Um lugar para ficar escrita por Renata Leal


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Perdão pelo sumiço! Foi uma eternidade, eu sei! Desculpem-me :(



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Então, irá durar para sempre ou acabará em chamas.

Blank Space – Taylor Swift

9 de dezembro, quinta-feira, 14h

– Oi, Malu. Que pena que você não pôde ir hoje à noite. Senti sua falta. Melhorou? Se não, pode me falar que eu vou ai cuidar de você. – Caíque.

– Maluzinha, meu amor. Perdoe-me por não ter dormido com você ontem. Chegamos muito tarde ontem. Estou cheia de coisas para te contar! O Yago é muito fofo! Por favor, espero que essa dor de cabeça passe logo, quase não aguentei essa noite sem você! Fica boa logo, ok? Quis passar ai, mas a Clara acordou atrasada, para variar, e os meninos já estavam esperando na praia há muito tempo, então não deu. Desculpa! Mil beijos! – Mariana.

– Oi linda! Espero que você tenha melhorado! Sentimos a sua falta ontem à noite e não passamos na sua casa, principalmente, por medo de você estar dormindo ainda e porque os meninos estavam nos esperando na praia. Acredita que logo hoje o Pedro e o Bruno resolveram ir? Pena que você não foi. O sol está muito forte! Estamos amando! Melhoras, meu amor! – Clara.

O sol estoura na minha janela e fico um pouco tonta ao tentar abrir os olhos. Viro o lado do travesseiro para não ficar do lado da janela com aquela luz impactante e percebo que alguém toca meu braço.

– Mãe?!

– Oi, meu amor... Está na hora de acordar, você não pode dormir tanto assim. O almoço já está pronto, estamos apenas esperando por você.

Aquilo só podia ser brincadeira. Almoço?! Não acredito que perdi uma boa parte do dia dormindo! Mas, bem que eu merecia, pois ontem à noite tive uma dor de cabeça insuportável. Dormi cedo e acordei tarde... Que ótimo.

Disse à minha mãe que eu ia tomar um banho rápido e já estava indo. Tomei banho, coloquei uma blusa com uma manga curta preta e um short branco e fui à cozinha. Hoje tem camarão. Oba! Pelo menos isso para me alegrar.

Quando chego à cozinha, levo um susto. A Luna está aqui. Quase pulo nos braços dela.

– Menina, você dorme, viu?! – ela disse enquanto me abraçava forte.

Então... Será que era por isso que ela estava toda esquisita? Guardando-me esse segredo?! Que ótima notícia!

– Eu só posso estar sonhando! – falei abraçando-a novamente.

– Obrigada, obrigada... – ela disse, um pouco convencida por tanto amor naquele momento. – Eu vou embora domingo. Implorei tanto a meu pai que ele acabou se irritando e deixando eu vir hoje, mas ordenou para que voltasse domingo, sem atraso!

– Não tem problema! O que importa é que, pelo menos, uma parte das férias nós vamos passar juntas! – eu disse, mais uma vez, abraçando-a. Eu não sabia quanto aquela garota me fazia falta. Parece até que nascemos grudadas... É muito amor!

Almoçamos, extremamente felizes e sorridentes. Minha avó é completamente apaixonada pela Luna e ficou mimando a minha amiga. Fiquei com ciúmes, então ela logo começou a puxar o saco das duas. Como eu amo essa mulher.

– E tem mais uma surpresa... – a dona Denise disse enquanto eu tomava um delicioso suco de maracujá. – Eu estava procurando um rapaz para trabalhar como entregador, já que, o anterior saiu. E eu encontrei! Forte e saudável para carregar diversas caixas! – ela disse animando a todos.

– Graças a mim, é claro. – o meu avô interrompeu.

– Vô! – dei um grito e fui dar um abraço forte nele. Era a segunda vez, apenas, que nos víamos nessa minha viagem, já que, ele vive na rua resolvendo as coisas da doceria da minha avó.

