Um lugar para ficar escrita por Renata Leal


Capítulo 7
Capítulo 7




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Nós podemos continuar sendo a companhia um do outro. Talvez nós, podemos, ser a companhia um do outro.

Company – Justin Bieber

– Prometa-me – Caíque começou quando já estávamos distantes o suficiente de Fabiana. Surpreendi-me por ela não ter ido atrás dele. – Não toque mais no assunto. Finja que não ouviu nada. Finja que nada aconteceu. Não comente com ninguém sobre hoje. Por favor. – ele disse segurando o meu rosto. Essa seria a prova da minha confiança.

Eu não queria ser que nem a louca da Fabiana, que não o deixava viver. Não queria que ele se sentisse dessa maneira comigo. Já basta o que ele passou. Ele precisa viver como uma pessoa normal. E como ele falou, ficar preocupada, falando toda hora na depressão, não vai fazer com que ele melhore mais rápido; muito pelo contrário.

– Prometo. – falei. – Quero que confie em mim. De verdade. Mas, se precisar desabafar, falar qualquer coisa, saiba que pode confiar em mim, apesar de nos conhecermos pouco.

– Eu sei disso – ele disse sorrindo. Fiquei contente por ele ter sorrido. Lá no fundo, senti que ele, realmente, confiava em mim. Senti que, de uma certa forma, eu trazia paz pro coração dele.

– Que bom – falei.

– Malu, desde o dia da praia, quando nos beijamos, eu já tinha certeza de que você mudaria a minha vida.

Calma lá, amigo. Vamos com calma, por favor.

– Olha... Por favor – pedi.

– Eu sei que pode parecer dramático, sei lá, meio estranho, mas é verdade – ele disse olhando pro chão.

– Não quero deixa-lo constrangido. Só acho que as coisas deveriam rolar com mais naturalidade, como já te disse – eu disse.

– Claro, claro. Concordo com você. Só que sinto-me no direito de expressar o que eu sinto. Confio em você. – ele falou.

– Tudo bem – eu disse sorrindo. Dei um selinho nele e sugeri para continuarmos andando. Ele concordou.

*

– Então, está gostando dele? – Luna perguntou após eu contar para elas o que havia acontecido. Omiti a coisa da depressão. Não queria trair a confiança do Caíque. Mas, caso elas um dia saibam e parar não parecer que eu estava escondendo, deixei claro que eu sabia o que estava acontecendo, entretanto prometi ao Caíque que não contaria para ninguém.

– Não. – respondi imediatamente. – Na verdade, é um sentimento meio estranho. Sinto que ele precisa de mim. Talvez o que eu sinto por ele seja somente sentimento de amigo, mas já basta o que ele está passando, não quero decepciona-lo.

– Mas, namorando com ele você ficará infeliz e o enganará, Malu. Você não pode iludir o garoto, também. Será pior para ele depois, pois ele estará mais apaixonado e para desapegar será muito mais complicado. – Clara comentou.

Concordei. Eu não tinha pensado nisso.

Qual a coisa certa a se fazer, meu Deus? Não sei o que estou fazendo, não sei!

– Olha, eu ainda acho que vocês podiam continuar. Ele sabe que você não sente o mesmo, né? – Mariana interveio.

– Sabe – respondi.

– Então! É só você não deixar que ele esqueça desse detalhe. – Mariana falou. – Afinal, se você terminasse, talvez, ele ficasse muito chateado e não quisesse nem sua amizade! Imagina aí... Depois daquela loucura toda da Fabiana, a coisa parece séria. Melhor você ficar mais perto dele... E como você já disse, ele precisa de você.

– Isso é verdade – eu disse.

– Ainda concordo com a Clara. Você não gosta dele, não pode iludi-lo. Entretanto, se terminar, pode magoa-lo. – Luna interveio.

– Estou extremamente confusa. Não sei o que fazer – falei.

– Vamos lá. Por mais que você já tenha deixado claro que não sente o mesmo, chegue até ele e proponha uma conversa um pouco mais séria. Entretanto, não deixe que ele pense que você está com ele por pena!

– De forma alguma! – falei rapidamente.

– É o que está parecendo – Luna interrompeu.

– Não, não, gente, por favor! Caíque é uma ótima companhia. Acho que, com certeza, sentiria falta se terminasse com ele. Eu ficaria triste – falei.

