...Dois dias depois...

[...]

Daryl caminhava extremamente calmo e cuidadoso ao meu lado, era estranho vê-lo daquele jeito, mas não podia reclamar; eu preferia ele daquele jeito mesmo. Sua crossbow continuava pronta para ser usada caso fosse necessário e mesmo que já fizesse quase dez minutos que estávamos caminhando e não havíamos encontrado nenhuma ameaça de mortos por perto desde a última pequena horda, ele não parecia que iria baixar sua guarda em momento algum.

Caminhávamos a passos lentos e cuidadosos (exatamente como ele dissera que deveríamos fazer) sempre alerta a qualquer som ou movimento, depois de mais alguns passos, Daryl me puxou pelo braço fazendo com que eu me escondesse dentre alguns arbustos e pediu que eu ficasse esperta.

Eu o olhei sem entender muito o bem o motivo dele ter feito aquilo, já que eu não ouvi absolutamente nada até o momento e antes dele me responder ouvimos passos vindo na nossa direção, não era o mesmo passo arrastado dos mortos, esse caminhava de forma firme e parecia saber exatamente em qual direção ir. Olhei novamente para Dixon e ele sinalizou para que esperássemos o momento certo para agir, depois de descobrirmos que os Salvadores costumavam aparecer assim tão de repente Rick achou melhor mandar pequenos grupos para dar uma breve olhada nas redondezas. Além é claro de limpar um pouco o lugar dos errantes.

— No três. — O caçador sussurrou. — Um, dois e... três!

Nós levantamos na mesma hora mirando nossas armas no ser desconhecido que estava vindo na nossa direção, curiosamente não havia ninguém ali além de nós dois. O que foi bem estranho porque ouvimos passos que vinham na nossa direção.

Daryl olhou para todos os lados procurando pelo intruso e nada, não havia nada ali. Isso era bem estranho.

— Vamos voltar, — Disse se virando. — não quero estar aqui fora quando Rick e os outros voltar.

Daryl olhou à nossa volta com mais atenção como se tentasse encontrar alguma coisa que talvez pudesse ter perdido, ele guardou a crossbow nas costas sendo o primeiro a começar a andar. Ele parecia estar desconfiado de alguma coisa, olhava sempre para os lados como se escutasse ou visse alguma coisa.

Era a segunda vez que fazia ronda com Daryl dentre esses dois dias que Rick foi até Hilltop e nessas duas vezes que fizemos ronda juntos conversávamos sobre quase tudo; nenhum de nós tocava no assunto que vinha tirando o sono de Rick e de alguns moradores, o que achei ótimo porque eu não gostava de falar sobre Negan.

De todas as pessoas que também viviam em Alexandria Daryl era um dos poucos que não falava sempre no assunto Negan e os Salvadores. Desde nosso primeiro encontro com eles, Daryl apenas falava neles apenas quando Rick marcava as reuniões com o grupo. Fora isso nem ouvia essas palavras saírem da sua boca.

— Pensei que você iria querer ir com eles até Hilltop. — Daryl caminhava ao meu lado olhando sempre a nossa volta garantindo que não encontraríamos nenhum problema no caminho de volta.

— Eu decidi ficar por aqui mesmo, quero dar um tempo em viagens longas como essa, depois do que houve não quero ver a estrada por um bom tempo. — Respondi com honestidade, acho que não tinha motivo para mentir para Daryl. — E também, não tenho muita paciência para ouvir planos de ataques e essas coisas de estratégias para combates. E você por que não foi junto?

— Não gosto do cara queimada. — Ele respondeu. — Não confio nem um pouco nele e não suportaria ficar no mesmo metro quadrado que ele.

— Acha que ele está mentindo sobre tudo aquilo de querer nos ajudar? — Perguntei curiosa.

Daryl concordou.

— Acha mesmo que ele faria tudo isso só para nos entregar depois? — Perguntei outra vez. — Eu também não confio nele, mas vendo por outro lado, isso meio que não tem muito sentido não acha? Quer dizer, por que ele teria todo esse trabalho e depois acabar com tudo?

Daryl deu de ombros.

— Sinceramente, eu não sei o que pensar sobre tudo isso que está acontecendo. — Disse. — Mas eu conheço Rick já tem um bom tempo e você deve saber que já enfrentamos todo tipo de merda até agora.

Dixon respirou fundo soltando o ar de uma vez.

