Presa Em Um Contrato escrita por Mrs Prongs


Capítulo 2
02. 26 de dezembro de 2022 | Greenville, Carolina do Norte




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[26 de dezembro de 2022 | Greenville, Carolina do Norte]

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– Eu juro que se algum de vocês dois encostarem essa tesoura em meu cabelo, vão me ver seriamente com raiva. – Lillian silabou encarando as duas figuras pelo espelho da penteadeira.

Quatro dias. Ela havia contado. Quatro dias desde a visita de Simon Cowell. Quatro dias que ela não dormia a noite e sofria de crises de choro, nervoso e pânico.

Ela nunca havia se sentido daquele jeito, tão... desesperada. Lillian sempre se considerou uma garota esperta, quando tinha um problema sempre conseguia contorna-lo. E o fato dela não ter como contornar esse a deixava a beira do histerismo.

Ela chegou a mentalizar que tudo não passava de um engano. Uma brincadeira de muito mau gosto. Nos quatro dias que se sucederam a visita do homem, ela havia repetido isso para si mesma incontáveis vezes, na esperança de que ela acreditasse.

Isso não aconteceu.

Cada dia que se passava, ela sentia o peso em seu coração aumentando mais e mais. Não comia, não dormia, sequer saia do dormitório em que morava. Tinha a esperança que se negasse bastante, talvez, por um milagre, aquilo não visse a passar de um sonho.

Mas ela não era tão sortuda.

Como prometido, Simon havia mandado as “pessoas de confiança” para cuidar da aparência dela um dia antes da sua partida para Londres. Lilly sentiu suas pernas tremerem e seu estomago embrulhar assim que abriu a porta do seu dormitório e deu de cara com aquelas duas pessoas. E então, qualquer esperança de que aquilo não fosse real, simplesmente ruiu.

A primeira era uma mulher alta, bem vestida e atlética. Loira e esguia, Lillian quase apostou que ela seria uma modelo, ou uma estilista famosa. Seus olhos cinzas brilhavam como gelo seco. Poderia ser linda, mas parecia não ter sentimentos... como uma maquina.

O outro era um homem baixinho e gordinho. E espalhafatoso – Lilly não pode deixar de reparar. Ele vestia um terno bem ajustado, e um lenço rosa pink ao redor do pescoço, assim como as meias, gravata e lenço tinham a mesma tonalidade.

Uma era a cabelereira e o outro era o estilista.

A baixinha havia reparado que eles haviam trazido com eles diversas malas, roupas e acessórios. Tudo o que ela precisaria quando saísse do instituto amanhã e começasse a encenar abre aspasa modelo que acabou de voltar de uma viagem de natal em família e que agora vai enganar um pobre coitado fecha aspas.

Sophie – a cabelereira e esteticista – ficou horrorizada ao ver as olheiras de Lillian. Ou as unhas ruídas, ou o modo como o cabelo da baixinha parecia sem vida. Segundo ela, uma modelo nunca pareceria assim.

Só que Lilly não era uma modelo e ela realmente não poderia ser culpada. As olheiras, as unhas ruídas não era nada mais nada menos que o resultado do nervosismo e pânico que ela vinha passando nos últimos quatro dias. Sophie, abafando os protestos da mesma, apenas fez uma mascara facial, hidratou o cabelo da baixinha e fez as unhas da mesma.

Enquanto isso Poul – o estilista – estava ocupado analisando o corpo de Lillian e vendo que mudanças ele deveria fazer. Em um momento ele disse que o corpo dela não era totalmente parecido com o da irmã e que não era parecido também com o de uma modelo – Lilly tentou não parecer ofendida – mas que isso não era relevante. As roupas que ele havia trazido se adequavam ao corpo dela e isso bastava. Fora que o mais importante Lillian tinha parecido com Lucy – o rosto.

