Ever Dream escrita por Christine


Capítulo 1
Capítulo 1




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Abriu os olhos. A primeira coisa que os olhos azuis reconheceram foi um teto imaculadamente branco. E a primeira coisa que ele sentiu foi uma dor pulsante na cabeça. Foi só passar a mão para perceber que ela estava enfaixada.

Sentou-se. Viu que Harry estava se aproximando, apressado, em direção à sua cama. Mas era estranho... ele parecia mais velho do que Ron se lembrava.

Bem estranho.

"- Você está bem?" – perguntou. Seus olhos estavam com olheiras profundas e algumas rugas de expressão apareciam.

O ruivo fez uma careta de dor.

"- Minha cabeça dói."

Harry parecia preocupado. Anormalmente preocupado.

"- Ron... a pergunta pode parecer estranha, mas..." – uma pausa breve – "Qual é a última coisa que se lembra?"

Ele nem fingiu se concentrar.

"- Sei lá. Porque quer saber?"

"- Tente se lembrar." – insistiu Harry.

Ron fechou os olhos com visível má-vontade.

"- Não consigo."

"- Tente de novo."

Ron se concentrou. Depois de alguns segundos, ele se lembrou.

"- Merda!" – Harry se sobressaltou.

"- O quê?"

"- Alguma coisa caiu em cima de mim e de Hermione. Bem pesada." – Ficou em silêncio por alguns instantes, acariciando a cabeça como se a tivesse machucado há apenas alguns segundos – "E Hermione? Ela está bem?"

Harry mordeu o lábio. Fez uma pausa de alguns segundos antes de responder, quase num sussurro:

"- Ela morreu, Ron."

De repente, um abismo pareceu se abrir debaixo de seus pés.

"- Ela..."

Harry assentiu sem encará-lo. Estranhamente, não parecia muito triste. Ron estremeceu e enxugou os olhos no lençol.

"- Há quanto... há quanto... quando foi?"

Harry fez uma longa pausa. Parecia que estava com medo de responder.

"- Dois anos atrás."

Ron parou no ato de enxugar as lágrimas. Deixou cair a ponta do lençol que segurava e encarou Harry, embasbacado:

"- Não pode ser." – Harry olhou conformado para o teto.

"- Pode. Parte do telhado despencando é a sua última lembrança?"

"- É, mas..."

"- Isso aconteceu dois anos atrás." – fez um gesto com a mão; uma aliança dourada brilhou – "Você deve ter perdido parte da memória. Os medi-bruxos já esperavam isso."

Mas Ron já estava prestando atenção em outra coisa.

"- Você se casou?"

Apesar da atmosfera do quarto não ser muito feliz, Harry sorriu.

"- Sim. Simas."

"- O quê?" – Harry olhou para ele, surpreso.

"- Não me diga que você não se lembra disso."

"- Não!" – exclamou ele, chocado, ainda tentando absorver as últimas notícias – "Você se casou com Simas? O Simas? Simas Finnigan, nosso colega do dormitório?"

Harry sacudiu a cabeça, estupefato.

"- Você esqueceu disso? Por Merlin, você foi o padrinho de David!"

"- Quem é esse?"

"- O nosso filho!"

Alguns segundos de silêncio.

"- Vocês têm um filho?"

Harry levantou-se da cama, exasperado.

"- Você não se lembra de nada? Nada?"

Ron fechou a cara.

"- Eu me lembro de várias coisas, obrigado!"

"- Algo depois do telhado cair em cima de você e de Hermione?"

Ron tentou se lembrar. Depois de alguns segundos, olhou de volta para Harry, desconcertado.

Depois de Hermione, vinha a escuridão. O vazio. A falta total de lembranças.

"- E-eu..." – respirou fundo – "eu não consigo me lembrar."

"-Nada?"

Ron balançou a cabeça em negação, infeliz. Harry olhou para a parede, frustrado.

"- Está bem pior do que imaginavam. Os medi-bruxos, quero dizer."

Ron sabia que tinha que perguntar, mas estava morrendo de medo de ouvir a resposta.

"- Quanto tempo eu fiquei dormindo?"

Harry deu os ombros, como se aquilo não importasse muito.

"- Quase uma semana. Basicamente porque ninguém sabia qual feitiço tinham jogado em você. Você despencou dois andares depois que foi atirado pela janela. Quando chegou aqui, estava com cortes por todo o corpo, e eles não cicatrizavam de jeito nenhum." - fez uma pausa – "Horrível."

Ron começava a entrar em pânico.

"- Não é possível que eu tenha... que eu tenha esquecido tanta coisa!"

