1 EXT. CIDADE ABANDONADA – DIA – PRETO E BRANCO 1

"Cerca de uma dúzia de homens estão formando um círculo, discutindo algum assunto. O mais velho é o MAJ. MAVENGER, um homem com traços germânicos, usando farda militar. Junta-se à roda DORIN, rapaz de cabelos negros e que aparenta ter cerca de vinte anos. Todas as pessoas usam luvas."

MAVENGER

Teremos que sair para caçar. Precisamos de alimento para o grupo, e não sabemos quando Eles vão resolver nos atacar de novo. Precisamos estar preparados para não termos mais baixas.

HOMEM 1

E como pretende encontrá-los, Mavenger? Não espera sair por aí matando qualquer coisa que se mova, não é?

MAVENGER

Já pensei nisso. Um grupo pequeno deles está reunido na floresta. Podemos facilmente exterminar aquelas pestes.

DORIN

Então, quantos irão dessa vez?

MAVENGER

Não podemos mais correr riscos. Eles são mais velozes que nós, mas iremos em maior número.

(Ele pega uma espécie de mapa e o abre a sua frente, indicando aos outros que se aproximem para olhar.)

Algumas das garotas foram confirmar sua presença ontem e ve...

HOMEM 2

(Interrompendo.)

Como pode mandá-las lá? É muito perigoso!

MAVENGER

(Aborrecido.)

O que vamos fazer também será perigoso! Precisamos ser racionais se quisermos sobreviver! Como eu dizia, verificamos que eles estão nessa área. Eles não costumam ficar muito tempo no mesmo local, então o melhor é que ataquemos ainda hoje. Alguém discorda?

(Pausa.)

Ótimo. Vou falar com os outros. Estejam prontos para sair uma hora antes do pôr-do-sol.

HOMEM 3

Dorin!

(Aponta para uma moça de cabelos escuros que se aproxima do grupo.)

"Dorin abre um sorriso e corre em sua direção. Eles se abraçam."

DORIN

Olá, Arte!

ARTE

(Sorrindo.)

Olá, Dorin! Senti sua falta hoje.... Estava ocupado?

DORIN

Pode-se dizer que sim. O major quer que saiamos de novo... Matar alguns d’Eles, trazer comida para casa, você sabe.

ARTE

(Sua expressão fica sombria.)

Mas... De novo? Você precisa mesmo ir?

DORIN

Você sabe que sim. Mas não precisa se preocupar tanto comigo...

"Arte o abraça."

ARTE

(Sussurrando.)

Você não tem como prometer que vai voltar, eu sei... E sei que quanto mais gente for, mais seguro vai ser... Mas e se eles os emboscarem? Sabe que são espertos o bastante para isso! Você já os viu matando antes, sabe que o fazem mais por satisfação do que por necessidade. Tenho medo que algo aconteça a você. O que eu faria se ficasse sozinha?

DORIN

Ei, me escuta!

(Ele segura o rosto dela.)

Não vou te deixar sozinha. Nunca. Você é a coisa mais importante pra mim.

"Arte olha fixamente para ele. Dorin beija as mãos dela."

DORIN

Eu VOU voltar. Pode estar certa disso.

"Eles se abraçam novamente, mas, silenciosamente, Arte chora."

2 INT. HOSPITAL – DIA – PRETO E BRANCO 2

"Dorin entra e se dirige a um dos quartos. Há várias camas. Na mais à direita, está MÃE FRINA, uma senhora de pele negra, cabelos brancos e muitas pintas no rosto. Ela, como todos no quarto, tem uma aparência moribunda, e em seus braços, por cima do lençol, se pode ver feridas feias. Ela sorri para Dorin."

MÃE FRINA

D’rin, meu garoto...

DORIN

Olá, Mãe Frina. A senhora está bem?

MÃE FRINA

Já estive melhor.

(Pausa.)

Mas vou sobreviver. Soube que o Pal vai sair com vocês de novo.

DORIN

(Angustiado.)

Ele falou com a senhora?

"Mãe Frina ri."

MÃE FRINA

Aquele soldado não tem segredos com esta velha!

(Suspira e volta a falar, séria.)

