Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 9
Capítulo 8 - Longa Viagem


Notas iniciais do capítulo

É, eu não resisti ._.
Bem, espero que gostem do capítulo :v ideias estão pipocando, tretas rolando, huehuehuehueueh, embora elas vão demorar um pouco pra acontecerem XD



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Capítulo 8 – Longa Viagem

No dia seguinte Claire não pôde fugir de Near, porém havia tido a noite para formular uma boa desculpa. Porém, ainda passou quase meia hora desdobrando motivos para ajudá-lo. No fim, não sabia se ele havia acreditado ou se ela fora tão patética que o loiro simplesmente desistira, o importante era que havia parado de importuná-la.

Assim, conversaram durante o tempo em que ela arrumara a mala roxo uva de bolinhas pretas que possuía durante os próximos dias. Questionara como eram as coisas no início dos anos 50, e num momento um tanto constrangedor percebeu que ele havia sido transformado antes da ascensão de Elvis como Rei do Rock. Mas, enfim.

Também pesquisara sobre o lugar para onde iria. Macapá era atravessada pela linha do Equador, assim, era bastante quente com clima tropical úmido. A cidade não era muito grande e ficava à beira do maior rio do mundo. Durante a pesquisa também lhe apareceram fotos de comidas e o que pensou serem danças típicas. Parecera-lhe um local razoável.

Uma questão que acendia constantemente em sua mente era como Marc faria para convencer sua mãe à viajar para outro país, já que ainda era de menor, e precisava da autorização dela, afinal. Porém, decidiu confiar nele e esperar.

Conseguiu esbarrar em seu irmão, Joshua, duas vezes naquela semana, o que poderia ser considerado um feito excepcional, mas ele não lhe deu muita atenção, apenas respondendo com resmungos e monossílabos quando a garota falava com ele, causando-lhe a desistência. Percebera que o mais velho encontrava-se machucado, porém ao perguntar ele só respondera que estava treinando luta. Assim, ficando sem assunto, mais uma vez percebeu que era melhor manter uma conversa no tempo limitado de Near do que com sua própria família.

Como Vincent mencionara que poderia ser uma semana após o encontro de ambos, quando chegou o dia – que, incrivelmente, era um dia em que sua mãe e seu irmão estavam em casa, embora Alicia estivesse trancada em seu escritório e Joshua em seu quarto -, acabou por se arrumar e ficou assistindo televisão enquanto esperava.

A campainha tocou quando estava dando aproximadamente duas horas da tarde, apenas meia hora após ter se aprontado. Levantou, desligando a TV, porém travou quando ouviu sua mãe dizendo que ela estava esperando alguém e Josh respondera que também esperava alguém. Parecia um daqueles momentos em que uma coincidência terrível poderia ocorrer.

Por precaução tirou sua mala do closet, já abastecida com roupas e a caixa de Near cuidadosamente posta entre elas. Esperava que ao passar pelo raio x não fosse confundida com tráfico ou algo do tipo. Quando estava a pondo discretamente escondida ao lado de sua estante, ouviu batidas apressadas na porta, o que a fez correr até ela.

Como só abriu uma fresta pondo seu rosto nela, sentiu seu coração literalmente parando por uns cinco segundos ao acabar dando com um Vincent extremamente próximo. Não havia qualquer cicatriz ou marca em seu rosto dos ferimentos da semana anterior, e ele olhou rapidamente por cima de seu ombro.

– Vincent, o que você...

– Shh, rápido, onde está sua mala?

Abriu espaço, indicando a estante próxima e Vincent foi quase que sobrenaturalmente rápido até lá, pegando-a e depois puxando Claire pela mão para fora do quarto.

– Temos pouco tempo. – explicou-se rapidamente enquanto desciam as escadas, porém a garota não deixou de perceber um Joshua de olhar vazio no corredor, fitando o nada completamente parado, e sua mãe próxima à porta, no mesmo estado. Teve vontade de perguntar o que havia feito com seus familiares, mas como suas pernas eram bem mais curtas que as de Vincent, o fato de quase ter que correr para acompanha-lo a impossibilitou momentaneamente.

