Do Seu Jeito escrita por Anita


Capítulo 2
Apenas Estranho?




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Liana franziu a testa ao perceber o filho ali, desorientado como se estivesse vendo um fantasma. Como suspeitava, ninguém ainda havia dado a notícia de que a guerreira mágica ruiva já estava acordada.

Desde que retornara a Zefir, a mãe vinha se preocupando com a carga de trabalho do rapaz, por isso já fazia bastantes dias havia que exigido uma tarde de seu tempo para caminharem pelos arredores do palácio. Sentia que se não o fizesse, Lantis era capaz de desmaiar de estafa. Não que ela mesma não houvesse sido tal qual seu caçula... Talvez, ainda o fosse se realmente recebesse tarefas importantes para executar naquele palácio.

No entanto, a expressão mais engraçada naquela cena fora a da ferreira que abertamente expressava a desconfiança em Liana. A guerreira mágica continuava a olhar para Liana, como que percebendo as semelhanças genéticas entre os dois de cabelos negros e olhos violetas.

Sem saber muito bem como reagir, a espadachim ofereceu um sorriso de reconforto. Tinha consciência de que aquela sua resposta automática sortia o efeito oposto em seus perseguidores, mas não lhe vinha nenhuma outra ideia.

– Então, vocês já se conheceram? – Lantis perguntou, como que salvando todos do clima desagradável.

– A... dona Liana estava no meu quarto quando acordei e cuidou de mim. – Lucy olhava para baixo, devia estar evitando falar demais como fizera momentos antes.

– Por favor, Lucy! Apenas Liana, ou eu realmente me sinto tão velha como o Clef. – Liana realmente se sentia incomodada como “dona” se anexava instantaneamente a seu nome logo que descobriam de quem era mãe.

A ruiva assentiu, com as bochechas ainda mais rubras que o cabelo.

– Vocês devem ter bastante pra conversar, né? – A morena sorriu novamente e puxou Priscila pelo braço. – Então, nos vemos mais tarde, filho!

E foi arrastando a ferreira até saírem do contato visual do emudecido casal.

Bem que Rafaga havia mencionado achar que Lantis e aquela guerreira mágica tinham algo. Ele disse ter ouvido qualquer coisa como uma declaração entre ambos na última vez que se viram, mas não lhe dera certeza. Clef também assegurara ao loiro que não ouvira nada mesmo estando bem ao lado, o mesmo valendo para Ferio, mas Rafaga tinha a teoria de que os dois também pareciam ocupados conversando com as demais meninas do outro mundo.

Bem fizera Liana em haver ficado do lado da guerreira ruiva enquanto esta convalescia. De fato, parecia haver alguma tensão entre esta e seu filho mais novo. Não poderia ser mais alcoviteira do que já fora, então, esperava que Lucy percebesse os esforços que a futura sogra estava a empenhar e mudasse sua opinião. Liana não ligava para o que ninguém mais pensasse, exceto pelo próprio Lantis e agora a garota com quem ele se importava.

Suspirou, caminhando para longe de Priscila sem mais uma palavra. Já com aquela, não valia a pena o esforço. Apenas torcia para que todos a compreendessem com o tempo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Lucy deixou o quarto de sua amiga, quem continuava adormecida. Esperava que a missão de Marine fosse bem sucedida, mas, segundo Clef, a esperança mesmo era de que Anne acordasse a qualquer momento.

Marine havia abrido os olhos uma semana após chegara a Zefir, e Lucy duas semanas. Entretanto, já passava da terceira semana naquela terra e a guerreira mágica dominadora do vento permanecia inconsciente. Pelo menos, estavam no lugar onde bastava acreditar, por isso Lucy não queria perder suas esperanças.

Segurou Mokona firme e decidiu que estava na hora de jantar. Já era bastante tarde, mas nos dias em que Priscila não estava, Lucy sempre acabava comendo sozinha ou em silêncio com Liana. Nunca sabia o que dizer à mais velha e sempre se sentia pior ao lembrar-se de quem ela era mãe. Nas últimas refeições, preferia nem pensar nela, assim não perderia o apetite com lembranças desagradáveis.

Tentara desmentir tudo já inúmeras vezes, ao passo que Liana apenas respondia não poder mudar a opinião de ninguém como quem achasse que as desculpas fossem apenas por educação. Conseguia compreender a desconfiança da espadachim, pois havia inclusive ouvido alguns soldados falando mal pelas costas dela. Aparentemente, eles a conheceram de quando ainda era a comandante e também consideravam seu sumiço uma traição.

