Never Alone escrita por Arizona


Capítulo 1
Sobreviver


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!Essa é minha segunda fic, a primeira baseada em A Seleção, e espero que vocês gostem desse primeiro capitulo.Comente, deixem seus toque, e me digam o que acharam.Beijos! Boa leitura.



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A frieza da parede se espalha pela palmada da minha mão. Pelos corredores já escuros desse imenso palácio, meus pés me guiam por um caminha que eles sabem de cor a quatro anos, o meu lugar secreto, onde escondo meu tesouro.

Paro por um estante para recuperar o equilíbrio das minhas pernas, ao mesmo tempo que em minha mão tento equilibrar a garrafa de whisky e o copo cheio da bebida. Acho que ela ficaria decepcionada em ver que me tornei um bêbado, o tipo de covarde que só encontra no álcool a força necessária para enfrentar seus medos.

Mas isso já não importa mais, eu não ligo mais para nada. Parece que essa maldita vida que levo já não é suficiente, o destino sempre tem que me tirar mais coisas, arrancar meu futuro, me deixar sem chão. Ele adora fazer isso comigo.

Minhas pernas se firmam novamente e prossigo pelo caminho. Deve ser umas duas da manhã, e eu não sei a quantas horas eu estou acordado, talvez um dia, uma semana, uma eternidade. Tudo o que sei é que sou um homem quebrado, por dentro e por fora.

Eu buscaria a paz por mais vezes se ela parasse de fugir de mim.

Paz!

É uma palavra estranha de se pronunciar, porém detentora de muitos sinônimos que aplacam rostos esculpidos no tempo. Muitos reis antes de mim quiseram a paz, outros a destroçaram, alguns, assim como eu, travavam suas próprias guerras para tê-la.

Viro o corredor dando a última tragada no meu copo, um gole seco e forte. Estico a mão forçando a maçaneta mas ela está trancada – mais uma vez – com certeza o velho e ambicioso Clarkson deve ter mudado a fechadura, ele só não mexe nas coisas que tenho nesse quarto porque sabe o que eu seria capes de fazer com ele.

— Mais que merda...

Deixo a garrafa junto ao copo no chão, me distancio um pouco, então jogo meu peso contra a porta. Tenho que repetir isso mais duas vezes para conseguir arromba-la, para finalmente estar a salvo dos lobos que estão uivando lá fora.

Apanho minha bebida de volta, e entro no quarto. Ele ainda é do mesmo jeito que era a quatro anos atrás, quando me casei e mudei de quarto. É do mesmo jeito se não fosse pelas fotos que ficavam na parede, que eu arranquei. Não há mais nem uma lá, não tem por que tê-las.

Tiro do meu pescoço a gravata, me livrando o terno em seguida, se bem que quem olhasse para mim na rua, me julgaria como um alcoólatra miserável.

Meus olhos reclamam da claridade quando acendo a luz do banheiro. Meus cabelos estão um emaranhado de fios mal penteados, e minha barba já cresceu bastante. Ela não iria gostar de me ver assim.

Ah, ela! Eu tenho que parar de pensar sobre ela. Mais que inferno! Não tem um maldito dia que eu não passe sem a necessidade de pensar nela. O meu corpo quer, ele sente, é por isso que eu fujo para cá, para ela.

Saio do banheiro, e vou até o armário, por trás de uns casacos velhos estar exposta em uma das ombreiras. A seguro delicadamente, com se eu segurasse seu próprio corpo nela, sento-me cama, admirando os bordados que ficam na altura dos seios. Ainda me lembro de tê-la tirado de sua pele.

A camisola verde, a mesma que ela usava na noite em que nos conhecemos no jardim, ainda tem seu cheiro, ainda tem sua presença, tudo em mim ainda lembra ela, até mesmo o buraco em meu peito.

Deito-me abrasado a camisola, absorvendo o perfume que ela tem. A macies do tecido me causa arrepios, os mesmos arrepios que América me causava.

— Por que?! Por que, América?!

Tive que conter a mim mesmo a vontade de ir atrás dela, durante muito tempo, Kriss merecia de mim pelo menos o dever de respeita-la debaixo de nosso teto, já que eu havia a escolhido para ser minha rainha. Uma rainha, e nada mais.

“Bom para o povo, bom para reino”

Essas foram as palavras que meu pai – ainda rei na época – me disse quando a Seleção acabou, me deu tapinhas nas costas e sorriu, ele sabia que meu peito estava partido em dois, mas continuou sorrindo por América não entrar em nossa família.

Kriss seria uma boa rainha, porém nunca teria a mesma impertinência de América. Ela me seguiria em todas as minhas decisões, mas nunca me enfrentaria se eu estivesse errado. Kriss nunca foi minha rainha.

