What Remains escrita por Flor do luar


Capítulo 5
Capítulo 5




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Não houve muitas novidades depois da conversa com o Alexy. Praticamente todos os professores disseram a mesma coisa de Louise; que ele é uma boa aluna, apenas ficaram preocupados que estava tendo um mau rendimento no começo do ano. Kentin se sentia um pouco culpado por não ter feito nada antes, apenas ter notado que havia algo de errado com a filha quando ela mostrou seu boletim semestral e viu as notas vermelhas. Afinal, Louise nunca teve nenhuma nota vermelha antes.

Novamente bateu aquele receio de estar sendo um pai ruim ou que estivesse se dedicando mais ao trabalho do que sua filha.

—Estou orgulhoso de você, Lulu. —Comentou Kentin, andando pelos corredores com a menina. —Seus professores só falaram coisas boas sobre você. —Completou com um tom animado, sorrindo para ela.

Sabia que tinha que introduzir uma conversa sobre o que aconteceu para ela ter ficado tão deprimida no primeiro semestre, ao ponto de todos os professores se preocuparem com o estado da garota. Apenas não sabia exatamente como fazer isso, Kentin sempre teve dificuldades em introduzir um assunto sério.

Quando chegaram ao estacionamento, Kentin se encostou na porta dianteira para esperar que o Alexy também viesse, afinal, não se esqueceu que chamou o professor para tomar um café hoje.

O clima estava bastante frio, indicando o começo do inverno, o céu estava nublado o dia inteiro, mas com o tempo todo andando de um lado para o outro, Kentin nem notou isso. Apenas agora que parou e estava em um ambiente externo que percebeu que estava com frio, mesmo vestindo um casaco. O homem de cabelos castanhos não gostava do inverno, essa estação o deixava triste por algum motivo, talvez fosse por todo o ar melancólico que ficavam as árvores, ou então que não havia tanto movimento na cidade, já que poucas pessoas saiam no inverno.

Mas de algum modo, os crimes, principalmente os mais brutais, cresciam nessa estação. Talvez seja isso que o deixava tão triste.

Quando avistou um pontinho azul bem chamativo se aproximar, se despertou dos seus devaneios para cumprimentar o homem.

—Eu te deixei esperando por muito tempo? —Perguntou Alexy sem jeito.

—De jeito nenhum, eu cheguei agora. —Respondeu Kentin sorridente. —Você tem carro? Porque estava pensando em te dar uma carona, mas agora penso que não seria bom deixar seu carro em um estacionamento.

—Não tenho carro. —Afirmou o professor com uma risada. —Pra falar a verdade, nem tenho carteira de motorista. —Completou fazendo uma careta, deixando claro que tinha uma história ruim com esse assunto.

Kentin começou a rir divertidamente.

—Entre, então. —Pediu o homem de cabelos castanhos, abrindo a porta do lado do passageiro para que Alexy pudesse entrar.

—Obrigado. —Agradeceu o gesto de gentileza com um sorriso lisonjeado e entrou no lugar oferecido por Kentin.

Assim que entrou, Alexy deixou todo o material que trouxe para a escola no banco de trás junto com Louise e colocou o cinto. Kentin entrou logo em seguida no banco do motorista e ligou o carro, saindo do estacionamento e depois pegando a estrada.

—Como você faz para vir para a escola? —Perguntou Kentin curioso ainda com aquele assunto de Alexy não ter uma carteira de motorista.

—De manhã eu venho de metrô e a tarde eu tenho carona. —Respondeu. —Só que a minha carona certamente é muito preguiçosa para acordar de manhã bem cedo.

Kentin teve que rir dessa afirmação, pois o outro disse com um tom tão engraçado que ele não pôde resistir. No entanto, ele ficava feliz que Alexy ainda permaneceu com aquele jeito engraçado de ser, embora agora tivesse um ar mais maduro. Alguns elementos não mudaram ao longo dos anos que, em primeiro lugar, seu cabelo em azul neon e seus fones de ouvido, embora agora eles não ficassem mais ao redor de seu pescoço, mas podia ver os fios dele na sua pasta.

Por outro lado, Alexy pensava diferente. Notou o quanto o policial mudou ao longo dos anos, parecia com um ar bastante cansado e também falava menos do que antes. Não tinha certeza, mas parece que ele não era mais tão pavio curto como era no colegial, pelo menos com ele. Alexy estranhava não ver a Lynn ali, entretanto resolveu não falar do assunto, pois tinha um pressentimento ruim sobre isso.

Quando ficaram em silêncio, Alexy se virou e começou a brincar um pouco com Louise e Kentin decidiu ligar o rádio para ter um pouco de som naquele ambiente.

—E por que não conseguiu tirar a carteira? —Perguntou Kentin demonstrando que ainda estava muito curioso com aquela história.

—Eu sou um desastre ao volante. Lembro-me da primeira vez que fiz a prova e passei por cima de todos os cones. —Contou Alexy encolhendo os ombros, mas também começou a rir. —Sou muito estabanado, então eu e o volante não combinamos. —Completou com um suspiro de falsa decepção.