Lucy não entendia os dois pesos e as duas medidas. Apesar de Lantis não parecer ser idolatrado por ninguém, não ouvira uma só pessoa falar mal. Com essa dúvida, indagara Priscila sob sua opinião e esta lhe respondera que conseguia entender o rapaz: ele era jovem e não se sentira maduro o suficiente para escolher entre o irmão e o mestre. Mesmo franzindo a testa nessa hora, a guerreira mágica optou por permanecer calada. Sabia que Lantis apenas não concordava com nenhum dos lados, mas achava que uma mudança como a que então almejava fosse impossível.

Uma vez também, encontrou Liana após um jantar e decidiu falar com ela sobre outro assunto: seu filho primogênito, Zagato. No entanto, a mais velha apenas sorriu dizendo que estava tudo bem e até pediu desculpas pelos problemas que Zagato lhe havia causado. Lucy simplesmente não conseguia acertar sua relação com Liana, constantemente sentindo-se como se qualquer esforço fizesse o efeito oposto.

Adentrou a sala de refeições usada apenas por pessoas seletas. Ali, as guerreiras mágicas podiam escolher pratos prontos para comer e eles apareciam como que por mágica. Preferiu nunca interrogar ninguém sobre o que era aquilo, certas coisas preferia apenas aceitar. Principalmente se fossem tão gostosas como as comidas zefirianas.

Sorrindo, falou a um quadro o nome do prato entre os oferecidos naquele dia e em poucos segundos já pôde sair com e mais uma bebida gasosa cujo sabor lembrava uva com framboesa. Já conseguia imaginar o sabor da comida quando seus olhos se encontraram de frente com os de Liana.

Considerou se deveria sentar afastada ou não. Afinal, já havia sido vista e ignorá-la seria apenas dar mais linha para a desconfiança. Lucy, então, prosseguiu com o que sempre fazia quando via Liana antes de se sentar e tomou o assento à frente do da mulher.

– Olá... – cumprimentou, organizando os talheres e o copo na bandeja.

– Oi, Lucy! Como vai?

– Bem. E a senhora?

– Já pedi que me tratasse por “você”, né? Mas eu vou bem!

As duas se sorriram ao mesmo tempo e um silêncio seguiu isso. Desta vez, porém, ele foi quebrado com os sons de uma nova pessoa tomando lugar naquela mesa logo ao lado da morena.

– Ah, Lantis! – Lucy não conseguia não corar. Era a quarta vez que o via desde o desastre do reencontro.

Desastre porque ela não conseguira dizer nada após ficar repentinamente a sós com a pessoa que mais queria ver naquele lugar. Então, dissera apenas que iria voltar a seu quarto e Lantis oferecera-se para acompanhá-la. Haviam se despedido assim que chegaram ao destino e não mais trocaram palavras.

O rapaz começou a arrumar sua comida, enquanto a mãe lhe falava sobre alguns papéis do trabalho. Aparentemente, ela o estava ajudando a separar quais precisavam de atenção com maior urgência.

– E você já despachou aquela segunda pilha que fiz? – perguntou Liana, já quase terminando o conteúdo de seu prato.

– Preciso ler antes, farei assim que terminar a primeira... – Lantis comia devagar e exibia um rosto cansado.

Lucy imaginou quantas pilhas haveria ao todo.

– Meu filho agora está cuidando dos pedidos de ajuda das vilas, - explicou a espadachim, sem esconder o orgulho no rosto.

– Muitos ainda não recuperaram suas atividades econômicas e, por isso, precisam de auxílio do palácio, - complementou o outro, - Por exemplo, muitas vilas perderam seus homens para o exército, então essas tarefas estão vazias.

– Para o exército? – A ruiva ergueu as sobrancelhas.

– É o famoso patriotismo, né? – Liana sorriu. – Eles querem fazer algo pelo planeta e acabam se esquecendo dos próprios filhos. Não que eu possa dizer qualquer coisa. Normalmente, se o dever me chamasse, eu me esqueceria até de pôr alguma roupa! Mas também não significa que eu aprove esse comportamento... – Então, voltou-se para o filho: - Precisa mesmo ler aquilo tudo? Pensei que era exatamente para se poupar que pediu a minha ajuda. E aquela segunda pilha está cheia de mãe querendo saber se o filho está no exército. Eu tinha te comentado desses casos, né?

