“Passei os olhos pela prateleira onde estavam os livros, procurava o livro indicado aquele que a minha professora de Literatura sugerirá naquela semana.

Não consegui evitar soltar um sorriso quando a capa dura acastanhada com as letras douradas na lombada apareceram aos meus olhos, passei os dedos pela lombada sentindo a textura da mesma sobre eles.

Eu gostava de fazer isso.

Pronta para buscar aquilo que eu sabia que seria a minha perdição naquela noite senti o livro a escapar da minha mão indo parar a outra que eu não esperava.

-Ei esse livro é meu! - falo um pouco mais alto do que devia, olhando para o buraco que foi deixado na prateleira pela ausência do livro e conseguindo ver umas mãos masculinas paradas de frente para mim.

Apressei-me agarrar na minha mala e no meu casaco que eu tinha jogado para o chão e andei apressadamente para o outro lado da prateleira pronta para enfrentar quem seria o meu adversário.

Já tinha o meu discurso pronto com todos os argumentos que eu podia usar para conseguir convencer quem quer que fosse a dar-me o livro quando me surpreendi com aqueles olhos castanhos a fitarem-me.

Eu já os tinha visto pela faculdade, para dizer a verdade eu já tinha perdido algum tempo avalia-lo sem conseguir evitar. Ele era bonito e a minha melhor amiga concordara comigo quando ela me apanhou uma vez a olhar para ele, para ser sincera as palavras dela foram mais: "ele é um gato, se não o pegares pego eu!".

Eu lembro-me desse dia porque foi no dia em que ele me apanhou a olhar para ele, eu acho que aquele dia foi o único em que eu senti mais vontade de enterrar a minha cabeça na terra como uma avestruz.

Ele olhou para o livro nas suas mãos para depois olhar para mim e sorrir-me com aquele sorriso que eu já vira ele a dar em algumas ocasiões, normalmente era quando ele estava com os seus amigos.

Deus eu tinha mesmo que parar de reparar nele!

-Eu não sabia que este livro já tinha dona. - afirma ele revelando pela primeira vez a sua voz rouca e suave, eu sonhara tantas vezes de como seria a sua voz que foi uma surpresa eu ouvi-la naquele momento.

Conseguia perceber um pouco de sotaque ali, mas não conseguia entender donde é que poderia ser.

Abanei a cabeça espantando aqueles pensamentos quando percebi que tinha que falar alguma coisa, talvez ele ainda pensasse que eu era muda.

-Desculpa, é só que...

-Tu queres ler muito este livro. - completa ele surpreendendo-me ainda com aquele sorriso nos lábios hipnotizando-me uma vez mais.

-Sim. - é a única coisa que eu consigo dizer e ao mesmo tempo a única coisa que eu conseguia pensar, voltei a ficar distraída com aqueles olhos que me pareciam conseguir ler a alma e adivinhar aquilo que eu pensava.

Senti as minhas bochechas ficarem quentes e baixei o rosto quebrando assim o contacto com ele, sentia-me envergonhada por ele ver-me envergonhada quando nem sabia o meu nome e vice-versa.

-E se fizéssemos um acordo? - questiona a sua voz agora mais próxima de mim fazendo com que eu erguesse o olhar, ele tinha se aproximado de mim e agora mantinha os seus olhos no meu rosto com um sorriso torto e o livro mais ou menos estendido na minha direção.

-Como assim? - sou capaz de finalmente perguntar ainda sentindo as minhas bochechas quentes, tinha quase a certeza que elas só voltariam ao normal quando eu me afastasse dele.

-Dividimos o livro. - declara ele como se aquela fosse a escolha acertada, ele voltou aproximar-se de mim obrigando-me a dar alguns passos atrás enquanto eu sentia aquela aproximidade talvez fosse demais para mim. -Tu queres ler o livro, mas eu também quero. Então porquê é que não juntamos o útil ao agradável?

Conseguia sentir o seu hálito a chegar ao meu rosto, era fresco e cheirava a menta como se ele tivesse tido a mascar alguma pastilha daquele sabor.

-Eu gostaria muito. - as palavras escapam da minha boca antes mesmo de eu conseguir impedir.

O sorriso torto dele alargou-se novamente para agora um sorriso completo que lhe alcançou os olhos, era como se ele realmente estivesse feliz por eu ter aceite.

