Something In The Way escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 5
Capítulo 05 - Jogo Perigoso




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Acordo com dor de cabeça. O toque do meu celular ecoa pelo quarto minúsculo em que durmia. Estranho no início, mas poucos instantes depois me acostumo e lembro que de não estou em casa. Estou em um motel barato na beira da estrada, indo para a cidade mais próxima enquanto tento pensar em alguma maneira de achar minha filha.

Já faz dois dias que Madison foi levada e eu sinto sua falta como nunca senti. Nem quando ela passou uma semana no acampamento de férias. Agora ela não está se divertindo, está presa em algum lugar, assustada e mal tratada. Ou morta.

Fico surpreso, é a primeira vez que penso na possibilidade de Madison estar morta. Não quero pensar nisso, preciso pensar que ela está viva e esperando por mim.

Depois de incansáveis toques, o ruído cessa. Pego o celular e vejo que já é a oitava vez que me ligam. O mesmo número. Eu não me atrevo a atender, pois já memorizei. É o número do departamento de polícia, para o qual liguei mais cedo.

De repente, o celular toca novamente. É outro número. Pego e atendo, sem saber o que esperar.

– Alô?

– Eu vi o que você fez – Diz a voz grossa do outro lado. Eu reconheço rapidamente. O sequestrador.

Fico em silêncio.

– Você não apareceu onde combinamos.

– Você que se engana, eu estava lá o tempo todo... Eu acompanhei seus passos até chegar em casa, você fez uma coisa errada, Edward.

– Eu só quero minha filha de volta, por que está fazendo isso? É dinheiro o que você quer?

– Eu só quero diversão.

– Você é doente.

– Todos nós temos um lado doentio, não é mesmo?

Começo a chorar, disfarçando para que ele não ouça. Eu nunca senti tanto medo em minha vida. Ele não quer dinheiro, nada o impede de matá-la. Não consigo entender o porquê.

– Não chore – Diz ele – Ela ainda está viva, eu não vou matá-la, Edward, você acha que eu sou um monstro?

Sim, é exatamente o que eu acho. Que ele é um monstro.

– O que você quer então?

– Você descobrirá, mais tarde... Quero fazer uma nova proposta.

– Como assim? – Enxugo minhas lágrimas.

– Há um posto de gasolina perto de onde você está.

Ele falou a verdade, realmente há um posto de gasolina perto daqui. Como ele sabe onde estou?

– Como você sabe onde estou?

– Eu sei de tudo o que você faz, eu estou em todos os lugares.

– O que você quer?

– É um dos postos que não funcionam durante a noite, eu quero você vá até o estacionamento ao lado dele, estará praticamente vazio. Faça isso à meia-noite.

– Qual o motivo disso, vai deixar eu ver a Madison?

– Você verá.

Antes que eu possa falar algo, ouço os bipes que indicam que ele desligou o telefone. Ainda são duas da tarde, eu acordei realmente tarde hoje, estava cansado. Não sei o que farei até a hora marcada, minha ansiedade não me deixa pensar corretamente. E se Madison não estiver lá? E se ele próprio não estiver lá? Temo por minha vida e pela de minha filha, isto pode muito bem ser uma armadilha. É a única chance que tenho, além disso, só me entregar à polícia e deixar que eles procurem-na. E isso eu não vou fazer, não posso desistir.

Deite na cama, serão longas horas até a meia-noite.

***

Estou percorrendo o corredor do motel vestindo meu casaco e com minha pistola escondida na virilha. O local está vazio, já passa das onze e cinquenta.

Desço as escadas e passo da recepção, onde uma senhora assiste a um programa em uma pequena TV em um suporte na parede. Ela praticamente não nota minha presença, mas mesmo assim ando de cabeça baixa, com medo de alguém me reconhecer. Tolice minha, é claro que não sou tão procurado assim, mas estou assustado.

Não pego meu carro, prefiro ir andando a pé. Pela calçada encontro duas mulheres vestidas com roupas extravagantes, provavelmente prostitutas. Elas olham para mim de cima a baixo e sorriem. Eu ignoro.

Depois de caminhar alguns metros, vejo o grande estacionamento. Há exatamente cinco carros nele, dois brancos, dois pretos e um prateado. Nenhum é a caminhonete que eu penso ser o carro do sequestrador.

Chego ao local e fico parado, olhando para os lados, com a mão no bolso. Não vejo ninguém. Tudo o que há na rua são postes acesos e as luzes da cidade a alguns quilômetros.

Meu celular começa a tocar. Pego o aparelho no bolso e olho o número. É ele.

Atendo.

– Alô? – Digo, sabendo o que ouvirei em seguida.

– Belo casaco – Responde ele, me fazendo olhar ao redor. Não consigo vê-lo em nenhum lugar.

– Você está me observando?

– Sim, mas não adianta procurar, não vai me encontrar.

– Onde você está?

– Estou aqui, bem aqui.

Estou suando, começo a esfregar minhas mãos, o que faço quando estou nervoso. Estou observando cada lugar do estacionamento e ao redor dele, nenhum sinal o sequestrador.

– Eu posso estar dentro de um desses carros, ou posso estar dentro da floresta.

Ele se referia à floresta atrás de tudo, onde estava escuro. Eu não havia pensado nisso.

– Ou ainda... Posso estar bem atrás de você.

Olho para trás, com um calafrio. Ninguém.

– Olha, eu não tenho tempo para brincadeiras, diga o que eu vim fazer aqui.

– Vamos conversar.

– Vamos sim, onde você está? Apareça.

Seguro a minha arma através da calça, me certificando de que ela está lá. Posso usá-la a qualquer momento, apenas preciso achá-lo.

– Não posso aparecer.

– Por que não? – Continuo procurando ele em cada canto escuro que vejo.

– Porque é mais divertido assim.

– Eu vou embora – Digo, começando a voltar para o motel onde estou hospedado.

– Se você for embora eu enfio uma bala na sua cabeça.

Paro no mesmo momento e fico aterrorizado. Ele tem uma arma.

– É incrível como as pessoas têm medo de morrer, não acha?

– O que você quer que eu faça? – Pergunto, nervoso.

– Eu só quero conversar, por que você está tão assustado?

– Eu não estou.

– Então livre-se da sua arma.

– Que arma?

– Não tente me enganar, eu não tenho tanta paciência quanto pareço ter.

– Eu estou falando sério, não tenho nenhuma arma.

– Eu posso ir pegá-la depois que seu corpo estiver no chão com um buraco na testa.

Com medo, tiro a arma da calça e ergo-a no ar.

– O que eu faço com ela?

– Jogue-a no chão, longe de você.

Obedeço e jogo minha pistola a alguns metros de mim. Não há como matá-lo agora, sou um refém.

– Então, Edward, qual a data de nascimento da sua filha?

– Por que você está perguntando isso?

– Apenas responda, será divertido.

– 2 de novembro de 2005.

– Local de nascimento?

– Hospital Santa Barbara.

– No primeiro dia da escola, você foi levá-la?

– Sim, ela estava com medo e quase saiu fugindo – Me pego sorrindo, lembrando do momento.

– Não tenho mais perguntas.

– Eu quero vê-la.

– Você não pode.

– Por favor, só deixe-me vê-la.

– Não se preocupe, ela está viva.

Ele desliga o telefone e um dos carros do estacionamento é ligado, assim como os faróis. É um sedan preto. Ele sai em alta velocidade, quase me atropelando. Pulo no chão e caio ao lado, vendo ele fugir. Era ele, mas em um carro diferente. Começo a pensar que há mais gente por trás disso e o tempo está acabando.

Estão brincando comigo.


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