A penumbra noturna já caíra e imundava todo o interior do meu apartamento. Já era tarde da noite e há muito eu já não fazia ideia da exatidão da hora. Estava terminando de mexer a Canja de Galinha que tinha preparado rapidamente no Micro-ondas para ele, numa tentativa de amenizar a enfermidade que havia se abatido sobre ele naqueles dias sofridos de Inverno.

O Frio era o meu elemento. Eu adorava sentir a sensação que ele me causava. O arrepiar gostoso da pele quando o vento a tocava e a sensação boa que se aplaca sobre nós fazendo-nos buscar o calor de nosso lençóis e amantes. Não era segredo que o inverno era a minha estação favorita, e naquela noite tão escura de lua nova, apenas a temperatura era a única informação ao qual eu estava ciente da exatidão. O Relógio meio analógico e meio digital ao fundo da Cozinha me mostrava o marcador em vermelho indicando 10 Graus. Uma temperatura muito baixa para uma terra naturalmente calorenta como a Grécia. O Relógio em si era analógico, e a luz fraca que saia do Micro-Ondas com a porta ainda aberta e da Geladeira que também estava em igual estado não eram suficientes para me fazer ver a posição dos ponteiros.

Ouvi um Gemido baixo ao longe, vindo do ainda mais escuro corredor que se dirigia ao meu quarto, e soube então que ele realmente precisava de mim. Sorri para mim mesmo, imaginando como ele conseguia se tornar ainda mais manhoso que no cotidiano quando estava doente, mas esse era um fardo que eu carregaria em nome do sentimento que nutria por ele. Meu loiro manhoso e birrento... Mais manhoso que birrento hoje, em particular...

Quase conseguia me dar a sensação de que eu estava namorando com uma mulher e que ela estava grávida, pois ele andava cheio de quereres e necessitando dos Mimos mais adocicados que eu poderia dar, e esse não era exatamente o meu estilo de Amar, mas ainda assim, por ele eu faria...

Tomei então o Caldo fumegante em mãos, fechei a porta da Geladeira e do Micro-Ondas, deixando tudo ainda mais escuro, mas de certo modo aconchegante... Abri a gaveta de talheres que eu sabia estar a minha frente e tomei em mãos uma colher de sopa.

Sorri novamente então ao imaginar que diante da Gripe, ele me pediria para dar na boca dele. Seria Cômico, mas muito amável se a manha dele chegasse a tanto.

Interrompi meus pensamentos triviais e então segui de encontro ao meu amado, que provavelmente ainda estaria totalmente ocultado na escuridão de meu quarto e no calor dos grossos e macios edredons que lá estavam.

----- X -----

Estava deitado, o frio era algo que eu odiava. Droga, por que tinha que existir temperaturas tão baixas? Eu odeio o frio!

Mas pensando bem, não odeio, sem o frio ele ficaria doente, ele não suportaria, aquela pele alva, não seria tão alva assim, e nem tão bela. Ah, como amo toca-la e ver meus dedos marca-la por mais leve que seja o toque.

Mas eu amo o calor, o Sol, o Mar; Me acalma, me faz querer sair com ele, ama-lo em plena areia da praia a noite, sob a luz da lua, sem olhares, apenas com a dama da noite, o luar dos apaixonados como testemunha do nosso amor.

Senti minha cabeça doer e gemi, como era ruim ficar doente. Sentir frio, mais frio do que já estava fazendo. Aí minha cabeça...

Me Encolhi e me cobri com o lençol. Onde ele estava? Por que me deixou sozinho?!

- Camy.. Por que me deixou sozinhi? Me abraça... To com frio, amor!

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Já estava chegando ao recinto quando ouvi mais um lamurio do meu amado loiro. Ele estava simplesmente adorável e encantador. Coberto até o rosto pelo edredom azulado, somente com a face alva para fora... Ele me olhava de uma forma extremamente pedinte... E embora eu soubesse que eu não poderia ser visto com clareza em meio ao escuro do quarto, eu sabia que ele me encarava na ânsia de receber de mim os cuidados que precisava e queria. Os olhos lacrimejados deixavam as íris azuladas ainda mais estonteantes, como um farol acesso em meios as trevas dominantes. A Pele levemente avermelhada da febre que já deveria estar aumentando tornava seu semblante tão meigo e doce, e ao mesmo tempo tão sensual e provocante.

Até mesmo quando Milo não queria e não tentava, sendo raras as vezes em que isso não ocorria, ele ainda assim conseguia me foguear... Caminhei em direção a cama e ascendi a lâmpada do abajur no criado mudo, sentando-me então ao seu lado e pondo o pote com o Caldo abaixo do abajur.

Vi ele virar-se para mim e sem dizer uma só palavra, seu olhar já me chamava para junto de si. Sorri, jogando algumas mechas de meus longos cabelos vermelhos para trás e o vi abrir o edredom para que eu pudesse me acomodar com ele naquela cama.