Mas então veio a guerra. Lillian tentava não se importar com o fato de agora estar com uma maquiagem forte no rosto e um batom vermelho nos lábios, ao mesmo tempo que todas as suas maquiagens haviam sido substituídas por outras chamativas e de luxo. Ela tentava não se importar por agora estar dentro de um vestido tubinho e curto preto. Um vestido que ela nunca usaria em qualquer situação. Era ousado demais... não fazia o estilo dela. E quando ela se olhava no espelho, com aquela maquiagem e com aquela roupa ela não se reconhecia mais. Ela não era mais ela. Ela era Lucy. Exceto por um pequeno e gritante detalhe.

O cabelo.

E ele é o motivo da guerra.

– Caso você não tenha notado... – Sophie estava claramente perdendo a paciência. – Sua irmã não tem um cabelo longo e muito menos é morena. O cabelo dela é curto e loiro!

– Mas o meu não é! – Lillian retrucou. – E eu juro que se um de vocês ousarem encostar uma tesoura ou um descolorante no meu, eu faço a morte de vocês parecerem acidente. Ninguém nunca desconfia de uma medica de internato. – sorriu angelicalmente barra ironicamente no final.

– E o que você quer que façamos a respeito disso querida? – Poul entrou na discussão colocando as mãos na cintura e Lilly teve que lutar para não rolar os olhos. – Recebemos ordem expressas para deixarmos você idêntica a Lucy Sampaio e o seu cabelo está ficando no nosso caminho. Você acha o que? Que Niall Horan simplesmente não vai perceber que a namorada loira dele foi passar pouco mais de uma semana fora e quando volta está morena e com o cabelo batendo na cintura? Querida, uma coisa é a pessoa não querer ver algo que está na frente dos seus olhos. Isso eu entendo. Isso é que vai permitir essa farsa ir adiante, sendo que Niall não espera que a namorada dele tenha sido magicamente substituída por uma falsa. Mas isso... achar que ele pode não notar, não é só superestimar a burrice de pessoas apaixonadas, é questionar a inteligência do próprio Niall. E aquele loiro pode ser tudo, exceto burro.

– Eu não me importo! – Lilly quase gritou se levantando da cadeira que estava sentada e virando de costas para o seu reflexo, ficando de frente para os dois seres, cruzando os braços enquanto os encarava. – Ninguém vai encostar um dedo no meu cabelo, ou eu não respondo por mim!

– Sophie. – Poul suspirou parecendo cansado e a mulher resmungou algo em uma língua da qual Lillian reconheceu ser francês, antes de sair do dormitório com um celular em mãos. A baixinha olhou apreensiva para o lugar por onde a mulher tinha desaparecido.

Enquanto o estilista voltava a arrumar as supostas malas que Lillian teria que carregar amanhã, a mesma foi em direção ao espelho deixando um suspiro fraco escapar. No que estava se metendo?

Ela tentava se reconhecer entre as maquiagens e o vestido curto, sapato alto. Mas estava tendo dificuldades nisso. Ela era toda Lucy. Ela era agora uma das pessoas que ela mais detestava no mundo inteiro.

Exceto por um detalhe. O seu cabelo. Poderia parecer bobagem para a maioria das pessoas, mas Lillian realmente não gostava que mexessem no cabelo dela e jamais aceitaria tê-lo curto e loiro. E agora era mais do que isso. Parecia bobagem, mas no meio daquela enorme mudança, ela precisava ver ainda algo dela. Algo de como ela era. Como uma ancora.

Uma ancora provando que ela nunca seria como a irmã.

– Simon não está muito satisfeito. – Sophie voltando ao quarto, fez Lilly se virar bruscamente a encarando. –Só que ele sabe que também não podemos força-la. – encarou a baixinha de cima a baixo, com um olhar de certo desprezo. – Mas ele mandou lembra-la que você não está em uma brincadeira Lillian Sampaio, então é melhor você estar ciente do que está fazendo e ter um bom álibi. Vamos embora Poul, terminamos por aqui. – acrescentou para o outro que prontamente se levantou da poltrona onde estava sentado e foi para o seu lado.