— Não gosto de ver como ele passou a simplesmente confiar naquele idiota, mas se isso faz parte do plano dele acho que pode dar certo sim. — Uma pausa. —Por isso ele não contou sobre isso pra tanta gente, as pessoas estão assustadas, com medo daquele louco e num momento podem acabar contando tudo e estragando uma chance valiosa que temos de finalmente revidar tudo o que ele já fez.

Ele fez outra pausa.

— Deixar que apenas as pessoas certas soubesse sobre isso deve ter sido uma das coisas mais inteligentes que ele fez. — Falou. — Só precisamos torcer pra que isso dê certo mesmo e que aquele cretino não esteja armando contra nós.

Apenas concordei, não havia muito o que dizer depois de tudo o que Daryl havia dito.

— Não tem medo disso não? — Perguntou me olhando. — Com tudo isso que está acontecendo, não tem medo de fazer parte de tudo isso?

Dei de ombros.

— E por que não faria parte? — Perguntei de volta. — Todos nós temos algo pelo que lutar e deixar alguém como Negan solto por aí é o mesmo que jogar quem ainda está vivo para os cachorros.

Continuamos andando.

— Eu também não estou tão certa assim de confiar em Dwight, mas se ele quer nos ajudar com isso acho que vale a pena correr esse risco. — Virei meu rosto agora o olhando. — Eu tenho medo de como tudo isso pode acabar, mas de forma acho que fazer isso vale a pena. Precisamos mesmo dar um fim nisso que o Negan faz antes que mais pessoas sejam feridas.

Daryl se limitou a dar um rápido e curto sorriso.

— Por parte concordo com você, — Daryl balançou a cabeça. — mas não concordo com Rick sobre deixar que você, o guri e qualquer outra criança faça parte disso. Tudo isso pode se tornar uma grande guerra e não é certo deixar que vocês façam parte dela, é como dizem por aí: as crianças são o futuro de tudo.

— Isso não é nenhuma novidade pra mim, Daryl. — Falei. — Já vi e passei por merdas bem piores que isso.

Dizer aquilo em voz alta pareceu acionar alguma coisa na minha mente que fez com que vários momentos (bem ruins) que passei durante esse apocalipse viesse de uma só vez na minha cabeça. Foi tudo muito rápido, várias cenas passando pela minha mente de uma só vez. Precisei me virar e voltar a andar para que Daryl não percebesse que havia alguma coisa errada comigo, havia mas eu não queria que ele notasse isso.

— Hoje em dia é difícil encontrar alguém que não tenha passado por alguma merda nesse mundo. — Daryl logo voltou a caminhar também. — As crianças não são mais crianças... mortos não são mais mortos. Essa merda tá uma completa loucura.

Continuei andando até que novamente fui puxada pelo braço por Daryl, estava pronta para xingá-lo e como se soubesse que eu faria isso ele logo cobriu a minha boca com sua mão impedindo que eu dissesse alguma coisa. Eu tentei tirar sua mão da minha boca e perguntar o que merda estava acontecendo e o motivo que ele fez ele fazer isso, já que não havia mais ninguém ali de nós dois.

Daryl já estava quase me soltando quando duas facas de tamanho médio e com seus cabos contendo alguns desenhos estranhos passou por nós dois tendo suas lâminas cravadas no tronco da árvore atrás de nós. Não tinha como saber se a pessoa havia errado propositadamente, mas se foi esse o caso tivemos sorte por ter sido atingidos por elas.

Sem perder tempo Daryl me soltou tirando com extrema rapidez sua crossbow e a deixando pronta para uso, eu não era tão habilidosa e rápida como Dixon mas consegui tirar minha arma do cinto e apontá-la para o local de onde saíram as duas facas. Saindo do matagal vi dois homens se aproximarem de nós, um deles já conhecido (o mesmo filho da puta que nos atacou no mercado) e um rapaz negro usando uma touca vermelha. Ambos nos olhando com sorrisos em seus rostos.

E lá vamos nós de novo.

— Quem diria que tirariamos a sorte grande hoje! — O loiro com rosto queimado deu mais dois passos diminuindo a distância entre nós. — Querem mesmo atirar em mim? Vão em frente, mas já vou logo avisando que estão em desvantagem!

Com um assobio, pelo menos mais dez homens armados apareceram nos cercando; todos homens de Negan.

Daryl não pareceu se importar com a quantidade de homens ali, manteve sua crossbow em mãos sem tirar o loiro de sua mira. Eu por outro lado já não sabia mais pra quem apontava minha arma, havia muita gente ali.