Então Kentin dirigiu até o Starkbucks mais próximo e estacionou em uma vaga própria para clientes. Alexy saiu do carro logo após ele e foi até a porta que a garota estava sentada, abrindo a porta para ela também, que saiu alegremente do carro sempre apertando sua cachorrinha de pelúcia nos braços.

Os três entraram no estabelecimento e o lugar estava bastante tranquilo, com poucas pessoas e uma música calma tocando ao fundo. Havia uma mesa vazia ao lado de uma das grandes janelas e foram ali que se sentaram.

O lugar tinha aquele ar bem aconchegante como a Starbucks consegue fazer, suas paredes eram de madeira de carvalho e tinha uma parede com fotos de pessoas famosas que já frequentaram aquele lugar. O som de onde vinha a música ainda era no estilo de anos sessenta, de madeira também e cores bem chamativas. Lá dentro não estava bem quente, fazendo contraste com o frio que estava fazendo lá fora. Isso era bem notável com o vidro da janela que estava embaçado.

Havia três cardápios em cima da mesa e ambos os homens pegaram para dar uma olhada nas bebidas que eles serviam ali.

—Pode pedir qualquer coisa. É por minha conta hoje. —Comentou Kentin gentilmente.

—O quê?! Não precisa, Kentin, eu tenho dinheiro. —Rebateu Alexy muito surpreso com a atitude do amigo de infância.

—Mas eu faço questão. Estou feliz por ter reencontrado hoje um amigo tão querido, eu quero fazer isso. —Afirmou o outro com convicção.

Alexy olhou para os lados, incerto do que dizer e resolveu aceitar a gentileza, ao mesmo tempo em que estava lisonjeado por ter sido chamado de amigo querido. É verdade que em vários momentos da sua vida desde o Ensino Médio sentiu falta de Kentin. Era bastante raro achar um amigo tão bom e com tanta sintonia como ele, o que infelizmente não foi possível. Claro que havia feito vários amigos, mas a saudade era inevitável.

—Tudo bem. —Rendeu-se. —Mas os dez por cento do garçom sou eu quem vou pagar. —Afirmou decidido.

—Você é teimoso. —Rebateu Kentin, mas com um sorriso de nostalgia.

—Na próxima vez você deve deixar eu retribuir o favor, pelo menos.

—Haverá uma próxima vez? —Questionou Kentin com um sorriso de canto.

—Claro. —Respondeu em tom firme. —Sabe que quando me aproximo de alguém não a largo mais. Você me chamou para sair primeiro, senhor Kentin, agora terá que me aguentar.

Ambos riram disso divertidamente antes de aproximar um jovem garçom e perguntar o que queriam para beber e comer. Alexy pediu um café com leite e caramelo, Kentin pediu um que vem com pedaços de biscoito de chocolate e para a Louise pediu um milkshake de morango junto com um misto quente, apenas ela queria algo para comer.

—Esse garçom merece ganhar os dez por cento. Já aquele ali... —Comentou Kentin apontando para o garçom que estava encostado em um dos balcões mexendo no seu smartphone.

—Acho que eu ficaria com pena e daria mesmo assim. Mas acho que ele nunca nos atenderia, pois parece não estar muito afim de trabalhar. —Disse Alexy divertidamente. —Mas eu sei como é essa rotina de garçom, eu tive que trabalhar muito quando estava na faculdade.

—Eu também já trabalhei de garçom. No começo, quando ainda não era formado para ser policial tinha que achar algum jeito de ganhar a vida, tinha uma criança para cuidar.

—Você é policial?! —Questionou Alexy com uma surpresa repentina.

—Sim, por quê? —Perguntou Kentin erguendo uma sobrancelha.

—Não é nada, apenas acho que você tem muita coragem. É uma profissão que eu nunca tomaria para mim, pois morro de medo desse tipo de coisa. —Explicou Alexy sem jeito. —Você sempre foi muito corajoso, Kentin, exceto quando se tratava do Castiel. —Provocou.

Kentin podia sentir um arrepio na espinha quando ouviu o nome do colega ruivo que teve no colegial. É claro que sempre teve um medo irracional daquele rapaz pelo seu jeito mal encarado de ser e sempre que podia o evitava. Não tinha certeza se esse medo foi embora ou não, pois só o que restou daquela época foram lembranças. Além do mais, ele não era o tipo de pessoa que Kentin gostaria de rever da sua antiga escola.

—Ei! Eu não tenho mais medo dele, agora tenho habilidade para acabar com ele. —Respondeu Kentin com uma voz trêmula que fez Alexy rir.

—Sei. Sei. —Comentou Alexy sem estar de fato muito convencido. —Você dizia isso a cada ano que se passava, de fato você tem, mas nunca o fez porque tinha um medo irracional.

—Ele nunca fez nada para mim, por que eu o bateria?

