Teiko durante três anos foi o palco dos melhores jogos juvenis, onde o colégio fez questão de vencer com unanimidade. Estavam no terceiro ano e tinham passado por mais uma das muitas vitórias contra aquele colégio do interior que apesar de distante, era bem forte. Estavam em um dos muitos campeonatos interescolares, passando os dias de jogos em uma pousada na cidade escolhida para sediar o evento.

No outro dia enfrentariam a próxima escola e aguardavam levar mais esse título. Mas por hoje, gastariam o resto na noite em um jantar reforçado e conversas banais.

— Eu ouvi dizer que ela tem a boca dividida. — a voz de Akashi ecoou e Kise se esforçou para engolir o refrigerante, pois o mesmo parecia ter encontrado um confortável lugar em sua traqueia, que gerou uma boa engasgada.

— Zaki-chin disse que ela matava, não foi? Mine-chin?

— Haizaki é um idiota!

Mas a verdade é que Aomine sentiu um arrepio pelo corpo ao lembrar a lenda detalhada que Haizaki contou em certa ocasião.

— Temos mesmo que falar nisso? — Kise perguntou, pegando um dos doces da mesa e ganhando um olhar assustador de Murasakibara, servindo para piorar seu estado. Escorregou no banco, encostando-se mais a Midorima.

— Kise-kun, pensei que já tinha superado Haizaki-kun.

— Kurokocchi! Não estou me referindo a essa parte da conversa.

Midorima abriu e fechou os dedos da mão esquerda, sobre a supervisão de Kise que parecia ansioso com tudo a sua volta.

— Ela é alta e linda, está sempre com uma máscara cobrindo a boca, isso porque possui um corte de orelha a orelha...

— Midorimacchi! — Kise sussurrou, aflito.

— Está armada com algo, normalmente uma tesoura, e pergunta para vitima se a acha bonita. Se responder que não, é rasgado ao meio. Se responder que sim, ganha um corte idêntico ao dela na boca.

Kise sentia os joelhos baterem e o pior era que Midorima parecia bem — até demais — em detalhar essa lenda ao seu lado.

Não pensou que ele poderia ser tão baixo.

— A história que Zaki-chin contou era parecida, mas a mulher vivia no sul.

— Murasakibara-kun, nós escutamos na recepção os rumores sobre a lenda ser daqui.

— Acho que precisamos ir dormir, amanhã de manhã quero todos despertos. Despertos, Daiki.

— Tá, tá... Boa noite.

Aos poucos eles se dispersavam e pegavam cada um a numeração que referia aos seus devidos quartos, Kise estava angustiado com o número DEZOITO que adornava sua chave. Chegou até Kuroko, perguntando sobre seu número, mas o mesmo disse que acabaria por dividir o quarto com Murasakibara, já que ambos tinham o SEIS.

Midorima, antes mesmo de Kise perguntar, já tinha dito que seu quarto foi escolhido para dividir com Akashi desde mais cedo, quando eles definiam a coordenação da estadia da equipe. Kise não os culpava, ambos eram organizados demais e possivelmente deveriam conversar muito sobre o time antes de dormir.

Uma sensação preocupante se apossou do modelo conforme ele caminhava passando pelo quarto SEIS de Kuroko e Murasakibara, e pelo DEZ de Midorima e Akashi.

No fim do corredor, próximo a uma janela arrepiante, estava a porta com um número DEZOITO em seu centro.

Ela rangeu assim que abriu e Kise acendeu a luz, fechando com a chave e encostando-se na parede, olhando com cautela todos os cantos do quarto, encontrando um cara apoiado do outro lado da parede com uma bola de basquete nas mãos e pronto para arremessar.

— AOMINECCHI QUE PORR...!

— KISE!

— O que você... Quer me matar?

— Kise.

Kise jurou que lhe daria um soco se repetisse novamente o seu nome, mas o tom utilizado parecia de alguém aliviado por lhe ver no quarto.

— Estava preocupado, pensei que ficaria sozinho. — o modelo admitiu.