Minha raiva era maior que minha razão. Quando vi América tão perto daquele soldadinho de merda... Minha vontade era de mata-lo, quando suas mãos imundas tocaram sua pele branca, o corpo dele tão perto do dela, o corpo que eu havia amado na noite anterior e na manhã seguinte.

Eu não senti nada, apenas ódio, mas quando minha cegueira passou, eu me afundei em agonia quando vi América ir embora, levando consigo meu coração.

Adeus, meu amor!

Ela não disse. Se foi como fumaça no meio na multidão que aplaudia a minha escolha. Depois disso, só me lembro dos olhos negros de Celeste queimando sobre mim com sua decepção.

As festas aconteceram, muitos sorrisos, muita alegria, meu casamento, a coroação, e em fim eu era o rei Maxon Schreave, de Illéa. Tinha todo o poder esperado, mas não tinha nada além de arrependimentos.

Já me conformei com a minha vazia existência. Me tornarei um homem velho, sentado em seu trono de ouro, cheio de arrependimentos.

No ano que me tornei rei, a Nova Ásia sofreu um golpe de Estado. O novo Governo não queria mais Illéa como aliada, declarando guerra conta nós. Não sei ao certo o número, mas sei que muitos homens morreram, muito sangue inocente foi derramado.

Todos os dias novos soldados iam para lá, mas poucas voltavam com vida, a maioria era em caixões de madeira. Eu vi cada um deles todos os dias. Faltava tudo no país, comida, água, os mais pobres sofreram inevitavelmente.

No fim, nove meses de batalhas depois vencemos.

Voltamos a comemorar o ano novo em 31 de dezembro, como era antes da aliança coma Nova Ásia. Apesar da vitória, tivemos que deixar alguns agrupamentos militares na fronteira, por precaução.

Acho que rebeldes sulistas também sofreram com a guerra. Os ataques pararam antes dos terceiro mês de guerra, e até hoje o castelo não ver mais sinais deles. Embora eu saiba que ainda estão por aí, vez por outra as paredes da cidade amanhecem pichadas, com mensagens revoltosas.

August, líder dos nortistas, se tornou um amigo próximo, eu o incluir no real conselho quando criei um novo, não iria permitir que os rabugentos parceiros do meu pai, com suas ideias ultrapassadas continuassem no que eu tinha preparado para a nova Illéa.

Desfizemos o sistema de castas, reconstruimos a credibilidade da Coroa, e hoje tenho o orgulho de dizer que meu país é livre, que respiramos uma ar mais puro, mais justos, e isso nos fazem fortes.

Quando tudo isso passou, pude descansar um pouco. Numa manhã de domingo, sentei-me no jardim, levei o jornal do dia comigo para lê-lo. Em uma das páginas estava o que não esperava, havia uma foto de América ao lado de Celeste.

Na legenda dizia que era aniversário de Celeste, mas isso não me interessava, voltei minha atenção totalmente para a ruiva ao seu lado. Era uma fotografia tão simples, tão natural como América sempre foi.

O rosto era mais amadurecido do que aquele que eu me lembrava, mesmos assim, linda. Então me dei conta que o tempo estava passando e ela não estava comigo, eu nunca viria os primeiros fios grisalhos aparecerem em sua cabeça, nem acharia o rosto dela em nossos filhos. Foi a primeira vez que meu coração parou.

Nesse dia tomei a decisão de que de alguma forma manteria contato entre nós, eu tinha que achar uma forma de me desculpar, e fazer com que ela aceitasse minha presença na sua vida novamente. Na minha cabeça ela também tinha um vazio grande no peito.

Lembrei-me que ainda durante a Seleção, quando ela fez a besteira de falar sobre o diário de Illéa, meu pai queria expulsa-la, apanhai muito naquele dia por defende-la, achávamos que ela iria partir, nós dois sabíamos que não seria fácil, então continuaríamos na vida um do outro através de cartas.

Carta! A ideia estalou na minha mente.

Corri para meu quarto, passei horas tentando escrever uma carta decente para ela, eu só queria dizer um oi, mas não sabia como, tudo o que consegui fazer foram três linhas, mal acreditava que meu melhor estavam ali, me amaldiçoei por isso.

Wayne, um jovem que trabalhava para mim, antigo casta 7, ele conhecia a dor de frente, perdera a mulher e a filha pequena para a fome. Gritou por três dias na frente do castelo, pedindo que elas tivessem um enterro digno, e não jogadas nas valas como costumava-se fazer quando uma grande massa morria. Eu o ouvi, dei a sua família um enterro decente, e o convidei para trabalhar para mim.

Desde então, Wayne é meu homem de confiança, todas as vezes que escrevia cartas para América, ele ficava encarregado de entrega-las em segredo. Kriss até podia ser um anjo, mas se descobrisse as cartas faria da minha vida um inferno, porque foi que nosso casamento se tornou depois de um ano.