Seguiram até o outro lado da rua, onde Claire quase parou por um segundo ao vislumbrar o Aston Martin Vanquish prateado. Sabia alguma coisa de carros graças ao seu pai, portanto sabia que aquele carro prateado além de ser elegante era relativamente caro. Vincent abriu a porta do carona e dobrou o banco, assim entrou rapidamente.

– Olá Claire! – Marc cumprimentou assim que se sentou enquanto Vincent ia guardar sua mala. – Tudo pronto?

– Sim, considerando a possibilidade de estarmos fazendo algo remotamente ilegal. – respondeu, fazendo o bruxo soltar uma risada.

– Tudo dará certo, não se preocupe.

– Espero...

Vincent voltou, sentando no banco dianteiro. Assim que o outro bruxo fechou a porta, Marc pôs o carro em movimento. O motor ronronou, e o veículo misturava-se tranquilamente com outros do local onde morava. O interior era revestido por couro cor de creme, o painel e rádio de um imponente negro lustroso, assim como o volante. Alguma música tocava, mas estava baixa o bastante para que não a escutasse muito bem.

– Ei Marc. – Chamou. – Uma pergunta: O que você fez no Josh e na mamãe?

– Uma substância mágica que podemos chamar de pó de esquecimento. – respondeu, erguendo sua mão e esfregando o dedo indicador no polegar, fazendo com que partículas douradas voassem dela quase como poeira. Vincent pareceu incomodado e a soprou para longe de si. – Você a lança em seus “alvos” para que eles esqueçam ou tenham suas memórias alteradas quanto algo, e você tem que retirar esse “algo” em três minutos de qualquer lugar onde eles o vejam de forma imediata.

– Nesse caso, o “algo” sou eu.

– Sim. – admitiu. – Mas é por uma boa causa. Agora sua mãe e seu irmão pensam que você conseguiu convencer Alicia à deixa-la viajar com uma de suas amigas e voltar talvez no fim das férias. Se me lembro bem uma era Sandy e a outra era Zoey, não é?

– Você tem uma boa memória...

Marc não respondeu, mas achou que ele o tomou como um elogio.

– E o que faremos quando chegarmos no aeroporto? – Vincent questionou.

– Procurem por uma senhorita Bringgs na área do check-in. – foi a resposta. – Ela poderá ajuda-los, já que são dois menores de idade viajando sozinhos... Apesar de que se me lembro bem, com dezessete não se precisa mais da autorização dos pais para ir ao exterior ou coisa parecida. – Marc pôs a mão no queixo. – Bem, mas agora eu não me lembro. Vou ver depois.

– Sim, e como é essa “senhorita Bringgs”? – o moreno continuou.

– Procurem uma baixinha de cabelo loiro tingido e batom vermelho.

– Nossa Marc, você foi tão detalhista... Quase não existem mulheres baixinhas, loiras tingidas que adoram batom vermelho.

Claire reprimiu o riso diante o tom sarcástico de Vincent.

– Ai credo, que pessimismo garoto. Procure pelo crachá!

– E Marc – a jovem desviou mais uma vez a atenção para si. -, o que faremos, eu e Near? Eu não sei português e aposto que ele também não.

– Ah sim! Prince, dá uma olhada no porta luvas! – Vincent abriu o compartimento e mexeu no local até puxar duas correntes douradas. – Isso mesmo. Eu pus uma magia nelas, enquanto vocês usarem poderão entender qualquer língua.

– Obrigada! – exclamou de forma mais aliviada, pegando-as da mão de Vincent quando ele as estendeu. Eram bem simples, uma mais fina, que pôs no pescoço, e esta trazia um pequeno pingente retangular de madrepérola, e outra mais grossa e bem mais simples, a qual guardou na bolsa para Near, porém não deixou de reparar que ela emitia um reflexo azul água não muito natural, talvez comprovando a existência de magia ali.

Levou um tempo para chegarem ao Hartsfield-Jackson Atlanta International Airport graças ao trânsito. Viu quando ele surgiu como dois blocos de cimento com paredes de vidro, além do movimento usual de carros, o que tomou mais alguns minutos de certo congestionamento até pararem no terminal correto. Quando saltaram e Vincent retirava as coisas da mala do carro, o loiro disse:

– Tchau, até breve!

