Octavia

Octavia quase não podia acreditar.

Ela e Clarke não se viam há tanto tempo e agora faltava apenas uma hora para a loira descer de um avião, bem na sua frente. Era inacreditável.

Ela sentia falta da época que ela, Bellamy e Clarke eram inseparáveis. Desde a época em que Octavia e o irmão viviam num orfanato, Clarke sempre esteve com eles. Era o trio de ouro, que teve uma pausa extremamente drástica.

— Olha o que eu ganhei. – Bellamy mexeu em uma gaveta e tirou de lá um revólver. – Agora sou oficialmente um policial.

— Que ótimo, Bell! – Octavia sorriu, pegando o revólver e analisando cada detalhe. – Imagina o estrago que isso ia fazer na cara das "amiguinhas" do Atom. Isso é tão foda!

— Não tão foda quanto eu perder meu porte, só porque tenho uma irmã que precisa de tratamento. – ele disse, tirando a arma das mãos dela – Espera... Atom? Não é aquele babaca de novo, é?

— Atom? Quem falou em Atom? – Octavia mudou de assunto.

— Octavia, sem brincadeiras. É o mesmo Atom que fez aquela merda com você? – Bellamy travou a passagem da morena, a impedindo de passar para o outro cômodo.

Há umas semanas, Octavia apareceu em casa com uma pequena marca no rosto. Parecia ser o roxo de um soco, ou algo assim. Depois de muito tempo com Bellamy pressionando, ela confessou que havia sido seu ex-namorado, Atom. Eles brigavam e voltavam, quase todo mês.

Aquilo foi um tremendo acidente, e não ia acontecer de novo.

— Se ele tocar em você de novo... – Bellamy segurou em seu pulso, os olhos fixos na irmã. – Eu juro que eu vou caçar esse cara até o inferno. E até depois de lá.

— Ele não fez nada. Atom mudou, Bellamy. Dessa vez é sério. – ela verificou as horas no seu celular. – Tenho que acordar a Raven.

— Quer a arma emprestada? - Bellamy perguntou, sarcástico.

A morena revirou os olhos e entrou no quarto de Raven e Bellamy, se deparando com uma imagem angelical. Raven, toda embrulhada no cobertor, os cabelos bagunçados, um pequeno sorriso no rosto e com os fones de ouvido.

Com muita calma e paciência, Octavia retirou os fones de seu ouvido e acordou sua amiga:

— RAVEN, MEXE ESSA BUNDA MOLE DA CAMA AGORA, TEMOS QUE IR! AEROPORTO, EM CINCO MINUTOS!

— O QUÊ? TEMOS QUE IR PARA O SUL! – ela abriu os olhos, alarmada. Raven grunhiu, se afundando no meio dos travesseiros. – Octavia, se você me acordar assim de novo, eu vou arrancar seu cabelo fio por fio. E a minha bunda não é mole, se quer saber.

— Se continuarem discutindo sobre a bunda da Raven, eu juro que afogo as duas na privada. – Bellamy reclamou, saindo do banheiro, envolto em uma toalha.

— Então vamos discutir sobre o fato de você amar a Clarke e ser idiota demais pra confessar! – Raven se levantou, com certa dificuldade naquele bolo de lençóis, e correu, enquanto Bellamy ia atrás dela. – Bellarke! Bellarke!

— Bellarke! – Octavia se juntou ao coro.

Bellamy correu atrás delas pelo apartamento inteiro, que não era muito grande, o que fez eles derrubarem e espalharem grande parte das coisas. Um tempo depois, Octavia tropeçou, fazendo os três pararem no chão, rindo.

Mais um dia normal na família Blake.

.

Clarke

— Me fala mais sobre os seus amigos. – Lexa pediu, deitando a cabeça no ombro de Clarke, sobre a poltrona do avião. – Você parece gostar tanto deles, e eu não conheço nenhum.

Clarke sorriu, ao se lembrar do chama de velha família:

— Tem a Octavia, eu já falei muito dela, porque provavelmente ela vai ser a pessoa mais louca que você vai conhecer. Tem a Raven, que uma vez passou de toalha em frente a webcam.

— Ah, essa eu quero conhecer. - Lexa falou, mordendo o lábio inferior.

— Pode parar de dar em cima das minhas amigas? Obrigada. – as duas riram e Clarke continuou. – Tem o Jasper e o Monty, que são quase irmãos e vivem juntos, todo mundo desconfia que eles têm um caso, mas o Jasper tem namorada. O Murphy é meio caladão e fechado, mas ele é bem legal, quando você o conhece direito. Ah, o Wells, que é filho do melhor amigo do meu padrasto, mas sempre fica na casa da minha mãe. E... E tem o Bellamy.

— Por que essa pausa dramática no Bellamy, além desse nome ser terrivelmente estranho para um ser vivo?

A loira olhou para os próprios pés.

Clarke e Bellamy, desde que se conheceram, sempre fizeram tudo juntos. Ela o ajudou com tudo que ele e Octavia precisavam no orfanato e os três eram tão próximos, quando crianças, que criaram um mundo imaginário, chamado "Arca".