E sem nenhuma palavra de despedida, ambos pegaram as suas coisas e saíram do dormitório rapidamente e sem nenhum segundo olhar para Lilly. A mesma suspirou entre as lagrimas e se jogou sentada em sua própria cama, com a cabeça entre as mãos.

Se recusava a chorar.

Como a sua vida havia se tornado um inferno de uma hora para outra? Como tudo aquilo estava acontecendo tão rápido? Como o seu passado tinha voltado tão rápido para ela?

Porque ela havia o enterrado desde que tinha 12 anos. Havia enterrado a sua mãe. Seu pai. E principalmente a sua irmã. Estavam todos mortos para ela. Mas seu passado havia dado um jeito de alcança-la.

Porque a gente sempre acha que podemos deixar algo no passado. Fingir que não existiu, que não aconteceu. Mas o passado sempre volta, para cobrar a sua divida. Para te torturar. Para te lembrar de quem você é.

E no caso da Lillian era para lembra-la de onde ela veio. Porque – por mais nojo que sentisse ao lembrar disso – Lucy Sampaio tinha mais do que a sua aparência, eles tinham mais em comum do que apenas o rosto. O corpo. Elas haviam dividido o mesmo espaço desde que elas não passavam de fetos. Elas tinham o mesmo sangue.

Lilly fez um barulho estrangulado, enquanto se levantava tirando o vestido preto, joias e sapatos, como se tudo estivesse contaminado. Contaminado como a irmã. Deixando um rastro de roupas caras e joias deslumbrantes enquanto ia em direção ao banheiro, Lillian enfiou a cabeça em baixo da torneira, esfregando a maquiagem do rosto, a ponto da sua pele ficar vermelha no local.

Sua cabeça parecia a ponto de explodir. Seu estomago estava tão agitado que ela parecia prestes a vomitar. Ela precisava se livrar daquilo... e rápido. Ela precisava ser ela enquanto podia.

Quando se deu por satisfeita, se olhou no espelho, vendo seu cabelo grudado em algumas partes do rosto onde tinha molhado. Ela respirava ruidosamente, seu rosto vermelho pelo esforço de tirar qualquer resquício de maquiagem.

Com um suspiro, Lillian pegou uma camisola que havia deixado no banheiro e tratou de vestir a mesma, dando um leve sorriso quando o tecido já familiar de algodão entrou em contato com a sua pele. Colocou seu cabelo em um coque alto, e tratou de voltar ao dormitório.

Se recusando a olhar para as malas, maquiagens e joias que estavam espalhadas pelo canto direito do quarto, ela se jogou em sua própria cama, abraçando suas almofadas, antes de puxar para perto de si, uma pasta volumosa que ela não tinha se dado ao trabalho de pegar antes – e nem tinha coragem. Abrir aquilo era como se tornasse toda essa farsa que ela estava prestes a participar, mais real.

Sophie havia a entregado à ela a pedido de Simon, que dizia claramente que ali tinha todas as informações básicas sobre as pessoas que Lucy convivia com frequência. Pessoas que ela teria que estudar a respeito para poder engana-las.

Era tão doentio.

– Não tem outro jeito. – Lilly sussurrou para si mesma, antes de abrir o documento com um suspiro e pegar a primeira foto que era de uma garota.

Ela tinha pele bronzeada, cabelos curtos e negros e olhos da mesma cor. E tinha no rosto um sorriso branco e cativante. Apenas pela foto Lillian podia perceber que a outra tinha um corpo escultural, mesmo quando ela vestia uma calça jeans que estava tingida em vários lugares por tintas de todas as cores e uma blusa bege, enquanto a mesma segurava um pincel como se quisesse melar quem é que fosse que tivesse batido a fotografia enquanto ria.