Não consegui evitar sorrir em resposta ao perceber que aquele tipo de sorriso era contagiante e hipnotizante tal e qual como os seus olhos.

-Certo então é melhor irmos ocupar uma mesa, acho que é um pouco massudo ficar o tempo todo em pé. - afirma ele apontando para uma das mesas livres que estava na saída da prateleira.

Só fui capaz de assentir com medo que as próximas palavras que pudessem sair da minha boca fossem incompreensíveis ou até mesmo um pedido que seria vergonhoso da minha parte.

-Já agora sou o Stiles, Stiles Stilinski. Estudo Literatura Inglesa, estou no 2º ano.-apresenta-se ele finalmente estendendo-me uma mão com um novo sorriso nos lábios.

Será que as suas bochechas não lhe doíam?

Stiles...

Stiles Stilinski...

Era um novo invulgar que eu nunca tinha ouvido, mas também para alguém como ele era natural ele ter um nome tão único como ele.

Pelo menos era isso que eu pensava.

Os seus olhos estavam em cima de mim com uma dúvida no olhar como se esperasse que disse-se alguma coisa fazendo-me lembrar assim que eu ainda não me tinha apresentado.

Ele devia estar mesmo a pensar que eu era uma retardada.

-Lydia Martin, também estou a estudar Literatura Inglesa, mas estou no 1º anos. - falo finalmente aceitando a sua mão sentindo um formigueiro desconhecido nos meus dedos quando tocaram nos deles.

-Muito prazer Lydia. - afirma ele deixando que o meu nome saísse dos seus lábios de uma maneira que me causava arrepios."

-Lydia estás pronta?

Volto a realidade quando a voz da minha melhor amiga sacode, ela mantinha-se atrás de mim com um sorriso nos lábios que eu poucas vezes via ali.

Fitei-me no espelho alisando o meu vestido branco enquanto eu me tentava convencer que aquilo estava mesmo acontecer.

-Achas que ele ainda está lá? - pergunto erguendo o meu olhar para o rosto moreno da minha melhor amiga que não consegue evitar revirar os olhos com as minhas palavras, eu já tinha feito aquela pergunta pelo menos umas vezes só naquelas duas horas.

-Não.

-Achas mesmo? - questiona agora aflita virando-me finalmente para ela largando o meu vestido, sentia o pânico subir-me pelo corpo enquanto deixava aquela palavra ser processada pelo meu cérebro.

-Lydia deixa de ser idiota, ele ama-te! Achas mesmo que ele era capaz de te deixar no altar? - questiona Malia revirando os olhos uma vez mais enquanto deixa a impaciência tomar conta do seu rosto. -Aliás eu acho que aqui tem mais medo do compromisso és tu não ele.

Suspiro virando-me novamente para o espelho e vendo os meus lábios pintados com o rosa claro que eu me lembrava que ele tinha dito que gostava de me ver com ele.

-É só que... Ele é tão bom para ser real. - declaro finalmente olhando novamente para Malia que suspira como se sentisse vencida de alguma maneira e pega na minha mão entrelaçando os seus dedos nos meus, um acto incomum por parte dela.

-Ele é real, ele é tão real como tu e tem tanta sorte por te ter como tu ele. É incrível como num mundo tão grande vocês foram capazes de se encontrar um ao outro. - afirma Malia surpreendendo-me, era a primeira vez que ela falava aquelas palavras assim como era a primeira vez que ela revelava o quão ela era a favor do nosso amor.

-Obrigada. - agradeço sentindo as lágrimas a picarem os meus cantos dos olhos a pedirem autorização para serem libertadas.

-Vá sem lágrimas! Ainda o dia começou e tu já queres borrar a minha maquilhagem, Martin.

Não consigo evitar rir-me ao escutar as palavras de Malia seguida pelo meu apelido, era a forma mais carinhosa que aquela morena arranjara para expor a adoração que sentia por mim.

-As meninas já estão?

A voz do meu pai faz-me desviar finalmente o olhar do espelho virando atenção para a porta onde a figura alta do meu pai entrava acompanhado pela minha mão que limpava os seus olhos com um lenço já com vestígios de rímel.

-Sim.

-Não.