— Podemos fazer isso do jeito mais simples possível, não querendo machucar vocês —Outro passo. — na verdade, só queremos que entregue suas armas e então poderão voltar para a casa de vocês. Então, o que me diz?

Olhei de esgueira para Daryl e ele continuava do mesmo jeito, não parecia nem um pouco afim de fazer acordo com eles. Aquele não era o estilo dos Salvadores.

— Ah qual é pessoal. — Ele riu, seu rosto pareceu adquirir uma aparência mais grotesca por causa da queimadura que ele tinha. — Nós não queremos encrenca e tenho a porra da certeza que vocês também não querem.

Um dos Salvadores que estavam ao seu lado parecia impaciente com alguma coisa, ele estava sempre olhando para os lados como se estivesse com medo de alguma coisa ou de alguém. Daryl também pareceu notar isso e agora alternava a mira de sua crossbow entre o loiro e ele.

— Paul vamos logo com isso! — Disse de forma cautelosa o Salvador que estava ao seu lado.

Paul apenas virou seu rosto lentamente para olhá-lo repreendendo-o apenas com seu olhar. Estava tudo indo "bem" até que ouvimos vários disparos vindo de Alexandria, voltei a olhar para Daryl e então tudo aconteceu num picar de olhos.

Dixon praticamente se jogou sobre o Salvador loiro gritando para que eu corresse enquanto conseguia acertá-lo com um soco no rosto, mesmo que eu não estivesse de acordo sobre deixá-lo sozinho ali com eles eu o obedeci de imediato.

Corri, mas não valeu de nada. Senti alguém me chutar em uma das pernas conseguindo me derrubar no chão e acabei derrubando minha arma também. Comecei a me arrastar conseguindo pegar a arma com rapidez e com a mesma rapidez (e tremendo um pouco) a destravei atirando no mesmo Salvador que havia me chutado. Vi seu corpo cair ao meu lado com parte do seu rosto estourado por causa do tiro, ouvi alguns deles gritar e tentei me levantar para sair dali, porém assim que me coloquei de pé senti todo meu corpo ser puxado para trás e então tudo ficou escuro.

...Momentos antes em Alexandria...
POV Carl
[...]

Depois de dois longos dias em Hilltop, havíamos finalmente voltado para casa, foi bom ver Maggie novamente e ver que ela estava bem; apesar de tudo o que ela passou. As coisas em Hilltop pareciam estar até melhores do que aqui em Alexandria, assim que chegamos Olivia nos avisou que Negan havia retornado para receber seu "pagamento" e como já era de se esperar quem cuidou disso foi meu pai.

Eu estava em casa junto com Michonne enquanto meu pai resolvia o que fazer com Negan e seus homens; ele não havia gostado nem um pouco de saber que ele havia matado um dos nossos. 

Michonne estava impaciente ali dentro, andava de um lado para o outro enquanto eu continuava olhando pela janela esperando alguma coisa. Não sabia bem o que estávamos esperando ali. Levamos um susto quando meu pai entrou em casa praticamente chutando a porta e pegando suas armas, eu e Michonne o olhamos sem entender muito bem o que estava acontecendo e sem que precisássemos perguntar ele nos olhou.

— Negan está no portão, tem pelo menos oito homens com ele. — Falou com sua arma já em mãos. — Temos uma oportunidade perfeita para atacá-los agora mesmo!

Ele nem precisou dizer aquilo duas vezes, eu e Michonne pegamos nossas armas também e saímos de casa o seguindo até o portão. Iríamos finalmente tomar uma atitude contra Negan, iríamos finalmente agir e acabar de vez com aquele monstro e seu reinado de terror.

POV Ayla

Eu estava vendada então não conseguia enxergar absolutamente nada, a única coisa da qual eu tinha certeza era que estávamos dentro de algum veículo grande e espaçoso. Ouvia vozes que se misturavam com vários disparos altos que pareciam cortar até mesmo o silêncio que estava ali dentro. Não havia se passado tanto tempo desde que Daryl e eu fomos colocados ali dentro, ainda ouvia os tiros e isso me preocupou muito; se os Salvadores estavam ali então ou eles estavam nos atacando ou o próprio pessoal de Alexandria estaria os atacando. Mas isso não teria muito sentido já que Rick havia feito um acordo com Negan.

Pra falar a verdade, eu não fazia a mínima ideia do que poderia estar acontecendo.

