INVESTIGADOR – Então quer dizer que o tal do criminoso era a imagem do pai dela?

VÍVIAN – Exatamente. O pai morreu linchado na rua porque estava tentando matar a mãe dela por ciúmes.

INVESTIGADOR – E a mãe?

VÍVIAN – Pelo que ela estava me contando, a mãe é extremamente relapsa. Depois que o marido morreu, ela só fala com Olívia no natal e, se der sorte, no aniversário. Essa história de faculdade era pura fantasia, Olívia viveu todo esse tempo com uma pensãozinha que o pai deixou. Ela se cercou por medo. Solidão levou a síndrome do pânico que levou a essas alucinações.

INVESTIGADOR – Então a culpa disso tudo é dos pais dela?

VÍVIAN – Deixei de procurar a origem dos problemas há anos, só quero resolvê-los.

O investigador sorri.

INVESTIGADOR – Tenho que aprender algumas coisas com você.

Vivian sorri.

VIVIAN – Segunda às duas da tarde. Hospital.

Vivian sai. O investigador sorri novamente.

Segunda à tarde chega.

VÍVIAN – Oi, Olívia.

OLÍVIA – Oi, doutora.

VÍVIAN – Vívian, para você.

Olívia sorri.

VÍVIAN – Fiquei sabendo que você vai receber alta logo. Quer ir ao cinema?

O investigador Cardoso chega e trás rosas em suas mãos.

VÍVIAN – Pensei que não viria hoje, mas as flores são mais surpreendentes.

INVESTIGADOR – Não me subestime só porque eu não sei ouvir.

Vívian sorri.

INVESTIGADOR – Sabia que a profissão dela é ouvir, Olívia? Vocês se dariam muito bem.

Olívia recebe as rosas.

OLÍVIA – Elas são lindas, sargento. Obrigada por tudo. Obrigada mesmo a vocês dois.

INVESTIGADOR – A gente recebe para isso! E as rosas são para fazer companhia. A sua história está fazendo a diferença na vida de muitas pessoas. Agora você não vai ficar sozinha nem se quiser.

OLÍVIA – Fiquei sabendo. Pelo menos saiu algo de bom dessa história toda. Sofia está me ajudando a manter uma rotina, talvez eu contrate uma secretária...

Os três conversam por algum tempo até que acaba o horário de visita.

Olívia sente algo gelado na sua cintura. Silêncio.

CRIMINOSO – Não me ignore.

Silêncio.

CRIMINOSO – Não me ignore, ou você vai acabar morrendo. Faça o que eu mando e você sairá ilesa.

Silêncio.

OLÍVIA – Você não me assusta mais, pode atirar.

CRIMINOSO – Sabia que você estava me vendo. E agora você consegue entender que a culpa é toda sua. Sabe o que eles dizem, não sabe? Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Então faça o que eu mando...

OLÍVIA – Já te perdoei, pai.

CRIMINOSO – Tem mais gente aqui comigo. Melhor não falar nada para ninguém. O porteiro deixou as chaves em cima da mesa, saia daqui e me obedeça.

Silêncio.

CRIMINOSO – Não me ignore.

Silêncio.