Edward Cullen

Os meus problemas começaram em um dia sossegado de trabalho, uma terça-feira nublada em que eu não tinha nenhuma preocupação verdadeira habitando em minha mente distraída. O meu escritório se encontrava em uma calma atípica e minha mesa estava limpa de qualquer tipo de papel jurídico. Eu decidi, enquanto olhava para a porta de vidro, que me daria uma folga pelo resto da semana.

Qual era o problema, afinal? Tudo estava ganho. O processo de Harry Hermann fora fechado com sucesso e todos estavam felizes como nunca estiveram: Harry ainda possuía sua fortuna. Sua antiga esposa, por outro lado, nunca estivera mais descontente: não ficara com nada e sua alegação de infidelidade fora anulada. Eu, por minha vez, não me importava com a quantidade de zeros que Harry depositara em minha conta. Tudo que eu queria era uma folga — era o mínimo que eu merecia, após perder toda a paciência com a família Hermann e seus casos de adultério.

Devo ter previsto que meus próximos dias não seriam tão calmos quanto eu imaginava quando o telefone de minha sala tocou e eu precisei sair dos devaneios. A voz baixa e tímida de Angela encheu meus ouvidos assim que tirei o telefone de sua base.

— Senhor Cullen, há alguém aqui que precisa falar com o senhor — ela disse mais apressada do que era normalmente.

— Quem? Não me lembro de nenhum horário marcado… — murmurei. — Informe-o, por favor, dos horários disponíveis.

— É o Charles Swan. Ele diz que é uma emergência.

Talvez meus problemas tenham começado bem antes do Imperador Swan entrar em meu escritório, dizendo-me para chamá-lo de Charlie e não Charles, como todos faziam. O problema em que eu estava envolvido até os dedos dos pés não tinha nada a ver com o processo que Charlie fora acusado por causas trabalhistas as quais ninguém havia visto solução viável.

O meu problema começou numa noite de sexta-feira quando pus meus olhos em uma garota no bar. O nome dela era Bella e estava se afogando em vodca. Ela tinha se estressado com os pais, foi o que a garota de longos e ondulados cabelos escuros me informou, e tinha parado no bar. Falava francês fluentemente e tinha olhos castanhos idênticos ao de Charlie Swan — coisa que, no calor do momento, foi completamente esquecida por mim.

Quando se prova de uma atração tão forte, nome é a coisa mais desimportante do mundo. Na sexta, eu não sabia se o nome dela era Arabella, Annabella ou qualquer outro nome que pudesse derivar seu apelido. Eu não sabia nada sobre ela e estava tão encantado com a complexidade daquela garota que sequer passou pela minha mente perguntar.

Terminamos por acabar no banheiro do bar, beijando-nos como se não houvesse amanhã. No sábado, acabamos em meu apartamento, em meu quarto, ambos bêbados demais para se importar com a prudência. Na manhã do domingo, eu a flagrei se esgueirando pela porta do meu quarto, já vestida e com as bochechas coradas.

— Para onde você está indo, Bella? — indaguei preguiçosamente. — Ainda está tão cedo…

Bella virou-se para mim e andou mais uma vez até a cama, sentando-se na ponta e colocando a mão em meu rosto.

— Eu tenho que ir. — ela sussurrou. — Já são dez horas.

— Dez?

— Sim, Edward. — ela sorriu contidamente e vagou os olhos escuros por meu rosto. — E você está com cara de quem não dormiu sequer duas horas.

— Bem, isso deve ser culpa sua.

Bella passou os dedos por dentro de meu cabelo e suspirou.

— Eu tenho mesmo que ir.

— Posso te ligar? — perguntei e, pela primeira vez em muito tempo, tive receio que ela dissesse que não, porque, sim, eu queria ligar para ela como nunca quis com nenhuma outra garota.

Bella abaixou os olhos e sorriu do jeito que ela fazia quando estava envergonhada. O jeito que tinha sempre algo a mais por trás e eu nunca conseguia entender o que era.

— Claro que pode. E, antes que pergunte, vou atender.

Combinamos de nos encontrar na quinta-feira e Bella foi para sua casa depois de muita protelação em meu estacionamento. Eu notei que estava perdido assim que vi a traseira de seu carro se distanciar e pensar que eu não me importaria se ela permanecesse em meu apartamento pelo resto do dia. Então, sim, meus problemas começaram quando dormi com a filha de Charlie Swan sem saber quem ela era e tinha gostado da companhia enigmática dela mais do que deveria.