"- Pelo visto, esqueceu." – olhou para ele e decidiu fazer uma última tentativa – "Ron, você não se lembra nem mesmo do seu casamento?"

Casamento.

Foi como se tivessem virado um balde de água gelada nele em pleno inverno. Ron petrificou-se dos pés à cabeça.

"- Eu me casei?" – a voz saiu fina e fraca. Harry pareceu decididamente mais desanimado do que nunca.

"- Sim. Olhe para a sua mão esquerda, se duvida."

Ron olhou. E piscou umas cinco vezes para ter certeza do que estava vendo. No seu dedo anelar havia uma aliança.

Ele estava completamente paralisado.

Harry se aproximou.

"- Você não se lembra dele?"

"- Dele?" – demorou apenas um segundo para entender e arregalar os olhos – "- Não..."

Harry confirmou com a cabeça. Ron se levantou num átimo.

"- Eu-não-sou-gay" – disse, entre dentes.

"- Ron..."

Ele começou a andar em círculos pelo quarto.

"- Não pode ser!"

"- Ron..."

"- Harry, isto está..."

"- Você se casou com ele, sim."

Ron balançou a cabeça numa atitude de auto-negação.

"- Não... não... não..." – olhou para a sua mão esquerda e viu de novo a aliança.

"- Ron, volta e deita."

"- Os nomes estão gravados dentro da aliança?" – perguntou Ron subitamente. Harry o olhou, estranhando.

"- Sim, mas... Ron, não faça isso!" – advertiu, levantando-se num salto; Ron havia tirado a aliança do dedo e a estava examinando para descobrir com quem, afinal, se casara.

"- Porque não?" – perguntou para um Harry nervoso.

"- Eu acho melhor que eu explique." – Ron o encarou, desconfiado.

"- Eu me casei com quem? Slughorn?" – tremeu ligeiramente diante da possibilidade.

"- Não, mas..."

"- Então não pode ser tão ruim assim." – concluiu ele, olhando dentro da aliança e lendo o nome.

Dois segundos depois, Ron olhou para Harry, atônito. Depois, leu o nome de novo. E de novo. E de novo.

Harry correu para ampará-lo, antecipando o pior.

Não.

Só não foi ao chão porque o outro conseguiu segurá-lo a tempo. Dentro da aliança, junto com o dele, estava o nome de Draco Malfoy.

~~*~~

"- Eu quero o divórcio."

Harry olhou para cima. Cinco minutos depois de ter desabado no chão, inconsciente, Ron parecia muito bem acordado.

E absolutamente enfurecido.

"- Como?"

Ele sentou-se na cama.

"- Eu. Quero. O. Divórcio. Agora."

Harry deu os ombros.

"- Não é para mim que você tem que pedir isso, em primeiro lugar. E eu acho que você não vai poder fazer isso."

Ron fechou a cara e cruzou os braços.

"- Me diga uma razão, apenas uma razão, para que eu não me separe imediatamente daquela doninha loira!" – disse, quase gritando.

"- Fale baixo!" – ralhou o outro.

"- Vamos, diga só uma razão!" – Harry não titubeou.

"- Ele está esperando um filho seu. Isso é suficiente?"

Foi como assistir um balão se esvaziando repentinamente. Ron pareceu diminuir.

"- Não é possível." – Harry confirmou com a cabeça.

"- É, sim. Oito meses."

"- Não é possível. Não pode ser." – olhou para Harry completamente desnorteado – "Eu não posso ter feito sexo com ele!"

Harry parecia indeciso se começava a rir ou corria para ampará-lo de novo.

"- Bem, se ele está esperando um bebê, eu... Ron, você está bem?"

Ele havia se encolhido e coberto o rosto com as mãos. Quando falou, a voz saiu abafada.

"- Não, Harry, eu não estou bem. Eu perdi a memória, minha noiva morreu e eu descobri que casei e fiz um filho num Comensal da Morte." – levantou a cabeça – "Eu estou me sentindo péssimo!" – fez uma pausa, perdido – "- Como foi que eu fiz isso?"

"- Eu acho melhor que Draco te explique." – afirmou Harry, hesitante.

"- Não quero vez aquele... aquele... babaca." – Harry fez uma cara estranha, como se o xingamento o tivesse ofendido pessoalmente.

"- Você casou com ele, Ron. E ele está..."

"- Não me obrigue a lembrar disso." – cortou Ron, fazendo uma careta de nojo. – "Eu não sei porque fiz isso, mas fui um completo idiota." – olhou para o abajur como se planejasse batê-lo na sua cabeça.

"- Você vai precisar enfrentar Draco um dia, Ron."

