Something In The Way escrita por Eduardo Mauricio
Já passa das nove horas da noite e eu não tenho nenhuma notícia. O telefone ficou em silêncio por todo o dia, inclusive durante os vinte minutos em que consegui pregar os olhos para dormir. Não consigo descansar sabendo que Madison está esperando por mim para salvá-la.
Levanto-me da cama e dirijo-me à cozinha, mas quando chego ao corredor paro instantaneamente ao perceber que há alguém em minha porta. Tudo o que posso ver são as sombras dos seus pés. Espero a pessoa bater, mas ela não o faz, ao invés disso, vai embora. Sei que foi embora porque não vejo mais nada pela fresta da porta. Quem pode ser?
Caminho até a janela da sala, quase ao lado da porta da frente, e vejo o mesmo homem que me deu a dica sobre o carro. Ele fuma outro cigarro e ainda veste a mesma roupa preta de antes. Está indo embora, entrando em seu carro. Não voltou.
Pergunto-me quem é aquele homem, o que queria aqui novamente?
Tiro das travas e abro a porta no exato momento em que ele acelera seu carro. Ele vai embora antes que eu possa chamá-lo. Já que estou do lado de fora, olho para o fim da rua, observando o movimento, com uma parte de minha mente pensando que talvez pudesse encontrar Madison brincando com alguma criança. Ela não está lá, ela foi sequestrada.
O toque do telefone me faz voltar para dentro e trancar minha porta novamente. Corro para atender, esperando ouvir a voz de alguém da polícia, talvez da secretária. Ao atender, ouço apenas uma respiração ofegante um pouco distante. Está ficando mais perto. Não sei o porquê, mas uma voz em minha mente grita que é ele, o sequestrador.
– Alô? – Pergunto. Ninguém responde – Alô? – Tento outra vez.
– Eu estou com ela – Responde uma voz grave e gélida.
Eu sabia. É ele. Meu corpo estremece, fico nervoso. Estou falando com o homem responsável por tirar de mim meu tesouro mais precioso. A vontade que tenho no momento é pular em cima do sujeito e rasgar sua garganta com minhas próprias mãos, mas não posso. Não consigo vê-lo nem senti-lo, apenas ouvir sua voz.
– O que você fez com ela?! – Começo a gritar, furioso – Ela está viva? Está aí?!
– Você precisa se acalmar, Sr. Flanders, você pensa que isso é um jogo de perguntas e respostas... Não, é tão simples.
– O que você quer de mim? Eu não tenho muito dinheiro, não posso lhe dar nada, apenas devolva minha filha!
– Eu quero brincar com você.
Imploro porque não há mais nada a fazer. Estou com medo porque recuperar Madison parece uma alternativa tão longínqua. Não há como pagar resgate, o único jeito de tê-la de volta é seguir as ordens. As lágrimas começam a brotar dos meus olhos, há muito tempo não chorava e agora estava sempre assim. Minha vida está sendo levada aos poucos. Não consigo sentir minha alma se esvaindo, mas sei que ela paira sobre o ar neste momento. Indo embora. Ficando mais longe.
– O que você quer que eu faça? – Pergunto, tentando, sem sucesso, controlar meu nervosismo.
– Quero que vá até o Pietro’s, eu sei que você sabe onde fica.
É claro que eu sei. Pietro’s era um bordel que ficava em uma área perigosa da cidade. Eu tinha ido lá algumas vezes no último ano, quando entrei em depressão e os meus meios de aliviar a pressão eram sexo e álcool. Não foram as poucas as vezes que deixei Madison sozinha enquanto dormia. Seu olhar de medo quando me via bêbado nunca saiu de minha cabeça. Era a única coisa que lembrava dessa época, isso e o cheiro ruim que tinha aquele lugar.
– Eu acho que sei – Digo – Você não pode levar minha filha lá.
– Eu não vou levá-la.
Fico assustado quando ele diz isso. O que ele quer comigo?
Estou com medo, mas não posso desperdiçar essa chance. É o mais próximo de Madison que posso chegar.
– E não se esqueça – Diz ele – Se você levar a polícia, nunca mais vai ver a garota.
Aquelas são suas últimas palavras. O homem desliga o telefone, me deixando aterrorizado. Eu sei o que fazer, mas não sei se tenho coragem para isso. Lembro do acidente que causei há algumas horas e fecho os olhos para tentar esquecer a imagem. Não, não foi um acidente, eu o matei! Puxei o gatilho e então atirei na cabeça do homem. Não importa se foi um acidente ou não, aquele homem não iria acordar amanhã.
Visto meu casaco e pego as chaves do carro. A foto de Madison que tirei do porta retrato ainda está em meu bolso.
Saio de casa respirando o ar gelado da noite e caminho pela calçada até meu carro. Quando entro, respiro fundo e olho ao redor. Estou sozinho, como sempre. O silêncio está me perturbando e eu realmente queria que meu carro tivesse um rádio, mas não tem. Sou só eu.
Dou partida e começo a dirigir até o local combinado.
***
A música está alta e há algumas garotas quase nuas dançando atrás de mim, com vários executivos fumando e colocando dinheiro entre seus seios.