Eles até tinham um plano de, quando tivessem idade suficiente, dar a volta ao mundo.

Uma das mais difíceis escolhas que Clarke já fez foi deixá-los em Sky e se mudar para o Canadá, para que continuasse os estudos.

— É que nós perdemos contato, com o tempo. – ela franziu o cenho, tentando afastar as lembranças. – Mas não é com isso que eu estou preocupada agora. Como vamos dizer para todo mundo que vamos nos casar em quatro meses?

Lexa se afastou, desconfortável:

— Achei que sua família soubesse que estávamos namorando.

— Namorando, sim. Mas você me pediu em casamento há uma semana. Eu não tive tempo para contar.

— Ela vai gostar de mim, assim que ver o quanto eu sou incrível. – a morena sorriu, voltando sua atenção para a janela.

(X)

Clarke e os outros saíram do avião, levando apenas alguns minutos para chegar até um lugar onde pudessem esperar Lincoln e Lexa ligarem para o serviço de táxi. Anya e Clarke agora estavam sozinhas, o que era um péssimo sinal.

— Eu não quero ser chata, mas... Acho que não pode fumar aqui dentro. – Clarke sorriu, desconfortável, enquanto Anya acendia um cigarro.

A amiga de Lexa sorriu de volta e soprou um pouco de fumaça na direção do rosto da loira.

— Tem razão. – ela disse, com a voz arrastada, e ainda com o cigarro na mão. – Esqueci que você é presidente e tudo mais...

Veja só, temos alguém rebelde aqui, Clarke pensou. Ela queria tanto dar um soco em Anya, mas algo lhe dizia que, se elas brigassem, iam ter que continuar se encarando com ódio pelos próximos quatro meses. E isso era pedir demais.

— Olha só, eu fiz alguma coisa que você não gostou? - ela perguntou, arqueando as sobrancelhas.

— Na verdade, fez, sim. Você vai se casar com a minha namorada. – Anya se pôs de pé.

Clarke arregalou os olhos:

— O-o que? Você e Lexa... O quê?!

Depois de alguns segundos, Anya sorriu, jogando o cigarro no chão:

— Brincadeirinha?

Clarke bufou, se afastando. As duas se conheceram há horas e já se odiavam, ela não queria nem pensar em como seria conviver com aquela mulher.

— Clarke! – ela ouviu vozes familiares chamando seu nome e se virou, a fim de achá-las.

E lá estavam Octavia e Raven, na entrada do aeroporto, sorrindo como crianças. Clarke largou as malas no chão, correndo para abraçar as amigas. As três se envolveram em um abraço apertado, que durou quase dez minutos.

— Nunca achei que ia ficar tão feliz vendo uma loira! - Octavia admitiu, a abraçando novamente.

— Como eu senti falta das duas! – Clarke não conseguia manter o sorriso fora do rosto. Ela franziu a testa. – E onde está o Bellamy? Eu quero muito falar com ele.

— Ele tinha muito trabalho a fazer. – Octavia explicou, dando de ombros. – Mas quem liga para o Bellamy? Vamos falar sobre você! Como foi a viagem? Por quanto tempo vai ficar? Você veio com alguém? Por que resolveu passar as férias aqui, algum motivo em particular?

As perguntas saíam pela boca de Octavia, sem controle ou filtro nenhum. Raven balançou a cabeca:

— Deixa a canadense respirar um pouco o ar americano.

As três se encaravam, parecendo perceber todas as mudanças, reluzentes. A loira queria abraçar as duas novamente e não soltá-las nunca mais.

— Ah, finalmente. Como é difícil arrumar um taxista que trabalhe segunda. – Lexa vinha comentando com Lincoln, até que percebeu a presença das duas garotas. – Quem são vocês?

— Lexa, essas são Raven e Octavia. – Clarke apresentou. – Raven e Octavia, esses dois são Lincoln e Anya.

Anya olhou as duas, de cima a baixo, como estivesse talvez "apreciando cada detalhe". Octavia e Lincoln trocaram um aceno de cabeça e Raven não deu a mínima para eles, o que já era normal para ela.

— Que bom que Clarke arrumou amigas no Canadá. – Raven se direcionou a Lexa, que assentiu.

Clarke agradeceu a noiva mentalmente. Ela queria anunciar a coisa toda na frente de toda a sua família e amigos, preferia que todos soubessem por ela. Ia dar tudo certo, mas de sua maneira.

— Eu não sabia que vocês duas viriam. Eu teria pedido um carro maior. – Lexa lamentou, cruzando os braços.

— Podemos deixar a Clarke aqui. - Anya alfinetou, sorrindo. - Brincando de novo. Agora é sério, eu e Lincoln não vamos pelo caminho de vocês, Lexa. Elas ficam com nosso lugar. Nos vemos depois.

Anya virou as costas, saindo do aeroporto. Lincoln deu um abraço de despedida na irmã e se foi também.

— Deus, Clarke... Não vá embora por tanto tempo assim de novo! - Octavia a abraçou novamente.