Secrets escrita por Galak


Capítulo 3
Three




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Angelina Georges

— O-o que v-ocê está...? — Kendall não conseguiu terminar sua pergunta, Angelina a encarava com uma mistura de sentimentos, não sabia ao certo o que sentia, não sabia o que tinha acontecido... Ela só sabia que havia sido culpada por algo que não fez e viveu três anos isolada em uma prisão, sem amigos, sem rir nem sequer uma vez.

A loira achava que ao chegar seria recebida com um misto de emoção e alegria, mas ao invés disso teve que entrar pela janela e esperar por duas horas até ter algum sinal de vida naquela casa.

— Você achou que eu fosse morrer naquela prisão? — Perguntou rindo para a irmã. Kendall recuou dois passos e se apoiou na ilha de mármore, seu rosto ficou pálido e suas pernas bambas — Você nunca foi me visitar! — Falou aumentando o tom de voz se levantando, andando lentamente até a irmã.

Ao contrário de Kendall que usava roupas extremamente vulgares e femininas, Angelina usava uma calça larga camuflada, um tênis de correr preto e um moletom enorme cinza, aquilo apenas alimentava o sentimento de ódio dentro do seu peito.

— Eu fiquei com medo! — Kendall respondeu analisando a irmã da cabeça aos pés — Eu achei que você nunca me perdoaria!

— E ao invés de se desculpa, você simplesmente seguiu sua vida em frente agindo como uma vadia? — Perguntou cuspindo cada palavra. Para a surpresa de Angelina, Kendall soltou-se da ilha de mármore e jogou-se em cima da irmã em um abraço apertado e firme, Angie tentou repelir a irmã no início, mas depois cedeu e enroscou seus braços no corpo de Kendall.

— Eu senti tanto a sua falta, Angie. — Falou respirando o cheiro da irmã — Eu só... Me desculpe.

— Você me abandonou Kendall. — Sussurrou sem separar-se da irmã — Eu senti medo, eu área uma garota de quatorze anos rodeada por assassinos sem pena, pessoas que me matariam enquanto eu dormisse se eu não fizesse o que eles quisessem. — Suas lágrimas escorriam pelos ombros nus de Kendall, aquecendo-os.

— Não precisa mais ter medo, enquanto estivermos juntas. — A loira falou segurando o rosto da irmã entre as mãos, uma fitando os grandes olhos verdes da outra, elas haviam se desacostumado de se encararem, só conseguiam ter imagem semelhante no espelho ou em colheres — Tudo vai dar certo. — Garantiu.

— Tudo bem. — Falou ainda abraçada a irmã, ela sentia falta desses abraços, sentia falta da sinceridade em cada palavra que Kendall dizia, de cada piada e até do choro de arrependimento da irmã, de sua forma madura de lidar com as coisas — E a mamãe? — Tentou mudar de assunto, separou-se do abraço e dirigiu sua atenção para o pote de sorvete em sua frente. Pegou uma colher e a enfiou na superfície cremosa de chocolate, em seguida enfiou a mesma dentro da boca.

— Oh ela vai ficar tão feliz em te ver! — Kendall falou dando pulinhos — Vai ser mágico, e eu vou te levar para fazer compras, vamos ser as gêmeas mais bonitas de toda a Flórida! — Angie encolheu-se enquanto ouvia Kendall fazer tantos planos, a loira ainda temia os olhares da sociedade, como todos a olhariam após um assassinato, após tantos anos presa pagando por seus pecados.

— Eu não acho uma boa ideia, Kandy. — Falou mexendo em suas madeixas platinadas — Eu prefiro ficar em casa e...

— Não me diga que está com medo Angelina Georges! — Kendall falou apertando o ombro da irmã — Achei que esse tempo na cadeia te deixaria mais durona.

— E eu que te deixaria menos abusada. — Falou revirando os olhos — Eu só preciso de uma boa noite de sono, ok? — A loira já estava se pondo em direção ao sofá quando a mãos da irmã a impediu de continuar seu trajeto.

