Ilusão escrita por Evangellina Martien


Capítulo 1
Capítulo Unico: A mais doce ilusão


Notas iniciais do capítulo

Nem sei de onde isso saiu, só sei que escrevi até me dar por satisfeita :x É isso que dá ficar tanto tempo sem escrever nada a sério.
A música que me inspirou foi 'Singularity,' da dupla Amarante :)



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Num mundo reduzido aos destroços do que um dia os humanos chamavam de cidades, o desespero e a angústia devoravam as pessoas todos os dias, fazendo com que elas pouco a pouco sucumbissem à escuridão no interior de seus corações. A raiva binária que cercava as duas raças de seres racionais os levavam cada vez mais a ruína, mas o ego os deixava cegos fazendo-os chegar até mesmo nos limites de seus corpos e existências em nome de uma luta onde só haveria perdedores.

Mika sabia bem disso tudo. De fato, ele detestava até mesmo o fato de estar pisando no mesmo solo ensanguentado e sujo pelo qual humanos e vampiros lutavam. Para ele, humanos eram egoístas, enquanto vampiros eram criaturas dignas de desprezo, como sangue sugas nojentas, responsáveis por aniquilar quase toda a sua família. E apesar de se identificar como vampiro, ele não sentia a menor afinidade por sua raça. Ele já dissera antes que preferiria a morte a ter que se tornar um vampiro sujo como aqueles que o rodeavam diariamente. Porém, toda vez que ele se relembrava de seu ódio incondicional por ambas aquelas raças, ele se lembrava de que existia uma exceção para tudo aquilo. E era uma lembrança doce, que fazia mesmo o seu coração frio de vampiro se aquecer.

Aquela exceção era seu único motivo pra suportar tudo, sua única motivação para a vida e a chama que lhe aquecia quando ele precisava se lembrar de que sua existência ainda tinha um objetivo. Era a única coisa capaz de trazer um sorriso para seus lábios, tão mais acostumados a demonstrar insatisfação.

Yuu-chan...

Aquele nome deixou seus lábios num sussurro delicado, como se qualquer falta de cuidado pudesse quebrá-lo. Ele sentiu seu coração se apertar, uma sensação estranha em sua garganta que o fazia querer gritar. Cada segundo sem Yuu fazia um estrago imensurável em Mika, e a esse ponto as lágrimas escorreram desavisadas pela pele alva de seu rosto. Ele sorriu amargamente, o ar escapando de seus pulmões enquanto ele repetia aquele nome de novo e de novo.

Yuu-chan...

O vento frio soprou seus cabelos e arrancou algumas das lágrimas que desciam para seu queixo. Mika engoliu em seco, tentando se livrar do que quer que estivesse bloqueando sua garganta, em vão. Sua mente estava lhe pregando peças de novo, fazendo com que a doce voz de Yuu ecoasse em seus ouvidos e com que seu toque e calor fossem mais uma vez sentidas em sua pele. Aquilo deveria ser algum tipo de punição, por algo que ele não sabia bem o que era. Talvez fosse a punição por não ter sido forte o suficiente para proteger sua família ou por ter se tornado um vampiro sujo e nojento. Seu estômago parecia se contrair, seus músculos doíam e seus olhos haviam se tornado fracos demais para resistir a luz do sol. Sua sede por sangue humano o fazia ter alucinações, a dor em seu corpo deixando-o tonto. Seus olhos se fecharam e ele pôde sentir o chão frio esperando para sugar dele todo o calor que lhe restava através de suas roupas. A respiração estava descompassada e sua mão agarrava o peito como se quisesse retirar o próprio coração.

A tortura o fazia desejar que a morte lhe encontrasse logo.

Mas ela não vinha.

Yuu.