Ela me cobrava que não deitávamos na mesma cama, que eu só me importava com Illéa e me esquece da minha própria esposa, que eu não dava filhos a ela. Em algumas de nossas discussões ela chegou a me bater e eu a revidar suas agressões. Tudo ficava mais complicado pelos pais dela morarem no castelo. Eu sempre era culpada de alguma coisa.

As carta para América se tornaram um escape, cartas que ela nunca respondeu. Cheguei a pedir a Wayne para ir a Carolina para encontrá-la e trazer notícias para mim, eu queria amenos saber sobre ela, garantir nem que fosse de longe sua segurança, eu precisava disso, mas ao voltar, sofri outra queda.

A antiga casa dela estava vazia, os vizinhos não sabiam dizer para onde os Singer haviam ido, apenas sumiram sem deixar rastros. Mandei que Wayne de alguma maneira achasse América, ele visitou Celeste, Marlee Tames, que eram as mais próximas a ela, mas nada. Foi nessa época que comecei a beber antes de dormir. As brigar com Kriss só pioravam, então comecei a beber durante o dia também.

Wayne me prometeu que não iria desistir de encontrá-la, mesmo que eu não o tinha pedido isso, ele continuaria por mim. E cá estou eu, um REI, ao 23 anos apenas, sentado na própria vergonha, definhado em sua existência, abraçado a camisola da mulher que ama.

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Uma voz familiar preenche meu inconsciente adormecido. Uma sacolejo me incomoda no ombro, devagar, abro os olhos tentado acostuma-los com a claridade. O rosto de minha mãe se materializa diante de mim, era da sua boca que saia a voz que eu conhecia.

O quarto está totalmente iluminado, olho para o lado, vendo as cortinas das janelas escancaradas.

— Droga, mãe! Você sabe que eu detesto que abram a janelas. E o que você está fazendo aqui?

— Baixo o tom ao falar comigo – seu rosto não é nada amigável – ainda sou sua mãe, e você ainda é rei desse país, precisa exercer o que é.

— Não estou entendendo, o reino não estava de luto?

— Maxon! – ela respira fundo antes de continuar – Sei que seu luto não é de hoje meu filho, e que ele também não é pela pessoa certa.

Abaixo os olhos para minhas mãos, onde nelas permanece presa a camisola verde. Dói todas as vezes que tenho que sair aqui, ficar longe das coisas dela me deixa desnorteado.

— Mãe, você sabe...

Não aguento mais, meus olhos se enchem de lágrimas que se derramam em meu rosto. Minha doce mãe senta-se ao meu lado, devagar ela vai tirando a camisola de mim, acariciando minha costas em consolo. Me sinto como se tivesse 5 anos e ralado os joelhos quando ela faz isso, mas sei que entende meus motivos.

— Eu sei querido, mas você precisa ir com o Wayne agora.

Apenas assinto com a cabeça. Faço menção de pegar a camisola de volta, mas ela promete que a guardará no seu lugar. Wayne me ajuda a levantar da cama, dando-me apoio em seu braço. Meu pai já me perguntou por que gosto tanto dele, a verdade é que Wayne sempre está disponível quando eu preciso. Sempre com seus ternos pretos, e cabelos impecavelmente penteados para trás, ele nunca dorme, nunca sangra, nunca se opõem quando as coisas são para mim.

Ele me leva até meus atuais aposentos, onde me demoro no banho gelado. Escolho um terno azul marinho para hoje, com a gravata de mesma cor. Quando termino de pentear os cabelos, Wayne já havia trazido meu café da manhã que eu recusei, menos a garrafinha de bolso cheia de whisky que me dar.

Sei que preciso algum dia voltar a viver, preciso seguir em frente, mas é tão difícil, e quando se perde tanto como já perdi, a vontade de prosseguir torna-se nada. Porém, sou rei desse lugar. Illéa ainda está se levantando, e não posso desistir desse país por causa das minhas desgraças.

— O que é de tão importante para minha mãe em pessoa vim me acordar? – pergunto já a caminho do escritório.

— É sobre o grupamento que foi atacado na fronteira da Nova Ásia, senhor.

— Ah! Mais essa... – murmuro em chateação – Já sei, já sei. É só fazer uma cerimônia de honra aos mortos, e fim. Quantos morreram dessa vez?

— Dessa vez foram 7 de 9, senhor. – Wayne para logo que chegamos na porta do escritório – Ele era o comandante do grupamento senhor.

— Ele? Ele quem, Wayne?

— Soldado Aspen Leger, Tenente Leger agora. Ele está esperando o senhor lá dentro.

As palavras me descem como vinho doce pela garganta, o ar se torna pesado e cheio magoas.

Finalmente encararia o rosto de Leger outra vez depois de quase quatro anos, quando o mandei para morre na Nova Ásia.

Então ele sobreviveu, e agora está de volta? Mas não vai ter o gostinho de ser herói da pátria pelos seus feitos, não vou permitir que ele seja nada além de um verme diante de mim.


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