— Durma na minha cama, eu insisto. — Falou sorrindo, Angie sorriu de volta e concordou — É a última porta do corredor à direita, aproveite e pegue um pijama para você e tome um banho... Você está fedendo.

As irmãs riram e se despediram com mais um abraço, enquanto Angelina subia as escadas Kendall retirou as roupas pesadas que usava e fez um coque no cabelo, jogando-se em seguida no sofá duro e desconfortável.

Angelina seguiu as coordenadas da irmã e chegou a um quarto enorme, com duas das cinco paredes pintadas de rosa, outra de verde água e as outras duas de branco. O quarto tinha uma cama enorme no centro coberta por um mosquiteiro (aquele tipo de cama de princesa, sabem?), as paredes sustentavam prateleiras repletas de livros e fotos, havia um janelão em uma das paredes que a ocupava por inteiro, do teto até o chão, havia também uma janela no teto, pequena e redonda bem acima da cama, o chão era coberto por um carpete branco... Kendall havia tido a vida que Angie sempre quis para ela.

Após tomar um longo banho e usar dos cremes importados da irmã, Angelina jogou-se na cama e fitou o grande céu estrelado, pensando em tudo o que aconteceria de agora em diante. Sempre que fechava os olhos, sua mente era metralhada por olhares de desprezo e uma imagem nítida do corpo de Steven boiando no mar até afundar por completo, ela podia lembrar-se de como lutou para conquistar a todos naquele maldito presídio e de como ela recebia a notícia todas as manhãs de que alguém havia sido morto.

Angelina suspirou alto tentando afastar todos os pensamentos, fechou os olhos com força e esperou até a sonolência a pegar...

10h13min

— Kendall, acorde. — Blanca sacudia a loira, mesmo sem saber que chamava pela filha errada — Ande logo, Rawell e Otávio já estão de pé. — Continuou a sacudindo, e ficou assim por alguns minutos até a loira despertar.

— Mãe? — Sussurrou com a voz fraca pelo sono, Blanca analisou a filha tentando achar o que estava a tornando diferente naquela manhã de domingo e então percebeu que seus cabelos estavam um palmo maior do que no dia anterior e suas bochechas estavam mais magras, seu rosto também estava um pouco mais pálido.

— K-kendall? — Arriscou tentando esconder a emoção na voz. A loira negou sentindo seus olhos arderem.

— Não, mãe. — Falou sentindo as primeiras lágrimas escorrerem por sua bochecha — Angelina. — Blanca avançou no corpo da filha em um abraço, ela não continha mais as lágrimas assim como Angie, ambas choravam feito bebê e declaravam seu amor uma para a outra.

— Oh meu Angel, eu estava com tantas saudades! — Falou passando as mãos excessivamente nos cabelos loiros da filha — Como está? Te fizeram algum mal?

— Está tudo bem. — Falou segurando as mãos da mãe — Céus que saudades eu estava! Eu, você e Kendall juntas de novo. — Falou quicando em cima da cama, Blanca entortou o nariz e sorriu um pouco forçado para a filha, não fazia ideia se Angelina aceitaria Rawell e Otavio ou os renegaria assim como Kendall.

— O café está na mesa ok? — Falou dando um beijo demorado na bochecha da loira — Estou te aguardando lá embaixo. — Angelina sinalizou afirmativa e esperou Blanca sair do quarto para fazer uma comemoração.

Angie pulou de sua cama e gritou alto, o rosto da loira estava iluminado e seus olhos brilhavam. Ela sorriu até suas bochechas doerem e implorarem por ao menos alguns segundos de descanso. Angelina retirou o pijama que usava e se dirigiu para o banheiro para um longo banho.

Após tomar o mesmo ficou alguns minutos se fitando no espelho embaçado, admirou seu rosto maduro e seu corpo já avantajado, como o de uma mulher. A loira enrolou seus cabelos longos em seus dedos e suspirou alto, havia se desacostumado a se apreciar em alguma superfície reflexiva.