Você precisa entender a necessidade de vocês saírem daqui, D’rin. É perigoso, claro que é, mas já não há mais comida na cidade. Essas feridas não vão se curar só com força de vontade. E os mais novos têm fome, sabe disso.

DORIN

Eu sei, Mãe... Só queria que não precisássemos nos arriscar dessa forma...

"Mãe Frina gargalha."

MÃE FRINA

Pelos deuses, garoto, estamos no meio do apocalipse! Não pode ficar com medo de matar alguns d’Eles! Sabe que Eles não pensariam duas vezes antes de avançar em você. Só conseguem pensar em matar!

(Ela sorri docemente para ele.)

Apenas pense no que é mais importante: a sobrevivência do grupo.

"Mãe Frina segura a mão de Dorin entre as suas. Ele sorri para ela e beija sua testa."

3 EXT. FLORESTA – NOITE – PRETO E BRANCO 3

"Aproximadamente o dobro das pessoas da primeira cena formam o grupo, que caminha pela floresta. A maioria são homens e quase todos têm a idade de Dorin."

DORIN (OV)

O apocalipse começou do jeito mais normal possível: um vírus capaz de reativar as funções corporais mesmo após a morte. Zumbis. Clássico. Os Não-Vivos precisavam de sangue e carne dos Vivos para que os sistemas funcionem corretamente, inclusive possibilitando a regeneração de seus ferimentos. Por isso, são extremamente parecidos com os Vivos, podendo facilmente serem confundidos. Já os Vivos, estes precisavam apenas sobreviver. Não demorou muito para descobrirem que, se atirarem na cabeça, torna-se impossível a um Não-Vivo se curar, ou continuar se movendo, ou qualquer outra coisa, o que equilibrou um pouco a guerra... Isso foi há dois anos, eu tinha dezesseis. Foi bem recentemente que eu e Arte encontramos esse grupo. Antes disso, estávamos sozinhos, o que é bem mais perigoso do que se pode imaginar. Mas gosto de ter vindo parar aqui. Todos são bons conosco e faz bem para Arte ter outras mulheres com quem conversar.

(Foco em Mavenger.)

Este é o major Pal Mavenger, nosso disciplinado líder. Tá, ele se auto-intitulou, mas ninguém contesta isso, ele realmente sabe o que faz. O major se recusa a vestir qualquer coisa que não seja sua farda militar e acho que ele já lutou em uma guerra ou sei lá, mas não vale a pena se questionar sobre o que fizemos antes de tudo começar. Era uma vida completamente diferente, que não diz respeito a quem somos agora.

"Mavenger levanta a mão, em sinal para os outros pararem. Rapidamente, todos se abaixam. O militar aponta em uma direção, de onde se pode avistar uma luz de fogueira."

MAVENGER

Tenho certeza de que são Eles ali. Nosso trabalho deve ser rápido: os mataremos antes mesmo que percebam que chegamos. Só quando tivermos certeza de que acabamos com Eles, nos concentraremos em reunir suprimentos para levarmos de volta para o grupo.

"Todos concordam com a cabeça. Mavenger volta o olhar para onde está a fogueira e começa a se esgueirar para lá. Os outros o seguem, sempre com o cuidado de serem discretos. Lentamente, eles se separam, cercando a clareira, onde quatro pessoas estão sentadas perto da fogueira e várias dormem no chão ao redor."

DORIN (OV)

E aqui estamos outra vez. Caçando. Nos preparando para matar. Ok, Eles são assassinos, mas nós também não somos?

"Dorin entra na clareira e seus companheiros começam a fazer o mesmo. A visão do rapaz foca-se em uma das pessoas sentadas, um homem barbado, e o filme passa a ser COLORIDO. Dorin respira fundo e sorri sinistramente. Ele e todos os integrantes de seu grupo têm as íris vermelhas."

DORIN (OV)

... Mas seria mentir para mim mesmo dizer que não adoro o cheiro delicioso e o calor emanado por seus corpos. Torna o mundo muito mais... VIVO!

"O homem que ele olhava vira em sua direção e, ao ver Dorin, exibe uma expressão assustada. O rapaz avança, já iluminado pela fogueira, os poucos passos que os separavam. O major Mavenger e uma mulher alta de seu grupo são vistos se aproximando das outras pessoas na fogueira."

DORIN (OV)

Enfim... Hora de levar comida para casa.