Olho confusa para Malia tentando perceber o porquê da sua resposta negativa, mas ela apenas sorri antes de sair do quarto voltando alguns segundos depois sem me dar tempo para perguntar o que acontecera.

Escondia atrás das costas algo que foi-me revelado antes de eu perguntar o que seria.

-Eu sei o quanto tu gostas deste fio e como isto tudo pede uma coisa azul e outra coisa emprestada por isso pensei que gostarias de usa-lo. - afirma Malia um pouco atrapalhada com aquilo que dizia.

Não consegui impedir-me de abraça-la mesmo que ela soubesse que ela não gostava destes gestos.

-Não imaginas o quanto significa esse gesto para mim. - murmuro no seu ouvido quando ela finalmente retribuiu-me o abraço.

-Pronto, pronto, pronto. Já chega de demonstrações de afectos se não vamos chegar atrasados e eu tenho a certeza que tu não queres que chegamos atrasados. - declara Malia afastando-se finalmente de mim, eu sabia que aquele abraço já tinha durado tempo suficiente para a morena.

Sorri perante aquele retrato que eu tinha, os meus pais que se tinham divorciado quando eu tinha apenas dois anos estavam agora lado a lado abraçados um ao outro com o rosto da minha mãe cheio de lágrimas e o meu pai a tentar consolala sem qualquer jeito enquanto a minha melhor amiga mantinha-se ao lado deles com uma expressão de impaciência mas ao mesmo tempo a tentar esconder o sorriso que ela queria dar.

Era a primeira vez que eu me via com aquele retrato a minha frente e eu desejava que ele não desaparece.

-Vá lá Lydia! Temos que ir. - apressa Malia atraindo-me novamente para a realidade pegando no meu buquê de lírios brancos e na sua pequena bolsa azul escura que ela usaria durante a cerimónia.

Fui obrigada agarrar no braço do meu pai com alguma força para não haver nenhuma probabilidade de eu escorregar naquelas escadas traiçoeiras.

Respirei fundo fechando os olhos enquanto deixei os raios solares aquecerem a minha pele sendo arrancada rapidamente daquele momento quando a voz impaciente de Malia voltou:

-Agora não temos tempo para isso, Lydia. Anda, entra no carro.

Sentei-me ao lado de Malia tendo o cuidado para não amarrotar nem o véu nem o meu vestido que não era assim tão volumoso, era o vestido para mim tal e qual como Malia dissera quando eu aparecera com ele pela primeira vez.

Olhei para o lado vendo a paisagem que passava por nós perdendo-me novamente em pensamentos.

“-Estás pronta?

-Eu sinto que falta alguma coisa, Stiles. - afirmo olhando em redor à procura daquilo que me podia estar a faltar.

Ouvi ele aproximar-se de mim prendendo a minha atenção como sempre acontecia, tocava no meu queixo com as suas mãos que eu invejava por estarem sempre quentes.

-Estás perfeita. - declara Stiles antes de pousar um beijo suave nos meus lábios antes de se afastar soltando um fraco riso talvez por por ter visto a minha expressão de frustação por não haver mais. -Temos que ir, amor. Não podemos chegar mais atrasados que a noiva.

Suspiro rendendo-me finalmente e esquecendo-me daquilo que parecia estar a fugir da minha mente.

A viagem até a igreja foi tranquila, Stiles manteve a sua mão direita pousada na minha perna como sempre fazia enquanto guiava só com a mão esquerda. Por vezes apertava a minha perna com a sua mão deixando que aqueles arrepios familiares que eu já conhecia tão atravessassem a minha coluna.

-Amo-te. - deixo escapar sentindo logo de seguida as minhas bochechas quentes como sempre acontecia quando eu dizia aquilo, já se tinha passado dois anos desde que a primeira vez que eu dissera aquilo mas mesmo assim continuava a reagir daquela maneira.

-E eu a ti. - fala Stiles com aquele sorriso que eu amava nos seus lábios antes de se inclinar para mim e beijar-me deixando de prestar atenção a estrada por alguns segundos, apetecia-me aprofundar o beijo a verdade é que a tentação era grande mas primeiro estava a segurança e ele com os olhos pregados em mim e não na estrada tornava a segurança mínima.

-Mais tarde. - murmura quando senti um novo aperto na minha perna desta vez mais duradouro.