– Você não vai com a gente?! – o outro bruxo exclamou num tom incrédulo.

– Não. – disse com um sorriso cara de pau e enfiou alguns papéis nas mãos de Vincent. – Tenho algumas coisas para resolver, então até mais!

Os dois ficaram encarando o carro mesmo depois de Marc ter dado partida e saído, sumindo do campo de visão de ambos, até que se entreolharam por fim, sem saber exatamente o que fazer. Vincent puxou os papéis que Claire percebeu serem alguns documentos e as passagens.

– O que faremos agora? – questionou.

– Acho que tudo o que nos resta é procurar pela bendita senhorita Bringgs. – o rapaz respondeu antes de soltar um suspiro cansado e rolar os olhos. – Acredito que será muito “fácil” encontra-la, então vamos lá.

Ele acabou pegando sua mão novamente e foram para a fila de check-in afim de despacharem suas bagagens. Assim como tudo o que Claire possuía resumia-se à sua bolsa e à pequena mala roxa, as de Vincent se resumiam à uma sacola preta que possuía tanto a alça para leva-la no ombro quanto à alça e às rodinhas para leva-la como uma mala. Quando chegaram ao local, Claire quase parou e percebeu que o rapaz fizera o mesmo. Como o esperado, havia pelo menos quatro loiras tingidas de batom vermelho usando o uniforme da companhia aérea. Vincent apertou levemente sua mão antes de entrarem na fila relativamente pequena – considerando-se que estava no início das férias de verão.

– Espero que não nos metamos em problemas. – Claire murmurou.

– Eu também.

– Estamos cometendo um crime?

– Depende de sua definição de crime. – ele pegou os papéis. – Parece que Marc comprou as passagens legalmente, e uau, primeira classe.

– Sério? – puxou levemente a mão dele afim de ver os papéis, constatando que realmente eram assentos da primeira classe. -... Nossa...

– Bem, continuando, a única coisa falsificada é a assinatura de sua mãe. Não acho que isso vá exatamente nos meter em uma confusão com o FBI ou a polícia internacional.

Claire respirou fundo. Ainda assim se sentia nervosa como se estivesse prestes à assaltar um banco ou explodir a Casa Branca, fazendo-a olhar envolta de vez em quando, como se esperasse que os seguranças saltassem e fossem prendê-los. Sabia que era apenas seu subconsciente fazendo gracinhas consigo, porém ainda assim ergueu timidamente o olhar para Vincent, que já parecia relativamente tranquilo.

– Você já fez isso antes?

– Hm?

– Sabe, esse negócio de viagem ilegal ou algo do tipo.

– Já. – Admitiu. – Quando me mudei da Inglaterra para cá. Digamos que eu e meus irmãos não estávamos nas melhores condições jurídicas.

Teve vontade de perguntar o porquê, porém decidiu manter-se quieta diante o tom evasivo do rapaz, entretanto, ele coçou a nuca como se parecesse estar sem jeito ou algo do tipo. Pensou que ele ia dizer algo, porém quando deu por si já era a vez deles. Havia três loiras disponíveis, e mais uma vez Vincent a pegou pela mão e foi de maneira que considerou até confiante até a loira da extrema esquerda. Assim que chegaram ao balcão, seus olhos foram direto até o crachá da mulher. Estava escrito “Chelsea Bringgs”.

– Boa tarde! – cumprimentou alegremente.

– Boa tarde. – Vincent respondeu de maneira bem menos radiante que ela, pondo os papéis sobre o balcão. Claire tirou os seus de sua bolsa também, pondo-os junto aos que já estavam ali. Chelsea os pegou e passou o olho rapidamente.

– Oh sim, então são vocês que o Marc mencionou! – exclamou antes de cruzar os dedos sobre os lábios, claramente se repreendendo por ter falado alto demais. – Coloquem suas coisas aqui, e verei o que ele fez.

Vincent primeiro pôs a mala de Claire sobre a balança, depois a sua. Como ocorria normalmente consigo, acabou viajando um pouco, correndo o olhar pelo aeroporto enquanto a funcionária falava algo para o rapaz. Quando voltou ao mundo real, viu-a passando um papel para ele, claramente para que ele assinasse. Viu-o suspirando e entortando ligeiramente a boca antes de aceitar a caneta oferecida. Tomada pela curiosidade, espiou discretamente o papel, relembrando a resistência que Vincent demonstrara para dizer seu sobrenome à Marc.

