Lara, o policial e o investigador saem para outra sala enquanto as outras testemunhas são ouvidas. Um auxiliar recolhe a bolsa e os celulares, colocando-os numa sacola de plástico.

POLICIAL – Quero ver onde vai dar essa revolução barulhenta agora...

INVESTIGADOR – Pois é...

Os três entram numa sala com paredes de vidro, alguém digita o depoimento. Lara está aos prantos, trêmula e desesperada.

INVESTIGADOR – Agora conte o que aconteceu.

LARA – Eu não sei onde eu estava com a cabeça! É sério... Eu tenho muitas coisas para pagar.

POLICIAL – Se a senhora não falar exatamente o que aconteceu, as coisas podem ficar piores. Talvez possamos até negociar uma delação premiada...

LARA – Este é o problema. Não tem ninguém comigo. Eu não sabia que em algumas horas isso iria virar um caso tão grande... Não sei se vocês acreditam em mim, mas não houve ataque silencioso, pelo menos eu não vi ou estou envolvida em nenhum ataque silencioso. A não ser que...

INVESTIGADOR – Acho melhor a senhora falar a verdade. Essa história de ataque silencioso chegou em rede nacional e as coisas se complicaram. Precisamos achar os criminosos. Ainda dá tempo de sair como heroína...

POLICIAL – A não ser que?

Lara fala como se tivesse uma grande revelação, diminuindo o choro aos poucos.

LARA – A não ser que Olívia tenha armado tudo isso sem saber que a polícia iria se intrometer.

POLICIAL – Explique melhor.

LARA – Não estou envolvida em nenhum crime. Quero dizer... O que aconteceu foi: eu estava sentada no final do ônibus e me ofereci para segurar a bolsa dela. Olívia foi até o meio do ônibus e não voltou. Eu abri a bolsa e quando vi que estava cheia de dinheiro, desci em um ponto qualquer. Foi um furto, tudo bem, mas eu não coloquei arma em ninguém. E eu só roubei porque eu preciso muito do dinheiro, mas se eu soubesse que ia dar nisso eu teria devolvido a bolsa.

INVESTIGADOR – E porque ela deixaria o dinheiro do assalto com uma estranha?

LARA – Boa pergunta. Eu acho que ela queria ter certeza que, se a polícia chegasse antes, ela estaria limpa. Provavelmente inventou essa história de ataque silencioso para o cobrador, pegou o dinheiro e deixou comigo para se safar em último caso. Mas pode ser que os dois estejam juntos nessa também...

POLICIAL – A senhora é a segunda pessoa que nos fala isso hoje, mas precisamos de provas. Até agora a única coisa que você fez foi dar uma prova de que é culpada. Toda a população do país está do lado da Olívia, é melhor ter um bom álibi.

O investigador põe as mãos na testa.

INVESTIGADOR – Uma das duas está mentindo. Temos que colocá-las frente a frente para dar um ponto final nessa história.

POLICIAL – Espero que seja tudo verdade ou a senhora estará muito encrencada.