Bebo um copo de uísque no bar do estabelecimento, o esperando. Minha pistola machuca a virilha, mas posso aguentar o desconforto. Talvez eu a use mais tarde.
Olho ao redor, ninguém se importa comigo, nem olha para mim. Ele não está aqui, ainda não chegou.
Meu copo está vazio, levanto a mão e o garçom prontamente me atende. Peço mais um uísque e ele despeja o líquido escuro e alaranjado no meu copo. O barman repete esse processo por mais sete vezes durante a noite e eu continuo sozinho.
Já são onze e cinquenta e cinco, olho em meu relógio, e ele não apareceu. Quase três horas de atraso. Ele não vem. Levanto-me da cadeira, um pouco tonto. Estou bêbado, com certeza. Posso sentir a ardência em minha garganta quando coloco para dentro as últimas gotas da minha bebida. Ajeito meu casaco que caía de meu ombro esquerdo e me preparo para sair, quando sinto uma mão tocá-lo sobre o tecido. Viro-me e vejo que é uma mulher ruiva, de uns 20 e poucos anos, com cabelos longos e uma maquiagem forte no rosto. Ela tem um sorriso malicioso no rosto e um olhar sensual. Seus olhos azuis não são nada menos que hipnotizantes.
– Já vai embora? Tão cedo?
Eu sorrio, sem jeito.
– Eu preciso dormir.
– Eu tenho te observado – Diz ela, tocando meu ombro e descendo até suas mãos estarem em meu peito.
– Sério? – Sorrio, sabendo no que aquilo vai acabar.
– Sim, eu te achei bem atraente.
– É uma pena, porque eu preciso ir embora, mas você também é muito bonita.
– Obrigada... Olha, ao invés de você ir embora, que tal nós conversamos em um local mais reservado?
Eu olho o relógio, não consigo ver as horas direito, mas lembro que já passa das onze horas. Eu não tenho nada mais importante para fazer em casa a não ser deitar e dormir chorando, então resolvo que vai ser divertido. É claro que o toque das mãos dela pelos meus braços e abdômen por cima da roupa ajudou na decisão.
– Tudo bem – Concluo, com um sorriso.
Ela segura minha mão e me leva a algum lugar que conheço bem.
Passamos por um corredor bem iluminado com luzes vermelhas até entrarmos em um quarto vazio. No centro há uma cama redonda, com lençóis vermelhos, e um espelho em cima.
Ela fecha a porta e começa acariciar meu rosto. Os beijos vêm logo em seguida. Tiro meu casaco e jogo no chão mesmo. Ela cessa os beijos e senta na cama. Eu a acompanho e fico de pé, parado em sua frente. Ela tira o cinto que prende minha calça e joga no chão, em seguida, abre o zíper e o botão. Ao abaixar minha calça, começa a acariciar meu pênis sobre a cueca preta. É o suficiente para que eu feche meus olhos em uma demonstração de prazer.
Ela tira a cueca e deixa meu membro sair. Em seguida, começa a me masturbar, com um toque quente e macio e movimentos suaves. Vejo que ela olha para mim sorrindo. Eu sorrio de volta. Meu pênis já está rígido como uma pedra, então ela se levanta e tira minha camisa, jogando-a junto com o resto de minhas roupas em algum lugar do chão.
A moça então se deita na cama e começa a tirar sua lingerie preta. Quando termina, posso admirar seu corpo escultural. Seios grandes e redondos, mamilos rosados e claros, cintura fina e quadril avantajado. Seu olhar é de desejo.
Ajoelho-me e abro suas pernas. Começo a massagear seu clitóris ouvindo-a gemer, enfiando levemente dois dentro dentro de sua vagina, depois de molhá-los com saliva.
Não demora muito para que eu sente na cama e a puxe para mais perto.
Ela segura meu membro e posiciona na entrada da vagina, colocando-o para dentro devagar. Os gemidos dela aumentam na mesma intensidade dos movimentos que faço. Depois de alguns segundos, peço para mudar de posição e ela fica de quatro. A vagina ainda está lubrificada, então a entrada é mais fácil.
A cada estocada forte que dou, ela geme mais alto.
De repente, começo a ficar tonto e a imagem da mulher em minha frente começa a se misturar a um homem musculoso e de cabelos negros. De onde vem essas memórias? Eu prefiro não saber, não quero lembrar. Consigo ouvir os gemidos dele misturados aos dela. É uma loucura. Por favor, pare!
Bato com força em suas costas e ela se afasta, sem entender. Está furiosa.
– O que porra você está fazendo? – Pergunta ela.
– Eu... Eu... – Não sei o que dizer, fico nervoso e pego minhas roupas no chão.
– Vai embora daqui, seu doente! – A mulher exclama.
Eu pego algumas notas em minha carteira e jogo na cama. Não sei quanto paguei. Depois de me vestir, confuso e ainda excitado, saio cambaleando. Talvez seja a bebida. Todos estão olhando para mim.
Cruzo o salão onde as garotas dançam e saio do bordel. Está frio, escuro e silencioso do lado de fora. Há alguns carros no estacionamento. Dirijo-me até o meu e entro. São três tentativas que preciso ter até colocar a chave do carro corretamente.
Dou partida e vou embora. Não sei o que houve.
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