Acordei assustada. Não de forma dramática, gritando, rolando da cama e nem nada. Eu simplesmente abri os olhos e percebi que não era real. Não era a primeira vez que eu sonhava com aquele dia e, provavelmente, não seria a última. Cada detalhe ainda estava gravado na minha mente, todas as coisas que encontrei, que li.

Olhei debaixo da cama, a caixa ainda estava lá, intacta. Não voltei a mexer nela, mas também não sabia como devolvê-la ao lugar. Deveria chegar para o Xerife com a caixa na mão e contar que invadi sua casa? Obviamente não. Então a manti comigo, escondida, esperando que não fizesse falta para ninguém. Me deitei novamente, mas não consegui voltar a dormir.

Logo chegou a hora de ir pra escola, infelizmente. Fui com a mesma animação com que alguém vai pra sua execução. Só fui perceber que faziam exatamente seis meses quando a professora escreveu a data no quadro.

Nada estava bem. Desde que ele desapareceu as coisas mudaram. Malia estava mais quieta e excluída do que nunca, Scott tentava de tudo para nos manter unidos, mas estava cada vez mais desgastado e Kira era diretamente afetada pela situação de seu namorado. E eu...bom, eu tentava esconder, tentava me fazer de forte. Mas eu sentia falta dele, mais do que tudo.

Sentia falta do seu sorriso, do seu jeito sarcástico, do jeito que ele se importava com as pessoas, de como ele sempre sabia quando uma situação era problema, e de como ele sempre tentava animar todos ao seu redor. Ele era a humanidade entre nós, quem nos lembrava o motivo de estarmos juntos e, acima de tudo, quem nos mantinha juntos.

Estava ficando cada vez mais difícil, com todos se afastando e a esperança de ele voltar diminuindo todos os dias. Hoje era um dos dias ruins. Ninguém falava nada, mas a tristeza era mais do que perceptível. Malia deu um ataque na hora do almoço, não sei bem o que aconteceu, mas Scott precisou ampará-la e voltou com uma expressão nada boa.

— Ela quer ir embora. — foi tudo o que ele disse.

Não precisou de explicação, eu sabia o que ele queria dizer. Talvez devesse ter ficado com raiva, afinal, ela queria nos deixar, mas não. Eu a entendia. Entendia como devia ser tão complicado pra ela quanto era pra mim, entendia como não havia razão para ela ficar. Ao mesmo tempo, percebia como Scott estava decepcionado consigo mesmo, se culpando por não conseguir nos manter unidos. Só que não era culpa dele. Stiles era uma parte fundamental do nosso bando, sem ele, era óbvio que era questão de tempo até as coisas irem abaixo.

Nós todos ficamos parados no meio do corredor por algum tempo, até que o sinal bateu e o corredor foi imediatamente preenchido com dezenas de estudantes. Um barulho alto, uma porta batendo, o silêncio. Olhei para os outros, me perguntando o que estava acontecendo, não conseguia ver nada de onde estávamos. Como ninguém parecia ter a intenção de se mexer, fui eu mesma abrindo caminho entre as pessoas. Então encontro Malia paralisada, pálida e olhando fixamente em uma direção.

Era Stiles. Ele estava lá, ele estava vivo.