Agora, sim, a minha felicidade estava completa. Meu avô não almoçou conosco, porém podia comer a sobremesa!

*

9 de dezembro, quinta-feira, 18h30.

– Você precisa ir com a gente, Luna! Isso é uma tradição! Vamos toda noite nas férias! Nem que seja só para olhar o mar... É tão bom!

– Estou tão cansada, gente... – Luna disse.

Estávamos todas nos arrumando para ir à praia. A gente não tinha a intenção de jantar num restaurante, até porque dinheiro não nasce em árvore... Portanto, a minha avó fez pães de queijo e nos sugeriu fazer um “piquenique” na praia. Adoramos e aderimos à ideia. Além de pães de queijo, levamos suco e biscoitos.

Pedro e Bruno estavam na sala assistindo à televisão; eu, Clara e Mariana estamos no quarto tentando convencer a Luna de ir conosco, pois Caíque, Marcelo e Yago – viraram inseparáveis – estão na casa do Marcelo nos esperando.

Mariana conseguiu convencer a Luna, como sempre. Parece que essa menina tem algum poder sobrenatural, pois sempre consegue convencer as pessoas de tudo.

Eu estava com uma roupa básica, porém bastante composta por conta do frio que estará lá fora, com certeza. Apesar de frio, eu sabia que teria uma brisa incrível, característica daquele lugar de tirar o fôlego.

– As princesas já estão prontas? – Pedro gritou de lá de fora. Foi ótimo esse garoto ter aparecido! Até agora, ele não fazia ideia que a Luna estava aqui, pois havia chegado tinha pouquíssimo tempo. A Luna não é nem um pouco tímida, porém quando se fala em garotos... Ela só finge que não é, pois, sei que, por dentro, há uma garota parecidíssima comigo, que trava só de pensar!

Decidimos ir logo, antes que eles nos puxassem à força. Sem falar quem tinha batido na porta, fomos até o local onde os garotos estavam.

– Pedro, essa é a Luna. – falei ao chegarmos na sala.

Percebi o rosto dele corar. Olhei para a minha amiga e ela estava o encarando, talvez esperando alguma reação. Pedro é um garoto muito bonito e atraente, com certeza é a cara da Luna, eles são feitos um para o outro! Não sei, de verdade, como não pensei nisso antes...

– Oi Pedro! – ela disse dando um abraço rápido nele. Reparei que eles trocaram olhares. Apesar da espontaneidade da Luna, reparei uma certa timidez...

– Acho melhor irmos... O Marcelo já me mandou milhões de mensagens! – Clara disse interrompendo aquele “clima”. Todos concordaram e fomos.

*

Ao chegarmos na praia, colocamos os panos, as vasilhas... Tudo certinho na areia. Apesar de muito frio, agradecemos à Deus por não ter muito vento. Na verdade, quase nunca isso acontecia, porém... Nunca se sabe. Ficamos com medo, mas arriscamos. Ainda bem. Com certeza será uma noite maravilhosa.

Quando o Caíque foi ao banheiro, junto com o Yago e os outros meninos, a Luna aproveitou para conversar comigo.

– Esse que é o garoto, não é? – ela me perguntou. Notei um tom tristonho em sua voz. O que me preocupou. Por que será que ela não gostou nem um pouco dessa novidade?

– Sim. – respondi. Eu não queria falar muito sobre isso, pois percebi certa estranheza da parte dela, quando contei sobre ele. Então, já que não havia interesse, melhor nem comentar sobre.

– E como vocês estão? – ela perguntou, parecendo um pouco mais interessada, entretanto, ainda não era a Luna animada e sorridente de sempre quando se tratava de assuntos desse tipo.

– Ah... É como eu te falei naquele dia: acho que ele gosta de mim, mas não gosto tanto assim dele. Gosto de estar com ele, é uma ótima companhia, mas... Não sei direito. Acho que não teve muita química. Quem sabe com o tempo... Não custa nada tentar.

– É. – a Luna disse. Percebi que queria falar alguma coisa, mas notou que os meninos estavam voltando e não disse mais nada.

