Completo Desastre - HIATUS escrita por Aysha


Capítulo 2
Capítulo I - O pior dia


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que leram e à Nyx pelo maravilhoso comentário! Aqui vai um capítulo para saberem um pouco o que aconteceu com a vida da Sam. Boa leitura!



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Era para ser um dia emocionante: volta às aulas e início do último ano do ensino médio. Despedida dos velhos amigos e fim de um ciclo. Mas para mim estava sendo uma catástrofe completa.

Olhei meu guarda-roupa e dessa vez eu não tinha uma calça, saia ou calçado novo. Eram as mesmas roupas do ano anterior. Isso era terrível, nunca tinha acontecido antes. Coloquei meu jeans preferido comprado seis meses atrás (lê-se antes da grande tragédia) e um tênis branco para combinar com o uniforme. Maquiagem básica e cabelo solto. Olhei no espelho e pela milésima vez essa semana, não me reconheci. Acho que isso ainda se devia ao fato de ter escurecido meu cabelo. Antes ele era loiro platinado, agora devido a falta de recursos para mantê-lo platinado e impecável com muitos produtos caros, retornei ao seu louro escuro natural, afinal eu preferiria a morte a um cabelo amarelo-gema-de-ovo com a raiz aparecendo.

Mas não era só isso; eu estava tão... Básica! Sem nada que fosse da última moda, ou que fosse extravagante e atraísse a atenção e inveja feminina. Inconscientemente, acho que queria passar despercebida. Aquele seria um dia bem difícil.

Pensei bem sobre minha aparência enquanto encarava o reflexo que me incomodava. Aquela não era eu. Decidi me arrumar mais. Alguns acessórios, um batom bem rosa e pronto, estava linda. Me parecia comigo mesma novamente.

Ao entrar na cozinha, todos estavam tomando seu café da manhã. Não comi nada, estava achando que minha calça 36 estava justa demais.

“Bom dia maninha linda!” Os olhos azuis do meu irmão sorriam para mim. Meu branquelo de 7 anos é provavelmente a coisa mais fofa existente e a voz dele é uma das poucas coisas que andavam me fazendo sorrir.

“Bom dia príncipe!” Dei um beijo na sua bochecha e limpei a geleia que sujava o canto da boca dele.

Meu pai não falou nada. Minha mãe só sorriu. Meu relacionamento com eles estava indo de mal a pior. Eu não conseguia perdoar meu pai por ter escondido por tanto tempo a falência.

Ah sim, essa é a grande tragédia que mencionei, antes que eu me esqueça. Depois de todas as coisas ruins que aconteceram no colégio, essa foi o ápice da minha desgraça: descontando minha frustração em compras, as sacolas cheias de roupas da melhor loja da cidade, ao passar meu cartão de crédito tive minha compra recusada.

“Samantha, o cartão foi recusado.”

“Está errado! É impossível eu estourar o limite dele!” Estava irritada com a incompetência da vendedora! Não dava conta de sequer passar um cartão de crédito!

“Vou refazer a operação de te mostrar.”

Então eu a vi passando o cartão mais uma vez, digitei minha senha novamente e a mensagem de cartão recusado apareceu. Me senti completamente constrangida com a situação.

“Ah, então eu assino uma promissória e amanhã meu pai passa aqui e paga.” Já tinha feito isso várias vezes antes de ter o cartão no meu nome, não era um problema difícil de resolver.

“Infelizmente não podemos aceitar.”

“Olha, eu fiz isso a vida inteira! Pergunta para sua chefe caso tenha esquecido!”

“São ordens dela não aceitar mais promissórias”

Meu sangue ferveu. Com quem aquela mulher pensava que falava?

“Jessica, você esqueceu quem eu sou? Esqueceu de quem sou filha? Querem perder sua cliente?” Falei baixo, mas de forma que deixasse clara minha raiva sem fazer um escândalo.

“Samantha, querida, que prazer!” Carla, a dona da loja se aproximou após perceber o ocorrido.

“Carla, você pode lembrar sua funcionaria de com quem ela está falando? Ela está me atrasando e preciso levar minhas compras!”

Ela deu um sorriso amarelo.

“Sam, você não sabe, não é mesmo?” Aquilo no olhar dela era pena?