“Vincent Novak”.

Algo lhe dizia, entretanto, que aquele não era seu sobrenome verdadeiro. Não sabia o porquê da sensação, mas era o que sentia. Sua caligrafia era fina e elegante, o tipo de letra que esperaria ver numa carta antiga, escrita num pergaminho se utilizando de caneta tinteiro, ou em um convite de um casamento. Também percebeu que ele era canhoto, porém ele trocou a caneta de mão quando teve que assinar outra coisa, fazendo-a realizar que ele era na verdade ambidestro.

– Isso é tudo! Seu voo sai às cinco da tarde, tenham uma boa viagem!

– Obrigada. – Claire agradeceu e então ambos saíram. – Como soube que era ela?

– Ela era a mais baixa. – Ele olhou para Claire e viu sua expressão. – Ignore isto. Ela é uma bruxa, então achei que Marc preferiria lidar com negócios com uma.

– Ahn... Certo, faz lógica. – Admitiu. – Mas o que faremos agora?

– Não sei. – Vincent deu uma olhada em seu relógio. – Ainda é três da tarde, então temos duas horas até o voo sair. Acho que só vale à pena entrar na sala de embarque às quatro e meia.

O que se resumiu à seguir foi a ambos perambulando aleatoriamente pelo aeroporto até decidirem ir para a livraria. Claire voou para longe de romances demasiadamente melosos em que “eu te amo” era repetido dez vezes à cada página e ficou como um ratinho fuçando cada canto da livraria até encontrar algum livro que a agradasse. Quando deu por si, percebeu que havia dado um jeito de perder Vincent lá dentro. Passou alguns minutos tentando encontra-lo até se deparar com duas garotas, uma loira e uma morena, tentando – inutilmente – chamar sua atenção e puxar conversa, porém ele estava praticamente fingindo que elas não estavam ali. Ambas estavam bem arrumadas com roupas de grife, eram o tipo de pessoa que Claire olharia e diria que estavam em viagem à Paris num voo de primeira classe ou algo do tipo. Elas mexiam no cabelo, o lançavam olhares, mas ele nem lhes dava atenção, estava lendo a sinopse do livro em suas mãos.

– Vincent? – Claire se aproximou e o chamou, e ele se virou quase imediatamente à ela, fazendo que as duas garotas a olhassem com uma irritação que pelo olhar era um quase nojo, enquanto a analisavam de cima à baixo.

– Com licença, mas quem é você?! – a morena questionou num tom irritantemente esnobe enquanto punha as mãos na cintura. Ela era mais alta que Claire que sentiu a língua coçando enquanto sua mente já formulava uma resposta bem mal educada ao modo em que ela perguntara, com se questionando se Claire fosse uma humana e não um alien ou coisa do tipo. Infelizmente – ou talvez felizmente – o rapaz foi mais rápido.

– Minha namorada. – disse do nada enquanto a puxava para longe das duas que soltavam exclamações de surpresa e indignação. Neste momento Claire estava tendo um ataque fulminante e silencioso em que a transformava em um parente extremamente próximo de um tomate ou algo de cor semelhante.

– E-ei, Vincent... – Começou a gaguejar quando já estavam distantes o suficiente para que não os escutassem.

– Eu queria me livrar delas, sinto muito. – desculpou-se. – Dei a primeira desculpa que me veio à mente, já que ignorar não parecia estar ajudando.

Claire apenas assentiu enquanto passava a mão no rosto, verificando se ainda estava quente. E encontrava-se bastante. Escutou-o murmurando um “Odeio quando isso acontece” de Vincent, o que a fez questionar se aquela situação era mais comum do que ela imaginava.