Quando todos já estavam acomodados, começamos a comer. Havia algumas conversas entre uns e outros, mas eu estava um pouco mais calada. Percebi que Pedro tinha sentado ao lado da Luna e estavam conversando. Fiquei feliz. E acho que ela também. Notei um brilho no olhar, um sorriso diferente... Como nunca pensei nesses dois juntos? Eles têm tudo haver um com o outro. Se deram bem logo.

– Vamos jogar verdade ou consequência? – Yago perguntou.

– Amei a ideia – Mariana logo se posicionou.

Pegaram uma garrafa de 2L de Coca-Cola e estipularam que: ao girarmos a garrafa e a mesma apontasse a tampa para uma pessoa, essa perguntaria; ao girarmos a garrafa e a mesma apontasse o fundo para outra pessoa, a outra responderia a pergunta.

Giramos.

Fiquei com muito medo que fosse logo a primeira, mas a garrafa indicou Mariana para responder e Clara para perguntar.

– Verdade ou consequência? – Clara perguntou.

– Verdade. – Mariana respondeu. Todos soltaram um “Aff”, pois gostariam que ela escolhesse consequência.

– É verdade que você ronca? – Clara perguntou. Nesse momento, todos começaram a rir e Mariana ficou séria.

– Você sabe que não ronco desde os dez anos. Obrigada por me constranger. – Mariana respondeu com uma cara de “vai ter troco”.

– Você topou jogar, maninha. Sinto muito – Clara falou, enquanto todos ainda riam.

Giramos a garrafa novamente.

Mariana para perguntar e Marcelo para responder.

– Verdade ou consequência? – Mariana perguntou.

– Consequência. Amo desafios. – Marcelo disse e todos comemoraram.

– Ok. – Mariana disse um pouco pensativa. – Vá até aquele grupo de amigos – ela falou apontando para uma galera sentada na beira da praia. Devia ter umas vinte pessoas. – E diga que você é gay.

– Fala sério – Clara disse revirando os olhos.

– Isso não tem graça. É sério? – Marcelo falou.

– Seríssimo. Ainda vou filmar. – Mariana falou preparando a câmera do seu celular. – Qual é? É só uma brincadeira... – disse, irônica.

Com extremo senso de humor, Marcelo foi até o grupo desfilando. Todos começaram a rir da sua atuação. Marcelo fingiu uma queda. O grupo ficou olhando, assustado. Marcelo pôs a mão no tornozelo e começou a “chorar” de dor. Duas garotas correram para o ajudar, porém Marcelo era bem forte e não conseguiram o levantar. Logo, três garotos foram até ele e o levantaram.

– Ai, que tudo! – Marcelo gritou. Os três rapazes afastaram-se e Marcelo voltou correndo. Todos, claro, rindo muito.

– Tenho que postar isso no Facebook! – Mariana falou.

– Claro que não, cunhadinha. – Marcelo falou. – Já estou famoso aqui na praia, não basta para você?

– Você ficaria famoso no Facebook, também! Não é o máximo? – Mariana brincou.

– Arranjaria um namorado, com certeza. – falei.

– Péssima ideia. Meu namorado é hétero. H-E-T-E-R-O. – Clara falou rindo.

Depois disso, o jogo ficou ainda mais divertido. As pessoas só escolhiam consequência para se divertirem. Desafiaram o Caíque bater na cabeça de um cara e sair correndo; desafiaram o Yago a cair na água, gelada, por sinal, só que ao chegar, ele se sacudiu, nos molhando; fui desafiada a comprar um cachorro quente, dar uma mordida e jogar fora gritando que tá estragado. Foi um mico! Mas, foi divertido. Depois, pedi desculpas à moça, alegando que foi uma brincadeira.

E então, notamos que o tempo voou. Decidimos ir para casa. Caíque foi comigo e Luna até a casa da minha avó e os outros com seus respectivos “pares”.

– Eu vou entrar, deixar vocês se despedirem. Obrigada, Caíque. – Luna falou, fria. Sem esperar resposta dele e sem nos olhar, ela entrou.