Lantis assentiu vagarosamente, enquanto punha um pouco mais de comida na boca.

– Ainda assim, preciso ter certeza dos fundamentos. Procurar uma pessoa no meio de tantos homens é custoso e se ele está lá é por vontade própria. Há coisas mais importantes, como os ataques de monstros que vêm sido noticiados ao norte.

– Por isso eu as pus na segunda pilha. Só quero dizer que você não precisa ler a primeira. Já escrevi todos os resumos nas folhas que pus acima e fiz rascunhos para as estatísticas. Basta você assinar e escrever se aceita ou nega ajuda.

– Só estou lendo, mãe. Preciso saber um pouco do que o povo está pedindo para pensar em soluções coletivas e não apenas pontuais.

A mulher mais velha suspirou. Já havia terminado tanto a comida como a bebida. Então, seus olhos violeta pousaram em Lucy, e lhe sorriu:

– Parece que até meu filho não confia muito em mim, né?

– Tenho certeza de que não é verdade! – A ruiva decidiu intervir. – O Lantis não é do tipo de pensar mal das pessoas só por um erro.

Pensava em Águia ao dizer aquilo. Lantis nunca havia chamado o comandante de Autozam de traidor ainda que este houvesse usado as informações que lhe confidenciara quando amigos para invadir Zefir. Com base nisso, Lucy sabia que aquilo não era do feitio do moço à sua frente.

– Preciso ir. – Liana pareceu ignorá-la e apenas levantou-se para ir embora.

Lantis fez o mesmo logo em seguida, oferecendo para levar a mãe a seu quarto, mas foi rejeitado. A mulher saiu em seguida.

– Ela... parece estar muito triste. – Lucy olhou para baixo.

– Minha mãe sempre foi idolatrada por todos. Não deve ser fácil encontrar adversidade pela primeira vez na vida. – Então, fixou seus olhos na guerreira mágica, parecendo notar que esta também já terminara sua janta. – Eu a acompanho até seu quarto.

Lucy não conseguia rejeitar, então, seguiu-o com um rubor permanente no rosto enquanto olhava para os próprios pés. O moço caminhava a passos lentos demais, por isso, teriam que conversar para não ouvirem aquele silêncio desagradável. No entanto, não sabia o que dizer. Sua cabeça estava focada em como Liana e ela não conseguiam se entender.

Considerou perguntar a Lantis o que sua mãe pensava, mas ponderou novamente e desistiu da ideia. Não tinha como indagar algo assim sem se fazer passar por mais uma situação vexatória. Entrelaçou os dedos das mãos algumas vezes, levantando o olhar para aquele que a acompanhava, mas não conseguia formar nenhuma palavra.

Em pensar que em seu mundo desejara tanto estar a sós com ele... Tudo estava sendo um fracasso, mas sabia que nada melhoraria se não conseguisse consertar o problema surgido desde aquele dia com Liana. Até então, tudo estivera bem entre as duas, certo? Não conversavam como grandes amigas, mas não havia nenhum clima pesado quando ficavam juntas na mesma sala.

Pensando em clima pesado, fazia já alguns minutos que seu peito estava apertado. Olhou ao redor. Estavam Lantis e ela em uma parte mais larga do corredor, isto era já a uns minutos de seu quarto. Nenhum guarda estava à vista, causando a sensação de que não havia mais ninguém no mundo. O silêncio era sepulcral, esta era a melhor palavra para descrever como o incômodo crescera. Mas a situação com Liana ou mesmo com Lantis não mais pareciam ser as causas.

O moço parou no meio do caminho, escondendo o rosto:

– Talvez, minha mãe tenha razão, - disse para surpresa de sua acompanhante, - Eu realmente acho tudo muito estranho. Ela não apenas sumiu com meu pai, como retornou sem ele.

– Seu pai? – Priscilla não o mencionara em sua lista de desconfianças.

– Parece que ele está ocupado em algum planeta. Só que eu nunca consigo contato, a não ser que o faça através de minha mãe. Ela tem razão quando diz que até o próprio filho não confia nela.

Lucy mordeu o lábio inferior. Não esperava palavras tão sinceras e, ao mesmo tempo, desesperadas. Sequer tinha resposta. Pensando assim, ela mesma conjeturava sobre Liana? Lembrou-se da moça que sempre sorria e confessava achar que ela escondia algo, mas não o bastante para que não merecesse confiança, certo?