— Angie está tudo bem? — Ouviu a voz da irmã do outro lado da porta. Kendall colocou sua cabeça para dentro do banheiro e sorriu.

— Sim. — Angelina concordou saindo do mesmo, sendo seguida pela irmã, ela se pôs em frente ao enorme closet de Kendall e sentiu suas bochechas corarem enquanto a irmã manuseava as peças de roupas que usariam.

— O que acha dessa saia? — Perguntou erguendo o cabide com a mesma.

— Muito curta. — Angie respondeu, Kendall entortou o nariz e a jogou em cima da cama.

— E este jeans? — Ergueu outro.

— Achei que fosse uma meia calça. — E outra peça descartada.

As irmãs ficaram neste diálogo por longos vinte minutos, até Angel se contentar com um vestido florido, justo no dorso e solto da cintura para baixo, ele batia um pouco acima de seus joelhos e havia um decote nas costas. Ao vir-se no espelho voltou a sorrir abertamente, voltou sua atenção para a irmã que vestia uma calça de couro justa, um salto enorme e uma blusa de das branca mais soltinha, ao se virem lado a lado no espelho viram o quão diferentes poderiam ser mesmo sendo gêmeas, Kendall esticou seu braço entorno do pescoço da irmã e puxou para mais perto.

— Te amo. — Sussurrou, Angelina sorriu e abraçou a cintura da mesma.

— Eu também.

As irmãs deram as mãos e se dirigiram até a cozinha, onde Blanca, Rawell e Otávio devoravam a mesa do café, ao chegarem ao local todos pararam o que estavam fazendo. Otávio murmurou uma palavrão enquanto calda de chocolate escorria dos cantos de sua boca, Rawell arregalou os olhos e começou a tossir enquanto as duas apenas se divertiam com a cena.

— Quem são esses? — Angel sussurrou para a irmã.

— Esses são Otávio, meu noivo e Rawell seu filho. — Blanca falou indicando para o homem com cerca de quarenta anos e o garoto de cabelos revoltos castanhos com cerca de quinze — Otávio, Rawell está é minha filha Angelina, irmã gêmea de Kendall.

— Essa é aquela que matou o filho da dona Roselinda? — Rawell perguntou voltando sua atenção para as panquecas em seu prato.

Angelina sentiu seu rosto esquentar e suas pernas bambearem, se não estivesse Kendall como apoio já teria ido ao chão.

— Rawell cale a porra dessa boca. — Kendall falou avançando em cima do garoto.

— Kendall! — Blanca e Otávio gritaram puxando a loira de volta — Isso é coisa que se fale? — Otávio perguntou apontando o dedo em seu rosto — E Angelina, perdão pelas palavras de meu filho, ele... Não raciocina direito.

— T-tudo bem. — Falou limpando as mãos suadas na bainha de seu vestido.

— Tudo bem uma ova! — Kendall voltou a falar olhando raivosa para Rawell — Nunca mais se dirija assim a minha irmã.

— A qual é Kendall, você nunca falou dessa “irmã gêmea” antes. — Falou revirando os olhos. Angel olhou friamente para a irmã, cogitando se não seria melhor não ter voltado para casa. Kendall realmente havia se esquecido dela e agora tentava se redimir. Patético.

— Quer saber? Vamos Angie, vamos tomar café em outro lugar. — Falou a loira puxando a irmã pela mão.

Kendall andava cerca de três passos a frente de Angie, ela reclamava sobre Rawell e Otávio tão rápido que era impossível para os ouvidos de Angelina acompanha-la.

— É aqui. — Falou apontando para um bar enorme, na fachada havia um macaco com uma caneca de cerveja nas mãos, ele parecia ser desengonçado e estar bêbado, ao adentrarem o local Angie teve ânsia de vômito, não por o local ser nojento, muito pelo contrário. Ele era extremamente limpo e escuro, um ar acústico e natural, desde as paredes até o chão tudo em madeira e mármore branco, porém o cheiro de alvejante misturado com vodka e perfume barato faziam cócegas no estomago da loira.