– Está entrando em contradição consigo mesma. – Luna disse. – Você acabou de dizer que não gosta dele!

– Malu está com medo de terminar tudo e ele ficar tão arrasado a ponto de se afastar completamente e ela não ter mais notícias dele. Consequentemente, ele ficaria sem ela e vice-versa. Obviamente, ela não quer que isso aconteça. Certo?! – Clara perguntou. Afirmei. – Então, já que longe dele você não quer ficar... Seja como amiga ou como namorada, o único jeito é você conversar com ele e dizer que você não quer nada sério porque prefere, primeiramente, conhecer a pessoa para depois entrar em algo mais sério. Caso ele ache esquisito essa conversa, argumente que você tem notado que ele está indo um pouco rápido, como você já havia dito. – Clara deu uma pausa para ver se todas concordavam. Atentas, pedimos que ela continuasse. – Depois dessa conversa, ele vai ter plena consciência de que você não gosta dele como ele gosta de você. Entretanto, gosta um pouco, sim, pois não quer terminar, quer continuar com ele. Certo?! – Clara perguntou. Afirmei.

– Pronto – Mariana disse.

– Só não deixe que essa história vá longe demais. – Luna disse. – Você pode iludi-lo. E ainda tem aquela Fabiana.

– Essa menina é ridícula! Será que não entende que ele não quer nada com ela? Fica no pé dele! Toda hora lembrando do que ele passou... Fica falando o tempo inteiro nesse assunto! Não tem como conviver com uma pessoa como essas! Ele está certíssimo – Mariana disse.

– Ainda acho que esses dois deveriam ficar juntos. Fabiana gosta dele de verdade – Luna falou.

– Mas, ele não gosta dela! – Mariana interveio.

– Assim como a Malu não gosta dele – Luna rebateu.

– Gente, chega desse assunto né. Malu deixou claro que gosta, sim, de ficar com ele, porém não quer nada sério porque não desenvolveu um sentimento forte o suficiente. Simples assim. Vamos ver um filme. – Clara falou.

Ótima ideia. Pusemos “Velozes e furiosos”. Meu avô tinha a coleção completa, pois era o seu estilo de filme favorito. Mesmo com toda ação e emoção de um estilo que eu era apaixonada, Caíque e aquela situação toda não me saiam da cabeça.

*

11 de dezembro, sábado, 19h

– Mariana! Você precisa me emprestar aquele batom vermelho que você estava comentando ontem! – Luna disse para Mariana, quase surtando.

Estávamos nos arrumando na casa de Clara e Mariana para o show do primo da Fabiana. Sim, iremos ao show a convite do Caíque. Mas, não é muita loucura ir para lá para se encontrar com Fabiana? Sim, é loucura demais, entretanto sei como é a sensação de não estar próximo de amigos que você ama, então decidi dar esse presente à Fabiana. Ué, como assim, Malu? Eu sugeri ao Caíque irmos ao show. Exatamente.

Eu não quero ser motivo de afastamento de amigos. E, se depender de mim, não quero ficar brigada com ninguém dessa cidade que amo tanto. Eu queria muito conversar com Fabiana. Sei que é um péssimo lugar, mas talvez consiga o número ou e-mail dela, marque alguma coisa porque uma coisa que eu não suporto é assunto mal resolvido. Sou louca? Sim, um pouco. Ela é capaz de matar? É, talvez. Mas, não estou nem ai. Não quero passar o resto da minha vida lamentando por não fazer o que tenho vontade. Quero conversar com a garota pra tudo ficar numa boa e não ter mais clima ruim. Espero que funcione.

Eu vesti um vestido preto folgadinho, porém alinhado e um salto não muito alto, também, preto, porém com detalhes em vermelho. Mariana estava com um short de renda branco e uma cropped preta – que eu amei, mas ela não quis me emprestar –. Clara pôs um vestido vermelho bem colado até a cintura e solto nos quadris, deixando o seu corpo incrivelmente moldado (e me deixando com inveja – boa, claro –). Luna colocou um macacão verde escuro – muito lindo, por sinal – de renda e um salto bem alto. Ela é fissurada por saltos altos. É bem baixinha e funciona incrivelmente bem nela. Tem um corpo escultural e sabe andar direitinho em cima dos seus saltos desarmadores.