“Não sei o que?”

“Sobre seu pai e o dinheiro...”

Fiquei roxa. Vermelha, amarela e todas as cores que representem raiva, susto e todos sentimentos ruins possíveis. Ela estava insinuando que meu pai não tinha dinheiro?

“Escuta aqui Carla, eu não sei bem o que está insinuando, mas se meu pai tivesse algum problema com dinheiro, eu com certeza saberia! Acho que você esqueceu quem é quem nessa história! Fica com a porcaria dessas compras que eu encontro loja melhor nessa cidade!”

Eu estava completamente revoltada com a situação. Falei mais alto do que deveria e saí daquela loja bufando sem nem olhar na cara das duas. Que loucura era aquela que estava acontecendo?

Ao voltar para casa, esperei ansiosa meu pai aparecer. Assim que o vi chegar com minha mãe, pedi explicações. Foi uma noite longa. Ele realmente tinha quebrado: nossa casa estava com a hipoteca atrasada, a lavoura simplesmente não produziu e a corretora de grãos teve prejuízos irreparáveis. Nós estávamos completamente falidos! E o pior, isso já fazia um ano. Ele escondeu até que não pudesse mais manter nosso padrão de vida, até que não sobrasse um centavo no banco e sujasse o nome dele e da minha mãe. E eu e minha mãe éramos as únicas que não sabiam que não tínhamos mais dinheiro. Éramos totalmente alheias à própria desgraça e descobrimos da pior forma possível. Por causa da boca dos outros.

Como qualquer um pode imaginar, aquilo sucedeu uma série de brigas entre meus pais. Obviamente não havia como minha mãe ficar tranquila com o próprio nome negativado. Nos dias que se passaram eu me fechei enquanto tentava conviver com a nova realidade: eu estava pobre! Queria me enterrar no primeiro buraco que aparecesse na minha frente e não sair de lá mais. Eu queria morrer! Dia após dia via meu padrão de vida antigo se tornar um sonho distante. Não tinha mais cartão, não tinha mais mesada, alimentos baratos, nada de roupas de marca novas ou de um caríssimo presente de Natal. Com isso logo eu estava com raiva do meu pai por não ter nos contado antes, por ter nos deixados na pior e por destruir tudo o que restava de bom na minha vida.

“Vamos?” A voz da minha mãe me tirou de meus devaneios. “Desfranza esse cenho Sam, não vai querer rugas tão cedo né?” Essa é Alicia, minha mãe. Jovialidade e beleza sempre vieram em primeiro lugar na lista de prioridades dela, acho que até mesmo antes de mim e meu irmão.

No trajeto até a escola meu irmão era o único a falar. Pensei aliviada que pelo menos ainda tínhamos o carro! Não conseguia me imaginar a pé. Rayan e eu estudávamos em escolas diferentes, com a semelhança de que agora ambos éramos bolsistas. Meu irmão conseguiu a bolsa no EPC por ser um colégio conhecido por priorizar alunos com inteligência acima da média, que era o caso dele. E eu consegui a vaga no Santa Clara por ser meu último ano e por ter mantido notas altar sempre que estudei lá. Não que eu seja nerd ou absurdamente inteligente, longe disso, mas nunca gostei da ideia de estar entre os piores, não importa no que fosse.

“Você sabe que um dia você vai precisar voltar a falar com seu pai, né?” Minha mãe disse quando estávamos sozinhas, depois de deixar meu irmão.

“Quem sabe” Revirei os olhos. Odiava a forma como minha mãe falava, como se eu fosse a grande errada da história.

Continuamos em silêncio até a escola. Enfim, chegou o humilhante momento. Notei um ou dois olhares zombeteiros dos que identificaram o carro que estacionava. Obviamente a cidade toda sabia da nossa situação. Esse era o problema de morar numa cidade relativamente pequena, todos sabiam de tudo. Desci do carro, respirei fundo e ergui a cabeça, afinal, com o pai falido ou não eu ainda era Samantha Mayer. Eu continuava sendo a mesma pessoa que atraía olhares e era copiada em tudo que fazia. Com todo meu orgulho eu iria encarar aquilo, porque se era hora de entrar no inferno, eu entraria desfilando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até o próximo ;* :D