Vi-o afastar-se de mim formando um bico com a sua boca que me deu ainda mais vontade de o agarrar ali, mordi o lábio agarrando no banco onde estava sentada tentando controlar o meu desejo.

-Não faças isso, por favor. - implora Stiles com um suspiro olhando para mim de soslaios enquanto virava o carro para a rua onde se localizava a igreja.

Rapidamente larguei o lábio quando percebi o que ele queria dizer especialmente quando os seus olhos se fixavam nos meus lábios enquanto falava.

-Desculpa.

Stiles sorriu pegando na minha mão e levando-a agora para a sua perna onde eu mantive até a viagem terminar.

-Ansiosa? - questiona Stiles quando finalmente para o carro num dos únicos lugares livres, como sempre estávamos atrasados mas não tão atrasados como a noiva.

-Porquê é que estaria ansiosa? São eles que se vão casar não eu. - declaro semicerrando os olhos para Stiles quando vi o sorriso provocador que ele abria, ele só dava aquele sorriso quando normalmente estava aprontar alguma coisa. -O quê é que estás aprontar?

Antes de Stiles conseguir dizer alguma coisa a porta do meu lado foi aberta e o braço que rapidamente reconheci como sendo de Malia agarrou-me e puxou-me para fora antes de eu conseguir impedir.

-Vocês estão atrasados, como sempre! Ela chegou.

Apressamo-nos alcançar a entrada da igreja antes mesmo da noiva nos conseguir ver a chegar e entramos no edifício tendo os olhares de todos em cima de nós com o começo da música da entrada matrimonial como som de fundo.

-Corta! Não é ela. - afirma a voz de Scott para o pianista que nos olhou com irritação.

Engoli em seco enquanto sentia as minhas bochechas ficarem quentes e nós alcançávamos o nosso lugar, Stiles deu-me um último beijo antes de se postar ao lado de Scott com o seu lugar de padrinho de casamento.

Ele ficava tão bem de smoking.

-A apreciar a vista? - interroga Malia no meu ouvido num de voz tão baixo que eu devia ter sido a única a ouvir as suas palavras.

Olhei para a morena ao meu lado que mantinha um sorriso matreiro nos lábios, sorriso que ela só dava quando ela sabia alguma coisa que eu não sabia.

Antes de eu conseguir dizer alguma coisa a música matrimonial voltou a tocar fazendo com que todos se levantassem com a entrada de Allison Argent, a noiva e futura mulher de Scott, o melhor amigo de Stiles.

Eu sentia as minhas bochechas já a doerem de tanto sorrir e só agora é que a cerimónia é que tinha começado.

Respirei fundo sentindo borboletas na minha barriga sem qualquer razão enquanto me voltava a sentar sendo seguida por todos os outros, vi o olhar de Stiles em cima de mim e retribui ao sorriso que ele tinha nos lábios.

Um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha visto na minha vida!

-Estamos aqui reunidos hoje para unir este casal: Scott McCall e Allison Argent. - a voz do padre pronuncia-se fazendo com que Stiles desvia-se o olhar e se concentra-se no casal ao seu lado.

Senti os meus olhos pesados enquanto as palavras do padre monocórdias chegavam a mim, obriguei-me a manter os olhos abertos depois de sentir uma cotovelada nada discreta de Malia que se mantinha com o rosto sério atenta aquilo que o padre dizia.

-Caso alguém seja contra este casamento fale agora ou cala-se para sempre.

Stiles deu alguns passos em frente levantando o braço como se tivesse dentro de uma sala de aula fazendo com que todos o encarassem incluindo o padre que franziu os olhos para ele.

-O quê é que ele está a fazer? - pergunto sentindo o meu coração acelerado e olhando para Malia que tinha um largo sorriso nos lábios como se concordasse com o gesto dele.

-Eu tenho algo a dizer. - afirma Stiles fazendo com que eu sentisse o meu coração a subir pela minha boca.

Eu acreditava que não era capaz de sentir nenhuma humilhação como aquela, como é que era possível ele estar-me a fazer aquilo? Não teria sido mais fácil acabar comigo antes de declarar o seu amor a Allison?

Aliás desde quando é que eles tinham uma grande aproximidade, se eu bem me lembro as únicas vezes em que eles estiveram juntos foram nos últimos meses quando o Scott anuncio que se ia casar.