— E aí. — Um homem de preto se aproximou, sua blusa tinha os primeiros quatro botões abertos.

— Uma cerveja e um maço de cigarros. — Kendall falou massageando suas têmporas — E você? — Aparentemente só então o garçom percebeu Angelina ali, quieta com o nariz torcido. Ele deixou seu bloquinho cair e sua boca se abriu em um ‘O’.

— Qualquer coisa sem álcool. — Falou se encolhendo em sua cadeira, Kendall estava distraída demais em seu celular para prestar qualquer atenção nos olhares apavorados das pessoas ao redor. Não que fosse raro ocorrer assassinatos em Miami, mas era apavorante para qualquer um saber que a mente de Angelina já era condenada desde seus quatorze anos, aquilo fazia todos pensarem o que ela faria agora com dezessete e solta novamente.

A loira apenas desviou sua atenção do ecrã de seu celular quando ouviu vozes conhecidas vindas da porta, Thayla e Cindy entraram no local com sorrisos radiantes.

— Kandy! — Cindy gritou sentando-se ao seu lado, Thayla fez o mesmo sem perceber a presença de outra loira na mesa — Acabamos de encontrar com o Carter e você não vai acreditar!

— Ele falou que... Aí! — Thayla gritou esfregando sua canela atingida, olhou furiosa para Cindy que indicava com o olhar para Angelina ao seu lado — Puta que...

— Olha a boca. — Kendall falou erguendo uma sobrancelha — Algum problema, Thay?

Antes mesmo que Thayla pudesse responder algo o garçom chegou com os cigarros e a cerveja de Kendall e um suco aguado para Angelina.

— Wow você não aprendeu a beber na prisão não? — Cindy perguntou analisando o copo que entornava nos lábios da loira — Ou sei lá.

— Com certeza aprendeu algo legal lá. — Thayla falou sorrindo cinicamente — Matar você já aprendeu aqui fora, certo?

Kendall se engasgou com a cerveja que engolia e Cindy olhou pasma para a garota de cabelos negros. Angelina sentiu seus olhos arderem e algo no fundo de sua cabeça queimava avisando-a que ela sabia que isso aconteceria.

Ela não estava pronta para sair, para encarar o mundo real. E nem mesmo sua irmã pode perceber o quão ingênua estava sendo ao achar que tudo voltaria ao normal. Angelina sentiu suas pernas bambearem e sua boca amargar, levantou-se tão rápido que tudo girou ao seu redor e correu para fora dali, ouviu Kendall xingando a garota, mas não ouviu o barulho de seus saltos correndo atrás dela.

A loira percebeu todos os olhares se focando nela, cochichos e até dedos apontando para si. Parou de correr ao ver o quão afastada se encontrava, olhou ao redor e percebeu que estava na orla da praia que Steven foi assassinado por ela... E sua irmã que vive uma vida perfeita.

— Está tudo bem? — Angie virou-se em direção a voz rouca. Ela o mesmo garoto que ontem secava Kendall. A loira voltou seu olhar para o mar, sentou-se na calçada e começou a balançar seus pés.

— Eu não sou a Kendall. — Avisou secando uma lágrima que escorria em seu rosto.

— Oh eu sei. — O garoto falou rindo, sentando-se ao seu lado — Angelina, certo? — A garota arranhou a garganta afirmativamente e o garoto passou as mãos nos cabelos desgrenhados — Sou Tyler.

— Por quê está falando comigo? — Perguntou após alguns segundos calada.

— Por que eu acredito em você Angelina. — Aquela simples frase foi o suficiente para a loira cair no choro como há três anos, Tyler enroscou seus braços ao redor da garota que hesitou um pouco no início, mas depois se rendeu ao gesto de compreensão.

— Você é o único. — Falou com a voz embargada pelo choro.

— Eu vou fazer com que outras pessoas também acreditem. — Sorriu para a dona dos olhos verdes-água — Eu sei que você não matou Steven Jones.


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