Quando eu dancei com Rubi. escrita por meudescontraste


Capítulo 1
Dois pra lá, dois pra cá.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, de verdade! s2



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/625544/chapter/1

— Ora meu amigo, vamos brindar!

— Éee! – Todos falaram em uníssono batendo em minhas costas. Nicholas pegou habilidosamente uma garrafa de champanhe em cima da bandeja do garçom. O rapaz o olhou com advertência, ele sorriu e chamou o cara: - Sem estresse, meu caro. Por favor, me dê essas taças, temos que comemorar!

— Comemorar o que, Nicholas? – Brad perguntou ajeitando o laço na gravata.

Enquanto o garçom distribuía as taças, Nicholas colocou os braços apoiados nos ombros dos gêmeos e nos explicou:

— É ano novo, meus amigos. Está na hora de Parker seguir em frente. Deixar o passado fantasmagórico no ano que fica para trás.

Ele disse olhando para mim. E ele tinha razão, era ano novo. Chega de tanta estupidez, chega de tanta insistência. Ali era a hora certa de recomeçar.

Eu ergui a taça com um sorriso tímido:

— Seguir em frente.

— Seguir em frente! – Todos gritaram com entusiasmo e brindaram.

E foi em um riso e outro que a vi no topo da escada, finalmente aparecera.
Estar ali, na festa de ano novo que os pais dela elaboraram não é exatamente uma maneira recomendável de seguir em frente. Mas eu usaria isso ao meu favor, afinal, eu a veria todos os dias de todos os meses, pois estávamos indo para a mesma faculdade. Tinha que me acostumar desde já... E claro que deveria ignorar aquela coisa estranha que estava acontecendo no meu corpo enquanto ela descia as escadas.

Linda, fabulosamente linda.

O vestido vermelho com detalhes pretos brilhava, o cabelo castanho estava preso em um coque alto e seus lábios, caramba, vermelhos como seu nome.

— Rubi - eu deixe escapar, mas ninguém percebeu. Ergui a taça e tomei um gole enquanto desviava minha visão. Eu sabia que algum cavaleiro já estava dançando com ela, e foi só de pensar que a música ficou mais alta, como se convidasse a todos para o centro do salão.

Meus amigos aos poucos foram se espalhando com damas lindíssimas e eu, bem, eu como sempre me dirigi para uma das mesas do canto e me sentei. Observei as pessoas interagindo e involuntariamente meus olhos pousaram no vestido vermelho e preto de brilhantes. Os dentes delas estavam exibidos para um rapaz loiro. Ela estava feliz, com certeza nem se lembrava mais de mim... E com um relapso, os olhos dela se desviaram do rapaz e se cruzaram com os meus. O sorriso era o mesmo e eu fiquei nauseado.

Ela acenou com a cabeça e eu ergui os dedos, cumprimentando-a.

A vida é tão irônica... Rubi sempre foi muito distante para mim, eu tentei me aproximar dela milhões de vezes, mas ela sempre parecia estar viajando nos próprios pensamentos. Eu lembro de todas as vezes que tentei: Quando ela se machucou no colégio e eu queria carrega-la, ela deu risada e se afastou mancando. Quando o vestido dela rasgou na formatura e Rubi começou a chorar no pátio, eu tentei conversar com ela, mas ela gritou comigo dizendo que queria ficar só. Lembro de todos os olhares inicialmente retribuídos e depois rejeitados. Eu sempre a busquei, onde quer que estivesse, mas ela sempre pareceu... Fugir.

Mas agora, justamente hoje, quando eu resolvo recomeçar, quase como um milagre, eu a vejo me chamando com os dedos.

Eu me levanto e sem cogitar ando para a sua direção, atravesso o salão, passando entre os casais. Apenas a olhava. Eu não conseguia acreditar, será que ela havia me chamado mesmo? Será que fui eu?

Quando eu cheguei, Rubi sorriu, tinha sido eu:

— Ora, ora quem está aqui. Soube que vamos frequentar a mesma faculdade.

Eu lutei contra o meu corpo paralisado, tudo era tão surreal:

— S-sim, está pronta para... Iniciar o curso?

Rubi ergueu as sobrancelhas e eu observei seus olhos escuros me encarando:

— Eu sempre estive pronta, Parker. E você, está pronto?

— Sim, com toda certeza- Disse em um suspiro. Para que exatamente eu estava pronto? Aquela pergunta não parecia retórica, eu balancei a cabeça, ela não poderia estar se referindo a outra coisa sem ser a faculdade. Mas a verdade é que eu queria interpretar de outra maneira, e foi assim que fiz. Eu estava pronto para seguir em frente e assim o faria.