Todas prontas, a tia Cláudia iria nos levar para o show. Ao chegarmos na porta, como combinado, os meninos e Jéssica nos esperavam. Cumprimentamos todos e dei um selinho de leve no Caíque. Ele abriu um sorriso lindo para mim quando me viu. Confesso que isso fez o meu coração bater um pouco mais forte.

– Você é tão linda – ele sussurrou no meu ouvido. Sorri para ele e nos beijamos.

– Ei, pombinhos. Melhor entrarmos, não acha? – Mariana disse, nos interrompendo.

Concordamos e entramos. O local estava bem cheio, mas não era muito grande. Tinha um barzinho e alguns bancos que, obviamente, já estavam ocupados.

O show começou pontualmente às 20h. Todos estavam muito animados, fazendo piadas e conversando uns com os outros. Achei muito legal essa coisa de não dar atenção somente ao cara que está com você. Já reparei que sempre quando alguma minha vai acompanhada para algum lugar, esquece de todos a sua volta e fica com o seu acompanhante. Não acho que isso seja legal. Deve-se dar atenção a todos e é assim que fica mais divertido.

Tenho que admitir o primo da garota tem talento. Canta e toca muito bem. Ele é o vocalista e toca violão. Além dele, tem mais uns garotos com bateria, guitarra, teclado, violino, baixo e saxofone. Era uma banda completíssima! Amei o som.

Depois de algumas músicas autorais, começaram a tocar algumas bastante conhecidas, entretanto, no estilo deles. Mas, mesmo assim, ficou perfeito. Algumas eu sabia cantar e ficava lá abraçada com Caíque cantando, até mesmo me animando com Luna quando ele cantou Kid Abelha ou rindo com Mariana e Clara quando ele cantou Strike, pois me lembrei de uma das férias, onde várias coisas engraçadas aconteceram.

Alguns meses atrás

– Eu não acredito que você deu em cima do cara da padaria, fala sério! – Clara disse enquanto caminhávamos no calçadão em frente à praia.

– Ela não deu em cima. Ela estava praticamente em cima dele! – falei rindo.

– Cala a boca, Malu! – ela disse rindo mais que eu e fingindo vir me bater. Nesse momento, esquivei-me e sai correndo... E acabei me esbarrando em um cara. Derrubei todas as suas caixas.

– Ai, meu Deus! Desculpa, não te vi! – falei desesperada abaixando-me para pegar a caixa que derrubei. Percebi que eram caixas que tinham chocolates! Trufas, barras de chocolate... Senti uma pontada de fome.

– Tudo bem. Eu que deveria ter prestado mais atenção. – ele disse, gentil.

Percebi que no fone que ele usava tocava Strike.

E ela me faz tão bem... Quando cai a noite eu sou refém. E ela me faz tão bem... Sem você não sou ninguém. Hoje eu vou me entregar...

– Trilhar com você pra onde você for – cantarolei.

– Pra quê lógica quando se ver que é o amor... – ele completou rindo. – Acho que está um pouco alto. – brincou.

– Um pouco – falei rindo. – Preciso ir. Desculpa novamente. – falei. Ele afirmou com a cabeça, sorriu para mim e saiu.

Esqueci-me completamente que Mariana e Clara estavam atrás de mim. Só fui lembrar quando elas quase pularam em cima de mim rindo e fazendo “Hummmm”. Não era um simples “Hum”, era um “Hum” com fundo de “tem algo aí”. Ignorei e continuamos andando e conversando sobre o cara da padaria pelo qual Mariana estava momentaneamente apaixonada.

Nos dias de hoje

– Caramba, Malu, olha só quem tá te olhando! – Mariana gritou, despertando-me da minha lembrança.

Quando dou-me conta, tomo um susto. Reparo uma moça com um rosto familiar e ao lado dela, o cara da direita. O cara que derramou suco em mim na praia.

– Gente, que coincidência! – Clara sussurra para Mariana.

– Eu conheço esse rapaz – falo.

– Claro, né, fofa! Ele te deu um banho de suco! – Mariana diz rindo, provavelmente, lembrando da cena extremamente constrangedora.

– Eu sei, mas não é só isso. – falo em um tom reflexivo. Paro um pouco para pensar. Antes de Mariana me interromper, estava pensando naquela música de Strike. Tocava “Fluxo perfeito” no fone de um rapaz que carregava caixas. Ele era alto, tinha olho claro e pele bastante bronzeada. Ele não parava de me encarar. Mal respirei.

O cara da direita é o mesmo cara que eu me esbarrei naquelas férias.


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