– Por nada... – ele falou, sabendo que ela não escutaria. Rimos. Ficamos em silêncio por poucos segundos, mas que, para mim, pareceu uma eternidade. – Adorei essa noite – ele disse.

– Eu também. – falei, um pouco sem graça.

Caíque, então, inclinou-se e me deu um beijo.

Não consigo entender meus sentimentos. Ele é um cara tão legal, mas não desperta nenhum tipo de sentimento em mim. Claro, há atração, porém não passa de uma simples atração. Eu queria sentir mais. Queria poder olhar para ele da mesma maneira que ele me olha, mas eu não consigo. Ele me trata tão bem, me faz sorrir, é divertido... É aquele cara que todas sonham.

Acho que esse é o defeito dele: não ter defeitos. É impossível.

– Eu gosto muito de você, Malu – ele disse. Era só o que me faltava! O que eu falo? Por favor, Deus, me ajuda.

– Nunca sei o que dizer... – falo olhando para baixo, sem graça.

– Diz que sente o mesmo. – ele falou.

– A gente acabou de se conhecer... É muito pouco tempo – falei.

– Não sente o mesmo? – ele perguntou.

– Não é isso... É que...

– Não estou entendendo – ele me interrompe. – Eu gosto de você. Como não pode gostar de mim?

– Como assim? – eu indago. – As coisas não funcionam dessa maneira.

– Você me iludiu todo esse tempo! – ele falou.

– Como é que é? – eu estava em estado de choque. Ele estava surtando porque eu não disse que sentia o mesmo? Quantos anos ele tem? Cinco?

– Você está sendo muito dura comigo. Não pode fazer isso comigo! – ele estava quase chorando? É isso, mesmo, produção?

– Dura? Eu não disse nada! – eu estava de braços cruzados tentando entender toda aquela cena.

– Exatamente! Eu sou um idiota, mesmo. Sempre falo as coisas certas, mas em horas erradas. Sempre! Sou um idiota! – ele disse chutando a parede.

– Caíque, você não é um idiota. Estava apenas demonstrando os seus sentimentos! O que tem demais nisso? Nada! Você é um menino sensível e eu admiro muito isso em alguém... – falei. Ele sorriu. Sorriu como se ainda houvesse esperança. Sorriu como uma criança sorri quando ganha a bicicleta desejada. Mas, eu não sou uma bicicleta. E ele não me ganhou.

– Gosta de mim? – ele perguntou. Insistente.

– Caíque. Eu serei bem franca com você, já que percebi a sua extrema sensibilidade quando se trata dessas coisas. Eu gosto de ficar com você. Gosto da sua companhia, mas isso não significa que eu gosto de você. – falei. Dei uma pausa, dei um passo para trás, esperando algum surto, algum choro, mas ele estava parado olhando fixamente para mim. – Sabe por que? Porque eu mal te conheço! Não sei quase nada sobre você. As coisas não funcionam assim. Você precisa ter paciência, tolerante e esperar o tempo certo. As coisas devem acontecer naturalmente. Essa é a graça. De que adianta você se apaixonar perdidamente por uma pessoa e não ter aquele gosto de conquista-la? De que adianta? Aquele nervosismo, aquele desejo por uma mensagem de “bom dia, dormiu bem?”. Eu quero sentir isso. Ainda não sinto porque está cedo, mas eu esperava sentir. Não precisa ser tão depressa.

Todo gosto por ele se foi. Se tem uma coisa que eu detesto é pressa. Odeio que me pressionem, que me apressem... Gosto de resolver tudo com calma, gosto que respeitem o meu espaço. Achei-o invasivo, querendo saber demais... A gente mal se conheceu!

– Desculpa. – ele disse. Ele pareceu realmente arrependido por toda cena, porém, não deixei de acha-lo esquisito. – Boa noite. – ele disse e saiu.

E então, fiquei sem entender absolutamente nada do que havia acontecido.

*


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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