

— Eu... posso fazer uma pergunta tosca?

A garota achou graça.

— É claro.

— Você... esteve diferente hoje. Ontem também. Comigo. Não sei por que, mas sinto que sim. Acho que a pergunta é... se você faria o mesmo que fez comigo hoje com as outras meninas, depois de um eventual término. Separadamente, eu digo. Como num... encontro.

Aria estava certa de que aquilo soava extremamente patético, mas ela tinha uma sensação amarga no fundo do peito. Uma dorzinha suportável, mas que latejava só de pensar que Spencer poderia dar às outras aquela exata atenção que somente ela estava recebendo agora. Era assustador concluir que aquilo poderia ser ciúme. Afinal, por quê, se desde seus doze anos as cinco haviam sido melhores amigas? Aria não sabia, mas algo a respeito daquilo tudo a deixava insegura e carente.

Spencer deu risada outra vez e, com a cabeça recostada ao encosto do banco do motorista, olhou para Aria como se não acreditasse na seriedade daquilo.

— Por que está me perguntando isso?

— Eu não faço a mínima ideia – Aria suspirou, decidindo colocar as cartas na mesa.

— Bem, a resposta é não. – respondeu, dando lugar agora à sua postura racional – Eu não gostaria que levar garotas à pistas de patinação no gelo na Filadélfia se tornasse de repente um ritual de cura para corações quebrados.

Aria riu também, aliviada. Ela com certeza amava as respostas criativas de Spencer.

— Como cada vez que saímos todas juntas é única, essa noite também foi – a garota tocou um dos joelhos descobertos de Aria e, ao notar a leve demonstração de falta de ar desta, exitou, mas Aria pôs em tempo sua mão sobre a dela, dizendo de forma subliminar que queria que ela continuasse ali.

Spencer sorriu àquele gesto e virou a mão devagar, começando a brincar com os dedos de Aria, que soltou o ar com muito cuidado, para que a garota não percebesse o quão nervosa ela estava.

— E quanto à questão de eu estar diferente – Spencer prosseguiu, num tom de voz alguns níveis mais baixo e parecendo estar mais próxima de Aria –, não sei, mas eu te sinto diferente também.

— Por quê? – Aria sussurrou, subindo as carícias até o pulso de Spencer, quase que completamente entregue àquela voz que agora soava como veludo aos seus ouvidos.

— É a filosofia mais antiga do mundo – Spencer abriu um sorriso sábio – Por menor que seja a diferença, nós nunca somos os mesmos de um dia para o outro. E quer saber? Às vezes o diferente é muito bom.

Aria não lembrava em que momento haviam ficado tão próximas, o fato era que Spencer estava avançando gradativamente, ainda devagarinho. Ou será que era ela quem avançava, apenas fantasiando que Spencer queria beijá-la? Mas a garota não olhava diretamente para ela e tinha os olhos praticamente fechados. Não era uma miragem. Ia acontecer. Aria estava quase cedendo, inclinando-se para aquele futuro e silencioso beijo. Era capaz de sentir a respiração doce dela; literalmente doce, com o aroma de sorvete tipo napolitano. Tocou uma mecha dos cabelos dela e finalmente ouviu uma vozinha em sua mente que estava tentando manter calada até agora.

O que pensa que está fazendo, sua imbecil? Acha que está apaixonada por ela? Pois não está. Está apenas carente, e você sabe disso. Não ouse estragar algo tão sólido como a amizade que você tem com ela por causa de uma mera carência.

Spencer permanecia ainda imóvel, de olhos semicerrados. Parecia esperar pelo consentimento de Aria. Ela, porém, obrigou-se a descer das nuvens.

— Eu... eu não tenho certeza se... – foi impossível terminar a frase.

Spencer sorriu minimamente. Era quase como se ela já tivesse previsto aquele momento.

— Eu sei – ela começou a se afastar.

— Spence, eu sinto muito... – Aria sentia-se quebrar por dentro.

— Por favor, não – Spencer cortou-a, ainda falando maciamente – Você não tem nada pelo que se desculpar. Eu entendo.

Aria apenas permaneceu olhando para o colo, sem ideia do que fazer em seguida.

— Te vejo depois? – perguntou Spencer já num tom de voz animado, ao qual Aria respondeu finalmente levantando a cabeça.

— É claro.

Moldou um “boa noite” para ela, já do lado de fora do carro, apenas usando os lábios e permitiu-se voltar a pensar no que havia acontecido somente deitada em sua cama, percebendo que ainda estava com a jaqueta de Spencer. Com os olhos no teto, sentiu-os encherem-se de lágrimas. A possibilidade de tê-la magoado doía mais do que qualquer coisa.

Batendo no próprio joelho e xingando-se de imbecil mais uma vez, admitiu que queria muito ter aproveitado a chance de provar aqueles lábios com sabor de baunilha, morango e chocolate.


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