—Então por que tinha medo dele? —Questionou Alexy.

A pergunta pegou o homem de cabelos castanhos em cheio, pois ele sinceramente não sabia responder isso. Era algo como medo de escuro ou medo de altura, algo que não sabia explicar, só estava ali. Entretanto, não sabia como responder isso ao amigo, ficando em silêncio por um tempo, quando foi salvo pelo gongo. O jovem garçom retornou novamente com a bandeja que tinham as bebidas dos dois e a comida da Louise.

A menina ficou animada quando recebeu seu lanche e ficava alternando em dar goles no seu milkshake e também colocava no canudo na boca da cachorrinha de pelúcia, de modo que logo ela estava com o tecido sujo de milkshake.

Kentin também começou a beber, torcendo para que mudasse o foco do assunto, pois até agora não surgiu nenhuma resposta descente na sua cabeça. Nem estava fazendo esforço para isso, na verdade. Felizmente, parece que Alexy se esqueceu disso quando começou a saborear seu próprio café calórico.

—Mas você trabalha a noite toda, Kentin? —Perguntou Alexy com um tom mais sério que o habitual, parecia até um pouco preocupado pelo olhar que lhe dera.

—Às vezes, mas não é sempre. —Respondeu mexendo um pouco o canudo para misturar os biscoitos no cappuccino mais ainda. —Só quando eu preciso de uma grana extra ou troquei com algum colega por um dia. Como hoje, por exemplo, troquei com um colega para poder vir à reunião de pais e professores, eu não queria faltar a esse dia.

Alexy o olhou um pouco surpreso, antes de voltar a beber do seu próprio café. Nunca pensou que o Kentin seria um pai tão dedicado daquele modo, mas o homem estava o surpreendendo a cada minuto que conversava com ele. Talvez seja por ter sido um pai tão jovem, mas ele parecia cansado de alguma forma, até mesmo seu modo de falar revelava o quanto ele estava exausto daquela rotina.

E o jovem professor queria fazer alguma coisa para ajudar o seu amigo. Ele gostava muito do Kentin, mesmo passando tanto tempo separados, ainda havia um carinho dentro de si em memória a sua grande amizade.

—A Louise fica com quem quando isso acontece? —Perguntou Alexy ainda parecendo preocupado.

Kentin parou de tomar seu café na hora, pareceu um pouco abatido com essa pergunta e Alexy encolheu de ombros com medo de ter magoado o rapaz de alguma forma. Mas logo o policial se recuperou e tentou disfarçar o que aconteceu anteriormente.

—Essa sempre foi uma questão um pouco difícil. Tenho amigos no trabalho, mas eles também trabalham como eu e os pais da Lynn moram em outra cidade. —Respondeu Kentin um pouco sério. —Mas eu sempre arranjo um jeito, pode ficar tranquilo. —Completou com um sorriso.

O rapaz de cabelos azuis ficou com pena do amigo por causa daquilo, pois ele parecia mesmo acuado. Havia muito pesar em seu olhar, apesar dele tentar disfarçar aquilo tudo com um sorriso. Alexy pensou que tinha que fazer alguma coisa para trazer paz para aquele homem.

—Deixe a Louise na minha casa. —Sugeriu Alexy fazendo com que o outro o olhasse espantado. —Quando você for trabalhar a noite, há um quarto vazio no meu apartamento que pode ser dela. —Explicou confiante.

—Vai dar trabalho para você. A Lulu é muito agitada quando eu não estou. —Kentin tentou argumentar, mas Alexy estava decidido.

—Agora você quem está teimoso. —Brincou Alexy. —Me deixa apenas tentar, eu gosto muito da Louise e também eu já cuido de uma criança lá em casa.

—Oh, você tem filhos? —Perguntou Kentin espantado.

—Eu estava falando do Armin.

Ambos riram com essa afirmação e Kentin depois ficou um pouco silencioso, mostrando estar bastante pensativo. Depois de alguns minutos se questionando, resolveu aceitar o convite do amigo.

—Tudo bem, podemos tentar uma noite. —Kentin se rendeu e Alexy deu um sorriso por ter conquistado a confiança do amigo. —É na sexta-feira.

—Você pode ficar tranquilo. —Garantiu Alexy em um tom energético, apertando o ombro do amigo.

Eles continuaram conversando sobre outros assuntos, que quando perceberam já havia anoitecido. Kentin pagou o lanche de todos e Alexy teimosamente quis pagar os dez por cento do garçom, então foram todos para o carro do Kentin que foi dirigindo, enquanto o homem de cabelos azuis ia guiando-o para a sua casa.

Havia sido uma tarde muito divertida para todos. Alexy estava muito feliz de ter reencontrado seu velho amigo, mesmo sabendo que tinha sido ele quem provocou a separação dos dois. Os tempos haviam mudado e tudo parecia diferente agora, embora ainda tivesse com o ar de que pouca coisa havia mudado.


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Notas finais do capítulo

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