Um sorriso quase tão brilhante quanto o sol apareceu a sua frente. Os cabelos pretos levemente bagunçados do garoto dançavam no ar, e Mika encontrou-se hipnotizado por aqueles olhos verdes. Ele estendeu a mão, querendo tocar e, ao mesmo tempo, temendo que a imagem se dissiparia de repente e o deixaria largado na escuridão mais uma vez. As lágrimas escorreram mais rápido, umedecendo o colarinho de sua camisa e grudando-a a sua pele.

Seus dedos alcançaram os dele.

Ele ainda estava ali.

"Mika!"

O garoto exclamou seu nome, com a animação transbordando de sua voz.

Ah, aquela voz.

Ele não pode evitar a risada, acompanhada de mais lágrimas pesadas. Por algum motivo, mesmo com a dor dilacerante que se espalhava pelo seu corpo e com a sede incontrolável por sangue, Mika se sentia sufocado pela sensação de felicidade e calor que o preencheu, provocando-lhe um arrepio que subiu por toda a espinha.

Ah. Yuu-chan...

Mika suspirou, sentindo todas as suas forças deixarem seu corpo junto com o ar que ele expirou. Seu braço caiu de volta ao chão, incapaz de se segurar em pé. Seu corpo já não respondia a mais nada, sua visão escurecendo devagar. O vento se tornava cada vez mais frio, mas ele não conseguia nem mesmo tremer. A respiração pouco a pouco se normalizou e a dor foi perdendo sua potência, abandonando-o contra o chão coberto por destroços.

Os olhos azuis se fecharam sem esforço, quase que por contra própria, bloqueando o céu igualmente azul sobre sua cabeça. E Mika se viu mergulhado numa imensidão verde, um tom esmeralda tão belo quanto o dos olhos de Yuu. E um ultimo sorriso apareceu fraco em seus lábios, enquanto a ultima lágrima deixava seus olhos e escorria por sua bochecha até atingir o chão e ser absorvida pelos ramos de gramas espalhados pelas frestas no concreto.

Seu corpo inteiro parecia flutuar. Será que ele finalmente estava sendo recompensado com a paz que tanto desejava, depois de tanta dor e sofrimento? Seria aquela a ultima vez que ele veria o céu?

Yuu apareceu mais uma vez em seu campo de visão. Com a mão estendida, sua voz, desta vez mais agressiva, chamava pelo nome de Mika mais uma vez.

Mika riu e lembrou-se de quantas vezes Yuu usara aquele tom com ele quando eram crianças. Ele sempre parecia irritado, mas o corar de suas bochechas não deixavam Mika se enganar; ele na verdade só estava disfarçando seus sentimentos verdadeiros. E ver Yuu agindo de forma tão fofa mais uma vez era um presente precioso demais. Um calor confortável e nostálgico preencheu seu coração por completo.

Mika pegou sua mão, que estava quentinha como sempre. Retribuindo o sorriso, eles andaram lado a lado como nos velhos tempos. O campo florido em que eles andavam descalços era tão belo. O cheio de flores inundava o nariz de Mika.

Tudo era colorido e alegre.

As imagens pouco a pouco começavam a se apagar. O calor se esvaia pelos seus dedos, a respiração se esgotando.

Vamos lá, Mika! As crianças estão nos esperando!

Yuu disse mais uma vez, apressado. Mika já não ouvia mais nada além dele, seguindo-o sem hesitar.

E tudo escureceu.

A cidade estava fria. O sol tinha ido embora, dando lugar a assustadoras nuvens cinzentas. O vento forte espalhava a sujeira do chão pelo ar e as pedrinhas tilintavam no chão. Não demorou muito para que gotas pesadas de chuva começassem a cair, rapidamente encharcando tudo o que estava descoberto.

Mas o tempo não importava mais, já que pela primeira vez em quatro longos anos, Hyakuya Mikaela finalmente pôde dormir em paz junto daquele que jamais deixara sua mente, nem mesmo por um misero segundo.

Fin.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, apesar de ser angst >Por favor, deixem suas opiniões e vocês com certeza farão uma escritora amadora muito feliz.Obrigada por ler até aqui!



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