Ele não respondeu. E continuou olhando para o abajur.

Soltando um suspiro de desistência e olhando o outro por uma última vez, Harry saiu do quarto, deixando Ron em estado semi-catatônico.

~~*~~

Uma hora depois, a primeira reação de Ron quando viu Draco Malfoy abrindo a porta do quarto teria sido imediatamente gritar, e, se preciso, socar e chutar para que ele saísse dali. Mas ele nunca fez isso; quando seu olhar desceu do rosto para a barriga, ele percebeu que definitivamente não poderia mandá-lo embora.

Sua barriga estava grande, assustadoramente grande – num ataque de pânico, Ron pensou se ele não estaria esperando gêmeos –, e seu passo não era dos mais rápidos. Chegou, e sem olhar uma vez sequer para o outro, aproximou-se da cama, puxou uma cadeira e sentou-se. Esse processo demorou aproximadamente trinta segundos; Ron não conseguiu formular uma sentença decente nesse tempo.

Draco levantou os olhos e o encarou. Seu rosto também dava mostras que estava profundamente cansado. Mas, quando falou, sua voz estava perfeitamente controlada.

"- Harry disse que você perdeu as memórias dos últimos dois anos."

Ron teve vontade de sair correndo dali. Quando, num surto de percepção, vira o tamanho da barriga de Malfoy e percebera que ele realmente estava com um bebê, filho dele, se desenvolvendo dentro de si, ele sentiu a vontade de bater nele desaparecer em menos de um instante.

Agora, só restava a ele contar a verdade. E contar a verdade para Draco Malfoy era no mínimo singular.

A vontade de fugir dali cresceu assustadoramente.

"- É, eu... esqueci tudo."

Malfoy pareceu aborrecido.

"- Então suponho que não se lembre do nosso casamento." – falou isso enquanto pousava a mão direita na barriga.

Ron sentiu a garganta secar.

"- Não." – pausa de alguns segundos – "Eu estava bêbado?"

"- O quê?"

"- Quando me casei com você."

Os lábios finos de Malfoy ameaçaram se curvar em um sorriso, mas ele conseguiu controlar o movimento involuntário.

"- Não. Quer dizer..."

Ron se curvou para frente.

– "... você havia tomado muito Whisky de Fogo na nossa lua-de-mel, mas creio que isso não conta."

Ron caiu para trás de novo. Lua-de-mel.

"- Eu estava sóbrio?"

Draco pareceu achar graça.

"- Claro que estava."

"- Então porque diabos eu me casei com você? Eu espero que não estivesse..."

"- Não, não estava apaixonado." – as pupilas dele se estreitaram – "- Harry não falou?"

"- Não, não falou."

Os dedos tamborilavam na barriga.

"- Porque eu já estava nessa situação."

"- Que situação?"

Draco bufou, impaciente. Quando Ron fez a ligação, a sensação que ele teve foi bem parecida a de um balaço atingindo em cheio seu estômago.

"- Eu... eu fiz... eu fiz isso em você...antes do casamento?" – Draco revirou os olhos.

"- Claro. O bebê já chutava quando nos casamos." – fez uma pausa incrédula. – "Você realmente achava que nós chegamos à noite de núpcias sem nunca ter..." – deu uma risadinha debochada – "Francamente!"

Ron corou. Sentiu uma vontade incontrolável de olhar para o teto.

"- Então... eu só me casei com você porque você estava nesse... hum, estado?"

"- Claro. Você é um heróico ex-grifinório. Não iria me deixar ter o filho sozinho. Além disso, a criança também é uma Weasley, por mais que eu odeie pensar nisso." – concluiu, ligeiramente desgostoso.

"- Foi só isso?"

"- Só" – confirmou Malfoy.

"- Nós não éramos... apaixonados ou qualquer coisa assim?"

Pela primeira vez, ele pareceu hesitante. Demorou alguns segundos para responder.

"- Não."

"- Não?"

"- Nós nos casamos só porque eu estava..." – deixou as palavras no ar. Olhou para o outro lado, evitando o olhar de Ron.

"- Então, tudo bem." – sentia-se aliviado agora. Estar apaixonado por Malfoy seria demais para ele.

Mas ele precisava perguntar uma última coisa.

"- Malfoy?" – ele demorou a responder, como se não estivesse habituado a ser tratado pelo sobrenome.

"- Sim?"

"- Você está esperando gêmeos?"

Draco ergueu as sobrancelhas.

"- Gêmeos? Não. É só um. Porque você está perguntando?"

"- Nada, é que você está imenso."

Se um olhar pudesse matar, Ron Weasley teria caído fulminado naquele instante.

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