— Pega eles dois e os coloquem junto com os outros agora!

Mesmo que houvesse uma venda impossibilitando que eu conseguisse ver alguma coisa, assim que uma forte claridade invadiu todo o lugar em que eu e Daryl estávamos senti meus olhos incomodados com a claridade. Ficou até um pouco pior quando eles finalmente tiraram a venda dos meus olhos permitindo que eu finalmente visse o que estava acontecendo.

Havia dois homens ali, um estava me desamarrando enquanto o outro fazia o mesmo com Daryl, ele tentou lutar mas assim que jogou o corpo para frente um terceiro homem, este com um cabelo na altura dos ombros surgiu apontando uma sniper na sua direção.

— Se tentarem qualquer coisa atiramos nos dois! — O portador da sniper ameaçou fazendo Daryl recuar no mesmo minuto. — Isso mesmo, bom garoto.

Fomos levados para o lado de fora e ao ver Negan parado a poucos metros de nós dois eu só tive mais certeza de que alguma merda deveria ter acontecido. Isso explicaria os vários tiros que ouvimos antes de sermos levados e depois que nos levaram para o caminhão.

— Os coloque na fila junto com os outros! — Negan gritou se mostrando estar sem paciência alguma e sem nos olhar. — Vamos acabar de uma vez com essa merda toda!

Ao sermos conduzidos até a fila vi Rick, Eric, Heath, Desmond e Sasha. Todos de joelhos e com suas armas jogadas no chão; exatamente como na noite em que conhecemos aquele louco. Enquanto era empurrada até a fila vi um número grande de Salvadores ali nos cercando, com toda certeza passava de trinta homens ali e todos com armas prontos para nos atacar.

Assim como os outros estavam, eu e Daryl também fomos colocados de joelhos no chão ficando de frente para Negan que caminhava de um lado para o outro respirando fundo. Estávamos revivendo a noite em que Glenn e David foram mortos, estava tudo se repetindo outra vez naquele dia.

Negan então caminhou até ficar na frente de Rick, seu rosto naquele momento estava mostrando outro tipo de expressão, ele parecia estar bravo, não, na verdade, ele parecia estar uma fera.

— Você é mesmo um grande burro de merda não é mesmo? — Negan se inclinou até Rick apontando Lucille em seu rosto. — Tem alguma ideia do que você fez agora? VOCÊ FAZ ALGUMA IDEIA DA PORRA QUE ACABOU DE FAZER?

Enquanto Negan gritava completamente furioso com Rick, o pai de Carl sequer parecia estar se importando com aquilo. Levou apenas um segundo para que Rick logo se jogasse para frente conseguindo derrubar Negan no chão, tudo acontecendo rápido demais. Os dois logo começaram a trocar socos e pontapés. 

Rick estava conseguindo acertar o líder dos Salvadores em certos momentos. Negan usou Lucille para conseguir derrubar Rick no chão, ao vê-lo caído ele não pareceu se contentar com aquilo e então deu pelo menos mais três socos em Rick rindo enquanto fazia isso. Era a primeira vez que via Rick tomar alguma atitude contra Negan.

O líder dos Salvadores parou, respirou fundo erguendo o taco de baseball para o alto prestes a dar outro golpe em Rick quando dois tiros acertaram em cheio uma parte do precioso taco com arame de Negan. Olhei para tudo aquilo sem conseguir acreditar que estava mesmo acontecendo. 

— Para de machucar meu pai seu louco de merda! — Eu imediatamente reconheci aquela voz. Era a voz de Carl.

Olhando para Lucille com seus olhos arregalados mostrando surpresa e ao mesmo uma raiva da qual eu jamais vi nele, Negan pareceu se transformar em outra pessoa em questão de poucos segundos. Seu olhar mudou e até mesmo sua postura mudou ao ver que uma parte de Lucille havia sido atingida pelos tiros disparados. Aquilo pareceu ser a gota d'água.

— CHEGA! Pode parar com essa porra agora! Carl! — Gritou completamente descontrolado. — Seu monte de merda da porra do caralho! EU VOU MATAR VOCÊ SEU PIVETE CAOLHO DOS INFERNOS COM CARA DE CAVEIRA!

Negan estava descontrolado de uma forma que chegava a ser bizarra, ele gritava como um louco xingando Carl com todo o tipo de palavrão que existia, Rick percebendo esse momento de distração dele se jogou novamente na sua direção voltando a lutar contra o líder do Salvadores. Ele porém foi mais rápido e conseguiu derrubar Rick outra vez usando o próprio corpo para conseguir derrubá-lo. Rick não parecia querer desistir de lutar tão cedo.