Foi nesse mesmo momento que ouviu um assobio, como se um carro ou um avião passasse bem à sua frente. Todavia, o deslocamento do ar a fez crer que o objeto vinha bem a seu encontro. Abaixou-se como pôde e viu que Lantis fizera o mesmo, jogando-se no chão, ao mesmo tempo que puxava as pernas de Lucy para que, com a queda, a menina ficasse ainda mais embaixo. De fato, não fosse isso o objeto desconhecido talvez passasse raspando por sua cabeça.

Suspirou para soltar o fôlego que prendera com o susto.

–LUCY! – O moço gritou, jogando todo seu corpo em cima do da moça, forçando com que se deitassem no chão.

Com isso, ela percebeu que o objeto, uma bola negra do diâmetro de uma criança ou maior, voltara a passar mais baixa e mais rápida. Foi por pouco que os atingiu, mesmo com o reflexo rápido de seu protetor.

Lantis levantou-se logo em seguida, começando uma perseguição à esfera. Lucy tentou acompanhar, mas o rapaz parou no meio do caminho. Havia perdido o objeto de vista. Arfando, voltou-se para a moça:

– Você está bem?

– Sim... – Lucy virou os olhos para o chão. – Mas por minha culpa...

Lantis franziu a testa. Não parecia compreender sua atitude até ela estender a mão, apontando seu ombro. Na parte de trás, que ficara exposta ao ataque, uma mancha de sangue crescia lentamente.

– Você se machucou por minha culpa... E a Anne não está acordada para te curar. – Fez menção de tocar, mas logo escondeu a mão direita que erguera.

– Eu estou bem, não se preocupe. Mas preciso falar com Clef imediatamente. Mesmo na crise que tivemos naquela vez, nada assim invadiu o palácio do nada!

Lucy aquiesceu:

– Eu vou junto.

Aguardou que Lantis dissesse algo como aquela não ser sua luta, como tanto ouvira em sua segunda visita, mas o jovem apenas assentiu em retorno.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Anne havia acabado de acordar e sentira que apenas havia ido para a cama à noite e agora o dia seguinte começara. Mas não era mais isso. Agora estava em Zefir e Marine falava palavras demais para sua mente semi-desperta processar. Considerou pedir que repetisse mais devagar, mas percebeu que a amiga só estava desabafando sua preocupação.

A loira nunca aceitou que causasse problemas aos outros, por essa razão, decidiu dizer novamente que estava bem, que não sentia nada estranho consigo, exceto cansaço. Havia mesmo dormido por quase um mês? Apenas se lembrava de estar estudando em seu quarto após voltar do colégio. Começara a se sentir tonta e... Sonhara. Agora, estava um mês depois e em outro mundo?

Contudo, estava feliz por voltar. E pela tal planta de que sua amiga de cabelos azuis falava haver sido tão eficaz. Um remédio recomendado por alguém, cujo nome Anne estava tonta demais para captar.

Zefir... O que as guerreiras mágicas estariam fazendo ali? Sentia que estava se esquecendo de alguma coisa. Havia sonhado, tinha certeza de que sonhara. Então, por que não conseguia...? Esforçava-se, mas não conseguia recordar-se de nenhum detalhe sequer. Do sonho, restaram apenas alguns calafrios que lhe arrepiavam os braços. Mas devia ser porque ficara inconsciente por tanto tempo.

Não era nada demais. Enfim, a paz reinava em Zefir.

Continuará...

Anita


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Notas finais do capítulo

Notas da Autora:


Mais um capítulo terminado e só pra constar: a fic continua sem título! Hehehe, preciso inventar logo algo... Enquanto isso, o que estão achando? Este capítulo saiu do controle. A cena do ataque não era para ter sido tão longa! Achei que conseguiria escrevê-la de forma mais dinâmica... Então a cena da Anne acordando acabou por ser a última e ter menos conteúdo do que eu previa.


De qualquer forma, a história está começando a tomar forma! Acho que já posso dizer que saímos da introdução, mas é estranho pensar que já seja o meio, hehehe. E acho que a Liana não anda se dando muito bem, né? Tadinha XD Pelo menos ela estava certa sobre a tal planta para acordar a Anne! Parece que funcionou.


Então, comentários são sempre necessários!! Para mais fics minhas vocês podem visitar meu site Olho Azul. :D


Até o próximo capítulo!!!



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