Era quase 5 da manhã (ou 6, vai saber?). Eu estava muito sonolenta quando olhei para o relógio perto da mesa de cabeceira. Eu dormia tranquilamente quando a Alex me acordou com beijos desesperados, quase me sufocando, mas eu gostei e retribuí o carinho quando minha mente estava desperta o suficiente para que eu fizesse algum movimento.

— Estamos clichês demais, sabia? Até parece que estamos vivendo em um livro do Nicholas Sparks — Alex comentou, interrompendo a sessão de beijos.

Eu ri, me aninhei nos braços dela e respondi:

— Ué, quem começou com a melação foi você. Até 10 minutos atrás, eu estava dormindo perfeitamente até ser acordada por uma certa beijoqueira.

— Você adora quando eu fico assim, Chapman. Admita — Ela riu, um daqueles risos gostosos, não aguentei e a beijei.

O celular da Alex começou a tocar, ela me pediu para atender enquanto ia em direção ao banheiro. A voz que ouvi do outro lado da linha me deixou surpresa. Era a Nicky. Isso aí, a Nicky Nichols. Ela estava com voz de bêbada, acho que passou a noite inteira com uma garrafa de tequila na mão. Gritava pelo telefone falando que tinha saído de Litchfield ainda ontem, mas só hoje pôde ligar para nos contar.

Falamos por uns 10 minutos, até a Alex tirar o celular da minha mão rapidamente. Ela estava super animada com a saída da Nicky da prisão. Animada até demais pro meu gosto. Fiquei de olho na conversa das duas até que, por fim, Alex desligou o celular e o colocou no bolso da calça de moletom.

— Não acredito que a Nicky saiu de lá também, Pipes. Não é o máximo? — Ela se jogou na cama, estava radiante.

Demorei um pouco a responder. Caralho, por que a Alex estava tão animada assim? Ela não ficou tão feliz desse jeito nem quando ela própria saiu de Litchfield.

— Alex, me conta, você e a Nicky por acaso ainda tem vontade de se pegar? Porque isso ficou muito claro com a sua reação — Falei, assim do nada. Tentei não demonstrar meus ciúmes, mas ela era minha. Minha.

Olhei de relance para ela, estava rindo de mim. Como se eu tivesse dito algo extremamente ridículo e sem noção. É, talvez eu tivesse acabado de dizer algo ridículo e sem noção mesmo, mas se tratava da Alex Vause. E eu não podia nem pensar em perdê-la.

— O que eu tive com a Nicky foi algo de momento, sabe? Era só sexo. O tempo todo. Só isso — Ela meio que se fez de desentendida. E eu fiquei furiosa com a parte do "Era só sexo, o tempo todo". Como assim o tempo todo? Nem eu e ela saímos trepando por aí tanto assim.

— Quer dizer que ela é melhor de cama do que eu? — Saí do quarto. Estava com raiva, muita raiva da Alex. Ela sempre dizia que as melhores transas dela sempre foram comigo.

Ela me seguiu até a porta da cozinha, onde parei e fiquei sem fazer nenhum movimento. Apenas fiquei pensativa.

— Ela não é melhor de cama que você. Ninguém é, Pipes. Você tá sendo boba pra cacete, sabe disso né? — Alex cruzou os braços e me olhou fixamente nos olhos.

— É, mas você ficou toda animadinha agora que ela saiu da prisão. Deve tá louca pra testar novas posições sexuais com ela. Aposto que a vagina dela tem gosto de cigarro barato — Respondi, enquanto pegava uma cerveja na geladeira.

Ela riu. Como assim ela tava rindo? Eu estava falando sério.

— Eu amo você, Piper Chapman — Alex descruzou os braços e veio em minha direção. Queria poder fugir, mas não consegui. Ela me abraçou tão forte que fiquei presa em seus braços.

— Ama mesmo? Tipo, de verdade? — Falei olhando para ela. Seus olhos verdes ainda estavam grudados em mim.

— Eu te conheci quando você se vestia de hippie e usava aquele penteado de cabelo horrível, lembra? E mesmo assim me apaixonei por você. Se isso não for, não pode ser mais nada — Ela disse e deu um sorriso torto. Caramba, ela acabou de falar mal do meu estilo. Ok, meu antigo estilo, e tudo o que eu conseguia fazer era prestar atenção no sorriso pra lá de apaixonante dela.

Mais tarde, umas 18h da tarde, estávamos vendo Master Chef na tv comendo pipoca. A Alex sempre torcia por alguém diferente de mim e sempre discutíamos de forma não-violenta, ufa, enquanto assistíamos. De repente, a campanhia tocou e empurrei a Alex para atender e ver quem era.

— Olha só pra vocês, bancando o casal lésbico cute-cute assistindo programas de tv desinteressantes. Vocês não assinam Playboy TV não, gente? — Era a Nicky. Ela estava segurando umas 4 garrafas de vodka, uma parcialmente vazia. Já era de se esperar, Nicky Nichols sóbria seria uma novidade pra mim. Forcei um sorriso e tentei ser simpática.

— É, quer assistir com a gente?

— Eu vim aqui para beber com vocês. Nós três vamos ficar muito loucas e quem sabe até rola um ménage, que tal? Ou vocês não são tão liberais assim? — Nicky disse enquanto se jogava no sofá de forma desleixada. Sapatos sujos no meu sofá de couro, argh.

— Acho que a parte do ménage não vai rolar, a Pipes anda muito ciumenta — Alex respondeu e a Nicky se virou para mim, rindo.

Eu sabia que algo tosco estava prestes a acontecer. Por que diabos soltaram da prisão uma pessoa com o psicológico tão fodido? Ela é quase uma ameaça para a sociedade, e com "sociedade", eu quero dizer euzinha aqui.

— Qual é, Chapman. Não é como se eu já não tivesse transado com a Alex — Ela disse, quase gritando, e tomou mais um gole de vodka direto da garrafa.

Puta merda. O que ela tava fazendo? Ou melhor, o que eu tava fazendo ali? Fui direto para o quarto e me tranquei lá. Dessa vez, a Alex nem se importou em ir atrás de mim. Preferiu continuar bebendo com a Nicky. Tudo bem, ué. Minha vez de bancar a difícil. Ela sabia que eu odiava isso, odiava quando ela agia como se eu não fosse importante, mas dessa vez eu não vou ceder tão facilmente.