— Ainda não seu filho da puta de merda! — Gritou outra vez dando-lhe um chute. — Não é com você que eu quero ter uma conversa!

O pai de Carl não pareceu se importar com aquilo, voltou a lutar contra Negan sem ao menos se importar por estar sendo cercado por Salvadores ou por estar em clara desvantagem.

— Que porra! — Negan conseguiu dar uma pancada nas costas de Rick usando Lucille. — Alguém faz esse merda ficar no chão! Eu não consigo pensar direito...Eu preciso...

Pelo menos três homens de Negan estavam levando Rick de volta para a fila, o líder louco dos Salvadores levou a mão para o rosto parecendo pensar no que iria fazer em seguida, respirou fundo se recompondo e voltou a gritar outra vez.

— Joguem o moleque por cima do muro ou todo mundo aqui morre! — Vociferou em voz alta. — Eu só quero o menino! Ele é meu! Empurrem ele logo porra!

— Não! — Negan se virou para Rick e lhe deu um soco certeiro no rosto fazendo-o se calar no mesmo segundo.

— Fica com essa merda de boca fechada antes que eu perca o pouco da paciência que resta! — Ele se voltou para o muro de Alexandria. — CADÊ O MOLEQUE?

Fez-se silêncio por alguns segundos. Era muita coisa acontecendo de uma só vez em pouco tempo.

— Vá a merda seu psicótico! — Alguém gritou e isso só pareceu deixar Negan ainda mais nervoso do que ele parecia estar.

Negan levou uma mão até seu rosto fechando os olhos de forma lenta, ele respirou fundo como se realmente estivesse tentando se manter controlado. Mas ele não estava nem um pouco perto de estar totalmente controlado.

— Eu vou contar até três e se esse moleque não estiver aqui eu vou esmagar a cabeça dos sete que estão aqui! — Ele se virou ficando de frente para nós. — Ouviram? EU VOU ESMAGAR A CABEÇA DOS SETE PUTOS QUE ESTÃO AQUI FORA!

Não houve resposta.

— Se você machucar meu filho está tudo acabado! — Rick ergueu o rosto para conseguir olhar diretamente para Negan. — Não terá mais acordo nenhum! 

Negan riu alto.

— Já está tudo acabado seu idiota de merda da porra do caralho! — Respondeu. — Acabou no segundo que você e esse seu grupo de bosta nos atacou e tentou nos matar! Foi uma merda das grandes, uma merda pra você e uma merda ainda maior para todo o seu pessoal!

Agora toda aquela confusão estava quase começando a fazer sentido.

— Caramba, eles não vão mesmo jogar o moleque do muro... que coisa. — Negan olhava novamente para o muro atrás de nós com decepção. — Vamos ver quantos de vocês eu vou precisar matar até que eles resolvam fazer isso!

Um sorriso de um perfeito psicopata se formou em seu rosto.

— Já estão todos em fila? Ótimo! — Negan começou a se aproximar de nós outra vez. — Vocês já sabem como funciona então não vou precisar perder tempo em explicar o que irei fazer agora, mas não fiquem aliviados quando eu estiver matando o primeiro. Todos vocês terão o mesmo castigo então, não vão precisar ter inveja do amigo!

Aquilo de novo não! Fechei meus olhos por alguns segundos sentindo meu corpo ficar completamente tenso, Negan caminhou na nossa frente apontando Lucille para cada um de nós do mesmo jeito que fez na noite em que o conhecemos. Estava tudo acontecendo de novo, aquela mesma cena iria se repetir de novo naquele dia. Iríamos todos morrer.

— Por favor não me mate! — Desmond quase gritou de desespero. — Eu...Eu tenho família e elas não vão conseguir sobreviver sem mim! Por favor!

Negan antes mesmo de começar a cantar o uni dune tê parou na frente de Desmond o olhando com fúria.

— Mas você é mesmo um merdinha de tão covarde não é mesmo? — O líder dos Salvadores riu alto. — Olha só esse cara! Não quer que eu te mate? Mas é exatamente isso que eu vou fazer! Tragam esse resto de bosta para frente!