-Fale meu filho. - pede o padre dando alguns passos atrás e encarando Stiles com curiosidade.

A verdade é que todos encaravam, todos menos a Malia, o Scott e a Allison que mantinham um sorriso nos lábios como se realmente estivessem felizes com aquilo e era isso que me estava a confundir ainda mais.

Os olhos de Stiles finalmente caíram em cima de mim como se finalmente tivessem notado a minha presença, eu sentia as minhas bochechas quentes quando percebi que agora todos olhavam para mim.

Deviam sentir pena de mim por eu estar a passar uma vergonha daquelas.

Ele desceu os degraus que separava o altar do resto da igreja e aproximou-se de mim com uma mão no bolso como se procurasse alguma coisa

-Eu sei que tu durante uns tempo me vais odiar por eu estar a fazer isto, mas eu não arranjei outra forma de o fazer. - declara Stiles parando finalmente a minha frente, eu não consegui desviar os olhos dele mesmo que soubesse que naquele momento as lágrimas desciam pelo meu rosto.

Odiar? Essa palavra aprecia ser um eufemismo para aquilo que eu realmente iria sentir nos próximos meses e como é que ele tinha coragem de me dizer que não tinha arranjado outra forma de fazer aquilo, tinha havido hipóteses inúmeras oportunidades para ele acabar comigo mas ele nunca fez isso.

Teve que esperar para que nós tivéssemos em frente a todas aqueles que eu conhecia e aqueles que eu desconhecia para me fazer aquilo? Será que a humilhação de ele acabar comigo depois de quatro anos de namoro não chegava?

-Desde do primeiro momento em que pôs os olhos em cima de ti que eu tinha a certeza, depois forma os encontros, as longas conversas que nós tínhamos nos corredores da faculdade, os ciúmes que eu sentia sempre que via algum homem ao pé de ti. A cada dia que passava eu apaixonava-me cada vez mais por ti, era involuntário, eu não conseguia controlar-me... - falava Stiles enquanto me fazia chorar ainda mais, vi a tristeza no seu olhar como se controla-se para não me estender a mão e acariciar-me. -E depois teve aquele dia, do nosso primeiro beijo, acho que foi também a nossa primeira discussão. Eu não me lembro de sentir tanta raiva como naquele dia e tu não percebias, não conseguias perceber que ele não te merecia, que tu merecias melhor. Acho que foi naquele dia que eu soube que te amava!

Onde é que ele queria chegar com aquilo? Aquelas palavras doces serviriam para ele como uma desculpa, como se ele esperasse que no final daquilo tudo eu o pudesse perdoar?

Se ele pensava aquilo era porquê ele não me conhecia, ele estava muito enganado se esperava que aquilo acontecesse.

-Ainda penso que tudo isto é um sonho e que a qualquer momento eu vou acordar e ver que tudo isto não passou de um sonho por isso eu quero tentar. Quero tentar porque não tenho nada a perder. - declara Stiles tirando um objeto que não consegui identificar do seu bolso e ajoelhando-se a minha frente antes de me dar qualquer oportunidade para eu gritar.

E foi como se fizesse um clique dentro da minha cabeça, vê-lo com um joelho a tocar o chão na minha direção e a olhar para mim com lágrimas nos seus olhos e ouvir aqueles suspiros em meu redor incluindo o de Malia foi como se finalmente eu tivesse aberto os olhos.

Ele tinha me dado pistas durante todo aquele discurso, mas eu estava tão cega por ele ter interrompido o casamento de Scott e de Allison que eu não percebi.

Eu não percebi que...

-Casas comigo? - pergunta-me finalmente Stiles interrompendo a minha linha de pensamentos e abrindo a caixa de veludo preta, que eu só reparara que ele carregara naquele momento, revelando assim o anel que ele me tinha mostrado alguns anos atrás.

O anel da mãe!”

-Lydia chegamos!

A voz de Malia arranca-me novamente dos meus pensamentos, do dia mais assustador e ao mesmo tempo feliz para mim. Eu lembro-me que nos minutos seguintes ao seu pedido eu ficara em choque que nem conseguira respirar como deve ser, eu lembro-me disso porque Malia arrastou-me para fora da igreja e deu-me algumas tapas no rosto sem qualquer cuidado para ver se eu voltava ao normal.