— Pensei o mesmo. Mas preocupado?

— Você não... — Kise olhou para os lados antes de escorar a bolsa na extremidade de uma das camas, jogando o corpo na mesma antes de continuar a falar. — Essa coisa de lenda me deixa com medo.

Aomine desencostou a outra parede, apoiando a bola em um canto e tirando a jaqueta de uniforme enquanto encenava bravura.

— Você é mesmo um fresco Kise, e... — um som oco repercutiu pelo corredor afora, e o “ás” da geração milagrosa praticamente saltou na cama do modelo, utilizando o corpo de Kise como escudo para o que quer que fosse.

A porta do quarto foi agitada, então o som de algo destrancando tilintava no ouvido dos dois homens amedrontados, agarrados naquela cama.

Assim que abriu, Akashi ergueu a sobrancelha e Midorima sentiu-se sem jeito, como se tivesse invadido um momento particular.

— Me desculpe por ter usado a chave reserva para entrar no quarto, mas nos preocupamos se todos estavam bem após o barulho estranho no corredor.

— E os dois não abriram a porta quando batemos...

— Está tudo bem. — Kise respondeu.

— Posso ver que sim. — Akashi rebateu se retirando, fechando a porta e trancando-a novamente do lado de fora.

Só então Aomine percebeu que ele e Kise estavam juntos naquela cama, abraçados e colados da forma mais forte possível.

Já permanecia prestes a se afastar quando Kise abriu a boca, péssimo momento, péssimo comentário.

— Aominecchi, amanhã é meu aniversário. Sabe, juro que se fosse capaz, ficaria com raiva deles por contarem essa história da mulher com a boca rasgada.

Aomine recordou os detalhes, mulher bonita e alta com máscara... Droga. Droga. Seus braços apertaram em volta de Kise.

— Vamos dormir.

— Dormir? Quêêêêê? — afinal de contas, seu companheiro de equipe agora o amassava em um abraço justo, a respiração de Aomine esquentava seu pescoço e o arrepiava. Dessa vez, não de medo.

— Cale a boca, Kise.

xx

Contrariando seus pensamentos, a noite não foi enfeitada por medos ou desconforto, Kise abriu os olhos dando de cara com a face adormecida de Aomine. Ambos estavam abraçados e o loiro nem queria mudar essa condição.

Tocou os cabelos de Aomine, surpreendendo-se pela maciez, então os dedos passaram em seu rosto, constatando o fato de como aquele cara era lindo. Ousando ainda mais, Kise se aproximou, tocando os lábios dele com os seus e memorizando tal ato para sempre.

Logo, resolveu afastar-se parando na cama e se preparando para ir tomar um banho, de dia tudo era mais vívido e sem temor. Mas ele congelou ainda sentado, ao escutar a voz de Aomine.

— Me parece que você teve uma boa noite, Kise. — a voz não parecia irritada, mas de alguma forma o modelo tinha certeza que Aomine estava acordado fazia um tempinho.

— Eh. — não tinha coragem para encará-lo.

Seria apenas mais um tópico na imensa lista que significa as provocações que ele vivenciava naquele grupo, mas não se arrependia, aquilo era a melhor coisa que tinha acontecido consigo em anos.

Sentiu a mão dele apertando seu ombro, o puxando para trás, forçando para que se encarassem, então, tudo aconteceu rápido demais. Em um instante pensou que levaria um soco, e no outro, Aomine quem o beijava, repetindo o ato feito pelo loiro minutos atrás, de forma mais firme e sem delongas.

Era dominador, quente, estranho. Assim como o próprio Aomine. E Kise desejava mais.

— Feliz aniversário, Kise.

Murmurou ficando de pé e seguindo — antes do companheiro — para o banheiro, simples assim. Kise jogou o corpo novamente na cama com um sorriso surgindo de sua face sem que pudesse conter, tinha sido uma ótima forma de começar o dia e um excelente adicional devido ao seu aniversário.

Aomine mal sabia o que estava prestes a começar com aquilo...