Lentamente, ajeitei-me junto a ele e o deixe nos cobrir com o calor daquela manta, de modo que quase todo o meu corpo foi para debaixo das cobertas junto ao dele. Sentia a sua pele arrepiada e sabia do frio que ele estava sentindo devido a febre, assim como ele provavelmente também sentia a temperatura baixa natural do meu corpo. O Trouxe mais para perto, sentindo-o tremer e ao tocar suas coxas com minhas mãos, pude notar a pele arrepiada e quente. Ele recostou-se mais ao meu peito, respirando com certa dificuldade e eu o abracei, tentando fazê-lo sentir-se o mais confortável e amado possível, pois assim era quando eu estava com ele, eu simplesmente esquecia de tudo, somente para focar-me em amá-lo.

Beijei sutilmente sua testa, e pude vê-lo enlaçar-me com os braços, para sentir meu corpo encostar ainda mais no seu. Suas pernas se entrelaçavam com as minhas em busca de calor e amor, e era isso que eu daria para ele naquela noite escura.

- Tudo bem meu amor, eu estou aqui... - Sussurrei baixo, beijando sua testa novamente e fazendo-o afundar o resto em meu peito... Seus cabelos agora seriam aquilo que minha mão procuraria para acariciar, enquanto que com a outra, por seu corpo caminhava de forma a fazê-lo sentir-se cada vez melhor, cada vez mais meu!

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Quando ele entrou no quarto, eu não via nada direito; que mania irritante ele tinha de ficar com as luzes apagadas. Quando ele se aproximar, vou perguntar se ele por acaso é filhote de coruja?! Aquilo definitivamente me irritava!

Mas ao mesmo tempo, a volta dele fez eu me sentir aliviado, era bom ter ele de volta. - "E que cheiro bom era aquele?!" - Me Perguntei, embora o sentisse longe, muito fraco.

Quando ele acendeu o abajur, senti meu rosto corar, eu aqui reclamando e ele cozinhando pra mim. Esqueci que ia reclamar da escuridão e Levantei o lençol o chamando sem palavras para deitar comigo.

- Onde estava Camus, por que me deixou só? Quase morri de solidão! Não me deixa amor, eu to doente! - falei rouco e baixo.

Não conseguia gritar e nem o apertar muito, pois tudo doía. Mas quando ele passou a me alisar, senti minha respiração ofegar.

- Camy... Hnnn...

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Abracei-o fortemente, tentando deixá-lo e mais confortável possível em meus braços. Um sorriso leve se desenhava em meu rosto ao fitá-lo e senti-lo junto à mim. Como eu amava aquele garoto encrenqueiro e abusado, que por muitas vezes me tirava do sério, mas sempre me dava todo o seu amor. 'Ah, meu doce Milo, o que seria de mim sem você?!'

Virei-me lentamente, para que ele não sentisse totalmente a virada do meu movimento.

Com a mão que o Acariciava a pele, alcancei a gaveta do criado mudo e a abri, tirando de lá um envelope com comprimidos que serviriam para abaixar a febre dele. Chamei-o pelo nome de forma tímida e ele me encarou... Eu sorri diante das íris azuladas tão inocentes, tão dependentes dele...

Era uma sensação estranha, Milo sempre fora um espírito inquieto e totalmente independente, um Homem que sempre soube o que queria a aonde queria chegar. No entanto, agora ele mais parecia um menininho de 10 anos com medo do escuro, e tal percepção enchia meu coração de Amor e de um desejo inexplicável de cuidar dele, de acolhe-lo, de tomá-lo em meus braços e nunca mais soltar.

Abrir o pacote de comprimidos e me ajeitei melhor na Cama, sentando-me com as costas apoiadas na Cabeceira. Ele acompanhou meus movimentos e sentou-se comigo, debruçando-se novamente sobre meu peito. Toquei seus lábios finos e macios com os meus, sentindo a frieza da pele dele e dando-lhe alguns Selinhos repetidos. Tomei em mãos então o caldo de Galinha que havia preparado e o dei o comprimido. Ele deveria engoli-lo com a primeira colherada da Canja e assim o fez.

Eu me permiti rir internamente ao constatar que nem fora preciso ele me pedir para dar na boca dele, pois assim eu já o fazia, sempre levando para trás da orelha uma ou duas mechas teimosas que vez ou outra caíam por sobre a frente de seu rosto.

Ele bebia lentamente o meu preparo, sempre com os olhos atentos em mim, e obviamente, os meus se fixavam nele de forma atenciosa e apaixonada. 'Ah Milo, como eu o amava'.

Após medicá-lo e fazê-lo tomar uma boa quantidade da Canja, deitamo-nos novamente por baixo das cobertas, Dessa vez, eu o envolvia com meus braços, colando suas costas em meu peito e sentindo o cheiro tão bom de seus cabelos dourados junto ao meu nariz. O Cobri com uma das minhas pernas, prensando-o contra mim mais fortemente, tentando senti-lo ainda mais... Ele só gemia baixinho e de forma manhosa, o que me deixava ainda mais atiçado a protegê-lo e amá-lo.

Funguei seus cabelos e beijei seu pescoço e bochecha, fazendo-o soltar mais de seus contidos gemidos, mistos de satisfação e manha.

- Eu te amo meu Anjo - sussurrei ao pé de seu ouvido, depositando mais um beijo em sua bochecha, e ali mesmo, ao lado do homem que eu amava, adormeci, levando-o comigo para o mundo dos sonhos, protegendo-o e esquentando-o por noite à dentro.

FIM