A mesma cena daquela noite estava novamente se repetindo naquele dia, abaixei minha cabeça para não olhar enquanto Negan iria matar o pobre do Desmond do mesmo jeito que matou Glenn e David. Ouvi alguns de seus homens o arrastar para frente da fila e foi então que começou tudo outra vez. Fechei meus olhos com força quando ouvi a primeira pancada e continuei do mesmo jeito enquanto ouvia Negan deferir mais e mais pancadas em Desmond.

— Lucille nunca se cansa de fazer esse tipo de coisa. — Negan ria alto. — Um já foi morto! Vão jogar o moleque ou vão mesmo deixar eu matar todo mundo aqui?

Abri meus olhos desviando do corpo estraçalhado de Desmond no chão, aquela cena me deu enjôo. Negan continuava esperando que jogassem Carl pelo muro para que ele pudesse castigá-lo também, mas não houve nenhuma resposta. Eles não iriam jogar Carl. 

— Já que não vão jogar então vamos continuar. — Ele caminhou em direção a fila novamente. — Eu vou fazer diferente, Lucille vai escolher uma pessoa que o moleque filho de uma puta gosta. — Negan estava na frente de Rick e então começou a caminhar. — Uma pessoa que eu sei muito bem que ele jamais me deixaria machucar. 

Respirei fundo tentando manter minha respiração controlada, vi Negan caminhar na minha direção e parar bem na minha frente mostrando sua preciosa Lucille 'ferida', ele apontou o bastão de baseball na minha direção deixando que ele tocasse a minha testa por alguns segundos. Instantaneamente senti como se todo meu corpo ficasse travado ali no chão.

— Vamos ver se ele vai deixar a namoradinha ser morta. — Negan gesticulou para seus homens. — Coloquem ela na frente.

Imediatamente senti meu coração disparar da pior forma possível, fui segurada por dois homens que me forçaram a ficar de pé e me arrastaram até onde o corpo de Desmond estava. Fui colocada de joelhos na frente de Negan ficando ao lado da sua primeira vítima, vi Negan se agachar na minha frente me encarando com um meio sorriso em seu rosto enquanto me encarava com um olhar divertido e um sorriso largo em seu rosto.

Eu já fiquei cara a cara com aquele desgraçado, mas naquele momento foi completamente diferente, eu estava de joelhos bem na frente dele apenas esperando pelo castigo que ele daria. Eu estava com medo dele. Apavorada.

Fechei meus olhos e novamente as cenas da noite em que vi David ser morto diante de meus olhos viram como flashes na minha mente. Iria acontecer o mesmo comigo naquele dia. 

— É realmente uma pena que tenha chegado a esse ponto, sabe, eu não queria ser forçado a te matar mas seu namoradinho fez a pior merda do mundo. — Assim que abri meus olhos vi Negan exibir Lucille para mim. — Eu gostei daquele moleque, de verdade. Mas isso aqui, ele não deveria ter feito isso com Lucille. 

Negan riu outra vez.

— Torça com todas as forças para que ele se jogue do muro antes de eu te dar a primeira porrada.

Pisquei várias vezes tentando esconder algumas lágrimas que ameaçavam sair, não podia chorar naquele momento porque seria inútil. Não esperaria que jogassem Carl pelo muro porque Negan o mataria e era bem provável que faria o mesmo comigo mesmo assim. Não havia muito o que fazer.

Não venha, Carl. Não venha.

— Não precisa fazer isso, deixe isso pra lá. Eu posso fazer dar certo agora! — Ouvi a voz de Rick implorando para Negan. — Ela é só uma menina!  Me escolhe!

Negan abriu os dois braços exibindo um sorriso largo em seu rosto.

— Sinto muito Rick, mas Lucille terá sua vingança hoje! — Bradou Negan erguendo seu taco de baseball para o alto exibindo-o. — E também, de que adiantaria te matar agora? Não, não, eu quero te deixar por último e assim você verá todo mundo aqui ser morto enquanto você não pode fazer nada!

Negan se colocou na minha frente novamente e segurou o taco de baseball com as duas mãos, então seria assim que eu iria morrer. Eu levaria várias porradas na cabeça até cair desfigurada no chão, morria como Glenn, David e Desmond. Era o fim.

Ergui meu rosto olhando para aquele desgraçado uma última vez antes dele me matar. Meu coração batia agora mais rápido, se ele pudesse era bem capaz de saltar do meu peito a qualquer momento. Ele ergueu o bastão para o alto e antes mesmo dele dar a primeira porrada em mim fechei meus olhos apenas pedindo para que tudo aquilo acabasse de uma só vez.