Lembro-me também de Stiles sair da igreja preocupado comigo, com medo que o seu pedido pudesse ter sido muito drástico ou até mesmo que eu queria recusar e não sabia como fazer. Eu lembro-me disso porque ele estava a falar muito, muito mais do que era habitual e eu para conseguir fazê-lo calar, depois de inúmeras tentativas a chamar o seu nome, beijei-o.

Certo que eu não estou a reclamar porque foi um dos melhores beijos que eu já tive na minha vida, mas foi a única maneira para ele prestar atenção e ouvir a minha resposta afirmativa.

-Pronta? - pergunta a minha mãe parando à minha frente e não conseguindo evitar de ajeitar o meu cabelo que eu sabia que estava bem, era uma mania que ela tinha quando estava nervosa.

-Sim. - respondo determinada, eu acho que nunca estive tão decidida na minha vida.

Estava pronta para subir os degraus que me separavam da igreja quando Malia me agarra o pulso e me vira para ela.

-Onde é que vais? - questiona ela fazendo com que eu franzisse a minha testa para logo de seguida revelar-me o fio com a pedra azul que eu nem tinha percebido que me faltava. -Falta-te isto.

Com o fio já no meu pescoço olhei uma última vez para Malia antes da mesma subir as escadas o mais depressa que o seu vestido deixava acompanhada pela minha mãe que já soltava novas lágrimas deixando-me para trás com o meu pai que me estendeu a mão que eu aceitei sem hesitar.

-Quero que saibas que não podia estar mais orgulhoso de ti. Tornaste-te na mulher que eu e a tua mão queríamos que te tornasses e ainda mais estás a seguir o teu coração, tal e qual como eu te disse para fazeres. - fala o meu pai enquanto subíamos as escadas e parávamos finalmente na entrada da igreja onde a música matrimonial começou a tocar fazendo com que todas as pessoas se levantassem e virassem atenção para nós incluindo Stiles que de alguma forma eu sabia que estava ansioso. -Eu adoro-te miúda e quero que sejas feliz.

Depois daquilo se o meu pai disse alguma coisa eu não ouvi, eu estava com os olhos focados no altar onde Stiles estava novamente a usar um smoking desta vez muito mais bonito do que o seu último e desta vez era ele quem usava a flor no bolso do seu casaco.

Não consegui evitar sorrir vendo aquela imagem na minha frente sendo retribuída por ele que manteve com os olhos em cima de mim até que estava próxima o bastante para eu puder esticar uma mão na sua direção e tocar-lhe no rosto, coisa que eu não fiz.

-Cuida da minha menina.

Agarrei na mão de Stiles entrelaçando os meus dedos nos seus e sentindo aquele quente comum e que eu sentira saudades durante toda aquela manhã separada, acho que foi a nossa “separação” mais longa que nós já tivemos.

-Tive saudades tuas. - declaro sentindo os olhos do padre em cima de nós pronto para começar a cerimónia assim que fosse permitido.

Stiles eu alguns passos na minha direção juntando agora os nossos corpos e não apenas as mãos como já estavam unidas e olhando para os meus olhos durante alguns segundos como se lesse a minha alma tal e qual como fizera na primeira vez em que nos vimos frente a frente.

Antes de eu conseguir dizer alguma coisa ele colou os nossos lábios, não era como os nossos outros beijos: selvagem, desejoso como se a qualquer momento um de nós pudesse desaparecer.

Era diferente!

Calmo e delicado como se tivesse medo de me partir.

Passou a língua por entre os meus lábios pedido passagem antes de sugar o meu lábio inferior fazendo com que eu soltasse um pequeno gemido que tenho a certeza que fora ouvido pelo padre, mas naquele momento eu não me importava e duvido muito que me importasse quando o beijo terminasse.

Deixei a sua língua explorar a minha boca enquanto eu sentia o sabor a menta que ele sempre tinha presente na sua agora com uma centelha de sabor a chocolate e vinho do Porto como se os tivesse comido e bebido antes de vir para cá.

Afastamo-nos quando ouvimos um pigarrear, os olhos de todos estavam em cima de nós mas foi a primeira vez que eu não sentia as minhas bochechas a ficarem quentes.

Acho que finalmente percebera que aquele era o meu lugar.

Nos braços de Stiles!