Já havia percebido – obviamente – que ele era capaz de fazer muitos modelos e atores parecerem feios próximos a ele, porém depois de ele ter acabado pagando seu livro também antes que ela percebesse que ele estava o fazendo e saírem da livraria, acabou se deparando com uma situação no mínimo curiosa e inusitada a qual pensava apenas ocorrer em filmes e afins. Vincent claramente chamava a atenção, assim acabou sendo encarado de maneira indiscreta pela caixa, a garçonete da lanchonete em que pararam depois, de um grupo de garotas que pareciam estar fazendo parte de uma caravana ou algo do tipo, que cochichavam entre si e jurou que uma delas tentara tirar uma foto.

Foi uma experiência estranha e inusitada, tirando pelo fato que todas olhavam primeiro para ele e então para Claire como se questionando quem era o alien nanico que acompanhava aquela peça rara. Discretamente deu uma olhada em suas roupas, elas eram aceitáveis. Considerando-se que passaria horas dentro de um avião, prezara mais por seu conforto, mas nada que justificasse aquilo.

Finalmente deu a hora de entrarem na sala de embarque, deixando-a imediatamente tensa, porém tudo ocorreu bem e sem nenhum problema. Como perambularam demais sequer tiveram tempo de sentar, já que começaram a chamada para o voo que levaria para a Cidade do México – no caso, o voo de ambos.

Entraram no avião, mais uma vez sem problemas. A primeira parte da viagem fariam em assentos separados, porém não exatamente distantes. O assento de Claire era o do corredor e o de Vincent era o imediato do corredor da fileira oposta. A garota foi logo ao seu assento, já se sentando e afivelando os cintos. Vincent fez o mesmo e começou a ler seu livro.

Acabou fazendo o mesmo, porém certo tempo depois sentiu como se o olhar de alguém pesasse sobre si. Olhou para Vincent encarando o que após algum tempo percebeu ser a pessoa que acabara indo sentar ao seu lado. Antes de sequer pensar um motivo, olhou para ela e teve a mesma reação do inglês.

Era... Near?

Ele estava limpando um par de óculos grandes e quadrados com a barra da camisa preta, uma camiseta normal de gráfica à qual trazia um rapaz de cabelos com uma máscara negra de dentes arreganhados e tapa-olho onde logo abaixo estava escrito “Tokyo Ghoul”, além de uma jaqueta moletom azul marinha aparentemente confortável. Mas de lado ao menos ele era igual à Near, tirando que o cabelo loiro – do mesmo tom – era de um corte mais moderno, com uma franja repicada ligeiramente direcionada para a direita.

Somente reparou que ele percebera que estava o encarando quando ele olhou-a quase de esguelha com olhos de um incrível tom de azul cristal, com uma clara expressão de quem estava sem graça. Com o rosto quase roxo de vergonha, Claire enfiou o rosto em Nevermore, repentinamente extremamente interessada em saber se Varen era realmente o tipo que dormia num caixão ou se era apenas um gótico que sofria bullying e não ligava.

Uma aeromoça passou fechando todos os compartimentos para que então outra desse as instruções de segurança, seguida pela apresentação do piloto que deu informações sobre o tempo de voo, que duraria em média três horas e meia à quatro horas, além de que as condições de tempo estavam relativamente boas. Então as luzes diminuíram, o avião começou a se mover e ganhar velocidade para enfim levantar voo.

– Esse livro é Nevermore? – se assustou quando o rapaz questionou. Até a voz dele era parecida com a de Near!

–... É sim.

– Começou a ler agora? Minha prima me obrigou a ler fim do ano passado e acabei gostando.

– Pelo que vi o enredo é inteligente. Mexer com as obras de Edgar Alan Poe e criar uma história sobre ela é.... – Prima... Só então sua mente pareceu voltar a funcionar como deveria. – Er, você é o Will do Magick, não é?

Viu as sobrancelhas dele se moverem um pouco preocupadas.

– É... Sou eu.

– Não que eu seja uma fã e coisa do tipo. É que você falou prima e me lembrei que... Bem, o nome dela é Sandy Lee, não é?

As sobrancelhas do rapaz se moveram novamente, mas dessa vez surpresas.

– Sim! Você a conhece, então?

– Acho que posso dizer que é uma das minhas duas melhores amigas.

– Espera, se é assim devo ter ouvido falar de você. – Will adquiriu uma expressão pensativa. – Ou você é Zoey, ou você é Claire, estou certo?

– Claire. E você acertou os dois nomes.