Rudemente eu fui virando as costas para Rubi. Me encaminharia para a cadeira que abandonei, esperaria o relógio bater meia noite e enfim meu passado estaria no passado.

Foi ai que me toquei... A última música antes da meia noite começara a tocar alta, uma dança de casais.

A última música antes de meia noite.

A qualquer momento ela seria chamada para dançar, mas aquela dança deveria ser unicamente minha. Afinal, eu ainda estava vivendo o passado. O ano estava próximo ao fim, mas eu ainda vivia nele.

Respirei fundo, só de pensar no que eu estava prestes a fazer meu corpo gelou.

— Rubi – Eu murmurei, abaixei meu tronco, estendi a mão e a olhei nos olhos. Minha cabeça palpitava como os instrumentos, intensamente – Você me honra com essa última dança do ano?

Ela riu baixinho e assentiu.

Quando os dedos de Rubi tocaram em minha mão, eu senti como se todo meu interior se contorcesse. Aquilo era loucura... Minhas mãos... Eu a encaminhava para o salão, passando entre as mesas, e só isso já fez que pequenos brotos de suor umedecessem as minhas mãos. Ela pareceu não se incomodar. Puxei sua cintura para perto de mim, e seus dedos cruzaram em meu pescoço.

Se os fogos de artifício começassem a tocar naquele momento, eu saberia que era eu, de alguma forma eu implodia. Comecei a perder um pouco de mim, a música era lenta, e os olhos dela nos meus me deixava tão nervoso. Engoli a saliva, eu queria beijá-la. Eu queria fazer tudo com ela, mas não conseguia fazer nada. Não conseguia nem me mover:

— São dois pra lá, dois pra cá – Ela sussurrou no meu ouvido e eu ri nervoso, puxando-a mais para mim. Dois pra lá, dois pra cá, repeti enquanto fazia o movimento. Eu sabia que estava sendo ridículo com aquela dancinha de amador. Mas era inevitável, onde estava todo o fluxo de pensamentos racionais? A única coisa que me passava pela cabeça era Rubi e todos os pedacinhos dela.

Eu queria encostar a minha língua em seu pescoço, o seu pescoço quase relaxado onde eu podia ver as veias dilatando, os músculos tencionando... Quão quente estaria seu sangue? Parecia ter vida própria, o seu pescoço, e eu nunca desejei tanto beijar sua pele amarelada por causa da luz. Ela estava rindo baixinho, senti que me puxava, porque eu ia parando e parando...Totalmente hipnotizado.

Tentei me prender a outros detalhes, como os brincos em suas orelhas... Progredi quando a fiz girar, mas o perfume de gardênia se espalhou e eu me peguei aspirando o ar exageradamente, regredi de novo. A gente dançava e meus sentimentos pareciam fazer o mesmo.

A música parecia uma máquina de tortura, não ficava agitada em nenhum momento. Seria muito mais fácil se eu tivesse que jogá-la de um lado para o outro. Mas não! Eu estava ali, controlando meu rosto para que meu nariz encostado na testa dela se afastasse...

Me afastei, um passo à frente.

Rubi me puxou mais para si e meus dedos subiram em suas costas saindo do tecido brilhante e tocando na sua pele. Meu coração disparou, um passo à trás.

E aquela dança não poderia ser pior, eu pensei, mas aí ela começou a rir:

— Dois pra lá, dois pra cá – Repetiu, e aquela risada zombeteira deixou tudo pior. Porque eu queria calar sua boca com a minha boca, mas eu não podia fazer. Me contentei com meus dedos em sua pele, meu rosto se aproximou novamente e meu nariz encostou entre suas sobrancelhas. Meus olhos se fecharam e eu me controlei como um leão perto da presa.

A música acabou com os aplausos e ela se afastou de mim agradecendo a dança. Eu juro por Deus que quando aquela mulher se afastou, parecia que havia levado algum órgão meu.

Todos os convidados foram chamados para a sacada, os fogos seriam lançados.

E eu estava ali, observando enquanto todos corriam com suas taças.

Eu estava ali imóvel quando os relógios bateram meia noite.

O ano era novo, as pessoas tinham a oportunidade de recomeçar.

Mas eu estava ali, parado, sozinho no meio do salão, no mesmo lugar onde me deixaram.

Fiquei para trás junto com o ano que acabara.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!