Kamila Abreu. Lillian leu. Uma das minhas melhores amigas... não, melhor amiga de Lucy. Se apressou a corrigir com raiva, quando percebeu que estava lendo do mesmo modo que Simon tinha escrito. Para ela começar a se acostumar a ser Lucy. Mas ela não era Lucy. Desenhista. Pintora. Tem 24 anos e namora Zayn Malik um dos melhores amigos de Niall Horan e também membro da banda que Niall participa. Personalidade meiga. Nascida no Brasil, porém naturalizada britânica.

A baixinha suspirou, enquanto pegava a segunda foto que também era de uma garota. Esperava poder lembrar todos os detalhes.

A segunda mulher tinha a pele mais clara que Kamila, quase da cor da de Lillian. Os cabelos eram negros e batiam quase na cintura. Na foto ela tinha um sorriso torto, como se estivesse provocando quem quer que fosse que estivesse com a câmera. Os olhos dela pareciam de anime em seu rosto, e eram de um tom que não era muito castanho, estava mais para chocolate o que realmente chamava a atenção. Ela estava inclinada para a frente, para a lente da câmera. Usava calças pretas justas e uma blusa cinza caída de um lado, onde exibia uma cruz em preto. Tinha suas unhas tingidas em vermelho, da mesma cor que os seus scarpans.

Caroline Silva. Lilly tornou a ler e assim como Kamila, ela também não achou que a garota deveria ser totalmente britânica ou americana, devido a estranheza do sobrenome. Também melhor amiga de Lucy.Medica, com especialização em psiquiatria. Tem 25 anos e namora Harry Styles, outro membro da banda do Niall. Personalidade intensa. Também nascida no Brasil e naturalizada britânica. Ela e Kamila eram melhores amigas de infância e conheceram Lucy quando a mesma se mudou para Londres e logo as três se tornaram inseparáveis.

Depois vinha fotos com nomes que obviamente Lillian precisaria gravar, assim como precisava saber quem era. Tinha o nome da chefe de Lucy na agencia que a mesma trabalhava – a ClaryStromberg. E logo em seguida nomes e fotos sem mais nenhuma informação adicional. Harry Styles, Zayn Malik, Liam Payne, Louis Tomlinson e Josh Devine. Lilly supôs que fosse alguns dos outros membros da banda que Niall participava – ela não era idiota. Já tinha ouvido falar de uma talOneDirection. Apenas não sabia nada sobre seus componentes, e obviamente Simon não tinha dado as informações porque elas estavam acessíveis a qualquer um pela internet, pelo menos as informações básicas como idade.

E tinha uma ultima foto, pregada a outra folha. Com um aperto no peito, Lillian puxou a mesma dando de cara com um loiro sorrindo para ela e a primeira coisa que se passou pela cabeça da baixinha foi:

– Lindo. – ela sussurrou.

Ela não pode evitar. Ele tinha uma beleza gritante. Seus olhos eram num intenso azul brilhante, seu sorriso era branco e sincero. Sua pele parecia porcelana, com uma leve cor nas bochechas. Parecia um anjo com o cabelo loiro caindo levemente sobre os olhos. Lilly sempre havia tido uma queda por loiros. Mas não por aquele.

De imediato ela soube que era Niall Horan, nem precisou ler as informações para saber disso e logo se sentiu mal. Como ela seria capaz de enganar alguém como ele? Alguém que parecia tão... em paz.

Ela pensava como a irmã dela podia ter fugido para longe dele. Niall Horan parecia ser o tipo de pessoa que você gostaria de ter por perto e de fato, milhões de garotas dariam tudo para ser Lucy Sampaio ou ter nem que sabe cinco minutos próximas ao loiro. Niall parecia uma pessoa que você podia facilmente se afeiçoar e o tipo de pessoa que você seria incapaz de mentir quando olhasse na imensidão azul que era os olhos dele.

Mas Lucy havia mentido.

E Lilly teria que fazer o mesmo.

E naquele momento tudo o que Lillian queria fazer era desaparecer.


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