– Há! Agora posso usar isso contra ela quando Sandy disser que eu não presto atenção no que ela diz! – riu discretamente, já que estavam num avião. – Quando ela vai reclamar, ela normalmente usa a ameaça de me arrastar para as compras com ela.

– Ela faz essa ameaça com você também? Só é usada em situações sérias!

– É, tipo... O quão antissocial eu sou.

Tirando pelo primeiro momento constrangedor, acabaram conversando a viagem inteira. Will era um rapaz de fala mansa e aparentemente dócil, além de ser bem atrapalhado porque deu um jeito de jogar seu celular e o livro que trazia pelo menos dez vezes no chão, fazendo com que a viagem passasse de forma extremamente rápida.

Quando finalmente chegaram ao México e todos se levantaram, Will se juntou a um grupo de pessoas, acenando para Claire antes de saírem do avião. Ela se levantou quase ao mesmo tempo que Vincent.

– Como foi a viagem? – questionou.

– Dormi ela quase toda. – respondeu esfregando os olhos, verificando então o relógio. – Agora temos que ir para o Terminal dois, porque nosso voo sai daqui à uma hora.

– Para onde vamos?

– Guarulhos, São Paulo. – Informou. – E então pegaremos uma conexão que nos levará até Macapá. – ele pressionou o próprio pescoço com uma expressão dolorida. – Ai...

– Você deve ter dormido de mal jeito. – comentou.

– Vai por mim, já tive noites piores.

Não soube o que responder. Quer dizer... Foi uma situação em que claramente o sentiu cortando a conversa, porém quando entraram nos terminais estava havendo uma correria principalmente de adolescentes, na qual conseguiu captar “O Magick está aqui!”. Bem, era o esperado para ídolos adolescentes.

Passaram pelos salões nos quais Claire conseguiu perceber que entendia as placas em espanhol, assim como as conversas que captava, o que a fez tocar levemente no colar que Marc a dera. Era um alívio perceber que ele funcionava. Sentia-se ligeiramente faminta, então ia questionar à Vincent se ele não gostaria de comer nada.

– Richard? – ouviu uma voz idosa quase no mesmo momento em que iria falar. Se virou e viu uma idosa trajando roupas claramente caras, vermelho-vinho, brincos e um colar de pérolas além da bolsa de grife preta e dourada. Entretanto, ela claramente se mantinha de pé de forma trêmula. – Richard?!

Os olhos negros da senhora estavam pregados em Vincent, e sinceramente Claire não conseguia dizer o que significava sua expressão. A velha se aproximou com passos incertos porém bem mais rápidos do que Claire esperaria para alguém tão trêmulo.

– É você, Richard?! – ela acabou pegando o rapaz pelo rosto, finalmente arrancando alguma reação dele, já que Vincent se assustou. – Não... Os olhos não são os mesmos, mas por que você é tão... – Os olhos dela pareceram dobrar de tamanho, e ao perceber o que ela iria falar, os olhos do rapaz também fizeram o mesmo. – O garotinho...! O mais velho dos três meninos! Ala...

– Abuela! – Uma garota de cabelos negros e retos até os quadris apareceu. Ela não era muito mais velha que Claire, aparentemente, mas ela trazia feições étnicas, quase indígenas, que considerou extremamente belas, além de olhos verdes que lhe davam uma aparência exótica. Ela parou um momento ao ver cena e então foi gentilmente até a senhora, puxando-a pelos braços. – Abuela, nosso voo já vai sair, por que a senhora está...

– O filho de Richard! É ele! – a senhora acabava repetindo freneticamente, sem perceber que a garota a tirava de lá. – O de cinco anos, um dos seis...!

Pareceu que a multidão as engoliu logo após, fazendo com que Claire olhasse para Vincent que ainda encarava o local onde as duas desapareceram, a expressão congelada, algo entre a surpresa, a dúvida e o choque em seu rosto.

– O que foi isso? – Claire questionou, um tanto temerosa.

– Não sei. – respondeu, tentando se manter neutro diante o choque de ter sido chamado pelo nome de seu pai, além do temor da iminência de que, pela primeira vez em anos, alguém houvesse o reconhecido.


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Notas finais do capítulo

:D



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